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Moradores da Amorinópolis antiga, rua por rua, casa por casa (III)


Nesta edição continuamos com as descrições dos moradores de Amorinópolis na metade do século passado, com destaque, agora, para as ruas Minas Gerais, Bahia e São Paulo. São recordações incríveis, que tem um valor inestimável para quem revê o seu próprio passado.

Rua Minas Gerais

Na segunda rua de quem vinha de Iporá, ou Rua Minas Gerais, havia na esquina com a avenida Iporá, o armazém do João Machado, posteriormente o armazém do Osmar. Logo depois de largar a avenida principal e virar à direita, morava uma figura muito querida, incapaz de matar uma mosca, conhecido como Luiz Retratista. Era o fotógrafo da cidade. Registrou o Campo Limpo dos anos cinquenta, os noivos da época, os aniversários de crianças, as fotos de famílias. Se suas filhas preservaram esse acervo, deve ser de uma importância muito grande para a história da cidade. Infelizmente seu Luiz foi assassinado covardemente, me parece que a pauladas, por ladrões. Quase em frente a casa do seu Luiz Retratista o Antônio Barros construiu a sua casa. Morava com sua esposa Helmute e tinham três filhas de nomes Ângela, Denise e Dione, que hoje já são mães também. Lá embaixo, na saída para a fazenda do seu Olímpio, era a casa do seu Ticate e de dona Tôca. Seu Ticate era um sujeito simples, humilde e fabuloso. Tinha uma perna de pau, mas trabalhava diariamente na roça para sustentar um punhado de filhos, dentre eles a Elci, a Maria, a Pretinha, a Santinha, a Gelza, o Valdo, o Tião e o Zezé. Este último continuou morando em Amorinópolis, até falecer, há uns anos atrás. A Maria era danada no jogo de queimada, que era o esporte predileto da meninada nos recreios da escola. Trabalhou muitos anos com dona Maria de seu Manoel Cearense. Quando o Chiquinho, filho desse casal, leu a primeira edição deste livro, ficou empolgado e conseguiu fazer contato com a Maria, que não via há muitos anos e que estava morando em Mato Grosso. Infelizmente, tanto o Chiquinho como a Maria faleceram, pouco tempo depois disso.

 

Morava também por ali o Cantalício, irmão do seu Manoel Tati e casado com dona Mira, filha do seu Evaristo Junqueira e, consequentemente, tia de minha esposa. Eles hoje moram em Paranaiguara, no vale do rio Paranaíba. Tinha ainda a dona Maria Luíza, mãe da Maria Helena, da Sulamita, da Helena Maria e do João Bosco. A Maria Helena enviou-me detalhes da história de sua rua ou, segundo ela, da rua do João Machado, especialmente lá embaixo, para os lados da Jacuba. Ela disse que em frente à casa do seu Ticate, um pouco acima, moraram a dona Isaltina e o seu Zé Belo, pais do Tião, da Andrezina, da Izabel e do Toinho e avós da Telca, que por sua vez era prima do Ronan e da Nega. Depois eles se mudaram dali e foram morar nesta casa o seu Oscar e a dona Geralda, pais do Valdeci, que foi professor, do Valdeir, do Valdete, mais conhecido como Dequinha, da Deninha, da Vanda e de mais outros. Tempos depois mudou-se para esta casa a dona Tereza do seu Mirico, mãe da Lili e da Marli. Mais abaixo moravam o Zezinho Baiano e a dona Maria, sua esposa, que eram pais do Valdeni, da Valdeci, da Veraci, da Verani, da Tôte irmã do Dóia, da Geraci e de outros. Posteriormente moraram por ali o Pedro com a Socorrinha, esta filha da dona Adalgisa do seu Juvenal. Por último, com relação aos tempos antigos, moraram naquela casa a Cleusa do João Chato e o Natalino do seu Agenor Tosta.

Ainda segundo a Maria Helena, na última rua havia quatro casas. Mais para o lado da casa do Cantalício era a casa da Ana e do Valdemar Costa, pais do Zabete, do Divino, da Belinha e do Fio. Mais tarde morou por ali o seu Negrinho, filho do seu Josias e da dona Jerônima, casado com a dona Nenzinha e pais do Nivaldo, da Verinha. Lá embaixo, depois de uma porteira, morava a dona Rita, mãe do Nego, da De Lourdes, da Cotinha e do Ariston. Tempos depois moraram nesta casa da porteira a dona Fiúca e o seu Irineu, pais do Lila, da Nena, da Madá, da Joana que se casou com o Gê do Luís Nicoláu, da Cidica, do José Américo, da Dagmar e da Divina.

