Neste próximo sábado, 19, dia do aniversário de Iporá, é lançado um livro que tem tudo a ver com a cidade.
Virá a público A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE IPORAENSE, publicação que não é história do município e nem tratado de sociologia, mas depoimentos orais de quem chegou nas décadas de 30, 40 e 50 para colonizar esta terra. Trata-se de uma coletânea de histórias de famílias.
Sobre o livro, nas páginas iniciais de apresentação, Carlos William Leite, relatou o que se segue:
Valdeci Marques passa em revista um século de história
Criar os rios e as aves
a papai do céu pertence
fazer de cada homem uma chave
ou me nascer iporaense
A nós — seres clandestinos,
e humanos controversos
restou como dádiva e destino
a capital do universo.
C.W.L
Em grego, a palavra “história” significa investigação. O livro de Heródoto, considerado o Pai da História, tinha exatamente esse nome. Contundo, os primórdios do método de pesquisa histórica viriam apenas com Tucídides. Na prática, Heródoto escreveu crônicas de viagens, conforme esse gênero era concebido à época.
É exatamente essa tradição que Valdeci Marques recupera em suas investigações sobre Iporá. Em muitos momentos, o livro, A Formação as Sociedade Iporaense, pode ser lido como uma antologia de crônicas de viagem. Mas não a viagem a lugares e cidades, e sim uma viagem no tempo, a uma época tão áspera quanto bela. Uma época na qual Iporá era uma das cidades mais promissoras do Estado, mas, também, umas das mais violentas. Uma época de coronéis e contradições, mas, também, de ampla representatividade política. Uma época em que não existiam estradas, mas havia voos diários saindo do campo de aviação Iporá. O moderno e o arcaico coexistindo.
A grande narrativa histórica não considera os detalhes. E é exatamente isso que Valdeci Marques propõe: contar os detalhes e passar em revista a história, por meio da pesquisa jornalística, a partir da perspectiva de quem a construiu. São essas memórias individuais, conforme observou o sociólogo Maurice Halbwachs, representando processos experimentados por determinados grupos sociais, que se transformam em memória coletiva.
Algumas histórias do livro são tão emocionantes e tocantes que farão lágrimas brotarem. Outras, são tão surreais, encantadoras e absurdas que parecem saídas de algum livro de fantasia. Não tenho dúvidas de que Heródoto e Tucídides aprovariam esse uso imaginativo da narrativa histórica.
Falando em gregos, o trabalho hercúleo de pesquisa de Valdeci Marques, para dar organicidade histórica e cronológica aos fatos, é um dos pontos altos do livro. Não se restringe, apenas, à origem de nossas raízes como sociedade, mas, também, ao desdobramento genealógico de suas famílias. Fazendo uma ampla investigação jornalística, traça um mapa completo, desde as origens da cidade até os dias atuais.
Certamente, cada leitor se encontrará em algum verbete do livro, seja por sua própria história, pela história de seus antepassados ou de pessoas queridas e pioneiras, que fazem parte do inconsciente coletivo desta pequena civilização chamada Iporá. Boa leitura.
Carlos Willian Leite
Iporaense de família pioneira, Presidente do Conselho Estadual de Cultura de Goiás.