Ele é de Crixás. Casado com uma iporaense, quando visita a cidade tem olhos críticos para o meio ambiente.
AMBIENTALISTA DE CRIXÁS PREOCUPADO COM A SITUAÇÃO ECOLÓGICA DE IPORÁ
Como minha esposa é de Iporá e morando durante um ano nesta cidade, passei a cultivar um carinho especial por esta terra e esta gente. De férias, numa manhã de sexta feira recente, andava a pé ao longo da Avenida Pará. Ao atravessar o Córrego Cabeceira Rica, junto ao Bosque, fiquei surpreso com tanto lixo no leito desta vertente e mais a frente, uns 50 m rumo ao centro, ao longo desse percurso, mais lixo e um gato morto em alto estado de putrefação. Nesse mesmo instante, resolvi visitar todos os possíveis fatores de impacto e fazer esta reportagem com objetivo de alertar a essa maravilhosa comunidade, sobretudo pela disparidade entre a alta cultura local, a magnitude desta cidade que desponta sobre as outras do oeste goiano e o exercício miúdo da sustentabilidade. Fiquei com temor de magoar a comunidade local, a família de minha esposa, a qual reclamou dizendo que viemos muito pouco a sua cidade natal e nesta oportunidade resolvo fazer críticas de cunho ecológico ao seu povo, na imprensa local. Más, em prol daqueles que correm risco de saúde, de contaminações e da grande parcela dos fatores locais impactantes que contribuem negativamente de forma global, dou continuidade a esse texto imbuído apenas por um comportamento, aquele de um autêntico ambientalista.
No Lago Pôr-do-Sol
Assim, passei a visitar outras áreas, chegando ao Lago Por do Sol, majestoso, bonito, mesmo com alguns meses de estiagem, com enorme volume de água, acumulando as águas dos Córregos Tamanduá e Cabeceira Rica. Considerado um dos cartões postais da cidade, recebendo milhares de freqüentadores de vários municípios vizinhos nos fins de Semana. Ali a surpresa foi maior, tal a quantidade de lixos, despontando os restos do fruto, Coco da Bahia. E fiquei imaginando, quantas vezes no passado ao longo desses mananciais seus pais, avós, beberam, banharam em águas límpidas, com suas famílias, preparando para as festa de Nossa Senhora Auxiliadora, a padroeira desta cidade, no dia 24 de maio ou durante as folias de Reis no mês de janeiro. Os filhos estudaram, formaram, tornaram muitos deles pessoas ilustres e com o aparato de tecnologias de ponta, deixaram esses recursos naturais chegar a essa situação melancólica e o pior: a continuidade dos fatos, mesmo com os “gritos da natureza” por todos os lados do planeta: enchentes, tremores de terra, desgelamento, furacões, milhões de pessoas mortas ou desabrigadas, tanto pelas chuvas torrenciais, como pelo aumento do nível do mar, etc. Descendo a canalização abaixo do lago, o Córrego Santo Antonio, a situação é similar, aparecendo mais as sacolinhas de plástico, as quais têm que ser banidas o quanto antes.
Pelo centro e nos bairros
Continuando a perambular pelo centro, nos bairros, pude notar pelas manchas pretas e cinzas nas portas das residências, a grande quantidade que os moradores queimam de lixos domésticos, nos lotes vazios, nas periferias e ao sul, no limite da cidade com as pastagens, acúmulo enorme de lixos e caveiras de animais, talvez dos açougues, inclusive um casco de tatu, abatido aproximadamente há uns três dias.
Com exceção da Cidade de Chapadão do Céu (menor contribuição negativa dos impactos ambientais que assolam o universo), os outros municípios goianos têm grandes parcelas dos fatores de desequilíbrio ecológico, afetando a “espinha dorsal” do planeta: as matas, os mares, as zonas geladas e o ar, pelo uso indiscriminado do lixo, queimadas, desmatamento e carência de plantios de árvores.
