Um interessante estudo feito mostra que nos últimos três anos as chuvas estiveram em volume inferior a média. Pesquisa realizada pelo professor Me. Washington Silva Alves, Docente do curso de Geografia da UEG – Câmpus de Iporá e Doutorando em Geografia pela UFG/REJ analisou o volume acumulado de chuva nos primeiros meses do ano (janeiro, fevereiro, março e abril), período que corresponde ao final do período chuvoso e início do período seco em nossa região, entre os anos de 1974 e 2018, totalizando uma série histórica de 45 anos.
Os resultados demonstraram que o maior valor de chuva acumulada registrada no quadrimestre de janeiro, fevereiro, março e abril foi de 1298,2 mm no ano de 1983. O menor valor (511,4 mm) foi registrado no ano de 1987 e a média de chuva deste período foi de 873,1 mm.
Dos 45 anos da série histórica, em 25 foram registrados volumes de chuva na média e acima da média e em 20 os valores de precipitação foram abaixo da média histórica do período analisado. Vale ressaltar que nos três últimos anos da série, 2016, 2017 e 2018 os totais de chuva do quadrimestre de janeiro, fevereiro, março e abril (JFMA) foram abaixo da média e diminuiu gradativamente a cada ano. (Figura 1).
Cabe ressaltar que o ano de 2018 foi terceiro menos chuvoso dos últimos 45 anos e este fato serve de alerta para a gestão do uso da água destinada ao abastecimento humano, tendo em vista que no mesmo período no ano anterior (2017) foi registrado volume de chuva um pouco maior (680,2 mm) e a população iporaense sofreu com a falta de água para seu abastecimento, durante o período mais seco do ano, conforme foi noticiado no jornal Oeste Goiano . O córrego Santo Antônio, manancial que abastece a cidade, não teve volume de água suficiente para atender a demanda, mesmo a SANEAGO captando praticamente toda a
vazão do córrego, conforme está retratado na Figura 2.
Porém também deve ser ressaltado que o problema da indisponibilidade de água, para abastecimento humano e demais atividades, não é somente devido a variação das chuvas na região, mas principalmente devido as formas que a bacias hidrográfica do Ribeirão Santo Antônio foi sendo ocupada ao longo das últimas décadas.
O que prevaleceu foi o desmatamento de vastas áreas de vegetação natural de cerrado, incluindo nascentes e matas ciliares, para dar lugar as gramíneas utilizadas para pastagens e o cultivo de diversos produtos agrícolas, sem a elaboração de um plano de manejo e gestão desta bacia. Um dos efeitos mais comuns deste processo é a compactação dos solos, que por sua vez, dificulta infiltração da água da chuva para percolar e recarregar o lençol freático.
Portanto, devemos nos atentar que a dificuldade com a falta de água para abastecer a população iporaense já vem sendo anunciada nos últimos anos. Outros municípios da nossa região como Arenópolis, São Luiz, Fazenda Nova e Jaupaci já sofrem com a falta de água durante os períodos mais seco do ano (agosto, setembro e primeira quinzena outubro).
No entanto, é de responsabilidade da gestão do município, juntamente com a SANEAGO, iniciar programas efetivos e pragmáticos de conservação e manejo da alta bacia do Ribeirão Santo Antônio, para melhorar o nível de infiltração de água no solo e consequentemente aumentar a recarga do lençol freático. Não basta acusar que a variabilidade da chuva é o único fator responsável pela redução ou falta de água para o abastecimento humano, pois como foi demonstrado na pesquisa e no gráfico, anteriormente apresentado, que existe uma variabilidade natural das chuvas na região. Existem anos que este período analisado é mais seco e outros que são mais chuvosos.
Não basta tratar essa questão apenas com pretensões políticas ou como um discurso que fica sendo replicado para dizer que algo está sendo realizado. Não basta propor projetos que não se materializam. Estamos a poucos meses de completar um ano que passamos por um momento crítico, com relação do abastecimento de água potável, e muito foi falado, mas do ponto de vista das ações de intervenção prática na alta bacia nada foi realizado até o momento. Será necessário o problema se agravar mais para que vejamos ações efetivas??
Precisamos de ações efetivas por parte dos responsáveis, precisamos tratar essa questão de forma primordial para que todos tenham acesso a água, um bem primordial para a vida e o desenvolvimento de uma sociedade.
É importante que a sociedade também entenda que neste período mais seco é necessário economizar água, evitar desperdícios.
Contudo, não pode ser descartado que inicialmente é necessário a efetivação de ações emergências como a construção de curvas de nível e de bacias de contenção na alta bacia do Santo Antônio.
Também é importante materializar medidas efetivas a longo prazo como o reflorestamento e recuperação das nascentes e matas ciliares dos canais da alta bacia. É importante salientar que este trabalho é dever de todos, porém é de responsabilidade da gestão municipal e da SANEAGO que se apropria do recurso natural de direito de todos e o comercializa, porém, parcerias devem ser instituídas com Universidades, Faculdades, Escolas, Sindicatos Rurais, Proprietários Rurais, ONGs e demais segmentos para que essas ações sejam estabelecidas. Dessa forma sairemos do patamar dos discursos e passaremos de fato a ter ações mais efetivas para tratar o problema.