Vamos reviver mais da Amorinópolis de antes… No atual capítulo Paulo Afonso Ribeiro Barbosa relembra fatos da política local, inclusive, o fato de um fanático de Israel Amorim ter enfiado o canivete na costela do Manoel Antônio porque este falou mal do grande líder político. Reviva isso e muito mais em mais uma página do livro AMORINÓPOLIS NA METADE DO SÉCULO PASSADO.
A POLÍTICA NOS TEMPOS DE CAMPO LIMPO E DE AMORINÓPOLIS
Em cinquenta e cinco, quando fomos para Campo Limpo, a vila ainda era distrito de Iporá e o famoso Israel de Amorim, com seu cacoete de piscar forte um olho a todo instante, era o chefe político maior. No fim da década de cinquenta ele já era deputado e quando viu que ia perder a eleição para prefeito em Iporá, emancipou Campo Limpo, Monchão do Vaz (Israelândia), Jaupaci e Diorama para diminuir a área de influência do próximo prefeito daquele município, que seria, logicamente, seu inimigo. Aproveitou e colocou em algumas dessas cidades o seu nome ou sobrenome – Israelândia e Amorinópolis, por exemplo. No caso de Amorinópolis, conseguiu nomear o João Tavares, seu afilhado político, como primeiro prefeito. Assisti a essa posse, acompanhando o desfile das autoridades pela rua principal da cidade. Por falar nisso, nunca mais ouvi falar no João Tavares. Não sei se ainda vive. O Manoel Antônio era o opositor mais forte do Israel naquela época. Terminou se elegendo prefeito de Iporá, ganhando do Israel por dois votos. Num dos discursos de campanha em Campo Limpo, ali ao lado de onde é a prefeitura hoje, o José Leão, um fanático cabo eleitoral do Israel, que morava ali pros lados de onde foi o correio, enfiou um canivete na costela do Manelantônio, quando ele falava mal do Israel, que o sangue jorrou longe. Aí foi que o discurso se inflamou mais, com o Manoel passando a mão no sangue, mostrando para o público e associando o ato a algum jagunço a mando do Israel. Acho que foi aí que a eleição se definiu.
A primeira eleição de Amorinópolis teve uma disputa acirrada. Foram candidatos a prefeito o seu João Maranhão, que era titular do cartório do registro civil (tendo como vice o Gildásio Coutinho), e o seu Vergílio Caldas Andrade, que era dono de uma farmácia. A campanha foi acirrada e boa parte dela em cima de lombo de burro, porque não havia estradas e nem carros. Meu pai saiu em uma empreitada dessas, juntamente com o Quindô, Diolino Marra, José Dama e mais outros e passaram uns quinze dias rodando as fazendas, promovendo a campanha do João Maranhão. Ganhou o João Maranhão, que fez um excelente governo para a época. Elegeram-se vereadores, que me lembre, tio Rui, Dionízio Mariano e o seu Quindô. Acho que o Geraldo Toquinho também. Este foi vereador inúmeras vezes depois. Era muito querido e virou o representante do Cruzeiro, que depois mudou de nome e passou a se chamar Goiaporá.
Vou procurar dividir a história político-administrativa de Amorinópolis em três períodos distintos: O primeiro deles diz respeito à fase Campo Limpo ou ao início do povoado, que vai desde o primeiro rancho de pau a pique coberto de palhas de coqueiros, que foi feito pelo seu Jerônimo Ferreira, até a emancipação da cidade, quando mandava por lá o Israel de Amorim ou o Manoel Antônio: ora um, ora outro. Aliás, esse ciclo durou um pouquinho mais, porque o primeiro prefeito foi o João Tavares, nomeado pelo lendário Israel de Amorim que, indiretamente, continuou mandando.
O segundo período pode ser representado pela fase dos primeiros prefeitos eleitos pelo povo do município e foi, para mim, o mais próspero de todos, apesar de alguns tropeços pelo meio do caminho. Teve início com o mandato do João Maranhão que, dentro das limitações da época, fez uma excelente gestão, comprando máquinas pela primeira vez para o município, abrindo a estrada para o Caiapó e construindo a ponte sobre aquele rio, fazendo meio fio de paralelepípedos nas ruas do centro e dando uma cara de cidade à sede do novo município. Foi o mandato de consolidação do referido município, muito importante para tirar os ranços ainda existentes do domínio de Iporá. Destacaram-se ainda, neste segundo período, o Osmar Barros, com a criação do Ginásio Estadual, atendendo aos anseios de uma juventude faminta pelo saber e de pais desesperados para dar uma educação melhor aos filhos; o Antônio Barros, que criou o Hospital Municipal, uma necessidade vital para a região; e, por último, o João Perna Torta, que fez o calçamento das primeiras ruas, construiu uma bela praça, criou uma nova vila na saída para Iporá – a primeira expansão planejada que a cidade teve –, dando novo impulso ao município.
O terceiro período da história político-administrativa de Amorinópolis vai da gestão do Pedro Chico para frente, incluindo aí a do Ademir, filho do seu Leopoldino, que asfaltou a cidade toda e os dois principais distritos: Cruzeiro e Estrela D’Alava; a da Cida, esposa do Ademir e filha do Aldifrant lá do Caiapó, que deu ênfase à assistência social e ao setor de educação; e, agora, o Sílvio, que está só começando. Nesse período, certamente todos os prefeitos fizeram importantes obras, mas nenhuma delas de relevância tão marcante quanto às do período imediatamente anterior. Mas também sou suspeito para dizer isto, porque já não tinha muito contato com a cidade neste terceiro período. Vamos ver agora o novo prefeito, que é filho da Francina. A mãe foi uma mulher guerreira, honesta, educada e inteligente. Tomara que o filho tenha herdado esses predicados.