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Elpídio e o episódio da revanche que não aconteceu

Outro capítulo do livro “Elpídio: Pensador Político de Iporá”. A Obra é de Ubirajara Galli e que foi patrocinada por Jaldo de Souza Santos, com incentivo de Elpídio Júnior e Davi de Souza Santos.

 

A revanche esperada que não aconteceu

Israel Amorim era Prefeito de Iporá (GO) e Elpídio de Souza Santos era Vereador, e sempre tiveram um bom relacionamento com o governador Jerônimo Coimbra Bueno, mesmo sendo da oposição. Em 30/06/1950, o governador afastou-se do cargo para candidatar-se ao Senado. Em 01 de julho de 1950 assumiu o governo o vice-governador Hosanah de Campos Guimarães. O governo empossado era ligado à UDN, partido de uma oposição ferrenha ao PSD, ao contrário do PSP, partido do então Governador demissionário.
A rivalidade nacional entre UDN e PSD não era diferente na localidade de Iporá (GO). Com a posse do novo Governador do Estado de Goiás, os opositores de Israel sentiram-se prestigiados, e tomaram a iniciativa de buscar a demissão de funcionários públicos ligados ao mesmo, começando pelas professoras Milca de Sousa Santos e Aldenora Santos Nunes, cunhadas do Prefeito e irmãs de Elpídio. Formou-se uma comissão que veio à Goiânia para uma audiência com o secretário da educação Hélio Seixo de Brito. Foi a comissão à Secretaria de Educação e não o encontrou, então decidiram  seus integrantes irem à residência do mesmo, sendo recebidos por sua esposa, Sra.Célia Coutinho Seixo de Brito, informando que o seu esposo não havia chegado, mas  que entrassem e o aguardasse. Com a demora do Secretário, a Sra. Célia Coutinho Seixo de Brito, que era uma mulher de atitudes e exímia assessora do Secretário, e também uma excelente Pedagoga, dirigiuse à comissão visitante perguntando se poderia antecipar o que seria tratado com o Secretário. Os componentes da comissão disseram que sim, pois, queriam pedir a demissão de duas professoras que eram ligadas ao PSD. Foi lhes perguntado se essas professoras eram formadas, responderam que eram as únicas formadas que trabalhavam na localidade de Iporá (GO). A Sra.Célia Coutinho Seixo de Brito ficou estarrecida com a resposta, e lhes disse que ela estava à procura de professoras formadas para lecionar nas escolas de Goiânia (GO) e não estava encontrando, e eles queriam viabilizar a demissão das únicas formadas e disponíveis em Iporá (GO).  Foram informados que se quisessem esperar o Secretário poderiam ficar a vontade, mas ela não iria permitir que o Secretário demitisse as professoras. O resultado foi que as professoras Milca de Sousa Santos e Aldenora Santos Nunes continuaram prestando serviços ao Grupo Escolar Israel de Amorim por muitos anos.
Na primeira tentativa nada conseguiram, partiram para outra, voltaram novamente a Goiânia (GO) e solicitaram do Governo um destacamento militar para Iporá (GO), composto somente de cabos, que fossem bastante corajosos. Não foram para Iporá (GO) manter a ordem e sim para cometer atrocidades. Partiram para as fazendas com o fim de desarmar os fazendeiros, praticaram atos inimagináveis, e na cidade de Iporá (GO) agiram da mesma forma. O intuito era encontrar uma razão para assassinar ou desmoralizar Israel Amorim, seus familiares e companheiros mais próximos. Iporá (GO) estava cheirando pólvora. Não existia mais tranquilidade na cidade, os habitantes estavam assustados. Qualquer momento poderia acontecer o pior, mesmo sabendo de tal movimentação, Israel não se armou e nem arregimentou homens para a defesa de uma possível agressão.

O dia chegou. Israel foi convidado para participar do baile comemorativo do aniversário do Sr. Valdemar Barbosa. no salão do cinema do Sr. Paraíba, no dia 07 de janeiro de 1951. Valdemar era um comerciante bem relacionado na Cidade, o salão estava repleto, a alegria era reinante no recinto, quando por volta de 21 horas adentraram ao recinto os policiais, procurando por Israel e dando tiros para cima.

