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De Samambaia ao Buriti. É a Assembleia de Deus chegando à Iporá

Autor Moizeis Alexandre Gomis e capa da obra

Mias um capítulo do livro QUANDO SAMAMBAIA PEGOU FOGO, relatando o surgimento da Igreja Assembleia de Deus em Goiás e na região do Oeste Goiano. Veja mais um trecho da obra de Moizeis Alexandre Gomis:

CAPÍTULO 6
O FOGO DE SAMAMBAIA PEGA NO BURITI

À noite, sobreveio a Paulo uma visão na qual um varão macedônio estava em pé e lhe rogava: Passa a Macedônia e ajuda-nos. Assim que teve a visão, imediatamente, procuramos partir para aquele destino, concluindo que Deus nos havia chamado para lhes anunciar o evangelho. (Atos dos Apóstolos 16.9 e 10).

Em 1748, os irmãos mineradores de diamantes, Felisberto e Joaquim Caldeira Brant fundaram o Arraial de Pilões, situado a margem direita do Rio Claro (atualmente nas proximidades da cidade de Israelândia). Em 1833, ainda no tempo do Brasil Imperial, o arraial foi elevado a Distrito de Vila Boa de Goiás, então capital da Província de Goiás. No século XX, já decadente, por ter ficado fora da rota comercial Vila Boa, Registro do Araguaia, Cuiabá, em razão da nova rota que se estabeleceu pela estrada que margeava a linha telegráfica, no trajeto Vila Boa, Colônia de Uvá, Estação Floriano, Registro do Araguaia e Cuiabá (onde surgiriam as futuras cidades de Itapirapuã e Jussara), o antigo ‘Distrito de Rio Claro ficou mais conhecido como “Comércio Velho”.

Em 1938, o paraense Israel de Amorim, natural de Conceição do Araguaia que, desde 1926, já atuava como garimpeiro e “capangueiro” nos rios Claro e Caiapó, transferiu o centenário Distrito do Rio Claro para as margens do Córrego Tamanduá, com toda a sua centenária estrutura administrativa: subprefeitura, coletoria, subdelegacia de polícia e a educação pública então assistida pelo casal de professores, Francisco Sales e sua esposa (que posteriormente se consolidou com a implantação do Grupo Escolar Israel de Amorim, a partir dos anos de 1942 e 1943). Com a transferência, que teve a participação inicial do escrivão e professor Osório Raimundo de Lima (Mestre Osório) e o apoio e orientação do então governador de Goiás, Dr. Pedro Ludovico Teixeira, o novo Distrito recebeu o nome de Itajubá, sendo rebatizado, em 1943, de Iporá (águas claras em tupi-guarani, equivalente ao antigo nome de Rio Claro), concretizou-se o plano idealizado pelo Coronel Joaquim Paes de Toledo, seu filho Elpídio Paes de Toledo (doadores da área do novo distrito) e o Capitão Odorico Caetano Teles, antigos donos das terras da região entre os rios Caiapó e Claro, correspondentes às bacias dos ribeirões Santa Marta e Santo Antônio. (Gomis, 2002).

Situado em uma região de cerrado e matas férteis, o recém fundado núcleo urbano, cresceu rapidamente. Em 1940, Israel de Amorim e esposa, a maranhense Olga de Souza Amorim – ela, de família tradicional presbiteriana, então membro da Igreja Cristã Evangélica da cidade de Goiás, antiga capital goiana – fixaram residência em Itajubá. Como fundador efetivo e de fato do novo distrito e chefe representante regional da nova situação política nacional vigente desde a Revolução de 30, Israel de Amorim, além de assentar muitos dos antigos garimpeiros nas terras outrora dos antigos coronéis, através de um projeto de reforma agrária idealizado e conduzido por ele, passou também a propagar o surgimento da “nova cidade”, atraindo assim pessoas de várias regiões de Goiás, Minas Gerais, Pará, Maranhão e de outros recantos do país. Migrantes chegavam em levas com suas mudanças em carros de bois, em lombos de cavalos e éguas, de burros e mulas, de jumentos e jumentas, e também mochileiros a pé com seus bagulhos nas costas. Quando Israel de Amorim, por meio de mutirões, abriu, à custa de muque humano, com enxadão, enxada e machado, a primeira e precária “estrada de rodagem”, ligando Iporá a Cachoeira de Goiás, vieram também os velhos caminhões Ford 29 e Chevrolet GMC. Ao construir, igualmente, a partir de 1945, o aeroporto, com uma pista de pouso de 1.200m, os melhores de condição econômica agora chegavam de avião, para completar o formigueiro humano que se formava na tumultuada Iporá, plantada nos sertões inóspitos do oeste goiano.

