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Professor esteve em Cuba em missão científica. Ele mostra artigo

Professor Valdir em evento de sua missão científica em Cuba

Valdir Specian, professor de geografia no Campus de Iporá da Universidade Estadual de Goiás (UEG), acaba de chegar de Cuba, país do Caribe, onde esteve em missão científica. De forma bem sincera, ele narra em artigo o que percebeu na ilha onde Fidel Castro fez revolução comunista em 1959. O que é bom? Quais os problemas da ilha?

Segue texto do professor

CUBA – por uma geografia da esperança.

“Vocês querem virar Cuba?”

A pergunta inicial sugere que as pessoas possam ter a opção de se transformar ou (melhor) transformar seu país em outro – vocês querem virar uma França, uma Angola, um Haiti, uma Grécia? Será possível transformar um país em outro? Os bons manuais de diplomacia, acredito, devem ensinar que a soberania dos Estados devem ser respeitadas como princípio fundamental da relação diplomática. Não se transforma um país em outro como uma atitude mágica, mas é possível fazer uma autocrítica de seu país e buscar interpretar – sem equívocos – o que acontece em outros países – procurando soluções comuns para os problemas semelhantes.

Estive em Cuba no período de 07 a 23 de setembro deste ano. A missão científica, objeto da viagem, foi organizada pelo Grupo de Pesquisa Espaço, Sujeito e Existência – Dna Alzira do IESA/UFG e, igualmente, representamos o Curso de Geografia da UEG/Câmpus de Iporá através do Laboratório de Estudos do Ambiente e Território – LEAT/UEG e o Programa de Pós Graduação em Geografia da UFG/Regional de Jataí. Nossa missão foi realizada em conjunto com a Faculdade de Ciências Econômicas e Sociais da Universidade de Granma em Cuba e seu principal foco esteve nas discussões sobre Desenvolvimento Territorial. Antes de falar de Cuba, gostaria de afirmar que: – com o avançar do século XXI e o desenvolvimento da comunicação, do turismo e da inter-relações das pessoas – os países e sobretudo as cidades se tornaram globais/interligadas, portanto com problemas em comum.

Cuba é uma ilha no Caribe que abriga o país (Soberano) com o mesmo nome. O país tem uma extensão territorial de 109.884km² – considerando todo o arquipélago. A população de Cuba é próxima de 11.500.000 hab. O estado de Goiás – a título de comparação – tem uma extensão territorial de 340.106 km² e uma população de 7.000.000 hab. Não vou me estender em comparações, índices etc – essas informações podem ser facilmente encontradas em sites.

A relação entre o número de habitantes e a extensão territorial do país nos permite algumas indicações para análise: 1º taxa de natalidade alta, 2º taxa de mortalidade infantil baixa, 3º expectativa de vida elevada e 4º alta densidade demográfica. Os índices de natalidade e fertilidade (10,7 e 1,7, respectivamente) são relativamente baixos, ou seja, a população idosa tende a aumentar considerando que a expectativa de vida no país é alta (78,8 anos). A mortalidade infantil – cuidados com as crianças – é menor que em muitos países ricos (4,4).

Considerando esses primeiros apontamentos – é possível concluir que o país é próspero, apesar da preocupação com o envelhecimento da população e diminuição da força de trabalho – população econômica ativa. Do ponto de vista da capacidade de consumo, economia de mercado, ou seja, capitalista – o país não está entre aqueles que tem o maior PIB Per Capita do Planeta – este índice é menor que o registrado para o Brasil (11.900 US$, 14.800 US$, respectivamente – 2016). Esses índices parecem contribuir com o difundido nas mídias sociais do Brasil – nesse processo radical da polaridade política (que nada contribui com o país) – um lado vai dizer “está vendo – olha a pobreza de Cuba”.

