Quando Samambaia pegou pego, de Pr. Dr. Moizeis Alexandre Gomis, livro que estamos reproduzindo aqui em cada segunda-feira, hoje relata da chegada da Igreja Assembleia de Deus em Goiás, fato simultâneo com a construção da nova capital. Vamos à leitura:
CAPÍTULO 2
A ASSEMBLELIA DE DEUS CHEGA A GOIÁS.
“Irmãos, pensem no que vocês eram quando foram chamados. Poucos eram sábios segundo os padrões humanos; poucos eram poderosos; poucos eram de nobre nascimento. Mas Deus escolheu o que para o mundo é loucura para envergonhar os sábios, e escolheu o que para o mundo é fraqueza para envergonhar o que é forte. Ele escolheu o que para o mundo é insignificante, desprezado e o que nada é, para reduzir a nada o que é; para que ninguém se vanglorie diante dele”. (1 Epístola aos Coríntios 1.26-29, NVI).
Em Goiás, a chama do avivamento pentecostal chegou por ocasião da construção de Goiânia, que teve o lançamento de sua pedra fundamental em 1933 e a construção iniciada em 1935. A pregação do evangelho e da “mensagem pentecostal” teve início na nova capital com o operário afro-brasileiro, Antônio do Carmo Moreira, diácono da Igreja Assembléia de Deus de Madureira. (Araújo, 2007, p. 482). Em 1936, ele viera para Goiânia trabalhar como mestre-de-obras na edificação do Palácio das Esmeraldas, futura sede do governo do Estado. Aquele humilde operário, discípulo do pioneiro pastor Paulo Leivas Macalão e ovelha de seu pastoreio no antigo Distrito Federal, pai de uma família numerosa (realidade que era comum na época), que estava agora no coração do Brasil construindo um edifício para abrigar o governo dos homens, não imaginava, por certo, que, na verdade, havia sido enviado pela providência do Espírito Santo para trabalhar na edificação de uma casa espiritual, feita não com pedras, tijolos e argamassa, mas de “pedras vivas”: almas transformadas pela mensagem da cruz, um edifício para morada de Deus no espírito e sede do seu reino em terras goianas.
Palácio das Esmeraldas em construção, sede do governo de Goiás,
e um carro de bois, meio de transporte comum na época.
Foto: Goiânia – 74 anos – http://www.Skyscrapercit.com
No tempo disponível, após o período de trabalho, Antônio Moreira lia a Bíblia à luz de lamparina a querosene no ambiente desconfortável do alojamento onde se hospedava com outros operários. (Santos, 1992, p. 8). Logo, por solicitação de pessoas interessadas e com a permissão da firma construtora, passou a celebrar cultos aos domingos. O então Interventor (Governador) de Goiás e criador de Goiânia, Dr. Pedro Ludovico Teixeira, ao saber daquelas reuniões, pediu para que funcionários do governo, de sua confiança, as investigassem. Depois de algum tempo ele recebeu o relatório que não constava nada de anormal e perigoso, antes tecia elogios aos crentes pentecostais. Dr. Pedro, que já conhecia os evangélicos da Igreja Cristã Evangélica, desde a antiga capital, pastoreada pelo pastor escocês Archibald Mc-Inthire, e cultivava simpatia por eles, passou a dar apoio aos carentes pentecostais e, posteriormente, doou o terreno para a construção do primeiro templo assembleiano na nova capital, situada à Rua 55, nº. 18.
A cada dia que se passava, o número de convertidos foi-se aumentando vertiginosamente a ponto de o recinto, improvisado em um galpão da firma, não comportar mais as reuniões. Passado algum tempo, o diácono e mestre de obras, Antônio Moreira, sob a orientação do pastor Paulo Leivas Macalão, deixou seu emprego para dedicar-se a obra missionária e pastoral de tempo integral.
Sentados: á esquerda, Pr. Antônio Moreira e Pr. Antônio Inácio. Em pé da esquerda para direita: Jaime Antônio de Souza, Jabes Gonçalves de Melo, Alberico Augusto da Fonseca, Geraldo Delfino de Araújo e Valdemar Ramos. Foto: Acervo do Pr. Alcedino José de Araújo.