Nesse contexto histórico, ainda na década de 40, muitas famílias de mineiros, que viviam em Samambaia, atraídos pelo vislumbre da possibilidade de possuírem seu pedaço de terra e melhorarem de vida, se mudaram para Iporá. Alguns fixaram residências no próprio Distrito, onde passaram a viver como comerciantes, sapateiros, celeiros, carpinteiros, pedreiros, ferreiros e em outros ofícios. Os que tinham vocação para a agricultura foram para a zona rural dos ribeirões Jacuba, Santa Marta, Santo Antônio, e dos córregos, Bugre, Pé-de-pato, Limeira, Baixa da Égua e Buriti, além de outras localidades, regiões de matas de cultura de terra de vermelha massapé.

Poucos dias depois que o avivamento havia se iniciado em Samambaia, enquanto os crentes ali, cheios do Espírito Santo, buscavam o Senhor num fervoroso culto de oração, o irmão Abraão Gonçalves de Melo teve uma visão, onde viu quando uma tocha de fogo se ergueu da congregação e depois se dirigiu para o oeste, indo pairar sobre a região do Buriti. Após o término do culto ele testificou sobre a visão que tivera. Logo o obreiro dirigente, Divino Gonçalves dos Santos e os irmãos entenderam que era a vontade de Deus que a mensagem do Evangelho Pleno fosse pregada também aos irmãos presbiterianos e às pessoas que viviam naquela localidade. Orientados assim por Deus, Divino Gonçalves dos Santos e Abraão Gonçalves de Melo partiram de Samambaia, a cavalo, para realizar mais uma missão evangelizadora.

Chegaram a Itajubá, em 29 de julho de 1943, 15 dias, portanto, depois do primeiro culto pentecostal em Samambaia, e pernoitaram na casa de Alberico Augusto da Fonseca, na Rua 24 de Outubro, 520, esquina com a Rua Lázaro Vieira, 170 (em frente o atual SENAC, na praça da Estação Rodoviária). Ali Alberico, morava nos fundos da casa e, na parte da frente, tocavam uma sapataria e celaria em sociedade com Dermínio José Fernandes (conhecido como Nenên Fernandes). Naquela noite foi realizado o primeiro culto da Assembléia de Deus em Itajubá (que três meses depois teve o nome mudado para Iporá), contando com a presença da família hospedeira e de um grupo de assistentes, inclusive Olga de Souza Amorim, esposa do chefe político regional, Israel de Amorim e sua amiga Isbela Fonseca, ambas da Igreja Cristã Evangélica. Elas foram ao culto com a intenção de observar, criticar e difamar os “pentecostes” (conforme o testemunho da própria irmã Isbela), já que grande parte dos evangélicos tradicionais, na época, considerava os pentecostais como hereges. Alberico Augusto da Fonseca e sua esposa Maria Júnia Araújo da Fonseca, que eram presbiterianos há muitos anos, desde Minas Gerais, foram as primeiras pessoas, em Iporá, a aderirem a Assembléia de Deus, após o convite, feito pelo dirigente Divino Gonçalves dos Santos, ao final da pregação da mensagem do Evangelho Pleno.

No dia seguinte, os dois “apóstolos do oeste goiano” prosseguiram a viagem até a fazenda de Francisco José Fernandes, no Buriti, que também já havia visitado a Assembléia de Deus de Anápolis, crido na doutrina pentecostal e fora por Jesus curado de “hanseníase”. No Buriti realizaram, na residência de Francisco José Fernandes e de irmãos presbiterianos, algumas reuniões onde pregaram o evangelho da salvação em Jesus Cristo e expuseram aos ouvintes os esinamentos das Escrituras concernentes ao batismo com o Espírito Santo.

