Mais um trecho do livro sobre Elpídio de Sousa Santos

outubro 10, 2011
10:36 am

Outro capítulo do livro “Elpídio: Pensador Político de Iporá”. A Obra é de Ubirajara Galli e que foi patrocinada por Jaldo de Souza Santos, com incentivo de Elpídio Júnior e Davi de Souza Santos.

Destino Goiás

Por volta do ano de 1940, Israel Amorim e esposa Olga, esta irmã de Elpídio, foram morar em Itajubá, hoje Iporá (GO). Nesta pequena localidade havia algumas casas de adobe e palhas, espalhadas em uma única rua, que mais tarde foi denominada rua João da Mata, que era primo de Israel.

Israel Amorim, radicado em Itajubá, hoje Iporá (GO), vislumbrando ser no futuro uma cidade próspera, e mais, para implementar seus planos necessitava ter ao lado pessoas capacitadas e de confiança, daí convidou o sogro e família para virem morar nesse local. O sogro, Álvaro Theóphilo dos Santos, que tinha se estabelecido na cidade de Aquidauana (MS), ficou receoso de mudar para uma região que já era sua conhecida. Em anos passados, Álvaro já havia percorrido as redondezas vendendo seus produtos para o Srº João Leonel, Srº Lázaro Vieira, Dª Nina na área do Jacaré, Srº Jaó, Srº Arsênio e outros na região da Pindaíba.

No final de 1941, Álvaro decidiu aceitar o convite do genro, porém, a princípio, vieram apenas ele e o filho João de Sousa Santos. O filho João ficou em Goiânia para continuar os estudos. Israel Amorim continuou insistindo para que a família de sua esposa Olga viesse toda para Itajubá, hoje Iporá (GO). Por várias vezes Israel falou para a comunidade local que, se eles achavam que já tinham visto pessoas corajosas, eles iriam conhecer alguém que superava a todos, tratava-se de seu cunhado Elpídio. O perfil de Elpídio, com seu caráter, honradez, sabedoria, inteligência, estrategista, fiel, tudo aliado à sua coragem era o que Israel precisava para ter ao seu lado.

Em 1944 o restante da família Souza Santos mudou-se para o então Distrito de Iporá (GO), à exceção de Jabes que só veio em 1945. Chegando a Iporá (GO), Elpídio passou a comandar a compra e venda de gado para Israel. O irmão Jabes foi convidado por Elpídio para abrirem em sociedade uma fábrica de banha suína, para abastecer o consumo de Iporá (GO) e Goiânia (GO). Os negócios iam bem, porém a esposa Guiomar não se adaptou ao local, vindo a separar-se de Elpídio e posteriormente desquitar. O filho do casal, David, ficou sob os cuidados da avó Isabel, mãe de Elpídio. Elpídio já participava ativamente da política local, sendo o mentor político do líder Israel Amorim. Com a emancipação de Iporá (GO) em 1949, Elpídio elegeu-se vereador , levando suas ideias inovadoras para a câmara municipal e dando sustentação ao prefeito Israel Amorim.

O irmão Jabes é convidado a assumir a secretaria da prefeitura, e Elpídio resolve encerrar a fabricação de banha suína e abrir um estabelecimento comercial.

Envolvido com a intensa atividade política regional, o que lhe absorvia grande parte do tempo, e buscando ampliar o seu estabelecimento comercial, pois o mercado era promissor, Elpídio convidou outro irmão, João de Sousa Santos, para associar-se a ele. O irmão João de Sousa Santos era contador, em Goiânia (GO), dos irmãos Câmara, donos do jornal O Popular. Fundamentado no estabelecimento comercial já existente, capital disponível, Elpídio planejou e implementou a sua ampliação, e com a chegada do irmão João, trabalhando juntos, fizeram uma boa loja de “Secos e Molhados”, onde se vendia todo tipo de alimentos, ferragens, tecidos finos e populares, aviamentos, selaria, doces, sal, açúcar, café, bebidas, calçados e outros produtos. O negócio prosperou com tamanha rapidez que, fez se necessário a aquisição de caminhões para o transporte das mercadorias compradas e vendidas. As viagens eram constantes entre Iporá (GO) e as cidades de Uberlândia (MG), São Paulo (SP) e Campinas (SP), com a duração de semanas, pois as estradas eram de péssima qualidade, mais parecendo trilhas para carro de bois.

