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Autor da História da AD conta sua história pessoal de conversão

Nascido em lar cristão, mas na Igreja Cristã Evangélica, Moizeis Alexandre Gomis encontrou na Igreja Assembleia de Deus um local para desempenhar suas atividades missionárias. Veja aqui sua história. São 40 abençoados anos servindo na sua obra, na Assembleia de Deus de Iporá. Vamos à leitura:

CAPÍTULO 25

ANTES E DEPOIS DO BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO

Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas. (Apocalipse 4.11).

Visto que, por extensão, fui abençoado em grande medida pelo gracioso avivamento de Samambaia, através daquela geração de pioneiros, achei pertinente incluir também este testemunho pessoal.

Quando nasci, em 1950, no município de Iporá, sete anos havia se passado desde que ocorrera o derramamento do Espírito Santo em Samambaia. Meus pais já serviam ao Senhor Jesus Cristo na Igreja Cristã Evangélica, onde eram membros desde 1943. Na época, muitos pastores dessa denominação religiosa, além de não aceitarem a doutrina bíblica do “batismo com o Espírito Santo”, alegando ser esta experiência e a dos dons espirituais, manifestações restritas à era apostólica e que não ocorriam mais nos tempos modernos, ainda advertiam os seus membros para que não se envolvessem com os chamados “crentes pentecostes”. Pois os consideravam “hereges”, evolvidos com práticas suspeitas de manifestações relacionadas ao espiritismo, em suas experiências “pentecostais”, como falar em línguas estranhas, por exemplo. Ensinavam que estas manifestações, comuns no cotidiano dos cultos da Assembléia de Deus, poderiam ter influências demoníacas! Também diziam que a forma como eles adoravam a Deus não era correta, visto que oravam todos ao mesmo tempo, o que se constituía desordem no culto, contrariando, portanto, a Bíblia que diz que “Deus não é de confusão”. Certa feita, um pastor, em Iporá, chegou a comentar, de forma zombeteira, que “os pentecostes oravam como cachorros uivando!”.

Convivendo desde criança nesse clima de injúrias, difamações e outros impropérios contra os irmãos da Assembleia de Deus (por ignorância, é claro), guardava, desde criança, forte antipatia pelos “crentes pentecostais”. Ainda aos seis anos de idade, quando ia ao Grupo Escolar Israel de Amorim, ao aproximar do templo da Assembléia de Deus em Iporá, era tomado por um sentimento de aversão a ponto de passar pelo outro lado da rua, receando “algo maligno”. Alimentava também um arraigado preconceito contra os tais “pentecostes” e achava esquisito aquele jeito de saudarem uns aos outros com “a paz do Senhor” e até ridículo o modo de se trajarem: (no oeste goiano) os homens usavam chapéus, camisas de mangas compridas com punhos e colarinhos abotoados, ao passo que as mulheres não usavam calças esportes, vestiam apenas saias ou vestidos abaixo dos joelhos, com mangas compridas e cabelos longos sem aparar, trançados ou enrolados em forma de “coques”.

Por outro lado, ficava impressionado com o movimento que aqueles crentes exóticos faziam, o que não era usual na minha igreja, que, mesmo sendo a primeira denominação evangélica fundada na cidade desde 1940, tinha umas duas centenas de membros e congregados. Enquanto que a Assembléia de Deus, iniciada em Iporá sete anos depois, já contava com um número de membros muito superior aos dos “crentes” das igrejas Cristã Evangélica e Presbiteriana juntas. Ainda trago na memória recordações daquele reboliço de crentes pentecostais ocorrido em Iporá, quando da inauguração do segundo templo, construído na gestão do pastor Divino Gonçalves dos Santos, em apenas um ano e inaugurado em 08 de janeiro de 1956. (Santos, 1995, p. 130). Por toda parte se via aquela multidão de “gente estranha” enchendo a rua em frente a igreja: homens de paletós, gravatas e chapéus escuros na cabeça e mulheres com vestidos de magas compridas e calçadas com sapatos pretos fechados e meias brancas. Os católicos, inclusive o vigário paroquial, comentavam sobre aquela agitação causada pelo festivo evento inaugural do novo templo e concomitante realização da Convenção Estadual das Assembléias de Deus de Goiás. E pelas ruas corria o comentário sobre a presença de “um pastor famoso, lá da capital federal, Rio de Janeiro, que havia chegado de avião, chamado Paulo Leivas Macalão”. Assim a população estava em ebulição devido àqueles acontecimentos nunca antes presenciados na cidade. 

