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ARTIGO: Isolamento nas lentes da esperança

Uma reflexão sobre este momento de pandemia, na ótica de Lucas Lacerda Machado – Advogado (OAB-GO), Pós-Graduando em Direito Penal, Processo Penal e Prática Forense pela Unicathedral e bacharel em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Indubitavelmente, estamos passando pelo momento mais difícil da humanidade na história recente. Já não bastando as dificuldades cotidianas, a necessidade premente de findar crises socioeconômicas e outras agruras que afligem o desenvolvimento e a qualidade de vida das pessoas, tivemos que aprender a lidar, ligeiramente, com uma situação sem precedentes: a pandemia da COVID-19. Sem piegas, nunca imaginamos que uma contaminação viral fosse, de maneira abrupta e expressiva, mudar o rumo de nossas vidas, fazendo com que houvesse um processo de ressignificação de condutas, valores, prioridades, ideais e projetos pessoais para um futuro aparentemente indefinido.

Toda essa transformação exigiu muito do ser humano, requisitando uma maturidade demasiada para quem, no início de 2020, estava acostumado a planejar e realizar imediatamente. Muitos iniciaram janeiro em viagens aconchegantes, férias em família, e até praias aglomerantes. Outros, habituando-se ao convívio social, ao afago do calor humano de boas amizades, promoveram encontros inesquecíveis, rodas de conversas intermináveis, cultivando risos, abraços, carinhos e muita união. E, de repente, tudo mudou. Tudo. Alguns entraram para a espantosa fila de milhões de desempregados e um volumoso número de pessoas passou a figurar em listas de inadimplentes.

Tratar tudo isso como algo divergente do caos é mero eufemismo. Nem mesmo o mais sábio dos neandertais poderia sequer pestanejar um cenário tão pessimista para um ano rotulado de mudanças positivas e de prosperidade na vida de tanta gente. O inimaginável ocorreu, o apocalíptico e temerário espectro se desenhou para diversas famílias que, não tendo o privilégio de um confortável home office, tiveram de eleger, num extenso leque, os problemas mais elementares a serem primeiramente enfrentados. Isso porque fora imposto a trabalhadores distintos a genuína dualidade entre o exercício de suas atividades em ambientes de propagação do coronavírus, com dezenas de decretos governamentais proibitivos, e a necessidade de permanecer no labor diário para não ver a miséria bater sua porta como hodierna inimiga.

Como sociáveis que somos, acompanhando o temor pela enfermidade, outras questões intrigam a vida em isolamento. Para quem é apaixonado pela liberdade como eu, não existe martírio maior que estar aprisionado em casa sem ter cometido crime algum, prezando não só pela minha, mas pela saúde coletiva de quem nem conheço lá fora e, as vezes, que nada faz para que a recíproca seja verdadeira. Não há nada mais desgastante que olhar para as mesas e cadeiras de casa e pensar que, a menos de um ano, estavam ocupadas por amigos e companheiros em confraternizações diversas, ainda que o tema celebrante fosse ‘’apenas’’ a vontade de viver mais e mais em comunhão, afinal, na sapiência de Madre Teresa de Calcutá, ‘’as palavras de amizade e conforto podem ser curtas e sucintas, mas o seu eco é infindável’’.

Em diversos momentos dessa longínqua quarentena, o vazio e a solidão parecem ser sentimentos que consomem invariavelmente nossa capacidade cognitiva e nos tornam reféns de transtornos emotivos e psíquicos depreciativos, criando não raros bloqueios mentais que tendem a aniquilar a força humana. Mas é preciso superar, mesmo que a dificuldade se mostre um Golias ao pequeno Davi que se possa sentir em relação ao mundo, não olvidando que, assim como na história bíblica, a vitória espera por aqueles que sabem identificar e alcançar o ponto nevrálgico do problema, derrotando o inimigo com o necessário arremesso da mudança na testa do sofrimento.

Confesso que, por vezes, me recordo do quão triste é o distanciamento aos meus amigos e familiares. Entretanto, sem titubear, concentro meus pensamentos na felicidade das lembranças daquilo que já vivemos para vislumbrar o quão mais leal, honesto e altruísta eu serei com todos ao meu redor no pós-pandemia. Mais do que nunca, o afastamento também nos dá a lição ideal, sobretudo, na exigência de um olhar introspectivo, na possibilidade do autorretrato e do relatório diário das boas e más sementes plantadas de domingo a domingo quanto aos nossos pares.

Nos variados meios de comunicação, a palavra de ordem nesse momento é resiliência. Creio piamente no poder que essa palavra tem no coração daqueles que abertamente estão dispostos a praticá-la. Executar o contorno de obstáculos com imposição de abdicações distintas não é tarefa para pequenez humana. Mas nem todo mundo deseja ter alma grande, é claro.

Respeitada a diversidade de opiniões, considero a superação pavimentada pela esperança o melhor caminho. Até porque, se isso tudo for falácia, o que falaria Nelson Mandela se não acreditasse que um dia estaria liberto e conseguiria livrar seu povo do apartheid? O que seria de famílias judias sobreviventes ao holocausto? Quem seria Stephen Hawking que, mesmo com as limitações de suas deficiências, descobriu o buraco negro e deu suas contribuições à moderna física quântica? E os diversos escavadores presos em suas expedições suplicando por socorro e desejando o resgate alheio por angustiantes dias?

Bem, essa mesma perseverança traduz-se na vontade de viver também dos enfermos internados, portadores da COVID-19 ou de outras doenças, sedados e sedentos de uma nova oportunidade pra fazer melhor, pra fazer diferente. Essa mesma esperança é característica dos familiares que sofrem externamente às paredes de um hospital e que oram, diuturnamente, cada um com a sua fé, para que seja novamente possível o convívio harmonioso com o ente querido. Marcas de superação, lentes de esperança: assim deve ser a nossa leitura acerca desse isolamento ímpar. Não é para sempre, mas precisamos estar nutridos desse referencial para vencermos a batalha. Esmorecer não nos é uma faculdade, estamos desprovidos desse direito. Estaremos livres dos terríveis efeitos dessa doença em breve, e, especialmente ao vírus, esbravejaremos, parafraseando Chico Buarque de Holanda, que ‘’apesar de você, amanhã há de ser outro dia’’.

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