Lixos desordenados pelas ruas contaminam águas
Lixo:Os lixos depositados nas portas ensacados são na maioria das vezes rasgados pelos cães, esparramados pela pista, denegrindo a imagem da cidade, parte deles são levados pelos ventos e enxurradas para a fonte de água mais próxima, contaminando animais domésticos, silvestres, peixes, etc. Vários irmãos iporaenses utilizam destas águas para irrigar hortas, para os animais, para seu próprio consumo, contraindo vários tipos de doenças. Os cães soltos não têm um controle do calendário de vacinas, comendo lixos estragados e passando pelas fezes vetores de doenças, inclusive são passados também pelas moscas aos moradores mais próximos das fontes através dos alimentos descobertos, pratos, talheres, comida fria nas mesas como a farinha, as saladas, etc. Os lixos dos campos, das margens de estradas, da cidade, são levados para os córregos, deste para os rios, chegando aos mares, afetando a campeã de equilíbrio do planeta, as algas (estas produzem oxigênio e capta gás carbônico, apenas elas e as árvores). Os insetos na maioria botam nas águas e a maioria são transmissores de doenças. Os peixes, rãs e sapos fazem a limpezas dos mesmos, portanto é importante que respeitemos a piracema para expansão e perpetuação da espécie.
Nos oceanos somos responsáveis para contribuição de 4/5 de todo lixo que ali chegam, apenas 1/5 são depositados pelos viajantes marítimos, os trabalhadores, os oceanográficos. Todo esse lixo, junto ao óleo das empresas Petrolíferas, a acidez das águas pelo acúmulo de gás carbônico, estão matando as algas. Há tanto lixo no mar que junto ao Havaí existe um acumulado de duas vezes o tamanho dos Estados Unidos das Américas, recebendo o nome de “Sopa de Plástico”, mais o lixo de toda extensão marítima que de acordo com os estudiosos chegam a 1,5 a 2 Kg por m².
Queimar é danoso para o meio ambiente
Queimadas:Donas de casa, fazendeiros, comerciantes, trabalhadores de todas as modalidades profissionais de Iporá e região, a queima de qualquer natureza além de gastar o oxigênio (escasso no universo), libera gás carbônico, já excessivo no ar, afetando o anel de ozônio (27.000.000 de Km² de abertura), gerando várias doenças de pele, pela exposição aos raios ultravioleta, aumentando a camada de gases, gerando o fator estufa, elevando o aquecimento global, causando com isso o desgelamento das zonas geladas, elevando o nível dos mares, cobrindo parcialmente vários países e totalmente várias ilhas, desabrigando no mundo todo, milhões de irmãos nossos.
Como o maior índice de gases das queimadas em volta de 275 mg de poluentes por m³ de ar pode os organismos vivos suportar, de agosto a setembro, quando a poluição está mais alta, os hospitais ficam cheios especialmente de crianças e velhos com problemas respiratórios, doenças cardiovascular, diarréias, conjuntivite, asma, etc.
Devido à cultura forte do fogo, o Brasil ostenta o 4º maior poluidor do mundo, isto não é pela quantidade de fábricas, número de veículos, quantidade populacional, más por sermos o maior queimador de florestas e resíduos sólidos do mundo.
As queimadas afetam ainda as chuvas pelo ataque das fuligens as nuvens, evaporando e deslocando para as camadas mais distantes, diminuindo significativamente as chuvas. Causam ainda as chuvas ácidas pela presença nos produtos queimados de compostos de enxofre e nitrogênio, matando plantas, aumentando o poder tóxico aos seres vivos e reagindo nas construções, diminuindo a vida útil, como é o casodo Coliseu de Roma, a Torre de Eiffel, passando por reformas constantes.
O uso contínuo das queimadas tem elevado o desequilíbrio ecológico matando espécies especialmente aquelas em parição ou lentas como o Tamanduá Mirim, o Tamanduá Bandeira, grande predador do cupim, formigas,outros inimigos naturais como a joaninha, as vespas (marimbondo). Se você tiver curiosidade, fique perto por 10 minutos de uma casa de marimbondo e verá a todo instante um integrante chegar com uma larva presa nos pés trazendo para sua família, muitas vezes de pragas ou vetores de doenças. O maior polinizador
Das espécies vegetais, as abelhas tradicionais estão em extinção altamente sensíveis ao fogo, como é o caso da Marmelada, Jataí, Caga Fogo, Maneguari, Europa, Tiúba, Enxú, etc.