Em 1936, como pastor da nova congregação, construiu, no terreno doado pelo governo, na Rua 55, n° 18, no Bairro Popular, o templo onde passou a congregar a primeira Igreja Evangélica Assembléia de Deus em Goiás, sob a jurisdição da matriz em Madureira, presidida pelo pastor Paulo Leivas Macalão. A nova igreja pentecostal passou a representar o quartel-general do incansável trabalho de evangelização em vários setores da capital e em outras cidades goianas. (Santos, 1992). Algum tempo depois a missionária americana, Matildes Paulsen, também enviada pela Assembleia de Deus de Madureira, veio para Goiás, onde trabalhou evangelizando e fundando igrejas na região da Estrada de Ferro, inclusive em Catalão, e, em 1939, na cidade de Anápolis (Freitas, 2001, p. 27e28). Posteriormente, ela continuou seu abençoado trabalho missionário na região, mas filiada a Igreja de Deus.
Assim, em apenas três décadas, depois da chegada dos pioneiros Gunnar Vingre e Daniel Berg a Belém do Pará, as chamas do avivamento pentecostal havia chegado a Goiás e a partir de Goiânia e Anápolis, logo se espalhou para o sudeste, sul, sudoeste e norte do Estado. No centro-oeste de Goiás o movimento pentecostal chegou através de um poderoso avivamento do Espírito Santo derramado a partir de uma pequena congregação de crentes presbiterianos, na Fazenda Samambaia, no município de Aurilândia. Ali nasceu a primeira Igreja Evangélica Assembleia de Deus no oeste goiano, que se tornou o embrião de onde se originaram centenas de outras igrejas espalhadas pelo Estado, particularmente a Assembléia de Deus de Iporá, que, por sua vez, veio a ser mãe de outros campos e de dezenas de congregações, além de ter-se tornado um celeiro de missões, de onde tem saído centenas de obreiros, obreiras, pastores, missionários e missionárias que se dedicaram e ainda dedicam à obra de evangelização regional, nacional e transcultural.
Para se ter uma melhor compreensão da dimensão do avivamento pentecostal que eclodiu em Samambaia, não seria exagero, compará-lo à igreja de Antioquia da Síria, que se constituiu no quartel-general da evangelização da Ásia Menor e da Europa, no primeiro século, conforme relata o livro de Atos dos Apóstolos. Atualmente, quando se faz um balanço geral, depois de quase setenta anos, desse avivamento ocorrido nos rincões do oeste goiano, Samambaia representa, em resultados numéricos, centenas de milhares de almas convertidas ao Senhor Jesus Cristo, milhares de pastores e obreiros engajados na obra de Deus e centenas de igrejas consolidadas, espalhadas pelos vastos territórios dos Estados de Goiás, Tocantins, Piauí, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Amazonas e no Nordeste do país. Igrejas que tem sempre, na história da sua origem, alguma relação direta ou indireta com outra Assembléia de Deus fundada a partir do pioneiro trabalho de evangelização resultante do avivamento pentecostal ocorrido na Fazenda Samambaia e em Iporá, nas décadas de 40 e 50, do século XX. Sem contar os milhares de testemunhos de milagres realizados por Deus nas mais diversas áreas da vida daqueles que foram alcançados pela pregação ungida e poderosa do Evangelho da salvação, como curas divinas, libertação do poder do diabo, livramentos de atentados violentos por parte dos inimigos da obra de Deus e muitos outros acontecimentos sobrenaturais.
A história dos resultados desse avivamento e as circunstâncias econômicas, socioculturais e antropológicas em que ele ocorreu, constituem, de forma um tanto sucinta, os conteúdos dos capítulos seguintes. Um registro criterioso com embasamento metodológico, como se exige de um trabalho desta natureza, onde os fatos, mesmo narrados sob a sensibilidade do coração, não prescindiu da rigorosa análise racional. Até porque o exercício da fé não é sinônimo de crendice cega na versão do senso comum, emanada da tradição popular, sem qualquer questionamento crítico. Pelo contrário, a fé é a aceitação da verdade extraída do crivo da observação, da análise e da comprovação dos fatos por meio de testemunhos e evidências plausíveis e irrefutáveis. Inclusive fatos miraculosos que, embora não sejam passíveis de comprovação em laboratório, pelos métodos positivistas das ciências naturais, contudo, não podem também serem negados cientificamente pelos mesmos métodos empíricos.