Oeste Goiano Notícias, mais que um jornal.
Oeste Goiano Notícias, mais que um jornal.

PUBLICIDADE:

Mestre Osório foi importante para Iporá, conta David Álvaro

Osório Raimundo de Lima, filho de Emenergildo Raimundo de Lima e Maria Flamina, nasceu na cidade de Itaberaí (GO). Já adulto, mudou-se para Rio Verde, onde residiu por algum tempo, e posteriormente foi viver no Distrito de Montividiu, próximo a Rio Verde. Na década de 1920, conheceu Otília Maria de Lima, com quem se casou.

Homem culto, iniciou sua carreira como tabelião, trabalhando no cartório do povoado. Além de escrivão, também atuava como professor, razão pela qual ficou conhecido como Mestre Osório. Resoluto e prestativo, desempenhava ainda funções de advogado prático, cuidando de documentos pessoais e auxiliando na solução de problemas da comunidade — suas petições eram assinadas por advogados habilitados.

Em 1930, ocorreu a Revolução comandada por Getúlio Vargas, que destituiu o presidente Washington Luís e instaurou uma junta governativa em cada estado. Em Goiás, os nomeados foram Pedro Ludovico Teixeira, o desembargador Emílio Póvoa e o juiz Mário de Alencar Castro Caiado.

Pouco depois, em visita ao fazendeiro Odorico Caetano Teles, Osório soube da existência de um cartório de registro civil desativado no Distrito do Rio Claro. Decidiu assumir a função, udando-se de Montividiu para o Rio Claro em meados de 1932. Para regularizar a situação, buscou as autoridades em Goiás. Assim, pelo Decreto nº 2.651, de 11 de novembro de 1932, foi nomeado interinamente escrivão distrital de Rio Claro.

Com a vitória da Revolução de 1930, os coronéis Paes de Toledo e Caetano Teles, influentes na República Velha, buscaram recuperar poder político. A estratégia foi fundar uma nova cidade em local estratégico de suas terras e vendê-las a futuros fazendeiros e agricultores.

A Osório de Lima coube a missão de encontrar o local da futura cidade. Após formar uma comissão e visitar diversas regiões, decidiu-se pelas margens do Córrego Tamanduá, surgindo assim o projeto de Itajubá. Além disso, Osório foi o responsável pela parte burocrática, viajando a Goiás e depois a Goiânia para tratar da transferência do acervo do Distrito de Rio Claro para Itajubá.

O interventor federal, entretanto, ao perceber a influência de adversários políticos ligados à família Caiado, passou a protelar a oficialização. O entusiasmo inicial deu lugar ao pessimismo, e muitos acreditaram que Itajubá não prosperaria. Foi somente por intermédio de Israel Amorim, que tinha prestígio junto ao interventor, que a situação avançou.

Pelo Decreto-Lei Estadual nº 557, de 30 de março de 1938, oficializou-se a transferência do Distrito de Rio Claro e a demarcação de sua nova área de jurisdição. Pelo Decreto-Lei nº 1.233, de 31 de outubro do mesmo ano, legitimou-se o nome de Itajubá.

Em janeiro de 1940, foram feitas novas nomeações para o distrito. Entre elas:
• Decreto nº 2.792, de 9 de janeiro de 1940: nomeou Osório Raimundo de Lima para o cargo de escrivão distrital de Itajubá, em caráter interino;
• Decreto nº 3.116, de 13 de abril de 1940: nomeou Alvino Silva como subdelegado de Itajubá;
• Decreto nº 3.133, de 18 de abril de 1940: tornou sem efeito a nomeação de Osório para escrivão distrital por não haver extraído título no prazo legal.

Deixando o cartório, Osório passou a lecionar em regiões rurais, entre elas a fazenda de Honorato Preto e o povoado do Vaz, onde foi nomeado professor padrão B da Escola Isolada Masculina. Mais tarde, pelo Decreto-Lei nº 4.920, de 28 de outubro de 1941, deixou o cargo a pedido. Após esse período, residiu em Fazenda Nova (onde foi secretário municipal), depois em Israelândia, até fixar-se definitivamente em Iporá, em 1965, onde viveu até falecer. Visionário e destemido, Osório contou sempre com a parceria da esposa, Otília Maria de Lima, corajosa e dedicada. Juntos, enfrentaram os desafios de sua época, criaram filhos e deixaram uma descendência atuante. Ele exerceu múltiplas funções — tabelião, professor, advogado prático e comerciante — sempre com coragem e dignidade, contribuindo decisivamente para a formação de Iporá.

Seu legado se reflete também na trajetória de seus descendentes. Entre eles, o neto Adjair de Lima, que foi deputado estadual e federal, além de secretário de Educação no governo de Irapuan Costa Júnior. Como deputado estadual, propôs e conseguiu aprovar projeto que concedeu aposentadoria a Israel Amorim. Em 1980, foi homenageado pela Federação Goiana de Futebol, que promoveu o “Quadrangular Adjair de Lima”. Outro descendente, Armando Cruz de Carvalho (Neto), foi prefeito de Israelândia.

Não tive a oportunidade de conhecer pessoalmente Mestre Osório, pois já não residia em Iporá. Mas, ao revisitar sua trajetória, percebo o quanto teria aprendido com sua experiência e vivência. Como iporaense de coração, deixo aqui uma sugestão: que seja erguido um busto em bronze de Mestre Osório, acompanhado de uma placa histórica e pedagógica, a ser instalado no pátio do colégio que levaseu nome. Trata-se de uma justa homenagem a um homem que fez tanto por Iporá, especialmente como educador, lembrado carinhosamente como Mestre Osório.

Goiânia, 10 de março de 2025
David Álvaro Medeiros dos Santos
Fontes de pesquisa:
• Memórias, de Pedro Ludovico Teixeira;
• Uma viagem no tempo de Pilões a Iporá, de
Moizéis Alexandre Gomis;
• Formação da sociedade iporaense, de Valdeci
Marques;
• Textos e resumos de minha autoria (David Álvaro
Medeiros dos Santos).
Colaborador:
• Douglas Alexandre de Oliveira Santos

Compartilhar:

Para deixar seu comentário primeiramente faça login no Facebook.

publicidade:

Veja também:

.

WhatsApp-Image-2025-07-08-at-06.01
"E esse tal de Ezechiello?": sobre história do catolicismo na região
WhatsApp-Image-2025-07-04-at-06.21
Documentários sobre a História precisam ouvir todas versões
WhatsApp-Image-2025-06-13-at-06.28
Sobre a alienação parental: como identificar a situação?
WhatsApp-Image-2025-06-12-at-10.38
HISTÓRIA: Joaquim e Elpídio Paes merecem ser reconhecidos
WhatsApp-Image-2025-05-29-at-06.12
Ser Erivaldo Nery. Ser artista. Ser feliz
WhatsApp-Image-2025-07-08-at-06.01
"E esse tal de Ezechiello?": sobre história do catolicismo na região
WhatsApp-Image-2025-07-04-at-06.21
Documentários sobre a História precisam ouvir todas versões
WhatsApp-Image-2025-06-13-at-06.28
Sobre a alienação parental: como identificar a situação?
WhatsApp-Image-2025-06-12-at-10.38
HISTÓRIA: Joaquim e Elpídio Paes merecem ser reconhecidos
WhatsApp-Image-2025-05-29-at-06.12
Ser Erivaldo Nery. Ser artista. Ser feliz