No entanto, os pastores das outras igrejas evangélicas olhavam aquele movimento com cautelosa reserva, quanto a ser uma obra de Deus. Por outro lado, a rivalidade ficou ainda mais acirrada. Muitos membros de seus rebanhos foram para a Assembléia de Deus e por isso diziam que “viraram pentecostes, recebendo o tal batismo com o Espírito Santo e agora, além de falarem em línguas estranhas e profetizarem, se tornaram crentes ‘aborrecidos’, que só viviam pregando pro o ‘Raimundo e todo mundo’”! Às acusações que faziam, acrescentavam ainda a de que “os pentecostes faziam proselitismo com ovelhas das outras igrejas evangélicas, por isso a igreja deles crescia muito”. Argumento infundado, pois se fosse verdade, mesmo esvaziado por completo as igrejas das outras denominações evangélicas, a Assembleia de Deus não teriam crescido tanto. Como poderia isto ter acontecido, se o total de crentes das outras igrejas evangélicas representava um número reduzido de membros comparados aos pentecostais, que somavam cerca de quatro vezes mais? Na verdade, o crescimento da Assembleia de Deus era resultado da evangelização dinâmica e das conversões dos pecadores, mesmo que muitos crentes denominacionais tenham migrado para ela, por aceitarem a mensagem pentecostal.

Por aparente ironia da vida, mas que creio ser providência divina, aos 18 anos de idade, o meu primeiro emprego foi de borracheiro e frentista em um autoposto de combustível (conhecido por Posto Shell, atual Bom Tempo, na Av. Dr. Neto, esquina com a Rua Goiânia), onde o patrão, Jabes Gonçalves de Melo, e a maioria dos funcionários eram da Assembléia de Deus. Como jovem zeloso da fé e fiel às responsabilidades assumidas em minha igreja e que já havia lido toda a Bíblia, não me deixava vencer pelos argumentos dos colegas “pentecostes”, quando procuravam convencer-me a respeito das “suas doutrinas pentecostais”. Algumas vezes, até deixava-os embaraçados com os meus “bombardeios de Bíblia”, em resposta aos seus argumentos! E continuou assim a minha rivalidade com os crentes pentecostais, até enfrentar uma dolorida crise existencial, devido à primeira decepção religiosa sofrida como cristão, que levou-me a momentos de reflexão e reavaliação de minha vida espiritual, das minhas doutrinas evangélicas e dos meus sonhos futuros para a obra de Deus.

Instruído no caminho do Senhor desde o berço, ainda bem cedo na minha infância passei a amar e servir ao Senhor Jesus com sinceridade e zelo espiritual, motivado por minhas próprias convicções de fé e sem imposição da igreja ou dos meus pais. Aos dezesseis anos de idade, no dia 27 de agosto de 1967, fui batizado nas águas do Ribeirão Santo Antônio, que margeia a cidade. Ainda na adolescência tive, de maneira clara e inconfundível, a minha chamada para o santo ministério de servir na obra de Deus de tempo integral. Exercendo atividades na igreja como líder da mocidade e o diaconato, planejava, ao terminar o curso ginasial (ensino fundamental), ir para o Seminário Bíblico Goiano – da Igreja Cristã Evangélica – em Anápolis, fazer o curso teológico e depois ser pastor, como recomendavam os procedimentos de praxe da denominação.

