Ah! Se tivessem me oferecido um saco contendo 24.000 peças de metal. Se eu fosse esperto e tivesse a oportunidade de trair meus companheiros por 24.000 peças de metal. Tem gente que trai até por menos. Tem gente que trai somente pelo gosto da vingança.
Ah! Se tivessem me oferecido um saco contendo 24.000 peças de metal. Se eu fosse esperto e tivesse a oportunidade de trair meus companheiros por 24.000 peças de metal. Tem gente que trai até por menos. Tem gente que trai somente pelo gosto da vingança.
Se eu tivesse a oportunidade de entregar meus companheiros. Eu iria até aos arredores da cidade e um homem bem vestido, desceria de um carro de cinco portas e me entregaria não uma mala, mas um saco contendo 24.000 peças de metal. Então, eu me encurvaria e forçosamente arrastaria o saco de moedas para o porta-malas do meu carro. E ele sadicamente em pé, de braços cruzados, me observaria no meu humilhante esforço com um sorriso no canto dos lábios, avaliando quão barato é um romântico, um utópico. E depois eu iria até a agência bancária mais próxima e trocaria por algumas notas. E não compraria uma corda, deixaria o nojo primeiramente lamber, depois criar escaras e por fim corroer minhas tripas.
Ah! Se eu tivesse tido a oportunidade de pegar as 24.000 moedas. Eu estaria feliz. Eu não me arrependeria. Afinal de contas tem gente na história que trai até por menos. Até por 30 moedas. Estes sim devem se arrepender. Eu não. Neste natal eu sorriria e me divertiria vitorioso. Afinal o que são 12.000 moedas? São 11 salários mínimos. E qual o trabalhador que ganha ao menos um 13º Salário. Eu andaria pelas ruas e mesmo que a vida, as pessoas e as crianças me olhassem por baixo dos óculos, com aquele olhar de inquisidor. Eu fingiria que não seria comigo. Que não estavam olhando pra mim e passaria direto.
E depois, chegaria em casa cansado e me sentaria na poltrona confortável e passaria a mão direita na testa, fingindo preocupação. Isto bastaria à minha consciência pesada. Porque um saco de 24.000 moedas pesa. E como pesa.
Se eu tivesse aceitado as 24.000 peças. Neste natal eu e minha família diríamos adeus ao frango de granja e à cerveja barata e engordaríamos felizes feito leitões. E felizes enquanto durasse o estado etílico, enquanto não acabasse a cerveja. E feito leitões, com tantos queijos, ovos, vinhos, panetones e carneiros assados.
Ah! Se eles me oferecessem 24.000 peças pelos meus amigos. Eu fico aqui parado na porta de entrada feito vendedor em frente a uma vitrine, esperando, sonhando e pensando: – Ah! Se eles me oferecessem 24.000 moedas pelos meus companheiros. Dos poucos que ainda me restam, dos poucos que ainda não vendi eu os trairia por menos até. Eu os colocaria em promoção. E os trairia um a um. Tem gente que trai até por menos. Tem gente que trai de graça e sem motivo. E isto não me surpreende nem um pouco. Neste mercado de cabeças onde as cabeças parecem serem co/r/tadas em bolsas. Isto não me surpreende.
Um feliz natal àqueles que neste ano de 2011 tiveram a oportunidade de trair seus companheiros por 24.000 moedas ou por menos do que isso. (João Batista da Silva Oliveira)
