Outro capítulo do livro “Elpídio: Pensador Político de Iporá”. A Obra é de Ubirajara Galli e que foi patrocinada por Jaldo de Souza Santos, com incentivo de Elpídio Júnior e Davi de Souza Santos.
Adversários, sim! Inimigos, não!
Elpídio de Souza Santos, mesmo após deixar de atuar como líder político e mudar-se para Goiânia (GO), continuou mantendo, por alguns anos, negócios nas localidades de Iporá (GO) e Amorinópolis (GO). Em uma de suas viagens para tratar de assuntos relativos a seus negócios em Amorinópolis (GO), levou consigo o seu filho Elpídio de Sousa Santos Júnior, à época um jovem estudante. Chegando a Amorinópolis (GO), verificou que a sua permanência naquela localidade deveria se estender por uma semana, e não somente o sábado e domingo previsto anteriormente.
Em função das atividades estudantis de Elpídio Júnior, que não estava de férias e teria aulas na segunda-feira, seu pai Elpídio, que ficaria por mais tempo em Amorinópolis (GO), buscou viabilizar um meio de transporte para o retorno de seu filho à Goiânia (GO). A solução para a viagem de retorno de Elpídio Júnior foi conseguida por meio de uma carona no carro do senhor Manoel Antônio da Silva. O relato supra mencionado faz-se necessário apenas para indicar a razão e o momento em que Elpídio Júnior recebeu do ex-prefeito de Iporá, Manoel Antônio da Silva uma declaração, de viva voz, de seu apreço, respeito e admiração por Elpídio de Souza Santos.
Durante a viagem para Goiânia GO), Manoel Antônio da Silva relembrou alguns momentos políticos de Iporá (GO), sendo ele eleito prefeito para a terceira legislatura dessa localidade. Dentro de suas lembranças, sempre mencionava a atuação como político, cidadão e pai de família de Elpídio de Souza Santos, quando nesse momento verbalizou o seguinte:
“Eu fui adversário político de Elpídio, porém, sempre o admirei e respeitei muito, pois a sua maneira de fazer política era de uma habilidade tal que só nos restava tentar adivinhar os passos seguintes. Elpídio conhecia toda a legislação eleitoral da época, e com esse conhecimento aliado à sua inteligência ninguém conseguia vencê-lo em debates e estratégias. Portanto, fica você sabendo que seu pai é um homem digno de ser admirado, e em determinado período nós fomos adversários sim, mas inimigos não, tanto que hoje somos bons amigos.”
As palavras de Manoel Antônio da Silva, ex-prefeito de Iporá (GO) pela UDN, ficaram caladas na memória de Elpídio Júnior, que agora julga conveniente exterioriza-las, mostrando que seu pai Elpídio de Souza Santos, sempre teve uma conduta coerente com princípios de razão suficiente, lutando por ideais melhores, porém, respeitando seus adversários, o que resultou na admiração dos mesmos. Quando das eleições para o governo do Estado de Goiás, no ano de 1960, saíram candidatos Mauro Borges Teixeira (PSD) e José Ludovico de Almeida (UDN). O candidato José Ludovico de Almeida, que anteriormente já fora Governador pelo PSD, esteve em campanha na cidade de Iporá, onde foi intensamente criticado por antigos companheiros do PSD, inclusive recebendo a alcunha de traidor.
Nesse momento, Elpídio procurou a pessoa que estava comandando o movimento de ataques a José Ludovico, e o repreendeu, dizendo que a campanha seria feita com base em propostas e não com ataques à moral do candidato adversário. Elpídio esteve com o seu adversário político, José Ludovico, no hotel onde estava hospedado, e pediu-lhe desculpas pelos ataques, deixando, porém, claro que embora em tempos passados estivessem juntos, naquele momento ele apoiava e trabalhava para a eleição de Mauro Borges, que era o candidato do PSD. Novamente Elpídio mostrava coerência em sua maneira de pensar e agir.
