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ARTIGO: Estamos realmente preparados para enfrentar o Coronavírus?

Texto de Eros Guimarães

Por mais que a gente já tivesse visto o que vinha acontecendo pelo mundo em consequência da pandemia do novo coronavírus, fomos pegos de surpresa nesses dias. Ainda estamos tentando entender o que é isso, qual a gravidade e quais as providências que os governos estão tomando. Assim como estamos nos acostumando com os novos hábitos que precisamos desenvolver, a quarentena, a limpeza das mãos e muitos outros. Também estamos nos esforçando para entender as projeções do número de pessoas que poderão ser contagiadas e da incapacidade de nosso Sistema Público de Saúde atender a todos os que podem precisar, pintando um quadro que mais parece um cenário de guerra. Sejamos realistas: a situação, de fato, é preocupante. Mas, em vez de sentar e lamentar ou ficarmos remoendo nossos medos em quarentena dentro de casa, acredito que podemos canalizar essa aflição para que ela se transforme numa atitude coletiva e solidária de cuidado. Que nos preparemos o máximo possível para o momento que o contágio atingir nosso município. Ainda temos tempo.

Ainda temos tempo de evitar a proliferação generalizada da pandemia por nossa cidade. Pesa a nosso favor estarmos no interior, onde vivemos de forma menos aglomerada do que nas grandes cidades. Mas não estamos imunes. E evitar o contágio depende de todos, pobres e ricos, jovens e idosos, pessoas politicamente de esquerda e também as de direita. Enfim, nenhum de nós escapamos dessa emergência. Foi decretado estado de calamidade pública no país, o nome da coisa é pandemia, as cidades vão entrando em quarentena. São palavras pesadas, fortes, que indicam a gravidade do momento. Ninguém suspende as atividades administrativas, produtivas e educativas de um país à toa. Porque não é uma escolha, é uma necessidade. Países pelo mundo estão fazendo o mesmo. Já se prevê uma recessão. E é péssimo ouvir isso. Mas essa é a realidade que está posta. Já está prevista uma recessão até nos Estados Unidos, tidos como a maior economia do planeta. Ainda assim, mesmo com esses prejuízos, é imperativo: ou fazemos a quarentena como ela precisa ser feita ou teremos um desastre. E essa é a colaboração que cada um pode dar: ficar dentro de casa, ter mais cuidados de higiene e proteger nossos idosos, que são os mais vulneráveis aos males provocados pela Covid-19.

Ainda temos tempo de melhorar nossa capacidade de atendimento médico. Já é sabido que o Sistema Público de Saúde pode entrar em colapso no fim de abril, nas palavras do Ministro da Saúde. No entanto, sabendo disso e enquanto um contágio generalizado ainda não aconteceu entre nós, podemos nos articular, por iniciativa própria, para melhorar nossa capacidade de resposta à demanda que vai chegar. Acredito que nenhuma ajuda será excessiva. Se sabemos que a ameaça está ali adiante, não faz sentido ficarmos só assistindo e esperando ela chegar. Portanto, além de todas as providências que já foram tomadas no município, no estado e no país, é preciso que, em nossa cidade, os pensadores, os políticos, os articuladores sociais, os líderes religiosos, os artistas, os empresários, os estudantes, os fazendeiros, as donas de casa, os educadores e todos profissionais se dediquem a pensar qual onda de solidariedade pode puxar. É uma emergência. Não há tempo para esperar providências governamentais, somente. A situação pede que usemos nosso poder de influência, grande ou pequeno, para colaborar. Livremente. Voluntariamente. Por amor, pelos nossos queridos e pela comunidade que fazemos parte. Se os hospitais e clínicas da rede privada de saúde também se dispuserem a colaborar, isso pode fazer muita diferença. Precisamos estar preparados para o pior, esperando que ele não aconteça. Mas, caso aconteça, que tenha o menor impacto possível, por estarmos preparados. Nesse sentido, todo leito, médico, enfermeiro, medicamento, material e equipamento hospitalar que tivermos a mais podem significar muito. Faço um apelo aos hospitais privados da cidade de tentarem articular algum apoio ao Sistema Público de Saúde do município, apoio a ser usado numa situação crítica, se for necessário. E à gestão municipal estendo o apelo de acolher essa colaboração, interessar-se por ela, porque é provável que iremos precisar. Saber que o Sistema Público de Saúde contará com algum apoio dos profissionais e equipamentos da rede privada tranquilizaria um pouco a comunidade. Também não possuímos UTI na cidade, um pleito já antigo que poderia ser retomado nessa crise. Que tentemos conseguir ao menos a estrutura mínima para a instalação de alguns respiradores, que são essenciais no tratamento dos casos graves de Covid-19. Os respiradores são caros, bem como uma UTI. Contudo, esse é um momento em que as vidas precisam estar acima de qualquer outra prioridade. Tudo o que estamos vivendo traduz exatamente isso, todos os prejuízos financeiros e todo sofrimento causado pelas restrições que estamos passando é para salvar vidas. Convém aproveitar a facilidade de ação que o estado de calamidade pública permite para agir. Decreta-se estado de calamidade pública justamente para isso, para se fazer por vias simplificadas o que em situações normais seria feito obedecendo mais regras e em muito mais tempo. Precisamos pensar, inclusive, em alterar o desenho do orçamento do município para que ele possa atender as necessidades emergenciais de saúde pública desse momento. Prefeitura Municipal e Câmara de Vereadores são chamadas a trabalhar juntas na construção dessas saídas.