Encontro-me sempre com o Zé Américo na agência central do Bradesco, em Goiânia. Não conte pra ninguém não, mas eu acho que ele é um dos donos daquele banco. Tenho quase certeza. Vou voltar a citar a família do Zé Américo quando estiver descrevendo os moradores da rua São Paulo, porque moraram por ali também, mas não tem nada não. Eles merecem, principalmente meu amigo e banqueiro José Américo, né Zé?

Na última casa desta rua moraram o Zé Limiro e a Maria, esta filha do Zé Baiano. Depois morou ali o Geraldo Rodeiro e, mais tarde, o Pedro Macega e a Leovina, pais da Negrinha, da Neném, da Nenzinha, da Delcides, do Zé, da Dulce e da Fia. Na única casa do lado de cima da rua, moraram o seu Zé Baiano e sua filha Iadona, irmã da Maria do Zé Limiro. Depois morou o Bichinho do Tonca, irmão da dona Crioula e casado com a Maria, pais do Miltomar, da Nilzamar, da Elis Regina e do Gilmar. Tempos depois morou ali, também, a Cidinha, irmã do Celso, do Zé Bomfim e de outros que esqueci o nome. Esse pessoal era sobrinho da Mana.

Nessa mesma rua do armazém do João Machado, atravessando a avenida principal para o lado do Balbino, morava, lá embaixo, a dona Elmira, mãe do Nino, junto com o próprio Nino, o Afonsinho e uma irmã deles de apelido Nega, morena linda que, infelizmente, nunca mais vi. Morou por ali também o seu Jóca da dona Minervina, pai da Maria do Preto Gouveia e do Getúlio Meio-Dia (pergunta pra ele o porquê do apelido). Parece que seu Tonca morou nessa rua, mas não tenho certeza.
Já sei que vai faltar relacionar muita gente desse pedaço, principalmente da avenida Iporá para os lados do Balbino, mas não achei mais ninguém para me ajudar a recordar. Deu branco…

Rua Bahia

Na rua da igreja pentecostal, atual rua Bahia, morava um punhado de amigos nossos e muitas pessoas de destaque na cidade. Logo abaixo da igreja pentecostal, do lado esquerdo de quem vai para o rumo da Jacuba, morou tio Miguel e tia Marizinha, numa casa em que havia morado, antes, seu Carrim da casa Barbosa, marido de dona Regina e pais da bela Divininha. Abaixo da casa do tio Miguel morou um alfaiate muito competente, de nome Lindolfo, irmão do seu Josias da Casa Goiânia de Iporá. Era casado, me parece, com uma pessoa de origem cigana, de nome Sergina. Como naquela época a gente tinha certa cisma de ciganos, ficávamos meio desconfiados deles, mas eram pessoas finíssimas, da maior confiança. Mais para baixo era a casa da dona Minduca, mãe da Freuza e do João da dona Minduca. O João teve um acidente muito triste, tendo morrido dentro da cisterna de sua casa. A Freuza se casou com o Nino e tiveram vários filhos, dentre eles o Sebastião Carlos, afilhado de meus pais, e a Celi. Dona Minduca era uma costureira de mão cheia e fez muitas roupas para mim, principalmente calças curtas, que hoje corresponde às bermudas, mas que não se chamavam assim naquela época. Ninguém conhecia esse nome por lá. É bom lembrar que, naquele tempo, era raro encontrar nas lojas as roupas já feitas e, quando se encontrava, eram muito caras. Todo mundo comprava o pano e mandava fazer a roupa na costureira. Homens e mulheres. Depois da casa da dona Minduca parece que já era a máquina de arroz do seu Quindô.

Do lado direito dessa rua, sentido Jacuba, contra-esquina com a avenida principal, era a casa do seu Manoel Cearense, que depois vendeu para o Sinhô Paulista. A casa de residência dava frente para essa rua e o armazém de cereais, pregado na casa, dava frente para a avenida. Logo abaixo dela, em frente a casa do tio Miguel, ficava a casa do seu Otávio Gouveia e dona Neném. Abaixo, em frente à casa da dona Minduca era a casa do seu Quindô e dona Abadia, pais da Célia, do Paulo, do Vasco e da Telminha. Dona Abadia já tinha um filho, quando se casou com o Quindô, de nome Oriovaldo ou Ori, como era conhecido, muito meu amigo e que há muitos anos não vejo. A última notícia é que andava pros lados do Tocantins. Ao lado da casa do seu Quindô ficava a casa do pastor Bróia, pai do Ismael “Irmãozinho” que trabalhou na Lindoya.