Como acontecera em Samambaia, o “avivamento pentecostal” alastrou-se também naquela região como um incêndio descontrolado, com os pecadores se convertendo a Jesus Cristo e irmãos recebendo o batismo com o Espírito Santo. Seguidores fiéis do Mestre que cultuavam a Deus numa adoração viva e fervorosa, onde os dons do Espírito Santo se manifestavam de forma espontânea, abundante e poderosa, ao mesmo tempo em que não se cansavam de evangelizar os moradores das fazendas vizinhas.

A cada dia, a mensagem da Palavra de Deus era pregada com unção e graça e confirmada através das operações sobrenaturais de Deus. As evidências visíveis dos frutos do Espírito Santo na vida dos crentes, marcadas por um elevado padrão moral e ético de conduta, tornavam-se fatores convincentes, levando os ouvintes do Evangelho a crerem em Cristo. Em cultos dirigidos em salas apinhadas de gente, quase sempre à noite e sob a luz fraca e sonolenta de candeias alimentadas com azeite de mamona ou a lamparinas a querosene, as pessoas se convertiam ao Senhor tomadas de grande convicção de pecado e movidas por profundo arrependimento e quebrantamento de coração, muitas vezes, derramando-se em pranto. Alguns dias depois, Divino Gonçalves e Abraão de Melo, retornaram a Samambaia, deixando ali uma numerosa e avivada congregação de pentecostais.

Cerca de um mês depois de os dois mensageiros terem pregado a mensagem pentecostal no Buriti, o pastor Manoel de Souza Santos, da Assembléia de Deus de Goiânia, realizou também ali o primeiro batismo, em 29 de agosto de 1943, no domingo posterior ao primeiro batismo de Samambaia. Foram batizados Alberico Augusto da Fonseca, Maria Júnia Araújo da Fonseca, Francisco José Fernandes, José Lourenço Silvestre (José Rita), inclusive Isbela Fonseca, que antes se opusera ao movimento e acabou crendo também na mensagem pentecostal (e que veio a se casar com Divino Gonçalves dos Santos, em 31 de dezembro daquele ano), além de dezenas de outros recém convertidos. Assim, ficou plantada na Fazenda Buriti uma nova congregação da Assembléia de Deus.

No princípio, os cultos eram dirigidos sob a responsabilidade do irmão Francisco José Fernandes (irmão Fio) em sua própria casa. Logo os irmãos construíram um pequeno salão, na margem esquerda do Córrego Buriti (a leste do templo atual), onde congregavam. Em 09 de abril de 1944, aquela congregação, constituída de gente simples – fazendeiros e lavradores agregados, homens e mulheres, jovens e crianças, anciãos e anciãs –, foi formalmente organizada como a Igreja Evangélica Assembléia de Deus do Buriti, a primeira na região de Iporá. O presbítero Abraão Gonçalves de Melo, que havia se mudado de Samambaia para o Buriti, no início de 1944, onde comprara terra, foi empossado como seu primeiro pastor dirigente.

As chamas do avivamento do Espírito Santo continuaram se espalhando por aquelas bandas como o fogo das queimadas na imensidão dos serrados, nos meses de agosto e setembro, comuns naqueles tempos em que não se ouvia falar de consciência ecológica.

Nesse ínterim, outros crentes de Samambaia e de Iporá se mudaram para o Buriti, inclusive Alberico Augusto da Fonseca, que ali também se dedicou a agricultura. Cooperava na igreja como membro fiel, porém, não exercia nenhum cargo, visto não ter sido ainda batizado com o Espírito Santo, conforme as normas doutrinárias da Assembleia de Deus. Em 31 de dezembro de 1945, ele estava sozinho na roça colhendo espigas de milho verde, já que era costume popular comemorar a chegada do ano novo com pamonhadas no dia primeiro de janeiro. Durante o tempo em que recolhia as espigas em um balaio, sentia o coração afligido e a mente maquinando sobre o porquê de não ter sido ainda batizado com o Espírito Santo, já que o vinha buscando há muito tempo em oração e jejum e até àquele momento nada havia acontecido. Enquanto quebrava as espigas de milho, alguns irmãos que foram encontrá-lo na roça, entraram no rancho que havia ali e, enquanto o esperavam, sentiram o desejo de orar.