Foi um desespero total, as pessoas que ali se encontravam saíram correndo para as suas casas. Israel não estava no baile, pois Elpídio de Souza Santos, estrategista nato, fora à sua casa avisá-lo para não ir, isso em função de sua análise passo a passo dos acontecimentos locais,  pressentindo que a polícia estava prestes a cometer uma atrocidade. Os policiais saíram do local do baile, passando pela Av. XV de Novembro, descendo pela Rua Catalão e adentrando à Av. 24 de Outubro, sentido casa do Israel, dando tiros e xingando o mesmo. Quando estavam bem próximos à residência de Israel, saíram para o alpendre os homens, mulheres e as crianças para verem o que estava acontecendo. Os policiais percebendo a presença de mulheres e crianças não tiveram coragem de atirar no grupo. Caso estivessem no local somente os homens, teriam sido atirados. Sob orientação de Elpídio de Souza Santos, todos voltaram para dentro da residência. Tempo suficiente para os policiais iniciarem um cerrado tiroteio em direção à residência de Israel. As mulheres e crianças deitaram no chão dos quartos e os homens entrincheirados para responder os tiros. Neste momento tinham quatro homens na residência, Israel, Elpídio, Silva Florambel e Anjo, primo do Israel e contador de “causos”. Nesta primeira noite, nas duas primeiras horas, somente três homens trocaram tiros com a polícia, Elpídio, Israel e Silva Florambel, evitando dessa forma uma invasão da residência. Mais tarde chegaram mais homens que vieram em socorro.
Quando amanheceu o dia, houve uma trégua entre as partes para que as crianças, mulheres e idosos deixassem a casa do Israel, partindo em um caminhão para a Chácara do Sr. Manoel Batista. Nesta mesma manhã muitos homens armados estavam chegando para dar combate aos policiais. Alguns homens ligados à UDN também se juntaram aos policiais, mesmo assim o número era insuficiente para enfrentar os homens existentes na casa do Israel. Muitos que ali estavam eram corajosos e queriam de toda forma cercar os policiais, para acabar com todos. Foi aí que se evidenciou mais uma vez a liderança, astúcia e sabedoria de um ex-sargento do exército brasileiro, Elpídio de Souza Santos, que mesmo tendo profundo conhecimento de procedimentos de combate, mostrou para aqueles homens valentes que, estavam ali para defender e não para atacar. Atitude sábia e enérgica, tomada por esse comandante da situação, evitando um verdadeiro derramamento de sangue. Elpídio de Souza Santos tinha uma visão nítida das consequências, pois caso houvesse mortes de policiais, com certeza, seriam mandados de Goiânia (GO) para lá, mais policiais e armamentos pesados. Não houve mortes, mas a residência de Israel Amorim ficou toda crivada de balas de vários calibres, principalmente fuzil.
No dia do tiroteio muitas famílias deixaram as suas casas e foram para as chácaras e fazendas. Elpídio, que comandava toda a logística de defesa, mandou um mensageiro à Goiânia (GO) para informar ao Alberto Sousa Costa, seu irmão, e ao Dr. Clodoveu Alves de Castro, advogado de Israel, o que estava acontecendo. Tanto Alberto quanto o Dr. Clodoveu eram ligados à UDN. Imediatamente tomaram as providências devidas, em que foi mandado em um avião do Estado de Goiás o Cel. Sonen  e Ten. Frazão, que desarmaram os policiais e os  recolheram de volta a Goiânia(GO).
Em 31 de janeiro de 1951 o Dr. Pedro Ludovico Teixeira tomou posse como Governador do Estado. Muitos líderes da UDN, à época, mudaram de Iporá (GO), talvez receosos de uma revanche.  Devido os dias tensos que tiveram Israel e Olga sua esposa foram passar uns dias no Rio de Janeiro (RJ), na residência do irmão de Israel, Jorge Amorim. Logo após a posse do Governador, chegaram à Iporá (GO) mais ou menos, uns vinte soldados comandados por um sargento. Como Israel não estava na cidade, seu cunhado Elpídio, que era vereador, foi ao encontro do sargento, procurando saber quem dera ordem para a vinda dos policiais e qual a sua finalidade. O mesmo respondeu que recebera ordens de seus superiores e era para dar o troco pelo que aconteceu. Elpídio disse que não estava de acordo e que eles não praticassem qualquer ato truculento. O sargento, de pronto, disse que a ordem era para atender somente o Israel. Elpídio vendo que a situação poderia resultar em consequências trágicas e imprevisíveis 
procurou as pessoas ligadas à UDN, sugeriu que não se manifestassem naquele momento e, se possível, não saíssem de casa e que ele estava 
indo à Goiânia (GO) para solicitar a retirada dos policiais. 

Em Iporá (GO) havia um rádio-telégrafo operado por um sargento da polícia, em que solicitou um avião, que conduziu Elpídio à Goiânia (GO),  juntamente com sua esposa Irani Teixeira Santos, sendo recebidos pelo Governador Dr. Pedro Ludovico Teixeira, em que pediu a retirada dos policiais, pois, não queria revanche, sendo atendido de imediato. Ficaram em Iporá (GO) somente cinco soldados e o sargento. Novamente os fatos demonstraram o bom senso, coragem e respeito aos adversários políticos, características peculiares ao notável e cidadão líder Elpídio de Souza Santos. Os moradores dessa época de Iporá (GO) podem afirmar que não houve qualquer agressão contra os membros da oposição.