Nessa mesma rua Bahia, depois da avenida de baixo ou Avenida Ceará, sentido Jacuba, moravam o Militão, o Zezinho Baiano pai do Dóia e, também, o Felicinho, pai do Cristelo e da Cidrolina. Da avenida principal para o lado do Balbino, tinha mais um montão de gente querida. No pedaço referente à praça, na esquina havia um lote vazio, onde o Osvaldo Gago construiu uma casa já no fim da década de sessenta, início da de setenta. Em seguida vinha a casa onde funcionaram o bar e a sinuca de seu Neném Mumbuca e onde se realizavam memoráveis bailes nos fins de semana. Depois era a pensão do seu Manoel Josué, que antes havia sido de outra pessoa que não me lembro mais. Na esquina era a casa de seu Leopoldino. Depois da avenida da igreja católica, na mesma rua da igreja pentecostal, para baixo havia as casa do Dominguinho e Direci e, ainda, a do Geraldo Rodeiro, aquele que trabalhou muitos anos na prefeitura e que tinha um jipe que deve ter usado quase que a vida toda, até se desintegrar. Seu Geraldo foi o coveiro oficial da cidade por muitas décadas. Faleceu no começo de 2010.

Rua São Paulo

Na rua São Paulo ou rua da Casa Barbosa, sentido avenida Macabeus para a Jacuba, na esquina do lado direito funcionou o bar do seu Neném Mumbuca e, tempos depois, o bar do Zé Vendeiro. Em seguida, depois do quintal do seu Neném, morou o seu Zezeca Carroceiro, pai do Crioulo e do compadre Orestes, meu grande amigo até hoje. Nessa mesma casa morou, depois, meu avô Teodoro e, posteriormente, o Geraldo Caiapó. E por falar no compadre Orestes Gregório da Silva, quando éramos ainda rapazinhos, combinamos que, quem se casasse primeiro daria o primeiro filho ou a filha para o outro batizar. Ele foi mais apressado, casando com a Maria Lúcia, sobrinha do Juca Mineiro e hoje eu sou o feliz padrinho da Lívia, que por sinal já é mãe de duas lindas moças, a Isabela e a Carolina. Faz muitos anos que não vejo minha afilhada e suas filhas. Mais abaixo, na esquina, era a casa de madeira do Zé Menino, marido da dona Guinha. Depois morou lá o Nair, irmão dela.
Falei há pouco no vô Teodoro. Deixe-me falar mais sobre essa figura tão querida. Ele era casado com dona Golô e pai do Mário Alves Brito – meu melhor amigo na juventude –, da Lélia Maria, do Rubens Lúcio (que está com a cabeça toda branca e, de vez em quando, pinta o cabelo de preto), da Ângela Maria e da Clarinha. O Mário mora em Brasília. A Lélia, Rubens, Ângela e Clarinha moram em Goiânia.

Na família tinha, também, o João Boróro, filho do primeiro casamento da dona Golô. Além desses filhos do último casamento do vô Teodoro, havia mais uns oito, que teve com a minha avó verdadeira e que eram irmãos do meu pai só por parte de mãe. São os tios Raimundo – que foi dentista em Iporá por muitos anos –; Edésio, Eronides, Rosinha, Wanda – que foi esposa do Tapeocy, ourives lá de Iporá –; Anita – que foi esposa do Zenildo –; Zenaide – que foi esposa do Gildásio Coutinho –; e o Antônio. O vô Teodoro havia se casado, antes, com minha avó, mãe de meu pai, logo depois que o meu verdadeiro avô faleceu. Isso por volta de 1926. Alguns anos depois, em 1947, a minha avó faleceu também. Pouco tempo depois o vô Teodoro se casou com a dona Golô, lá em Baliza. Em cinquenta e seis, mais ou menos, ele se mudou para Campo Limpo. Era uma figura incrível, muito alegre, dançador, gostava de cantar umas cantigas de antigamente que me encantavam. Saía vendendo bilhetes de loteria pela cidade e tomando suas cachacinhas pelos botecos. Era querido por todo mundo em Amorinópolis, tanto pelo seu jeito alegre como por sua humildade. A dona Golô era outra pessoa fabulosa também. Era costureira das boas, inclusive ensinou o corte a muitas garotas daquela época. Cansei de ir para a casa deles à noite, bater papo com dona Golô, ela costurando até tarde com o pito a lhe acompanhar sempre e com o vô Teodoro cantarolando suas musiquinhas, que foram embora com ele, se perderam no tempo. No final da vida, tanto dona Golô como o vô Teodoro viraram crentes. Ela já não pitava mais e nem o vô Teodoro tomava suas cachacinhas. As festas de aniversário dele, que eram muito alegres passaram, então, a ficar meio sem graça.

