Os estudantes do Instituto Federal Goiano (IF Goiano), Campus Iporá, desocuparam aquela unidade na tarde desta quarta-feira de finados (02/11), conforme havia sido combinado com a direção do IF e com o Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe) da Universidade de Brasília (UNB), responsável pela aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os estudantes ocupavam as instalações do IF há uma semana e planejam voltar com a ocupação no próximo domingo (06/11) à noite.
Na terça-feira (01/11), o o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), uma entidade pública federal vinculada ao Ministério da Educação (MEC), divulgou a lista de escolas em que as provas do Enem serão adiadas e, o IF Goiano – Campus Iporá, estava nesta lista. Mesmo com a desocupação, ainda não houve mudanças nessa decisão e as provas na unidade devem acontecer nos dias 3 e 4 de dezembro.
Os alunos ocuparam as instalações do IF de Iporá em protesto contra a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional 55, que está no Senado Federal (antiga PEC 241 na Câmara dos Deputados). A proposta prevê, dentre outras coisas, o congelamento dos gastos com serviços públicos por 20 anos, e os estudantes estão preocupados principalmente com os investimentos em saúde e educação. Os estudantes também se mobilizam contra a reforma do ensino médio imposta pelo governo federal por meio de Medida Provisória.
Leia na íntegra a nota divulgada pelos estudantes:
Nota dos Ocupantes do Campus Iporá do Instituto Federal Goiano sobre o ENEM Iporá, 02 de novembro de 2016.
Quinta-feira passada, 27/10, o Diretor do Campus do IF Goiano – Iporá recebeu um documento do MEC alegando que o próprio Instituto teria que arcar com as despesas de reaplicação de outro ENEM e, por isso, deveríamos desocupar o Campus até o dia 31/10, segunda-feira. Assim, respondemos, em acordo formal, que desocuparíamos, mas somente no dia 02/11, quarta-feira, e que voltaríamos a ocupá-lo no dia 06/11, domingo, no período noturno.
Nenhuma outra instituição em Iporá tem espaço para receber os 488 estudantes que iriam fazer a prova do ENEM no IF. Tivemos e temos ciência de que se mantivéssemos a Ocupação nos dias do Exame iríamos prejudicar o Campus e a comunidade. Sabemos, também, que a pressão sobre o governo não é dada pelo que se permite ou não no campus, mas pelo ato político de resistir aos cortes na educação e na saúde.
Optamos por não resistir dessa maneira, barrando o ENEM, se resistir significasse prejudicar o próprio Campus, a comunidade e, ainda, colocá-la contra nosso movimento, não seria uma opção para nós. Iporá é uma cidade de interior e a realidade daqui é bem distinta da realidade dos médios e grandes centros, então achamos prudente nos adequarmos à realidade local, o que fizemos!
Nossa Ocupação foi decidida em Assembleia Pública com a presença de trezentos estudantes, sendo duzentos e noventa e quatro a favor, três votos contrários e três abstenções, o que significa que o nosso movimento é legítimo e democrático!
Posteriormente, fizemos acordo formal com o Diretor sobre a desocupação para o Exame e ele encaminhou a Ata da reunião que fizemos em conjunto com ele para os responsáveis pelo ENEM em Iporá, que ficaram de enviá-la para a instituição responsável pelo Exame em Brasília. Porém, nosso posicionamento não foi acatado e, ontem, fomos surpreendidos com a notícia de que o ENEM seria adiado no nosso Campus. Muitos estudantes ocupantes iriam fazer o ENEM aqui na instituição.
É um transtorno, reconhecemos, mas faremos um novo Exame nos dias 4 e 5 de dezembro, sem problemas.
A situação é desagradável, mais uma vez reconhecemos! Acreditamos que seria mais prudente se o MEC remarcasse o Exame para todos os participantes. Desta forma, o custo e o trabalho com a aplicação seriam os mesmos. Entretanto, adiando a prova apenas em locais que estão ocupados, a imagem dos movimentos fica manchada, fazendo com que uma parcela da população considere as Ocupações ilegítimas. O MEC aponta, indevidamente, que “os inscritos afetados pelas ocupações serão avisados pelo INEP…”, sustentando a ideia de que as ocupações “afetam”. Com isso, quer jogar a sociedade e os próprios estudantes contra nós que lutamos por direitos que são de todos e não apenas de indivíduos isolados!
Entendemos o que se passa com o adiamento e esperamos, sinceramente, que todos possam compreender as razões coletivas do nosso protesto legítimo. Convidamos, quem queira, para vir ao Campus a qualquer momento para perceber e entender que somos estudantes iguais aos seus filhos, sobrinhos e netos, que fazemos parte da mesma sociedade da qual todos fazem parte e que só poderemos superar os graves problemas do nosso país juntos e compreendendo uns aos outros.
Por meio desta, pedimos desculpas aos estudantes que fariam a prova no IF Goiano – Campus Iporá, e esperamos que compreendam o movimento e que lutamos por todos nós!
Comissão de Ocupação do Campus Iporá do IF Goiano.