Desmatamento
O Brasil desponta como o país que mais desmata no mundo, tendo os Estados do Amazonas, Rondônia e Pará maior índice tanto nesse fator como nas queimadas dessas espécies para formação de pastagens. Mesmo depois que surgiu a idéia da sustentabilidade ainda vigora nesse país a visão meramente econômica, sem a associação do ecológico e social, mesmo com a informação do dia a dia de que tal comportamento não só compromete a qualidade de vida, como a própria vida. E uma das saídas para minimizar o desmatamento é a produtividade. Se aqui em Iporá, a quantidade de áreas virgens é pequena, más vamos derrubar uma capoeira para plantar arroz e milho com produtividade de 2500 kg/ha e 3000 Kg/ha respectivamente e com tecnologia podemos gradativamente chegar a 3000 Kg/ha e 3500 Kg/ha, 4000 Kg/ha e 5000 kg/ha, para arroz e milho, ainda bem abaixo da produtividade do Rio Grande do Sul; aí poderíamos produzir a mesma quantidade planejada usando uma área menor. Da mesma forma, se o suporte das pastagens é de 1,5 U.A. por ha podemos melhorar para 2,0 a 3,0 U.A. por ha.
Hábito de plantio é pouco visto
Os plantios de árvores tanto na região de Iporá e demais municípios é muito pequeno em relação à quantidade de áreas virgens extirpadas pelas metalúrgicas mineiras e paulistas em todo Estado de Goiás para a formação do carvão e as licenças são conseguidas com muita facilidade, o contrário dos mini e pequenos produtores rurais. Plantar é expandir a segunda fonte de produtoras de oxigênio (45%),(55% são das algas) e segunda maior captadora de gás carbônico (uma árvore consome 1 tonelada de gás carbônico em toda sua vida, ficando o primeiro lugar para as algas. Plantar é uma solução a ser seguida por todos, principalmente ao imaginar que ao levantar da cama você começa a produzir gás carbônico ao fazer o café, ao ligar o chuveiro, ao fumar (fumando uma carteira por dia, durante um ano você produz 180 a duzentos kg de gás carbônico, o equivalente a captação do mesmo por uma árvore durante o ano).
Desgelo
Nossas ações iporaenses de desmatamentos e queimadas sem controle ao longo dos anos surgiu um novo problema que juntos aos outros fatores atua como uma reação em cadeia, elevando o comprometimento da vida nesse planeta, o desgelamento. Aí surge uma pergunta: será que a terra com esses fatores de aquecimento suportará o calor?
Segundo especialistas, a região entorno do Oceano Ártico é a mais afetada. Nos últimos anos, a camada de gelo desse oceano tornou-se 40% mais fina e a sua área diminuiu 14%, com aumento da temperatura bem mais alta do que a média global.
Todos precisam agir
Toda problemática de impacto ambiental citada tem uma pontinha de participação de você cidadão Iporaense. E a solução jamais será concretizada só com o IBAMA, Agência Ambiental de Goiás e Prefeitura Municipal de Iporá, más com a união efetiva de toda sociedade, Escolas, ambientalistas, Polícia Militar, Igrejas, etc. O município tem que se habilitar urgentemente para fazer o licenciamento dos empreendimentos ambientaislocais, pois o Estado já tem muito responsabilidade e poucos técnicos para o tamanho do mesmo. Incorporem do espírito ecologista, mobilizem as pessoas dos quatro cantos do município, unem todas as forças possíveis, especialmente a vitalidade dos jovens, agrônomos, biólogos, utilizem do “arrastão do meio ambiente”, visitando casa por casa, com slogans, panfletos, teatros. Limpe a cidade, a periferia, os córregos urbanos e rurais, façam retornar os aquícolas que neles habitavam no passado. Reivindiquem com antecedência a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação do Estado de Goiás 40.000 muda e plante no início das chuvas (Outubro-Novembro). Usem todos os espaços vazios da cidade, invadem os passeios, estimulem os produtores rurais a reflorestar as matas ciliares, a reserva legal, cubra os espaços ociosos das saídas da cidade e no ano seguinte planejem o plantio de 100000 mudas, passem o exemplo aos outros municípios vizinhos.
Até hoje temos atuado como o maior predador universal, usufruindo dos nossos recursos naturais considerando-o infinito. Vamos zelar do meio ambiente com carinho, com amor, tratando como se fosse a extensão de sua própria casa, mantendo os pássaros, os peixes, os animais, as plantas, as águas limpas, sem o uso do fogo. Assim seus filhos, netos, as gerações futuras possam usufruir pelo menos um pouco dessa beleza ecológica extraordinária dessa terra. Façam isso, antes que seja tarde.
José Aílton Xavier Maciel é engenheiro agrônomo, ambientalista, pós graduado em Educação Ambiental. Ele é diretor presidente da Agência Municipal de Desenvolvimento de Crixás.