Ainda temos tempo de juntar forças políticas, pois a crise do coronavírus também tem um caráter político. Nesse momento, precisam ser superadas as diferenças partidárias e ideológicas, bem como as ambições para as eleições desse ano. A cidade, agora, precisa que todos estejam focados no mesmo objetivo: salvar vidas. À semelhança da coalizão unânime formada no Congresso Nacional para dar conta dessa crise, o mesmo precisa acontecer no município. Cada vereador, cada dirigente partidário, líder político, Prefeito e Více-Prefeito precisam se unir, porque nossa causa agora é comum. Que cada um dedique seu esforço naquilo que melhor sabe fazer. Que cada político acesse seus contatos, os deputados que representam a cidade pelo voto popular, que seja solicitado auxílio. Por emenda parlamentar, se possível. E trabalhar para sermos incluídos na distribuição dos recursos federais e estaduais destinados ao enfrentamento dessa crise.

Ainda temos tempo de organizar uma rede solidária de apoio às famílias que terão sua renda comprometida porque não poderão trabalhar estando em quarentena. De uma forma ou outra, praticamente todos nós já tivemos gastos que não estavam previstos em nosso orçamento doméstico. Mas, para muitas famílias, faltará o essencial, devido à ausência de trabalho e ao aumento de despesas, como a alimentação dos filhos que antes faziam refeições na escola e agora estão dentro de casa o tempo todo. O Governo Federal já tem articulado algum apoio financeiro para aqueles que recebem a Bolsa Família e para prestadores de serviço. Como provavelmente irão estruturar também ações de apoio às empresas, que amargarão prejuízos nesse momento. Da mesma forma, o Governo do Estado deve se articular para colaborar com essas medidas. E não seria diferente por aqui. Precisamos, nesse momento, revisar o orçamento do município de modo a direcionar recursos para alguma espécie de socorro financeiro às famílias e às pequenas empresas. No entanto, por mais ágil que se consiga ser, o trabalho de articular, estruturar e operacionalizar um programa assistencial leva algum tempo. Enquanto isso, o cadastro social da Prefeitura pode servir como norteador de ações solidárias nas quais todos os moradores podemos nos engajar. Um convite às igrejas, templos e centros que tiveram que suspender suas atividades: uma ação continuada de apoio às famílias talvez seja uma boa maneira das comunidades de fé manterem seu vínculo, numa atitude de amor ao próximo, como pregam todas as religiões. Grupos de amigos, do colégio e da faculdade também podem se engajar numa campanha solidária.

Nossa quarentena talvez dure mais tempo do que imaginamos. Se permanecermos em contato, de forma proativa, focados juntos num propósito que une a todos, pode ser uma maneira de passarmos por esse período de uma forma mais leve, pode ser um caminho para vivermos os próximos dias com sentido. Cultivando a paciência. Os tempos pedem que superemos nossas diferenças, sabendo acolher a colaboração que cada um é capaz de dar, suportando o outro, seja dentro da mesma casa, seja sentados numa mesma mesa tomando alguma decisão. No fim disso tudo, teremos descoberto que as barreiras que criamos entre nós, as opiniões divergentes, as antipatias que cultivamos, tudo isso é bem pequeno quando o que está em risco é a vida. Nem abraçar direito a gente pode. Pelo nosso bem. Mas, ainda que seja de longe, pelo olhar, que a gente possa transmitir um cuidado com o ser humano diante de nós que está passando por um momento difícil, como nós. Podemos ser proativos, colaborativos, atenciosos, capazes. E que seja sempre com afeto. Precisaremos disso.

Eros Guimarães
Iporaense, pedagogo, músico, poeta, comunicador e produtor cultural. Tem trabalhado continuamente na mediação de projetos e planejamento estratégico de empresas e organizações populares. Nos últimos anos, seu foco de pesquisa e atuação tem sido as Cidades Inteligentes, Sustentáveis e Humanas.

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