Contudo, ao concluir o ginásio, já com 21 anos de idade, as coisas aconteceram de forma diferente. Na entrevista com o diretor do seminário, simplesmente foi descartada a possibilidade de ser recebido naquela instituição educacional. Ele e o meu pastor sentamos em uma Kombi, onde ficamos apenas nós três. Quando o diretor olhou para mim – que não passava de um jovem magricela, de presença insignificante, tímido, 1,62m de altura, com 21 anos de idade, de família pobre – fez-me algumas perguntas meio que sem objetivos e depois, com aquele olhar e semblante de descrença não disfarçada no rosto, me dispensou, alegando dificuldades financeiras do seminário e da igreja para custearem os meus estudos no curso teológico, quando era usual providenciar bolsas ou outros meios para os candidatos da denominação que aspiravam ao episcopado. Pude ver nas expressões do meu interlocutor, como que quisesse dizer: “Você não tem condição e nem o perfil para fazer um curso teológico e ser pastor de uma igreja”. Pois, geralmente, segundo o costume nas igrejas tradicionais, os vocacionados e aprovados na seleção eram jovens simpáticos, de boa aparência, de oratória fluente, enfim, de reconhecimento destacado na igreja, o que não era aparentemente o meu caso.

Mas, eu tinha certeza absoluta da minha chamada divina para o “o sagrado ministério”, mesmo que duvidassem de mim. Convicção que ainda me permite recordar com detalhes como, onde e até a hora do dia em que Deus falou de forma clara, inconfundível e silenciosamente ao meu espírito, que eu deveria, a partir daquele dia, pôr como alvo prioritário para o meu futuro, a entrega total da minha vida para servir na sua obra. Terminada a entrevista, sentia-me como se o horizonte dos sonhos tivesse sido embaçado por uma nuvem cinzenta de tristeza, enquanto dentro de mim um peso dolorido apertava o meu coração, ao mesmo tempo em que a minha alma chorava em silêncio.

Decepcionado, com a auto-estima reduzida a zero, entrei em um estado de desilusão depressiva, sem ver, por algum tempo, perspectivas para o futuro. Quando voltava dos cultos, ficava horas sentado à mesa da sala, até altas horas da noite, pensando no que seria da minha vida. Refletia sobre minha condição de jovem pobre, sem condição de bancar um curso em um seminário teológico. Pois era filho de agricultor que sempre morara como agregado em terras dos outros e que havia mudado para a cidade para que os filhos pudessem estudar. Vida difícil, onde a família passava privações, mesmo com meu pai vivendo pelo mundo trabalhando em serviços braçais, como peão diarista nas fazendas e minha mãe lavando roupa para fora. A minha irmã mais velha, a princípio, trabalhou de doméstica até terminar o ginásio e conseguir ser enfermeira prática no Hospital Evangélico de Iporá. Comigo não era diferente, ora trabalhava de engraxate, ora vendendo frutas na rua, ora cortando capim no campo e vendendo-o para a fábrica artesanal de colchão, ora capinando quintal e roça nas férias e até furando cisternas e, por último como borracheiro e frentista de “posto de gasolina”, para manter meus estudos.

Tomado de complexos de inferioridade, diante de toda aquela realidade, sentia-me rejeitado e incapacitado, embora tivesse convicção de que não era burro e nem inferior aos outros jovens da igreja e colegas da escola. Não era crise espiritual e nem decepção com o Senhor, era decepção com os líderes da minha igreja onde fora criado e ensinado nas Sagradas Escrituras, que eu julgava serem homens de Deus capazes de entender a vontade dele, e que, no entanto, não deram crédito a minha vocação ministerial.

