Peneiras e Bateias, livro de Cairo de Souza Castro, tem mais um capítulo divulgado aqui neste site. O assunto nesta segunda-feira é a figura principal da História de Iporá: ISRAEL AMORIM. Vamos à leitura:
Se se pudesse, agora, caber-lhe-ia patente de Coronel. Uma inferior seria desrespeito.
Israel Amorim é tudo.
Um dos grandes homens que Iporá conhece e, justiça seja feita, a ele a cidade deve obrigação pelos seus primeiros passos em rumo ao desenvolvimento, ainda hoje vive em Goiás.
Segundo se noticia, esse ilustre homem foi uma espécie de coronel de mando em plagas iporaenses. Como chefe político, era bastante respeitado, estimado, mais que companheiro de batalhas, um verdadeiro ídolo. O povo o tinha como imagem auspiciosa, realmente um poderoso na face da terra.
Vindo do longínquo Estado do Piauí, embrenhou-se no torrão de Iporá por volta dos anos de 41/42, quando ainda a cidade dava seus primeiros sintomas de crescimento. Garimpeiro, escavador de riqueza em abundância, esse cidadão vislumbrou futuro promissor em tal região goiana.
Muito interessante em sentir e ver o progresso da zona neófita, Israel amorim ficou pé na obscura comunidade que levava a majestosa graça de Itajubá, urbe que, mais tarde, de conformidade com gosto de Israel Amorim e de todos seus habitantes, passaria a chamar-se Iporá.
Antevendo célebre aprimoramento, Israel Amorim, já morador efetivo da cidade, candidatou-se a prefeito municipal,, após gestão de tenente Luiz Alves. Este, o primeiro prefeito do povoado, se bem que com mandato por nomeação do alto governo goiano. Mas Israel Amorim candidatou-se ao cargo eletivo e foi o 1° administrador constitucional por meio de eleições diretas.
Israel manteve grande liderança política em Iporá. Ordem sua era dever cumprido, obrigação realizada, custasse o que custasse. Homem de pouca cultura, ínfimos conhecimentos, porém, de pulso firme, vontade determinante, voz de mando e desmando.
Seu reinado de poderio, muito embora enormes reminiscências perpetuam nos imos dos seus seguidores, até hoje vale dizer em verdade, só encontrou fim por ocasião da disputa eleitoral, por sinal excessivamente acirrada, que manteve com seu adversário político Manoel Antônio da Silva.
Para se ter uma noção mais exata do tanto de prestígio que Israel Amorim detinha na cidade e munícipio, basta lembrar que, apesar de portentosos correligionários seus, do mesmo feitio célebres chefes políticos da época, homens que conseguiam votos até mesmo a custa do olhar, apesar de esses ilustres aderirem à candidatura de Manoel Antônio, portanto adversário de peso, sua derrota nas urnas ocorreu com a insignificante diferença de quatro votos. E, nesse tempo, votaram eleitores de quase todas as cidadezinhas que circundaram Iporá, todas elas subalternas às emanações e diretrizes da antiga e querida Itajubá.
Mas isso não quis dizer nada. O prestígio político de Israel Amorim não se subtraiu em nenhuma hipótese. Talvez até pelo contrário, poderá ter acrescido em demasia.
Israel Amorim foi pessoa que dirigiu a cidade iporaense com muito esforço, bastante dificuldade, acerbas barreiras. Fez e desfez a seu bel prazer, como lhe convinha ou do agrado de seus séquitos.
Asseveram as pessoas de sua [época que, os que eram seus amigos, com ele tudo alcançavam, tudo conquistavam.
E os que eram seus inimigos, adversários partidários, nada adquiriam, nada recebiam, porque,- talvez plagiando a egrégia personalidade de Dr. Pedro Ludovico Teixeira que disse: para os amigos, tudo; aos inimigos, a Lei – em assim agindo, o respeito e a consideração tenderiam a crescer, ganhar formas.
Mas se tudo isto é verdade ou não é fato que não posso certificar e nem dar fé pública, não me cabe, não sou tabelião, escrivão e nem oficial de cartório, apenas simplérrimo escriba, humilde narrador de crônicas e histórias.
Sei, todavia, também por boca de outros que, se Israel gostasse de alguém, simpatizasse com alguma pessoa, dele se fazia servo, auxiliar, homem de cumprir palavra.
Passo adiante, agora, fato que julgo pitoresco e que, segundo me informaram, aconteceu em anos muito anteriores. Ocorrência de pouca valia, escassa contingência, entretanto, suma importância para o beneficiado.
Estando o cartório de registro civil de Iporá em franca crise, – ou seria o notário público João Guilherme? – eis que seu responsável chora as lágrimas a Israel. Uma calamidade pública, doença contagiante. Ninguém para registrar filho. Os casamentos se encurtando. Cidadão resolvia casar-se celebrava o ato apenas no religioso, o civil podia ser esperado, mais ou menos dia iriam realiza-lo, importância nenhuma, o amor suplantava tudo. Convinha nada permanecer como oficial.
Israel não desacorçoou o infeliz. Deixasse com ele e em breve tudo estaria resolvido, sanada a peitica, retorno dos bons tempos de vacas gordas.
Passados alguns dias, refrescados os ânimos de João Guilherme, mandou baixar ordem por escrito na cidade e em toda zona rural, cuja disciplina admoestava a população para o fato de que, por determinação superior, lei advinha de órgão do governo federal, todos aqueles que desejassem casar-se deveriam faze-ló no mais curto espaço de tempo, em virtude de que, após tal data- citou bens uns cinco meses pra frente – não mais haveria enlace matrimonial de papel passado.
Foi um deus- nos- acuda, um reboliço dos quintos. Todo mundo sentiu necessidade de casar –se o mais cedo possível. Sabia-se lá o que é ficar na saudade!
Israel Amorim foi homem de grande projeção política. Ainda hoje ostenta porte altivo. Se bem que idoso e cansado, bastante alquebrado pelos anos vividos, agora reflete apenas uma sombra daquilo que foi, não obstante ser respeitado, ser exemplo para esta novel camada política da atualidade.
Duas cidades circunvizinhas a Iporá levam seu nome, talvez em agradecimento por ele que as fundou e viu-as caminhar em desenvolvimento: Israelândia e Amorinópolis.