Alberico, tendo enchido o jacá ou balaio de milho, o pôs no ombro e foi para casa. Logo percebeu que havia pessoas orando dentro do rancho que era cercado com paredes pau-a-pique. Ali mesmo, do lado de fora, desceu o balaio no chão, se ajoelhou e começou a orar também. Mal havia começado a oração, foi batizado com o Espírito Santo e começou a falar em línguas estranhas e a glorificar ao Senhor. Quando os irmãos o viram, correram e se ajoelharam ao seu lado e continuaram orando por algum tempo e transbordando em línguas estranhas os mistérios de Deus. Por fim, foram para casa cheios de poder e alegria espiritual. Alberico mal podia conter o transbordar do maravilhoso dom de línguas. Ao testificar no culto, à noite, sobre o que havia acontecido lá na roça, o poder de Deus foi derramado de novo sobre a congregação e mais irmãos e irmãs foram batizados com o poder do Alto.

Alberico Augusto da Fonseca, já batizado com o Espírito Santo, se tornou um obreiro fiel e ainda mais estudioso da Palavra de Deus, um mestre dedicado que expunha com clareza as doutrinas bíblicas e um habilidoso e dedicado professor da Escola Bíblica Dominical. Passado algum tempo, já consagrado a presbítero, foi empossado como o segundo dirigente da Assembleia de Deus do Buriti. Depois vieram os presbíteros José dos Santos Ferreira (o futuro e legendário pastor Ferreira), Domervil Augusto da Fonseca (Nenzico) e Amador Carlos dos Santos, transferido da congregação da Assembleia de Deus de Amorinópolis, e muitos outros, inclusive Jorcelino Fortunato de Freitas Filho (atual pastor vice-presidente do Campo da Assembleia de Deus Iporá) Atualmente, a congregação da Assembleia de Deus do Buriti é pastoreada pelo presbítero Juarez Vaz da Silva. Assim a obra prosseguiu crescendo sempre sob a coordenação do pastor Divino Gonçalves dos Santos, da Assembléia de Deus de Samambaia, posteriormente transferido para Iporá.

Como resultado da evangelização promovida pelos crentes da Assembleia de Deus do Buriti, numerosas conversões ocorreram na região do Córrego das Vacas (no atual município de Diorama), inclusive a do fazendeiro Valdemar Nogueira Ramos. Logo foi organizada ali uma congregação, sob sua direção, onde os cultos eram realizados em um grande salão da casa da fazenda, cedido por ele aos irmãos. Por ser farmacêutico formado, fazia também o papel do Lucas do sertão, um “médico de homens e de almas”, salvando muitas vidas de diversas doenças com os recursos da medicina e ajudando a gente sofrida daquele mundo tão isolado da civilização e desprovida de assistência médica. (Santos, 1995). Em razão de ser desquitado e o Código Civil vigente e a igreja não permitirem um novo casamento, Valdemar Ramos, mesmo enfrentando e superando as lutas e derrotas de um cristão celibatário por circunstância, tornou-se um incansável evangelista e ganhador de almas naquela região e, posteriormente, fundador de igrejas pelos vastos sertões de Goiás e do Mato Grosso, inclusive a Assembleia de Deus de Barra do Garças.

A partir da Assembelia de Deus do Buriti e do Córrego das Vacas, ainda nas décadas de 1940 e 1950, o avivamento pentecostal continuou a se espalhar pela zona rural, povoados e cidades dos vales dos rios Claro, Caiapó e Araguaia. A cada ano, era sempre crescente o saldo de conversões e novas congregações e igrejas iam surgindo no mesmo ritmo da propagação da mensagem poderosa do Evangelho de Cristo. Localidades como Santa Marta, Jacuba, Jacubinha, Aropi (Diorama), Campo Alegre, (Palestina), Caiapônia, Piranhas, Campo Limpo (Amorinópolis), Pacu (Jaupci), Monchão do Vaz (Isrelândia), Cobó (Moiporá), Boa Vista (Ivolândia), Salobinha (Montes Claros de Goiás) e também em Iporá, onde, em razão da forte oposição católica, a Assembléia de Deus conseguiu fundar uma congregação apenas a partir de 1947. Mas isto já é assunto para um capítulo posterior.

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