José Euclênio Neto, filho de Erildo (empresário em Iporá / DL Componentes) chegou em um cargo inusitado. Ele é agora um dos guardas no Vaticano, na vigilância pessoal ao papa Francisco. Deixou Iporá aos 7 anos para morar na Suiça, indo com a mãe. E sua história foi de luta. Hoje, está em posto importante, ocupação para a qual a escolha é minuciosa. A nosso pedido, ele mesmo conta como foi sua vida desde Iporá até o Vaticano.
Carta aberta aos meus contemporâneos iporaenses
Amigos,
Meu nome é José Euclênio Da Silva Neto. Nascido no dia 9 de fevereiro de 2000, em solo iporaense. Segundo filho da familha, fruto do matrimônio à época de Erildo Euclênio e Quênia Cunha. Garoto nascido iporaense dos mais comuns, tão semelhante a tantos outros.
Se introduzo o texto com estas palavras, é para fincar-me me no chão, não decolar em devaneios que fariam crer que eu seja um ser superior, da casta dos avantajados desde o berço, predestinados à grandeza – não! Garoto nascido iporaense dos mais comuns, tão semelhante a tantos outros.
Quando criança, frequentei escolas como Betel, Engemed; aprendi a nadar nas piscinas do Nado Livre; joguei futebol (e era longe de ser um dos melhores) no Clube Recreativo de Iporá; brinquei na terra; ralei os joelhos; estourei bombinha; banhei de cachoeira. Houve também para mim um tempo no qual o Morro do Macaco era cume mais alto do mundo.
Me recordo que quando criança, havíamos em casa uma pasta com vários DVD’s de filmes. Um filme, no entanto, me fascinava: Forest Gump. Tudo me levava a sonhar. Era incrível alí, claro, a aventura, a vida a multi-faces, a fidelidade militar, o amor infinito, as glórias e conquistas; mas o que talvez mais me fascinou, já naquele tempo, foi o fato de que tudo isso havia sido vivido por um homem modesto, sem nenhum talento de base, de coração puro, e um pouco abestalhado. Foi uma revelação para mim: para se viver uma história memorável basta uma coisa: a abertura à vida e a audácia. Esta lição a aprendi muito bem.
Aos 7 anos de idade fui morar na Suíça, onde já residia minha mãe. Quando adolescente, fiel à lição já citada, lancei-me pelo mundo, viajei a diversos lugares, conheci pessoas fascinantes. E, aos poucos, me fiz homem.
O mundo, meus amigos, é um livro aberto, dos mais didáticos, sempre pronto a nos ensinar algo. Assim, busquei impregnar-me da cultura do país que tão gentilmente me abriu os braços. Dediquei-me, estudei sua história, seus costumes, aprendi outras línguas, deixei-me educar. Aos 18 anos me candidatei para a naturalização suíça, em vista de adquirir a cidadania e o passaporte. Me preparei muito, insisti, e, graças a Deus, depois de alguns anos, a alcancei !
Algum tempo depois ingressei no exército suíço, onde progredi e fui promovido a sargento.
Um dia, me veio subitamente a idéia de me candidatar para a Guarda Suíça Pontifícia. Parecia muito distante. Este corpo militar é o mais antigo do mundo. Foi fundado no ano de 1506 pelo Papa Júlio II, que solicitou a proteção dos mercenários suíços. Pouco mais de 20 anos depois, em 1527, durante o famoso Saco de Roma, a Guarda Suíça teve já a oportunidade de mostrar sua lealdade, bravura e nobreza, ao defender o Santo Padre e o Palácio Apostólico da invasão dos lansquenetes alemães e espanhóis. O Papa (Clemente VII, nesta altura) pôde ser salvo, guiado por 42 guardas suíços ao Castalo Sant’Angelo. No entanto, 147 outros guardas sucumbiram no combate, marcando com seu sangue para sempre a história. O heroismo destes guardas e a lealdade já de séculos na defesa de todos os Sucessores de São Pedro, fazem da Guarda Suíça Pontifícia não só um dos mais antigos corpos militares do mundo como também um dos mais tradicionais e prestigiosos.
Enfim, eu, garoto que jogava futebol nas ruas de Iporá, almejei lá chegar.
Hoje posso dizer algo muito importante a todos os jovens (e menos jovens) iporaenses que terão a gentileza e a paciência de ler este texto: tenham sonhos, tenham objetivos, trabalhem duro e NUNCA DUVIDEM. Se seguirem cada passo deste conselho, adicionando a ele orações a Deus e muita humildade, poderão alcançar tudo que quiserem.
Na ultima sexta-feira, dia 22 de novembro de 2024, concluí a minha formação, fui promovido a ‘’Alabardiere’’ e me tornei oficialmente guarda do Papa. É só o início de uma grande e bela aventura. O limite é as estrelas.
No entanto, para além do prestígio do uniforme, da adesão à corporação, dos aplausos, da alegria da conquista, vive sempre em mim o mesmo garotinho que ia ver a exposição de vacas na pecuária, que tacava pedra em árvore pra tentar derrubar caju, que morria de medo de encontrar jacaré no Lago Por do Sol – o mesminho. Garoto nascido iporaense dos mais comuns, tão semelhante a tantos outros.
Então não duvidem, não tenham medo de nada, vão em frente, lutem e conquistem.
José Euclênio Neto