Elpídio sempre foi um político fiel ao seu partido PSD, sendo vereador por esse partido em Iporá, no período de 1949 a 1961, ressaltando que naquela época os agentes políticos não recebiam salários, mesmo assim trabalhou arduamente pelo engrandecimento de Iporá e o bem de sua população, e não poucas vezes utilizou recursos próprios para pagar despesas partidárias, conforme comprovante seguinte:
Quando decidiu por sua última candidatura a cargo eletivo, demonstrou na eleição de 1957, que sua visão de estratégia sempre funcionou exemplificada no seguinte relato:
Sentiu que a eleição não estava ganha
Na terceira legislatura de Iporá (GO) saíram candidatos, pelo PSD Israel de Amorim e pela UDN Manoel Antônio da Silva, um jovem de 21 anos, nascido em Iporá (GO) e filho de família ilustre. As lideranças da oposição, que à época comandavam a UDN local, temerários por lançar um candidato que não pudesse equiparar-se com Israel, optaram pela tentativa com um jovem estudante, se caso o mesmo perdesse a eleição, eles comandantes da UDN não sairiam desmoralizados. Manoel Antônio era um jovem sim, mas bastante esperto. Já que era candidato não se acomodou. Como era estudante da Escola Técnica Federal de Goiânia, levou para Iporá (GO) alguns colegas que exerciam lideranças estudantis e políticas em Goiânia (GO). Começou por aí a campanha para se eleger Prefeito. Foram usados vários métodos de campanha, inclusive procedimentos escusos para desmoralizar o candidato do PSD, dentre os quais, passaram fezes humanas na corda que acionava o sino e na fechadura de abertura da Igreja Católica, pois sabiam que seriam pontos tocados pelo Padre ao se preparar para a missa realizada todos os dias às seis horas da manhã.
O Padre, com razão, ficou bastante aborrecido, tendo em vista terem atribuído esta indelicadeza à liderança do PSD. Esta atitude não ficou barata para o PSD, embora não tenha participado da mesma, pois, o Padre convocou os fiéis para comparecerem determinado dia na Igreja, onde colocou as cédulas do candidato do PSD em cima de uma mesa e rezou uma missa, como se fosse de corpo presente e disse ainda que, caso votassem em Israel, ele como representante da igreja do local tomaria providências para que Iporá (GO) ficasse sem Padre por 20 anos. Muitos eleitores que votavam em Israel, mas, que eram comungantes ao catolicismo, o procuravam e lhe diziam serem seus eleitores, bem como amigos, mas, não iriam votar nele devido ao que o Padre disse.
Posteriormente, Israel concluiu que muitos de seus eleitores deixaram de votar nele devido às ameaças do Padre. Israel contava com um companheiro fiel, amigo, estrategista político e dedicado ao partido, que era Elpídio de Souza Santos. Um político incansável e devidamente valorizado pela comunidade local, por esta razão se elegeu por três (3) legislaturas a vereador, sendo o mais votado. Foi também Presidente da Câmara. Foi um amigo certo de Israel. Ajudou administrar Iporá (GO), apresentando na Câmara projetos de interesse da cidade. Na eleição entre Israel e Manoel Antônio, como Delegado do partido, tinha anuência a todas as seções de votação. Durante o período de votação, por volta de mais ou menos 11 horas, Elpídio de Souza Santos chamou em particular o candidato Israel de Amorim e disse:
– Tenho feito uma pesquisa de tendência de votação junto aos eleitores, e estou sentindo uma eleição equiparada, portanto, necessitamos de mais eleitores para o nosso lado. Temos que mandar buscar na fazenda, às margens do Rio Caiapó, a família do senhor Zequinha Gonçalves, que são mais ou menos 6 eleitores. Teve como resposta do Israel que, não iria usar o veículo que estava prestando serviços na condução de eleitores da cidade, para buscá-los. Disse ainda, que não era para ficar preocupado, que ele não iria perder a eleição para um jovem sem expressão política. Elpídio deixou o local do encontro muito preocupado e esperando o pior, como de fato aconteceu. Os seis (06) votos da família residente na região do Rio Caiapó seriam suficientes para cobrir a diferença dos votos que elegeram o candidato da oposição.
Como cidadão, empresário, fazendeiro e vereador, Elpídio de Souza Santos deixou uma rica contribuição na construção de Iporá (GO). Possuía uma característica pró ativo, buscando sempre uma atitude de sinergia, e não era um ditador de temperamento forte que tomou sozinho inúmeras decisões, como foi colocado no encarte: Trabalho Legislativo – Vereadores e Ex-Vereadores de Iporá, de autoria de um cidadão residente em Iporá (GO), que desconhecia potencialmente a conduta moral de um político que respeitava não só os seus companheiros, mas principalmente, os seus adversários. Elpídio era sim, um vereador de atitudes que não media esforços em legislar pelo bem comum da cidade. O progresso chegou a esta cidade também pela sua luta e dedicação, muitas vezes abandonou o seu estabelecimento comercial, em função de inúmeras viagens à Goiânia (GO), com o propósito de viabilizar verbas junto ao Governo, para que o Prefeito de Iporá (GO) pudesse administrar.
Quando decidiu deixar a política de Iporá, convidou o Sr, Arthur Barros para sucedê-lo, pois, identificou nesse cidadão uma pessoa do bem, com nítidas características para se tornar um líder local, o que veio a se confirmar com o passar do tempo, resultando nas contribuições que o Sr. Arthur participou, e muito, para o desenvolvimento de Iporá. A princípio o Sr. Arthur Barros demonstrou preocupação, tendo em vista o pouco tempo de residência na cidade de Iporá, e que não tinha prestígio político, e teve como resposta de Elpídio:
– confia em mim e você será eleito vereador juntamente comigo, possivelmente o mais votado.