Na verdade, depois entendi que Deus mesmo estava me conduzindo por aquele caminho. Pois, naqueles dias de desânimo, ao comprar alguns livros evangélicos, por reembolso postal, da Editora Betânia, em Belo Horizonte (gostava muito de ler), recebi de brinde um livreto que tinha estampado na capa a figura de uma mão com o punho cerrado e o dedo indicador apontado como que para alguém, intitulado: Você Capacitado para Servir a Deus. Tomado de curiosidade, comecei a lê-lo. Afinal, era dessa capacitação para servir a Deus mais e melhor que eu estava sentindo necessidade. Quando comecei a ler aquele opúsculo, logo nas primeiras páginas, o autor, Thed A. Hegre, de forma incisiva, abordou o assunto sobre a importância do batismo com o Espírito Santo, como condição indispensável para quem deseja ser plenamente capacitado para servir a Deus. A primeira reação que tive foi de jogar o livreto fora, pois detestava aquele assunto. No entanto, pensei comigo: Quer saber de uma coisa, já estou danado mesmo, vou ler isto até o fim. Afinal, a liderança da igreja não está nem aí pra mim, porque deveria então permanecer fiel a sua orientação doutrinária? E assim continuei a leitura com certa atitude de protesto!

À medida que ia passando as páginas, foram ficando para trás também todas as minhas convicções e conceitos formados durante anos de aprendizagem na Escola Dominical, nos sermões pregados no púlpito da igreja e através dos livros. O autor testificava que também fora cristão tradicional anglicano e aprendera da mesma forma como ensinava a minha denominação religiosa e que agora era batizado com o Espírito Santo e desfrutava do revestimento do poder de Deus e das bênçãos dos dons espirituais. Sua exposição convincente da palavra de Deus foi demolindo todos os meus velhos argumentos, como quem desmancha uma casa tijolo por tijolo, até chegar ao alicerce e começa reconstruí-la com estrutura de concreto armado. Depois de ter removido todos os meus conceitos e preconceitos doutrinários, apresentou, finalmente, o versículo 39 do capítulo 2 de Atos dos Apóstolos: “Pois para vós é a promessa, para vossos filhos e para os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar”. Quando ele enfatizou: para quantos o Senhor chamar, questionando e afirmando que assim como eu fora chamado e salvo por Jesus Cristo em pleno século XX, logo a promessa do batismo com o Espírito Santo era também para mim na atualidade, e não apenas para o tempo dos apóstolos, como fora ensinado! Então não tive mais dúvidas, aquele texto que já houvera lido de forma despercebida, agora se tornou uma ancora para a minha fé! E, a partir daquele momento, passei a experimentar uma considerável mudança na minha vida: o horizonte da esperança começou a clarear e recuperei também minha auto-estima e o entusiasmo pela causa do Mestre.

Sem revelar para o pastor e a igreja, e nem mesmo à minha família, comecei a orar pedindo ao Senhor que me batizasse com o Espírito Santo. Ao mesmo tempo em que orava, lia também livros sobre o batismo com o Espírito Santo e os dons espirituais, para inteirar-me do que a Bíblia realmente ensinava a respeito do tema. Na época, trabalhava de frentista noturno em um autoposto, estudava de manhã e dormia depois do almoço. Certa tarde, ao acordar, enquanto estava no quarto lendo o livro Os Heróis da Fé, quando menos esperava, comei a ser tocado por um profundo quebrantamento, como um calor suave e gostoso, que me tomou a partir do alto da cabeça e foi descendo lentamente. Quando chegou à altura do peito, senti o meu coração como que derretendo dentro de mim. Comecei então a chorar copiosamente, invadido por um gozo indizível, ao mesmo tempo em que caí de joelhos ao lado da cama, orando de uma forma nunca experimentada antes.

Naquele momento, parecia que o meu corpo estava na terra e o meu pescoço alongou-se para cima até minha cabeça alcançar as alturas celestiais. Enquanto orava baixinho e contido, para não despertar a atenção da minha família, minha oração fluía como o borbulhar perene e abundante da nascente de uma fonte cristalina e refrescante. Milhões de pensamentos maravilhosos, que palavras humanas não podiam jamais expressar, passavam-me pela mente naquele instante, à medida que minha alma parecia se derramar como um rio do amor de Deus que jorrava das profundezas do meu ser! Mesmo sem perder a consciência e o autocontrole, sentia-me que estava num outro mundo de beleza e graça indescritíveis. Esse sublime estado de graça perdurou por cerca de cinco a dez minutos, quando então voltei ao normal, porém, já não era e nunca mais fui a mesma pessoa de antes daquela inesquecível tarde de um dia qualquer de meados de setembro de 1972.

