
Publicamos hoje o último capítulo (décimo oitavo) do livro ISRAEL AMORIM: UM HOMEM QUE RELUZIU MAIS QUE SEUS DIAMENTES. A Obra é de Ubirajara Galli e que foi patrocinada por Jaldo de Souza Santos, com incentivo de Elpídio Júnior e Davi de Souza Santos.
Na cidade de Conceição do Araguaia (PA), no dia 17 de julho de 1919, nasceu Milca de Souza Santos, cuja trajetória existencial seria toda ela voltada para a educação.
Em Registro do Araguaia, estudou no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, complementando seus estudos em Cuiabá e Campo Grande, formando-se normalista. Ainda, no estado de Mato Grosso, foi professora, nas cidades de Aquidauana e Guia-Lopes.
Atendendo o convite do cunhado, Israel Amorim, no ano de 1944, muda-se para Iporá, juntamente com seus familiares, entre eles, a sua irmã Aldenora Santos Nunes, ela que se tornaria sua eficiente auxiliar, na lida da educação pioneira, iporaense.
Chegando à ex-Itajubá, a Iporá que estava nascendo, não havia grupo escolar, apenas uma Escola Isolada, com pouquíssimos alunos, onde Milca e Aldenora passaram a dar aulas. Para arregimentar novos alunos, tomou a iniciativa de sair de casa em casa, para conquistar a frequência de novos alunos e, já enfrentando a “guerra religiosa” do padre local, que pregava na comunidade que a sua escola era protestante, por causa da sua formação evangélica, e que os alunos de lares católicos, não poderiam estudar lá. Algo que Milca e Aldenora nunca fizeram na vida foi misturar religião com educação.
No ano de 1946, Israel Amorim começou a construir o Grupo Escolar que, anos mais tarde, tomaria seu nome emprestado para existir.
A construção do Grupo Escolar foi concluída com o apoio recebido do governador Jerônymo Coimbra Bueno (22.03.1947/30.06.1950), que, por sua vez, contou com o apoio de Israel Amorim, para a eleição do deputado Domingos Jacinto Pinheiro (dissidente do PSD) para a Assembleia Legislativa, para que ele, governador, tivesse maioria na casa, situação que não ocorreu.
Sobre esse episódio, envolvendo a construção do Grupo Escolar, prestou depoimento ao livro, João de Sousa Santos:
Quando Jerônymo Coimbra Bueno ganhou a eleição de Juca Ludovico, candidato de Ludovico Teixeira, para o governo de Goiás, em janeiro de 1947, faltou-lhe maioria na Assembleia Legislativa de Goiás. O PSD liderado por Pedro Ludovico havia obtido mais cadeiras que o partido de Coimbra Bueno, eleito pela coligação UDN/PSP. Nesta eleição, várias urnas foram impugnadas pela Justiça Eleitoral, sendo convocada uma eleição suplementar. Para tentar reverter a sua minoria na Assembleia Legislativa de Goiás, o que iria complicar a sua administração, Coimbra Bueno saiu a campo para conquistar em cima dessa eleição suplementar a importante maioria na Assembleia. Com esse propósito, Coimbra Bueno procurou Israel Amorim que liderava o mutirão pró-construção de Iporá, prometendo-lhe que construiria um grupo escolar na localidade que se erguia, desde que Israel apoiasse seu deputado indicado. Pensando no melhor para a futura cidade de Iporá, embora adversário politicamente, Israel, que era do grupo político de Pedro Ludovico, mesmo assim, acabou apoiando o pleito político de Coimbra Bueno que logrou êxito, elegendo o deputado para o qual havia solicitado apoio.
Porém, não obteve a desejada maioria na Assembleia. Coimbra Bueno cumpriu a sua palavra construindo o Grupo Escolar que, posteriormente, passou a se chamar Israel Amorim.
Pelo fato de Israel ter apoiado Coimbra Bueno, adversário político de Pedro Ludovico, ele ficou conflitado com o líder do PSD em Goiás.
Durante esse período, sem diálogo entre Pedro Ludovico e Israel Amorim, seu cunhado Elpídio de Souza Santos foi o interlocutor de Pedro Ludovico para assuntos da região da futura Iporá.
Milca, a primeira professora formada a chegar a Iporá, assumiu a direção do Grupo Escolar, onde fez um trabalho diferenciado e que serviu como modelo para toda a região do oeste goiano. Mesmo assim, quando Jerônymo Coimbra Bueno desincompatibilizou-se em 30.06.1950, para disputar mandato de senador, assumindo em seu lugar, Hosanah de Campos Guimarães, a oposição de Iporá viu frustrada a sua tentativa de tirá-la da direção do Grupo Escolar, graças ao reconhecimento da sua capacidade de gestora.