A grande diferença em Cuba é que PIB Per Capita não é apenas divisão das cifras nas calculadoras e sim uma prática social. A população, em sua maioria, tem o mesmo PIB Per Capita, diferentes de “nosotros” em que uma parcela (pequena) da população é muito rica e toma toda a riqueza gerada e a grande maioria não tem acesso aos recursos produzidos e arrecadados no país e que deveriam ser distribuídos nas formas de educação, saúde e segurança de qualidade, entre outros. No meio temos uma classe média – que acha que é rica – mas a cada dia é mais pressionada/tomada pela dívidas/e difusora do discurso radical.

Mas voltamos a Cuba…

A Revolução Cubana que completou 60 anos – apresentou como meta a perspectiva de universalização da educação, saúde, segurança, moradia. O IDH de Cuba está entre os mais elevados do mundo – mesmo o país vivendo sob um cruel bloqueio econômico imposto pelo governo norte americano e que perdura mais de 50 anos e que no governo Donald Trump se intensificou. A saúde de qualidade, com base na prevenção e a educação pública, gratuita e de qualidade permite o país elevar seu IDH. A política de segurança e soberania alimentar, baseada em um sistema agrário/agrícola de produção coletiva permite que o país, diferente do que é difundido, consiga alimentar toda a sua população. Não é comum encontrar pedintes nas ruas das cidades cubanas.

O bloqueio econômico imposto pelo governo norte americano prejudica o país, pois impede o livre mercado com o mundo, impossibilitando a aquisição de bens e matérias – primas não produzidas no país e a venda dos seus produtos e a geração de divisas para manutenção das contas públicas e investimentos do estado – mesmo assim o país resiste em seu propósito social. Como exemplo do bloqueio econômico – no último dia 25/09 a justiça americana abriu processo contra as empresas aéreas – Latam Airlines e American Airlines por voarem para Cuba, com base em uma lei que estava engavetada a 21 anos. Um suposto proprietário (herdeiro) do Aeroporto de Havana entrou na justiça (americana) solicitando a reparação de seus direitos. Punir as empresas aéreas é uma forma de prejudicar o turismo em Cuba, assim como já é realizado com os Cruzeiros Marítimos que deixaram de atracar nos portos cubanos, sobretudo em Havana.

Andando pelas ruas das Cidades de Bayamo, Camagüei, Manzanillo, Havana e nas “fincas” em Sierra Maestra e conversando com as pessoas comuns é possível constatar que o Cubano tem plena noção de sua realidade, tem formação crítica sobre o seu país e sobre as demais nações – eles conhecem os principais problemas brasileiros. Percebi que as dificuldades estruturais do país – saneamento básico é um destas – são temas de preocupação do cubanos – mas eles mantém a convicção de que o país de hoje é melhor que o país de 60 anos antes.
Andar pelas ruas das cidades Cubanas – mesmo em Havana que abriga mais de 2 milhões de habitantes – e se sentir seguro é um prova de que é possível conquistar e distribuir direitos e deveres para todos. É uma forma de ter esperança em uma Geografia em que mapeamos a igualdade de renda, de acesso a moradia e alimentação e não os mapas da fome, do déficit habitacional.

Cuba tem problemas, talvez seu maior problema é continuar defendendo as convicções da Revolução Cubana para o jovens, esses podem se iludir com a benesses da sociedade de consumo – achando que essa é igualitária e justa.

Nosso país transformar-se em Cuba? – não é possível – mas tenho a esperança de que possamos apreender que investimentos em educação em todos os níveis é chave para o sucesso de um país. Poderíamos aprender que segurança e soberania alimentar são ações fundamentais do estado para seu povo, que moradia não é um favor – mas um direito de todos os brasileiros, que a igualdade social não é aquela pregada “todos podem chegar lá – basta trabalhar” – igualdade social deve ser praticada fazendo com que as parcelas mais pobres da população sejam atendidas com mais atenção e investimentos, devemos entender que estado mínimo não ajuda a melhorar a vida das pessoas mais pobres.

Prof. Valdir Specian.
Laboratório de Estudos Ambientais e do Território – LEAT/Geografia/Câmpus de Iporá. Grupo de Estudos Espaço Sujeito e Existência – Dna Alzira e PPGEO/UFG/Regional de Jataí.

Texto enviado para os sites da Rede Diocesana de Rádio e Jornal Oeste Goiano

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