Em Arenópolis, cidade da região do Oeste Goiano onde atua o padre João Mariano da Silva Neto, a inovação na paróquia é a construção de torre na igreja local e a prática de tocar os sinos diariamente, algo que tem a ver com a história da igreja. O próprio padre João Mariano relata suas atividades naquela paróquia. Segue texto dele:
Desde que cheguei a Arenópolis em outubro de 2020 na condição de pároco, sempre admirei a beleza de nossa igreja matriz, os detalhes arquitetônicos que marcam sua fachada, contudo, sentia falta de uma das principais características de um templo católico em nossa matriz, a torre ornada com seus sinos e a cruz no alto nos remetendo a Cristo. Talvez se deva ao fato de que quando eu era criança, fui coroinha na cidade de Firminópolis-GO onde era também responsável por tocar os dois sinos da matriz de Nossa Senhora da Guia (Firminópolis-GO). Os sinos sempre acompanharam a vivência eclesial minha e de minha família, tanto paras as missas, como até mesmo para os momentos tristes, como funerais de parentes e amigos.
O uso dos sinos não é algo exclusivo do catolicismo romano como muitos possam pensar, também as igrejas ortodoxas e inclusive no meio protestante (evangélico), os sinos são usados para convocar seus fiéis para o culto cristão. No Brasil por uma questão histórica, jurídica, ficou decidido na constituição de 1824 a restrição do uso dos sinos somente às Igrejas Católica Romana e Ortodoxa, vetando o uso dos sinos e a construção de torres em templos protestantes/evangélicos, esse é o motivo de quase não se ver em templos protestantes/evangélicos no Brasil a presença de torres e sinos, todavia, com a evolução e progresso das leis e do direito, muitos templos protestantes/evangélicos passaram a ter sinos e torres, inclusive relógios, especialmente templos protestante/evangélicos luteranos. No exterior é comum ver sinos tanto em templos católicos, como protestante/evangélicos.
Apesar de se atribuir o uso dos sinos como instrumento para convocação da assembleia de fiéis para a liturgia a São Paulino de Nola (século V), bispo da região da Campanha na Itália, porém, o uso do sino estrategicamente colocado sobre uma pequena torre é registrado pela primeira vez com Gregório de Tours (França), no século VI. No século VIII, o papa Estevão II construiu na Basílica de São Pedro no Vaticano uma torre contendo três sinos, e, a partir do século IX no período carolíngio as torres passam a ser cada vez mais comum nas igrejas formando parte importante da arquitetura românica e gótica.
Os sinos convidam os cristãos seja para as Missas, seja para os funerais ou outros atos litúrgicos, enfim, eles participam dos acontecimentos cotidianos da vida dos fiéis, das alegrias, mas também das tristezas, conforme o toque, as pessoas identificam o que se trata, se é missa, se é funeral etc. Outro fato importante e histórico que vai além de religião em si são as batidas de horas, se olharmos nas principais cidades do mundo vemos e ouvimos de hora em hora os sinos das igrejas seja católica ou protestante/evangélica tocarem indicando as horas. Além da função de informar as horas em si, as batidas de hora em hora também trazem um sentido espiritual, por exemplo, às 9 horas da manhã nos recordam o derramamento do Espírito Santo em Pentecostes; ao meia – dia nos remetem à hora em que Jesus se entregava por nós na cruz e também ao ângelus; às três da tarde nos recordam à hora da misericórdia, momento em que Jesus morre na Cruz.
No dia 03 de fevereiro de 2022, nosso bispo diocesano, Dom Lindomar Rocha Mota, abençoou um de nossos dois sinos, no caso, o sino maior que pesa 110 kg, um detalhe é que os sinos assim como qualquer instrumento musical também têm nota musical, este sino de 110 kg tocará convocando os fiéis para missas e anunciando funerais sendo de nota Mi.
Já no dia 12 de janeiro do corrente ano, eu abençoei o sino menor de 56 kg, nota Sol, esse sino menor será responsável por tocar de hora em hora, em horário comercial para assim não causar incômodo à vizinhança, pois é garantido por lei o direito às igrejas de tocarem os sinos em horário comercial. Aqui em Arenópolis, vamos tocar das 8:00 da manhã até às 20 horas cotidianamente, dizemos por brincadeira que é um “sino preguiçoso”, pois trata-se de um sino que “acorda” tarde (8:00 da manhã) e “dorme” cedo (20:00 horas), assim cumprimos o previsto na lei do silêncio (risos).
Desde dezembro estamos construindo a torre da nossa igreja, para isso estamos contando com doações voluntárias e espontâneas das pessoas, quem puder nos ajudar, desde já agradecemos e ainda estamos recebendo doações, seja em dinheiro, seja em material de construção. Acredito que seremos a única igreja matriz na região a retomar esse costume cristão milenar de tocar os sinos, especialmente de hora em hora.
Por fim, uma outra coisa do ponto de vista não só religioso, mas também histórico que retomamos na construção de nossa torre foi o fato de trazer um galo (de metal). É comum ver galos adornando torres de igrejas pela Europa a fora desde o período medieval, pois, para o cristão o galo pode significar vigilância e espera da segunda vinda de Jesus Cristo (parusia). Essa ave anuncia a chegada da aurora e nos faz lembrar a espera da segunda vinda de Cristo que virá no fim dos tempos, por isso, assim como o galo, o cristão católico precisa estar sempre vigilante e em oração, pois o Senhor virá. Acredito que a nossa igreja de Arenópolis será a única em nossa diocese a retomar a figura histórica do galo no alto da torre da igreja. Eu acredito que assim como o galo desperta logo ao amanhecer, da mesma forma os sinos também despertarão mais os cristãos para à oração em nossa cidade, recordando não só aos católicos, mas aos demais irmãos de que a voz de Deus continua a ecoar nos convidando à oração cotidiana e constante.
Pe. João Mariano da Silva Netto – Pároco da Paróquia São Pedro Apóstolo de Arenópolis – Go.