Ao levantar-me e abrir os olhos, vi que tudo estava diferente ao meu redor. O ar parecia estar impregnado de perfeita paz e da doce e amável presença de Deus! A alegria e felicidade que tomaram conta de mim transformaram-se em um sorriso suave e constante e num desejo profundo de abraçar o mundo inteiro e as pessoas e compartilhar-lhes naquela hora o meu amor. Passei a amar tudo o que estava a minha volta: meu quartinho pobre e apertado, minha cama velha, e, ao sair para a sala, senti o mesmo em relação aos móveis que ali estavam, amei a casinha humilde onde morava, enfim, tudo aquilo que eu antes tinha vergonha de possuir. Ao olhar para o campo e a paisagem lá fora, eles estavam lindos, toda a vegetação apresentava um verde mais vivo e iluminado, a natureza se mostrava esplêndida e parecia que me saudava radiante de alegria e com um largo sorriso! Desde então, meu senso de admiração e respeito para com a natureza, enfim, com todas as formas de vida e com a preservação e defesa do meio-ambiente se aguçaram e passei a detestar toda prática predatória. Experiências que não vivenciara antes e que jamais deixei de vivenciar e, desde então, tem-se acentuado com o passar dos anos.

Todos os meus complexos de inferioridade e constrangimento de ser pobre desapareceram a partir daquele momento. Já não sentia mais vergonha de meus pais, por serem pessoas de condição econômica humilde, de pouca instrução, como sentia antes diante dos meus colegas de colégio e de trabalho. Ao contrário, passei a ter orgulho deles e a ser grato por tudo que fizeram por mim, principalmente por terem me ensinado o caminho do Senhor e dado condições de estudar.

Enquanto estava em pé na sala, meditando atônito a respeito de tudo o que se passava comigo e indagando a mim mesmo sobre o que seria aquilo, o Senhor testificou com o meu espírito: “Você foi batizado com o Espírito Santo agora!” Aí então entendi o significado da promessa: “Recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo…” (At 1.8), e sabia agora, por experiência própria, o que aqueles crentes pentecostais vivenciavam e o quanto eu houvera perdido na minha vida cristã! Mas, isso foi apenas o começo de uma nova dimensão de vida com Deus.

Naquela tarde, quando cheguei ao autoposto onde trabalhava, compartilhei a experiência com um colega de trabalho, que havia evangelizado e se convertera na Assembléia de Deus, a quem agora chamava de irmão Valdirom! Disse-lhe, entusiasmado, que fora batizado com o Espírito Santo. Ele olhou para mim e perguntou-me se eu havia falado em línguas estranhas. Respondi-lhe que não. Então ele ficou com um ar de dúvida na face, mas não disse nada. Mas eu tinha certeza de que fora batizado, o Espírito Santo mesmo havia testificado ao meu coração. O gozo indescritível que borbulhou dentro de mim como que jorrando em palavras incompreensíveis, era uma experiência sobrenatural. Só que o Espírito Santo, na sua divina sabedoria, naquele momento, usou de discrição para não escandalizar minha mãe e minha irmã mais nova, únicas pessoas que estavam em casa e nem chamar a atenção dos vizinhos dos lados. Isto não foi por ponderação minha, pois naquele momento não pensava em nada disso e nem sentia qualquer constrangimento ou vergonha: esquecera do mundo ao meu redor.