O acesso de Elpídio, ao então governador Pedro Ludovico Teixeira era totalmente facilitado. O relacionamento entre ambos mostrava não só o respeito político, mas também a amizade, sendo que todas às vezes que o Governador se fazia presente em Iporá (GO), ele já avisava a Elpídio que iria à sua casa, e para preparar o aperitivo com o seu predileto “Cavalo Branco,” para em seguida saborearem o delicioso almoço de “Dª Belinha”, como era conhecida a matriarca da família Souza Santos.

As solicitações de Elpídio eram prontamente atendidas pelo Governador Pedro Ludovico Teixeira, como a nomeação do Srº Emanuel Alves de Araújo para o cargo de Tabelião do 2º Ofício do Termo, conforme documento que segue: 

Correspondência do Governo de Goiás ao Senhor Elpídio
As considerações de amizade e prestígio, que o líder Pedro Ludovico Teixeira dispensava a Elpídio, já vinham desde a época em que este chegou ao então distrito de Iporá. Quando da vitória de Jerônimo Coimbra Bueno( coligação UDN/PSP ) sobre José Ludovico de Almeida( PSD ), para Governador do Estado de Goiás, no ano de 1947, ocorreram impugnações de várias urnas, sendo convocada uma eleição suplementar. Nessa eleição suplementar, o vitorioso candidato Jerônimo Coimbra Bueno, buscou reverter a sua minoria na Assembléia Legislativa de Goiás, tentando eleger mais Deputados. Com esse firme propósito, Jerônimo Coimbra Bueno procurou apoio na região de Iporá para eleger um deputado, mas, para essa eleição suplementar, os  representantes do PSD na localidade ficaram divididos, sendo que Elpídio liderou o grupo que continuou ao lado de Pedro Ludovico Teixeira. 

A lei existente, à época, permitia que determinados cargos fossem ocupados por pessoas, de comprovada capacitação, e da confiança dos governantes. Em determinado momento, o Governador Pedro Ludovico Teixeira convocou Elpídio e lhe disse da existência de duas vagas para Fiscal de Rendas na Coletoria Estadual de Iporá. 

Insistiu que uma das vagas fosse ocupada por ele, pois sabia do seu Pedro Ludovico Teixeira e Elpídio. Iporá, 1950 preparo para o cargo, e mais, mencionou uma visão de futuro, quando disse a Elpídio que essa seria uma das profissões mais valorizadas e procuradas em tempos vindouros, que é hoje o Auditor Fiscal da Secretaria da Fazenda. Elpídio agradeceu pela lembrança de seu nome para o cargo, porém, disse não contar com tempo para ocupá-lo, pois suas inúmeras atividades não permitiriam mais essa ocupação. 

Porém, respondeu a Pedro Ludovico Teixeira, que tinha duas pessoas responsáveis e capacitadas para tal função que eram Jabes de Sousa 
Santos e José de Castro. Providenciaram-se então as nomeações das pessoas indicadas por Elpídio. O fato é que, a nomeação de Jabes estava demorando, levando Elpídio a procurar junto a Pedro Ludovico Teixeira as razões, quando então foi informado da existência de outro nome indicado por Israel Amorim. Elpídio explicitou suas ponderações sobre o assunto, o que levou o governante Pedro Ludovico Teixeira a tomar uma decisão de imediato, baseada em fatos e relembrada por ele, como a eleição suplementar de 1947, quando o fiel e sempre amigo Elpídio esteve ao seu lado. Convocou o seu assessor e determinou a nomeação de Jabes de Sousa Santos ao cargo de Fiscal de Rendas para a Coletoria Estadual de Iporá, onde exerceu a função com dedicação e comprovada competência até sua transferência para Goiânia (GO) na década de 60, se aposentado nos anos 70 como Auditor Fiscal da Secretaria da Fazenda.

As atuações políticas de Elpídio muito ajudaram as gestões do Prefeito e líder Israel Amorim. O conhecimento do Código Eleitoral, que Elpídio sabia de cor, levou-no a inúmeras vitórias, deixando muitas vezes os advogados contratados pela UDN a se colocarem em uma defesa sem saída e fundamentos questionados. Os seus adversários políticos sabiam de sua competência, mas Elpídio não os subestimavam, tratando os embates com firmeza, porém, com respeito.  O resultado disso foi o reconhecimento de seu preparo, com adversários políticos se tornando amigos em tempos futuros, como é o caso relatado por seu filho Elpídio Júnior, em uma conversa travada com o Srº Manoel Antônio da Silva, registrada no capítulo seguinte.


Governador Pedro Ludovico Teixeira e Elpídio, 1950

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