O novo casamento

O ritmo de vida de Elpídio, desde criança, sempre foi intenso, e agora em Iporá (GO) dividia-se entre as suas atividades empresarial, política e o crescimento do filho David. Após algum tempo só, Elpídio conheceu uma moça, oriunda de boa família, e de imediato sentiu ser a pessoa que estava procurando para ser sua esposa. A moça, Irani Teixeira, filha de João Teixeira Sobrinho e Floripes Luiza Teixeira. Elpídio e Irani casaram-se no dia 19.11.1949, na cidade de Iporá (GO). Da união do casal, nasceram os filhos: Elpídio de Sousa Santos Júnior; Elni Santos Mannarino, nascida Teixeira Santos; Irani Teixeira de Sousa Campos, nascida de Sousa Santos; Cleizia Teixeira Santos Martins, nascida Teixeira Santos e Eduardo Teixeira Santos.

O casamento fez bem a Elpídio, que ao lado da esposa amada, Irani, sempre demonstrou muito carinho e preocupação com a família. Apesar da correria do dia a dia, em função da intensidade de trabalho e dedicação ao meio político, que muita das vezes chegava às raias do confronto com risco de vida, o seu pensamento estava voltado para a segurança e bem estar da esposa e filhos. O ensinamento Cristão, aplicado por seus pais, que ajudaram a fundar as Igrejas Presbiterianas de Aquidauana (MS) em 1938 e de Iporá (GO) em 1948, foi fundamental na formação do caráter de Elpídio, que recebeu do pai um exemplar do Novo Testamento da Bíblia.

Elpídio sempre demonstrou o desejo de proporcionar aos filhos as oportunidades que não teve. Um deles era que suas crianças crescessem frequentando uma igreja. A esposa Irani, que veio de um lar católico e estava em fase de conversão ao protestantismo, mais especificamente à denominação Presbiteriana, concordou em levar os filhos todos os domingos à Escola Bíblica Dominical, no período da manhã. Domingo bem cedo, e lá estava Irani preparando o café da manhã dos filhos e do esposo, logo em seguida vinha o banho das crianças e a escolha da melhor roupa para vestir os pequeninos queridos.

Todos já prontos e Irani corria para se arrumar, pois a hora já estava próxima. Ufa! Que sufoco! Ajeitar uma escadinha de filhos não era fácil. A esposa beijava o esposo, filhos beijavam o papai, e lá iam para a Escola Bíblica Dominical, mas Elpídio ficava em casa. Certo domingo, a esposa Irani executava toda a rotina dominical, e com os filhos, já prontos, sentaram-se e aguardaram. Quando Elpídio chegou foi travado o seguinte diálogo:

– Meu bem, vocês vão chegar atrasados à igreja.

Irani responde, vamos se você não se aprontar rápido; Elpídio não entendeu a colocação da amada esposa.

– Como assim, eu não me aprontar?

– Sim meu bem, a partir de hoje só vamos à igreja se você for também. O que estamos aprendendo lá é importante, não só para nós, mas também para você.

Resultado da história, o esposo Elpídio passou a acompanhar a família todos os domingos.

O amor e carinho de Elpídio para com os filhos era o seu discurso de conselhos. David, o filho mais velho, lembra-se disso. Certa feita, estava David preparando-se para a tão sonhada primeira barba, quando

apareceu o tio Jairo, irmão de seu pai, e perguntou-lhe :

– Você já pediu autorização para seu pai?

Nesta brincadeira, David escreveu uma carta solicitando a tão importante permissão, e teve como resposta do amado pai a seguinte carta, que é guardada com muito carinho:

Iporá (GO) 22 de janeiro de 1958, Meu caro filho David. A obediência é uma grande virtude e qualidade. Qualidade esta, que graças a Deus o meu filho é dotado. Tens o meu consentimento

para tirar as tuas penugens, mas nunca se esqueça, que para os antigos um fio de barba servia de documento. Do teu pai e amigo, Elpídio.

Elpídio, até o último dia de sua vida esteve presente junto à família. As alegrias da família eram suas alegrias, as tristezas da família eram suas tristezas, e em todas as situações o ombro forte estava disponível.

Exemplar do Novo Testamento que Álvaro Theóphilo presentou o filho Elpídio.