Depois de terminado o turno de trabalho, os colegas foram embora, inclusive o Valdirom. Pois o movimento a noite era pequeno e eu trabalhava só. Próximo à meia noite, quando até podia dormir um pouco, fechei a sala de recepção do escritório e ajoelhei no sofá para orar, pois era grande o meu desejo de comunhão com o Pai. Ali, agora sozinho, mal começara a oração e o meu gozo transbordou em línguas estranhas fluentes e abundantes! E desde então esta tem sido uma experiência frequente em minha vida, sempre que estou orando, meditando nas coisas de Deus ou em sua palavra. Muitas vezes, até quando estou pedalando para exercitar fisicamente, ou dirigindo na rua ou na estrada, desfruto da maravilhosa graça de falar com ele em língua celestial, quando minha alma então se deleita em profunda paz, quietude de espírito e iluminação espiritual!

Uma irmã da minha igreja, de nome Isabel Batista, professora da Escola Dominical, certo dia perguntou à minha irmã Floriza: “O que está acontecendo com o Moisés? Pois ele está tão diferente, anda alegre e está pregando com uma graça especial”! Mas, ela não sabia explicar o que houvera acontecido comigo, pois ainda não havia falado da minha experiência com minha família e a igreja, apenas com o irmão Valdirom.

Num domingo, logo depois de ter sido batizado com o Espírito Santo, estava assistindo a aula da Escola Dominical, como de costume. Nesse dia, um pastor da Igreja Cristã Evangélica de Anápolis e professor do Seminário Bíblico Goiano, ensinava a lição. A certa altura do desenvolvimento do assunto, ele fez, com certo ar de ironia, um comentário sobre os movimentos neopentecostais que estavam, naquela década de 1970, penetrando nas igrejas evangélicas tradicionais, principalmente batistas, e exemplificou que, próximo a Goiânia, havia um morro que já estava “pelado de tanto grupos de crentes irem para lá orar buscando o batismo com o Espírito Santo”… Depois concluiu, exortando os irmãos para que não deixassem ser levados por esses movimentos. Ao ouvir aquela palavra, senti certa tristeza no coração e, percebendo que não poderia mais permanecer naquela congregação, discretamente e sem rancor ou magoa, sai logo após o término da aula, antes do fim da ED. Porém, na hora não voltei à minha casa, mas desci, sem destino, pela Rua Catalão (a Igreja Cristã está situada na Av. Goiás, esquina com a R. Catalão, na Praça do Trabalhador, no cetro da cidade). Na primeira esquina dobrei, instintivamente, à direita, pela a Av. Dr. Neto, e continuei andando até chegar ao cruzamento com a Rua Goiânia, onde fica a Assembléia de Deus. Resolvi virar à direita novamente e subir por esta rua. Quando passava em frente à porta do templo, que fica na esquina, vi que ali estava acontecendo também a Escola Bíblica Dominical. A nave do templo estava quase cheia de ouvintes. Resolvi então, pela primeira vez, entrar naquele ambiente, sentando-me em um dos últimos bancos, próximo a entrada.

O professor era um ancião, o presbítero Alberico Augusto da Fonseca, que ensinava de maneira didática e com uma palavra direta e franca nas aplicações das verdades bíblicas. Sua maneira de ensinar falava de forma profunda ao meu coração sedento de ouvir uma palavra naquele estilo. Quando alguma verdade da lição tocava o coração de alguém, ouvia um alegre “glória a Deus!” e reverentes “aleluias!”, em assentimento à Palavra de Deus. Senti-me então em casa naquele ambiente onde outrora evitava até passar por perto. No final, sendo já conhecido de alguns irmãos ali, fui apresentado pelo nome como visitante, com caloroso amor fraternal e uma vigorosa saudação nunca presenciada antes: “Seja bem vindo em nome do Senhor Jesus!”. Onde os irmãos responderam enfaticamente: “Bem vindo!” E ali fiquei, onde permaneço até hoje, desde setembro de 1972, sempre abençoado pelo o meu Bom Mestre Jesus Cristo, que disse: “João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias”.

