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O assassinato de Fernando Silva de Lima, de 27 anos, ainda é um mistério. Sem delegado e sem agente policial, a cidade de Acreúna, local do crime, não dá nem esperança imediata para que haja punição para os culpados.
Fernando foi assassinato cruelmente no ano passado. As circunstâncias em que ele foi morto é um mistério. Nesta quarta-feira, 9, a reportagem do Oeste Goiano, telefonou para a Delegacia de Polícia de Acreúna. Quem nos atendeu falou das deficiências da Polícia Civil naquela cidade. Falta pessoal para o trabalho.
Enquanto isso, a sociedade iporaense chora a perca de seu filho. Wisley Moura, do jornal Folha Regional, assim expressa a saudade de Fernando:
EXPERIÊNCIA LAMENTÁVEL COM DROGAS, FASES LÚCIDAS E PERÍODOS DIFÍCEIS…
SAUDADE DE UM AMIGO…
SAUDADE DE UM AMIGO…
Quando me ponho a recordar, em meus momentos de solidão, relembro com saudade de um inesquecível amigo, o FERNANDO. Quando o conheci, ele tinha apenas 18 anos, era um jovem sadio, forte, de sensibilidade aguçada, tinha toda uma vida a ser conquistada. À época, trabalhava em um escritório de contabilidade de Iporá, era responsável, cumpridor de seus deveres, generoso, vaidoso no vestir, atencioso com os mais velhos, muito humilde, católico fervoroso e educado; um grande amigo; bom de papo, bom companheiro, um verdadeiro amigo, quase um irmão; companheiro de truco, de pescaria, dos folguedos de cantoria e viola.
Através de um pseudo- amigo, movido pela curiosidade inata a todo jovem, foi levado para o mundo das drogas, isto, há mais ou menos 5 anos. A partir daí, sua vida foi se desmoronando, até chegar lá no fundo do poço. Começou com a maconha, como uma simples aventura de jovem, depois buscou drogas mais fortes como a cocaína, chegando, por fim, ao crack que acabou de vez com sua vida.
Durante o uso de drogas foi se afastando da família, tornou-se agressivo com os familiares e com as pessoas mais íntimas, passou a abrigar-se em lugares suspeitos, casas de estranhos… Várias vezes tive que resgatá-lo das drogas, altas horas da noite.
Havia momentos terríveis de insensatez, de depressão, de ansiedade, de demência total, alternados com momentos de lucidez, de desabafo, de choro e de arrependimentos pelo grande mal que ele estava fazendo a si próprio e pelo sofrimento que causava às pessoas que o amavam. Todos sofriam juntos: A mãe, os Tio, os Avós, o Irmão e Este Amigo que está relatando essa triste, porém verdadeira história.
No ano passado, convidei-o a ir para o Mato Grosso, mais precisamente para uma fazenda, no município de Cocalinho, onde passamos 60 dias pescando e descansando. Foram momentos muito felizes para o Fernando, pois minha tia fazia orações diárias todas às 6:00 horas da tarde e isso era um grande alimento espiritual para nós todos, principalmente para ele. Minha intenção, com essa viagem, era retirá-lo de perto do mundo das drogas. Ele voltou forte, gordo, outra pessoa, muito mais feliz, acreditando nas pessoas e na vida.
Infelizmente teve uma recaída e voltou para o mundo das drogas, incentivado por falsos amigos. A partir daí, alternava: três dias com drogas, mais ou menos 12 dias sem; até que o meu grande amigo me pediu para levá-lo à Rodoviária, pois tinha arrumado serviço de auxiliar de topografia, em Acreúna.
A partir daí, a gente se comunicava por telefone, quase que diariamente. Ele jamais me falou que continuava usando drogas, mas eu tinha a impressão que ainda não tinha se desligado do maldito vício.
Durou muito pouco tempo sua vida em Acreúna. Foi pouco menos de 3 meses. Nos últimos dias, ele já não se comunicava comigo, não respondia às minhas mensagens nem atendia meus telefonemas.
Até que numa triste tarde de 27 de junho, na cidade de Fazenda Nova, onde eu estava realizando um trabalho, recebi a notícia de que meu grande amigo havia sido barbaramente assassinado, com quase 20 facadas, talvez por traficantes ou usuários como ele, por volta das quatro horas da manhã, em uma vila que estava em construção, naquela cidade de Acreúna.
O velório do Fernando foi aqui em Iporá, no Salão da Igreja Católica, a partir das 19,00 horas e ele foi sepultado no dia seguinte às 9,00 horas.
Que triste sina a deste meu grande amigo! Todos os sonhos, os projetos de vida, toda uma mocidade ceifada pelo terrível vício das drogas!
Dona Salustiana, a vó do Fernando, me disse que ele vem de uma família bem estruturada, católica, temente a Deus, que foi um neto muito respeitoso, amigo, alegre, tinha um grande amor pela família, uma grande admiração pelo vô, era uma pessoa que queria muito vencer, casar,ter um família, tinha sonhos de ser alguém na vida e que foi morto na covardia, com vinte facadas pelas costas…
Meu amigo do coração, meu querido amigo Fernando, onde você estiver, saiba que eu lutei com todas as forças para libertá-lo do tenebroso mundo das drogas. Após sua morte, eu e sua família procuramos, junto às autoridades apoio para encontrar quem o assassinou tão covardemente, tudo em vão. Lutei todas as batalhas possíveis e impossíveis, acabei perdendo a guerra.
Espero que as pessoas, ao lerem este meu depoimento, feito com alma e coração, reflitam e saibam que, enquanto houver vida, há esperança. Só perdi a esperança, quando você, meu saudoso e querido amigo, foi assassinado, tão covardemente!
Os familiares de Fernando e eu, Wisley Moura, aguardamos que as autoridades tomem providências para que os autores desse bárbaro assassinato sejam identificados e presos.
Enquanto isso, meu querido e saudoso amigo, onde estiver, peço-lhe, do fundo do meu coração, que perdoe seus algozes, assim como seus familiares e eu já os perdoamos, para que todos (você, seus familiares e eu) tenhamos paz, na graça de Deus.
(Depoimento de Wisley Moura – Texto de Lázaro Faleiro)