Elpídio concorreu a seu último cargo eletivo a vereador no ano de 1957, e no mesmo ano elegeu o Sr. Arthur da Costa Barros a vereador, referente ao período de 1957 a 1961, sendo que o mesmo foi também presidente da Câmara. Elpídio mostrou que mesmo saindo da política de Iporá tinha prestígio, adquirido ao longo do período de 1944 a 1961, quando dedicou grande parte de seu tempo em construir uma cidade.
Hoje Iporá é uma bela e progressista cidade, e os seus habitantes por conhecimento e de ouvir falar, guardam na memória as lembranças e com certeza passarão para os seus descendentes os nomes dos homens que ajudaram a construir esta Cidade.
Mesmo afastado do cargo de vereador e da presidência da Câmara Municipal, Elpídio continuou cooperando com a política do PSD em Iporá (GO) e seus distritos. A convite do velho amigo e grande líder Pedro Ludovico Teixeira, continuou trabalhando pelo partido, como Delegado do PSD. Com a decisão de afastar-se de cargos eletivos, por razões de princípios pessoais, deixou registrada em carta à sua irmã Olga, esposa de Israel Amorim, considerações que diziam respeito ao momento
político de Iporá, com sua sempre disposição em ajudar Israel Amorim.
Elpídio residindo em Goiânia (GO), a partir de julho de 1962, continuou com domicílio eleitoral em Iporá (GO), foi solicitado pela direção do PSD para cooperar nas eleições de 1965, pois necessitavam de alguém com domínio do Código Eleitoral. Então nomeado Fiscal do partido esteve presente naquela eleição e em outras, notadamente quando votou na candidata dona Duzinha para a Câmara Municipal.
Fato inesquecível foi quando, em 11 de outubro de 1978, Elpídio e seu filho David estavam passando em frente à residência do Dr. Pedro Ludovico Teixeira, hoje transformada em museu, resolveram fazer-lhe uma visita. Foram recebidos à porta por um neto do já idoso, porém sempre líder, que disse estar o avô recém saído do hospital, não podendo recebê-los. Dr. Pedro ouviu o diálogo e perguntou lá de dentro:
– Quem está aí?
Seu neto respondeu tratar-se de dois senhores que queriam vê-lo. Sendo por ele autorizada a entrada. Dentro da residência, frente a frente com o Dr. Pedro, Elpídio perguntou-lhe:
– O senhor se lembra de mim?
O sempre líder respondeu:
– Se não me esqueço dos meus adversários, como vou deixar de lembrar de um amigo. Dê-me um abraço Elpídio. O momento foi de total emoção, com os olhos marejados de lágrimas, os amigos sentaram-se para uma calorosa conversa. Elpídio preocupado com a saúde do velho amigo disse que a permanência seria pouca. Dr. Pedro retrucou que não, pois gostaria de conversar mais.
A permanência com o Dr. Pedro foi de aproximadamente 45 minutos. Durante esse período, muitos assuntos vieram à tona, inclusive sobre o tiroteio que aconteceu em Iporá (GO), no ano de 1951. Resultante da visita, David Álvaro foi agraciado com o livro
Memórias, escrito pelo Dr. Pedro com a seguinte dedicatória: Ao prezado amigo David Álvaro Medeiros dos Santos com um abraço.
Elpídio e seu filho despediram-se do grande homem, com um caloroso abraço. O último pleito eleitoral que Elpídio participou foi o de novembro de 1982, quando trabalhou ativamente em Iporá (GO), Amorinópolis (GO) e outras cidade próximas, e novamente com recursos próprios, na vitoriosa eleição de Íris Rezende Machado para Governador do Estado de Goiás. Nessa eleição esteve atuando também como Fiscal do PMDB, conforme credencial em anexo:
Mesmo depois de seu falecimento, ocorrido em 1983, Elpídio continuou indiretamente participando da política de trazer o bem estar para a população de Iporá. A sua presença se faz notar por meio de um dos seus descendentes, o neto Douglas Alexandre de Oliveira Santos, engenheiro responsável técnico pela construção da rede de esgoto e sua ampliação. Estação de tratamento de esgoto inaugurada no mês de maio de 2010. Canalização de parte do córrego Tamanduá. Pavimentação asfáltica nos setores Vila Brasília, Aeroporto Sul, Arco Iris e Ferreira Carajás. Portanto, a família Sousa Santos, de certa forma, ainda trabalha para conservar essa bela cidade.