Para a igreja onde fora membro até então, a revelação da minha recente experiência, de ter “virado pentecoste”, foi um choque que deu muito que falar. Para minha família, um desconforto e escândalo, chegaram, posteriormente, a pensar que eu havia ficado “doente da cabeça”. Na verdade, o que podiam ver e comentar era que “aquele jovem miúdo, tímido, tristonho e que raramente sorria, que tremia todo e suava frio, quando precisava falar em público e na igreja, agora transbordava de alegria, de entusiasmo e não lhe faltava coragem para pregar o Evangelho com graça e unção, de casa-em-casa e até nos ‘prostíbulos’ com mesas cheias de homens e mulheres mergulhados em bebidas alcoólicas e entregues às orgias, quando então prostitutas em pranto, tocadas pelo poder de Deus, aceitavam a Jesus Cristo como o salvador de suas vidas e saíam imediatamente do recinto indo embora, levando sua mala e deixando a velha vida”. Assim, eu que era um jovem antipentecostal ferrenho, havia alcançado agora uma nova dimensão de vida, não apenas espiritual, como também na oração, adoração, louvor, no estudo e compreensão profunda das Escrituras e em outras áreas. Experimentei como que um desabrochar de todas as minhas potencialidades naturais, inclusive a capacidade intelectual e de comunicação, além da libertação dos complexos de inferioridade em relação a classe social, e a restauração da autoestima.

Quanto ao curso teológico, não desisti dele e o Espírito Santo continuou guiando-me no crescimento espiritual, tanto na graça como no conhecimento. Deus abriu-me outra porta, em 1973, no Seminário Evangélico Betânia, SEB, na cidade de Coronel Fabriciano, em Minas Gerais, pertencente a uma organização missionária americana radicada no Brasil havia vários anos – a Missão Evangélica Betânia – com sede em Minessota, Mineápolis, nos Estados Unidos. Ali encontrei as condições necessárias para fazer o sonhado curso bíblico, pois os alunos pagavam os estudos com seu trabalho no próprio seminário, estudando de manhã e trabalhando no período da tarde, em diversas atividades, como serviços gerais, construção, marcenaria, serralheria, gráfica, comércio, artesanatos, granja, etc. Assim, pude preparar-me melhor para servir ao reino de Deus conforme a minha chamada, numa época em que, por tradição, não era comum o obreiro da Assembléia de Deus fazer curso teológico. Mas o pastor Geraldo Gonçalves da Silva Cardoso, o Conselho Ministerial e a igreja, foram compreensivos e apoiaram minha ida para o seminário, mesmo sendo interdenominacional e sem vínculo convencional com as Assembléias de Deus no Brasil. Também, com meu incentivo, foram comigo para o mesmo seminário os jovens Valdirom Alves Coelho e Marlene Mendes de Araújo – ele, atualmente, pastor da Assembléia de Deus da cidade de Goiás, e ela missionária e sua esposa – sendo nós os primeiros seminaristas da Assembleia de Deus de Iporá, a fazer o curso teológico. Fato este que serviu de estímulo para que muitos outros seguissem nosso exemplo, indo principalmente para o Instituto Bíblico das Assembléias de Deus em Pindamonhangaba, IBAD, no Estado de São Paulo.

Concluído o curso em 1976 e feito o quarto ano, o estágio, no campo da Assembleia de Deus de Iporá, voltei para o SEB, onde permaneci algum tempo como professor de Teologia e Novo Testamento e pastoreando uma pequena congregação na cidade de Timóteo-MG. No final de 1979 retornei para Iporá, já casado com a missionária Cleuza Gonçalves Gomes, quando assumimos então a direção da congregação da Assembleia de Deus do Bairro Mato Grosso, pastoreando-a até 1985. Posteriormente pastoreamos também as congregações do Jardim Monte Alto e da Vila Brasília, além de servir no ministério do ensino nos núcleos de extensão 133, da EETAD, como seu primeiro monitor, e da FATAD em Iporá. Pelas misericórdias de Deus, são já 40 abençoados anos servindo na sua obra, na Assembleia de Deus de Iporá.

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