Em linhas gerais, a Cidade de Iporá, enquanto pioneira na ocupação do oeste goiano, é símbolo da busca por riquezas minerais, mas que também busca fortalecer sua identidade. Conhecida como A Capital do Oeste Goiano, Iporá vem se debruçando em estudos cada vez mais acadêmicos sobre as relações sociais e agropastoris estabelecidas na região, buscando salvaguardar a memória, a história, o acervo arquitetônico (mesmo que extremamente limitado em razão da especulação imobiliária da última década) e patrimônio imaterial, por meio de um diálogo reflexivo e crítico que recupera trechos da vida e das tradições de seu povo.
Nesse sentido e, pretendendo efetivar uma estratégia de preservação do patrimônio histórico cultural iporaense, diminuindo assim, a distância entre passado, presente e futuro, surge o interesse por um maior aprofundamento em observar aquela que sempre esteve ali – A Casa Iporaense – observando, mesmo que silenciosamente, porém, testemunhando personagens e personalidades, estórias e histórias.
Na vitrine dos tempos há de se destacar que, na busca pela (re)invenção do Patrimônio Histórico do Município de Iporá, a imagem da Casa de Cultura pode vir a representar um símbolo iporaense. Sem que se soubesse, o prédio que hoje se denomina de Casa de Cultura, se estruturava cotidianamente como um verdadeiro monumento do povo, autêntico e espontâneo, signo dos processos de partilha cultural, elemento mesclado à paisagem do oeste goiano, cujas estruturas se apresentavam para funções práticas – abrigar e proteger. Como uma página esquecida na história iporaense, ali permanecia observando o cotidiano e o desenrolar das tramas e teias políticas.
Apesar das proto iniciativas de preservação por parte da administração pública municipal, como por exemplo através da Lei Municipal nº 1.651, Art. 1º, alínea “g”, de 06 de dezembro de 2016, recebendo o nome de Casa de Cultura Oliveira Januário do Amaral, um dos pioneiro da cidade na década de 1930; mesmo tendo sido promulgado em desde 09 de outubro de 2007 a Lei nº 1296 que dispõe sobre a criação do Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico e Turístico de Iporá; mesmo tendo sido autorizado a criação de um Museus Histórico-Cultural de Iporá em 23 de julho de 1998, através da Lei nº 923; mesmo já tendo legislação que institui o Sistema Municipal de Cultura de Iporá e o Fundo municipal de Incentivo à Cultura através da Lei Ordinária nº1.446 de 29 de março de 2011 e alterada pela Lei nº 1.487 de 15 de dezembro de 2011; mesmo com todo este aparato legal, a Casa de Cultura localizada na Rua Bulhões, Qd. 02, Lt.48, Setor Pôr do Sol, ainda não ganhou finalidade e não se efetivou para o fim que lhe foi destinada depois de adquirida e restaurada pelo Município de Iporá.
Construída entre o final da década de 1850 e início da década de 1860, localizada próxima ao Córrego Tamanduá, a edificação é testemunho da presença e importância de atividades rurais no oeste goiano em pleno século XIX. Sua
localização privilegiada, permitia a existência de curral anexado ao pilar de madeira do canto esquerdo do edifício. Edificação originalmente com destinação residencial, uma construção térrea provida de um único pavimento, com elementos típicos de uma casa sertaneja goiana do século XIX, tais como a estrutura definida pela associação de adobe e madeira, com esteios salientes inteiros até o frechal. As técnicas construtivas utilizadas na construção foram as que evidentemente se encontravam no domínio popular: com telhas de cerâmica em capa e bica sobre estrutura de madeira com espigões e várias águas com tesouras, beirais com cachorros de madeira, portas janelas de madeira com as vergas retas e desprovidas de decoração.
Temos então no edifício que hoje compõem a Casa de Cultura, e outrora serviu como sede da Fazenda Tamanduá, uma edificação com função residencial (a morada/abrigo), onde havia também uma série de outras pequenas construções que existiam e eram destinadas às diversas atividades ligadas à pecuária e à autossuficiência do lugar. O conjunto era estrategicamente implantado nas proximidades do córrego Tamanduá, porém, em muitos casos, poderia se utilizar de um rego d’água (também utilizados como fonte de energia) e que interagia com um terreiro e um pomar.
A atual Casa de Cultura Oliveira Januário do Amaral merece (desde a muito tempo) estudos sistemáticos e acadêmicos que valorizem e considerem a sua importância, não só cultural, como também historiográfica para todo o Oeste Goiano. Parabéns Iporá por seus 73 anos de Emancipação política, porém, parabéns por seus 273 anos de povoamento e colonização.