Suporte para que o Grupo Escolar, pedagogicamente, atuasse de forma diferenciada dos demais da região, foi a participação espontânea, distante de qualquer remuneração, a ação que empreendeu João de Sousa Santos, irmão de Milca e Aldenora, ele, o primeiro contador formado a trabalhar em Iporá e primeiro diretor da Câmara Municipal da cidade. João era o responsável pelo aprendizado dos alunos para tocar os instrumentos da fanfarra, adquiridos com a venda de ingressos das apresentações teatrais organizadas por Milca e Aldenora. “Ensinei aos alunos do Grupo Escolar e da Escola Reunida Dom Bosco a manejar os tambores, caixas, taróis e também a tocar cornetas. Assim, nos desfiles escolares, a garotada vibrava, e o povo aplaudia”.
As datas cívicas eram comemoradas com bastante entusiasmo pelo Grupo Escolar, uma delas, de forma especial, era a do Dia da Primavera. Assim narrada no livro, A Família Sousa Santos em Iporá e alguns momentos de sabedoria e humor, de João de Sousa Santos:
Quando nos mudamos para Itajubá, na década de 1940, procuramos ajudar Israel Amorim no desenvolvimento de Iporá. Minhas irmãs Milca e Aldenora se empenharam na área da Educação. Enfatizaram, além do ensino, também a sociabilidade. Faziam teatros, brincadeiras culturais, desfiles comemorativos de várias datas importantes, como 7 de setembro, 15 de novembro, aniversário da cidade, do Israel Amorim, e, em grande estilo, a comemoração do Dia da Primavera.
Nas boas-vindas à estação das flores, a criançada desfilava aos pares com arcos floridos, cantando o hino à Primavera, rumo ao Ribeirão Santo Antônio, à sua famosa cachoeira. Era comemoração para um dia todo. Iniciava às 7 da manhã e finalizava às 6 da tarde. Naquele dia, a cidade toda entrava em festa, o comércio, na sua maioria fechava as portas, o povo em massa afluía para o local. Era uma festa maravilhosa, todos levavam alimentos e refrigerantes para lancharem e só arredavam os pés das águas do Ribeirão Santo Antônio por volta das 18 horas, quando já começava a escurecer.
A professora Aldenora Santos Nunes, para comemorar o Dia da Primavera, compôs a seguinte mensagem poética:
Na Primavera, aves sabem cantar. No alvorecer, elas formam verdadeiras orquestras, com seu canto mavioso. As aves canoras tornam-se tagarelas, alegrando a natureza com os seus trinados tão belos. São verdadeiras sonatas que as aves nos presenteiam saudando a primavera.
As flores ficam bonitas, que os passarinhos as namoram do beiral dos seus ninhos.
A Primavera é a estação das flores, da alegria, dos amores e de perfume no ar, onde esvoaçam as borboletas como se estivessem a bailar.
Durante a Primavera, as flores num viço deslumbrante, entreabrem suas carolas mostrando um tom belo e deslumbrante quadro.
Na época da Primavera, os ramos se multiplicam; há festa nos gramados, o povo fica feliz e não perde o encanto de plantar.
Plantar muito, plantar constantemente, para que a Primavera seja cada vez mais bela.
Deus não nos deu a terra, apenas para ser pisada, e sim, para ser amada e cultivada.
A Natureza parece um sonho cheio de encantos mil. Os campos floridos, jardins coloridos e perfumados, que nos inebriam. Canções que afloram nos lábios dos eternos namorados. À noite tem mais estrelas, e mais sonhos nas madrugadas.
Na Primavera, a árvore, qual monumento verde, alegra a vista de quem a contempla.
É na Primavera, que a floração desata sua magia, enchendo a natureza com tanto esplendor que nos extasia. Por isso eu digo: a Primavera é a rainha das estações, como a rosa é a rainha das flores.
Após décadas de trabalho, Milca, entendendo que a sua missão educacional estava cumprida em Iporá, transferiu-se para Goiânia e assumiu a direção do Grupo Escolar Pedro Ludovico. Algum tempo depois, foi convidada para fazer um curso de especialização, em direção de escolas, na cidade mineira de Leopoldina, que reuniu destacados profissionais da área, em todo o País.
Após a realização do curso, em Leopoldina, Milca foi convidada, e aceitou a responsabilidade de assumir, a direção do Curso de Treinamento Educacional de Morrinhos (GO), onde deixou a sua marca de gestora educacional.
Aposentada e residindo em Goiânia, Milca de Sousa Santos faleceu, em 07 de janeiro de 2007.
Zauri Pereira Coutinho Procedente de Lençóis (BA) chegou a Iporá em 1952. Exprofessora do Grupo Escolar.
Um dia Israel Amorim chegou até a minha casa acompanhado do meu irmão Gildásio Coutinho e perguntou, ao meu pai:
— Ô Diô, cadê a menina daí?
Como eu tinha outras irmãs, meu pai perguntou-lhe?
— Qual delas?
— A Zauri.
Ao me aproximar dele, ele falou:
— Minha filha vim te buscar, para você lecionar no Grupo da Milca.
