Mais do Livro “Amorinópolis na Metade do Século Passado”, hoje lembrando que daqueles saudosos tempos de escola surgiram pessoas que destacaram. Leia mais da obra de Paulo Afonso Ribeiro Barbosa:
Pessoas vindas de escolas de Amorinópolis e que se destacaram
O primeiro que merece ser citado é o Antônio da Dona Ilídia, que estudou com o Joaquim Vó lá no grupo da Santa Marta e foi um dos pioneiros de nossa região a concluir o curso superior. Formou-se em medicina. O Valdir Gonçalves é outro, já da leva dos alunos do ginásio de Amorinópolis. De família muito pobre e humilde, perdeu o pai quando ainda era criança. Foi trabalhar na Farmácia Popular com cerca de treze para quatorze anos de idade, amarelo que nem açafrão, de tanta anemia. Lutou sozinho, fez o primário e o ginásio em Campo Limpo, trabalhando de dia e estudando à noite; depois fez o segundo grau em Iporá, indo de jipe toda noite para estudar, retornando tarde para reiniciar o trabalho no outro dia bem cedo. Em seguida foi para Goiânia, passou no vestibular para biomedicina, estudou e trabalhou durante todo o curso, formou-se e hoje tem um excelente laboratório no norte de Mato Grosso. A enorme fazenda que tem por lá, para você colocar um dedo ali dentro tem que empurrar boi para um lado, do tanto que está cheia. Sua filha já passou no vestibular para medicina e daqui a pouco vai ser a doutora Samara. Tenho a maior admiração pelo Vardirim.
Outro que merece o mais profundo respeito e admiração é o Ernandes, filho do seu Dino, que era lavrador lá na Santa Marta, depois açougueiro e carroceiro em Amorinópolis. O Ernandes fez o primário na escola do Joaquim Vó, estudando e trabalhando na roça. Depois, com quase dezoito anos, fez o cursinho pré-admissão ao ginásio, do Dinamérico e de seu irmão Negrinho, prestou as provas e passou em primeiro lugar. Daí começou a trabalhar na Casa Barbosa e continuou estudando à noite e trabalhando de dia, seguindo o mesmo caminho do Vardirim. Fez o segundo grau à noite em Iporá e foi tentar vestibular em Goiânia. Passou para medicina, meu caro, desbancando muitos concorrentes da capital que tinham tido oportunidades bem maiores, frequentando os melhores colégios do estado e os melhores cursinhos. Não se formou, por questões financeiras, depois de ter se casado e terem nascido seus três filhos. Era só trabalhar e estudar. Já não havia mais tempo para dormir e o corpo não aguentou. Chegou até ao quarto ano. Daí tentou um concurso dificílimo na Receita Federal, com mais de cento e cinquenta candidatos por vaga, tendo tido outro sucesso. Campeão duas vezes. Mais tarde formou-se em direito. Tricampeão, então.
Mais um daquela época que teve sucesso foi o Zamir, filho do seu Pedro Nascimento e da Dona Maximina. Ele também é dessa leva que brotou do ginásio de Amorinópolis, tendo se formado em direito lá em Rio Verde. Mora nesta cidade hoje, onde se destaca na profissão. Lembro-me dele molecote, catarrento, de calças curtas. Reencontrei-o na festa do Ernandes em 2009, mas já era o Doutor Zamir. Fiz uma foto ao lado dele, que ostento com destaque em meu escritório.
Quando me lembro dessas pessoas, percebo que cabe direitinho aquele texto de Miguel de Cervantes, no livro Dom Quixote, escrito há mais de quinhentos anos, em que diz: Há duas espécies de classe no mundo: os que descendem de príncipes e monarcas, que o tempo vai destruindo gradativamente até ficarem completamente arruinados e os que têm sua origem no povo comum e vão subindo de posição em posição, até se tornarem grandes senhores. A diferença está em que alguns eram o que não são mais e outros são o que outrora não tinham sido.
Todas as segundas feiras publicamos parte deste livro “Amorinópolis na Metade do Século Passado”