O debate acerca da integração curricular no Brasil, há muito vem se mostrando atual e com relevância prima, ao se pensar em educação técnica profissionalizante e os desafios encontrados nesse processo de formação educacional de modelo curricular integrado, acentua-se ainda a preocupação com a formação humanística e práticas curriculares que subsidiem de modo consistente a educação crítica, humana, que valorize conceitos de cidadania, contextualizando-se com a dinâmica do mundo atual, cultural, e político existente em sua realidade, contemplando não só a técnica exigida pelas diversas profissões que tais currículos se propõem a formar, bem como a formação humanística rica em conceitos de cidadania, que contribua para a formação crítico reflexiva do cidadão integrante desse sistema educacional, e atue como baliza capaz de guiar cidadãos atuantes e preparados, não só para a vida profissional, mas também para a vida em sociedade, tornando-os assim verdadeiros agentes sociais capazes de tomar decisões com segurança e responsabilidade.
O debate acerca da formação humanística que subsidie o pensamento crítico-reflexivo destes alunos, vem ao encontro das políticas públicas educacionais fomentadas pela,Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-LDB, lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Titulo I ( Da Educação) em seu Art.1º e Parágrafo 2º.
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social
Ao normatizar princípios educacionais que visem abranger processos formativos, que tem por finalidade desenvolver habilidades e competências vinculadas não só ao mundo do trabalho, mas também a efetiva prática social, como dispõe o parágrafo 2º do Art.1º da LDB, encontra-se neste diapasão a força normativa e desejo intrínseco de que a educação formal Brasileira, alcance a formação profissional e humanística, capaz de promover mudanças significativas no bojo das aspirações sociais de um país, que tem os olhos voltados para uma educação responsável.
Ao relacionar ensino técnico profissionalizante, ao modelo de currículo integrado com diretrizes e bases direcionadas para as relações de convivência humana, de trabalho, organizações da sociedade civil e manifestações culturais, exemplos estes de atitudes e praticas humanísticas voltadas para a formação do cidadão, tais princípios e diretrizes deixa de circular no domínio da expectativa educacional, e passa assim, a compreender uma carga de responsabilidade que ultrapassa a abordagem teórica de um estado responsável e reflexivo, com ideais de uma educação técnica e humanística transformadora, e passa desse modo a conter obrigações reais inerentes a este modelo educacional.
Estudos realizados pela UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, com objetivos de contribuir para a formulação de um currículo comum ao ensino médio, capaz de traduzir e direcionar o ensino rumo as transformações sociais, científicas, econômicas, culturais e tecnológicas, que contemple não só o mundo do trabalho, mas a todos os princípios humanísticos citados na LDB, foi publicado no ano de 2013, com o nome de “ensino médio e educação profissional: desafios da integração”, este trabalho deixa claro em seu texto a necessidade do debate a cerca da formação humanística nos currículos integrados.
Entendendo a importância desse modelo educacional, chegamos a questionamentos fundamentais, acerca da prática exercida nas instituições de ensino, que ofertam cursos técnicos profissionalizantes integrados ao ensino médio.
Tais cursos vem alcançando os princípios inerentes a formação humanista, capazes de subsidiar culturalmente, socialmente, politicamente a vida em sociedade destes alunos? Corpo docente e gestor dessas instituições de ensino, tem a real consciência da importância desse tipo de formação? Há articulação de professores do núcleo técnico e comum, na promoção da formação humanista integral?
É por meio deste viés de incertezas, que nasce a preocupação, em entendermos com maior clareza, os métodos e desafios encontrados na consecução e prática cotidiana dos currículos integrados a cursos técnicos profissionalizantes, bem como a preocupação em efetivar a tão almejada formação humanística, voltada, pensada e estruturada para os jovens enquanto pessoas, profissionais e cidadãos.
É com a consciência inevitável de se aperfeiçoar o modelo de ensino médio, integrado ao profissionalizante, e na perspectiva de entender as fragilidades e desafios da integração curricular, alicerçadas há uma base de formação humanística sólida, capaz de imprimir mudanças e garantir a cidadania de jovens oriundos desse sistema educativo, é que surge a oportunidade de restruturação de modelos abertos e ainda em busca de um pensamento linear, norteador, que vise profundas realizações e sérias mudanças no intimo da formação integral do individuo, e não apenas gotejamentos desarticulados de cidadania, que não permita um pensamento crítico reflexivo dos jovens, e não subsidie o protagonismo de verdadeiros agentes sociais, preparados para o trabalho, para a vida, e prática consciente da cidadania.
Tal lacuna ainda por preencher, nos dá a oportunidade de esclarecer, a opacidade de políticas públicas educacionais, que ainda permita gestores e corpo docente de instituições de ensino, derivar na desorientação de currículos pouco atraentes para os jovens, e que não garanta a permanência destes em cursos integrados, e delongue sobremaneira sua duração.
O primeiro sentido pedagógico que se depreende do conceito formação é, pois, a ideia de processo, compreensão esta que demanda uma concepção de ser humano como ser incompleto, em permanente formação. O segundo sentido é a ideia de uma formação integral do ser humano, visto que não há formação humanística autêntica se for realizada de modo fragmentado ou, mesmo, instrumentalizando o sujeito humano. (CENCI; FÁVERO, 2008, p. 3)