Como eu ainda não havia concluído o Curso Normal, disse-lhe que seria melhor primeiro eu formar, para depois ir dar aula no Grupo. Com o que ele não concordou.
Dias depois, a dona Milca mandou me chamar e disse que queria que eu fosse dar aula no Grupo, em substituição à dona Esperança (esposa de João de Sousa Santos) que havia adoecido. Eu aceitei o convite, desde que fosse apenas para substituí-la, em sua ausência. Com o retorno da dona Esperança, Israel Amorim foi a minha casa, pegou os meus documentos com a minha irmã e foi para Goiânia.
De volta, no outro dia, chegou com a minha nomeação, assinada pelo governador José Feliciano Ferreira para eu dar aula no Grupo. Ao mostrar-me a nomeação, ele me disse:
— Agora, minha filha, não tem jeito mais. Você é professora de lá.
Dar aula no Grupo Escolar foi um aprendizado de vida para mim.
Aprendi muito, convivendo com a dona Milca, Aldenora e Esperança. Alunos, professores, todos tinham um respeito enorme por dona Milca.
Depois que a dona Milca foi embora, ainda fiquei durante anos lecionando no Grupo Escolar, sendo que, por certo período, deixei as salas de aula, para ocupar a secretaria da Escola.
Sempre que eu ia a Goiânia, quase todas as vezes, eu visitava a dona Milca. No dia em que ela faleceu e que recebi a notícia, aqui em Iporá, muito triste fui à porta da rua, naquela tristeza e vi alguns alunos do Grupo Escolar passando e lhes perguntei:
— Meus filhos, vocês sabem que hoje é um dia muito triste para o Grupo, onde vocês estudam? Pois, faleceu em Goiânia, a sua primeira diretora, a dona Milca, que foi minha diretora também. Vocês estão sabendo? A resposta deles foi negativa e que haviam tido aula normal.
Tristemente, a morte da dona Milca que tanto fez pela Escola, não foi sentida, não foi respeitada, pela direção do Grupo. Isso me doeu na alma.
Maria Burjack de Faria Amiga da família Sousa Santos, há mais de seis décadas, presenciou a inauguração do Grupo Escolar, em 7 de julho de 1947, para, dois anos depois, em 1949, tornar-se professora da instituição, até a sua aposentadoria, ocorrida em 1982.
Nosso começo, no Grupo Escolar não foi fácil. No início de cada ano, nós saíamos com um caderno nas mãos e íamos de casa em casa para matricular as crianças. Havia muita resistência para os pais permitirem que seus filhos estudassem. Muitos, até falavam: “O dia que eu quiser que meu filho estude, eu sei onde fica o Grupo”. Quando nós ouvíamos, esse sonoro não, dos pais, que entendiam que o estudo era desnecessário à vida de seus filhos, a Milca sempre
contra-argumentava:
— Talvez, agora não. Mas, olha para frente, olha para o futuro. Daqui a algum tempo, quem não tiver conhecimento, não tiver estudado, não vai servir nem para auxiliar de servente.
O Grupo Escolar funcionava nos períodos matutino e vespertino. De manhã, eram uns professores e, à tarde, eram outros. A quantidade de alunos, tanto num período como no outro, era praticamente a mesma.
Milca era extremamente organizada em tudo o que ela fazia. As comemorações das festas juninas, Ubirajara Galli, Iporá, junho de 2009 a festa da primavera, tudo era feito com muito capricho.
Quando a Milca resolveu mudar-se para Goiânia, aconteceu um fato interessante. Um senhor, de nome Joaquim Lopes Pedra (vereador da primeira legislatura municipal — 1949-1953), já falecido, foi até a sua casa e perguntou-lhe, o quanto ela gostaria de receber, para permanecer em Iporá. Milca, gentilmente, respondeu-lhe que a sua decisão já estava tomada, e que tudo o que ela poderia ter feito pela educação em Iporá, já havia realizado.
No início da década de 1980, o Grupo Escolar Israel de Amorim, quase deixou de emoldurar a cidade, ao correr o risco de ser demolido, quem evitou essa tragédia patrimonial foi o seu ex-aluno Raimundo Nonato.
Quando o ex-deputado Adjair de Lima e Silva, natural daqui de Iporá, era secretário da Educação (1980-1983), no governo de Ary Ribeiro Valadão, ele teve a ideia de demolir o
Grupo Escolar Israel de Amorim para construir em seu lugar, a subsede da Secretaria da Educação. Como eu era uma pessoa politicamente próxima dele, conversei com ele, argumentando sobre a importância histórica do Grupo para a nossa cidade, e que não seria apropriada, a sua demolição, para em seu lugar, erguer uma edificação pública.
Sem nenhuma contra-argumentação, Adjair atendeu a minha sugestão, para que se preservasse o Grupo Escolar, o que de fato se deu.



João de Souza Santos treinando a fanfarra da Escola Reunida Dom Bosco
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