Do outro lado da Rua São Paulo, nesse mesmo quarteirão, na esquina era o armazém da dona Euráides. Em seguida era a casa onde morou o seu Zezinho Goulart, pai do Alonso, do Divino, da Sebastiana e da Lázara. Depois era a casa da dona Baiana, casada com o seu Josias, mãe da Tonha da Baiana, da Nega e do Vino da Baiana. A Tonha era muito popular na cidade. Morreu nova ainda. Dona Baiana era uma figura fora de série. Pegava no cabo da enxada para valer, tocava roça. Ela é quem dava as ordens na casa e trabalhava mais que todos da família. Todo ano a gente ia chupar melancia, lá na roça dela. Em seguida, já bem mais recente, era a casa do seu Antônio de Paula. Mas vou aproveitar que falei em melancia e lembrar que as daquela época eram sempre compridas e, a maioria das vezes, de cor amarela. Melancias vermelhas eram raras. Redondas, então, só lá pelos anos setenta, oitenta.

Na mesma rua do vô Teodoro, ainda para as bandas da Jacuba, já depois da avenida Ceará, do lado esquerdo tinha a casa do João Baixinho e da Maria, na esquina. Depois da casa do João Baixinho, morava o seu Irineu, de nome completo Irineu Pedro da Silva, marido da dona Fiúca, a quem já me referi quando descrevia os moradores da rua Minas Gerais mas sobre quem vou falar de novo. Eram pais da Joana, casada com o Gê do Luís Nicoláu; da Helena, esposa do Sinomar do João Costa; do Zé Américo, que hoje trabalha no Bradesco de Goiânia e que se casou com uma moça de Catalão; da Divina, que foi casada com o Jóvi, irmão do Jair Barbeiro; da Nena, casada com o Tõezim Garrafa; da Dagmar, da Cidica, do Jair e da Madalena. Moravam nesta mesma rua, também, seu Gumercino agrimensor e o Benedito Pontes, filho da dona Euráides, casado com a Zuca, grandes amigos. Seu Gumercino já deve ter falecido, mas o Benedito ainda morava em Iporá até março de dois mil e dez. A Zuca já faleceu.

Do lado direito de quem está descendo morou o seu Geraldo Cândido, que tinha um punhado de filhos e um belo cavalo Campolina, enorme. Nessa mesma casa morou o Júlio da Zefa e, bem depois, o Chico Carrinho, marido da Juvércia.

Agora vamos olhar essa mesma rua, sentido praça para o lado do Balbino. No trecho da praça, na esquina com a Avenida Iporá, era a Casa Barbosa; depois vinha a casa em que moraram seu João Damasceno e dona Sudária. Seu João era irmão do Cirilo Damasceno. Por ali morava, ainda, o Zé Leão, moreninho baixo, exatamente aquele que enfiou o canivete na costela do Manoel Antônio, quando este falava mal do Israel de Amorin. Em seguida, acho que já era o bar do seu Fiicão. Abaixo da praça morava a dona Boaventura, mãe do Chiquinho e do Zé Raimundo, parentes do Quindô. O Chiquinho casou-se com a Juvercina, uma morena linda. Não sei mais dele. O Zé Raimundo foi assassinado em Goiânia, quando trabalhava como motorista de táxi. Morou também, por aqueles lados, o seu Lázaro, pai da Mariquinha, da Ana e do Idelfonso. A Mariquinha casou-se com um irmão da tia Célia; a Ana casou-se com Walter, filho do seu Hermes, este, por sua vez, era irmão de dona Lélia. Parece que morou por ali, também, a dona Amélia, esposa do Osmar do cartório, uma senhora de fina educação, muito amiga de minha mãe. Vez por outra a gente vê alguns dos filhos mais velhos dela. São uns rapazes educados e agradáveis, muito parecidos com a mãe.

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