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Elpídio torna-se fazendeiro no município de Amorinópolis


Mais do livro sobre a vida de personagem importante de nossa História. Outro capítulo do livro “Elpídio: Pensador Político de Iporá”. A Obra é de Ubirajara Galli e que foi patrocinada por Jaldo de Souza Santos, com incentivo de Elpídio Júnior e Davi de Souza Santos.

A fazenda
Desde criança Elpídio sempre teve o sonho de ter uma fazenda. Quando se casou com Irani, seu sogro João Teixeira Sobrinho, que era um grande conhecedor das atividades agro-pecuárias, se dispôs a ajudá-lo na administração de uma possível propriedade rural.
O início foi um pequeno pedaço de terra, situado a 5 (cinco) quilômetros de Campo Limpo, Distrito de Iporá (GO), hoje cidade de Amorinópolis (GO), apenas a parcela onde localizava-se a antiga sede de uma fazenda que já havia pertencido ao seu sogro. O tamanho correspondia a uma chácara. 
Os sogros João e Florípes se mudaram para a fazenda, que logo passou a ser produtiva, pois o casal detinha profundos conhecimentos dos manejos da agropecuária, que aliado ao tino comercial-administrativo de Elpídio, resultou em lucros. Por intermédio de financiamentos junto ao Banco do Brasil, Elpídio foi adquirindo pequenas glebas no seu entorno, levando ao longo de poucos anos a formação de uma fazenda de médio porte com alta qualidade.
A fazenda foi formada com uma ótima pastagem para o gado leiteiro e de corte, um cafezal, área para lavoura de arroz/milho/feijão/mandioca, canavial para produção de rapadura/açúcar mascavo/pinga/moça branca, criação de porcos e um razoável plantel de aves para abate. O pomar carinhosamente plantado com a ajuda das mãos abençoadas de sua esposa Irani, sua sogra Floripes e seu sogro João Teixeira. Quantas frutas deliciosas!
A criação de suínos adotava o que tinha de mais inovador para a época, década de 1950, com um grande mangueiro para os porcos destinados a produção de carne. O paiol de estoque para milho ficava sobre a área do chiqueiro, que era todo revestido com base de cimento e tinha uma canalização de água que terminava em um sistema tipo chafariz, onde os porcos faziam fila para se banharem. Portanto, os animais criados no chiqueiro para engorda não tinham contato com água suja ou lama. Existia também uma área para maternidade das porcas, onde os filhotes nasciam em baias individuais e cobertas, evitando a ação de intempéries e animais predadores.
A rodovia GO-174, que liga Iporá (GO) a Rio Verde (GO), passava, e continua ainda hoje, margeando boa parte da fazenda, porém à época da propriedade de Elpídio ela não era pavimentada. O trecho da rodovia que circundava a fazenda tinha aproximadamente uns dois quilômetros, sendo que o ponto médio desse percurso era cortado por um pequeno riacho, com o nome de  Córrego do Elpídio. Portanto, tinham-se dois trechos em declividade acentuada, que terminavam no mencionado  Córrego do Elpídio, e por não serem pavimentados, resultava em um verdadeiro atoleiro na fase de chuvas, que ia de setembro a maio. 
Muito bem, mesmo colocando cascalho no leito da rodovia, devido à declividade, nos períodos longos de chuvas o terreno ficava encharcado e formavam-se os atoleiros, que retinham os veículos maiores, caminhões e ônibus. Nesse momento entrava a boa vontade de Elpídio, que sempre se prontificou em ajudar as pessoas. Ele colocava um vaqueiro, e muita das vezes ele próprio, comandando algumas juntas de bois para puxar os veículos atolados, até o ponto onde o piso da estrada estivesse firme. Essa atividade de desencravar veículos, frequentemente, durava o dia todo chegando o trabalho até as madrugadas, mas os motoristas sempre ouviam de Elpídio:
– Vá com DEUS, não é nada não! 
A orientação dada à pessoa encarregada de comandar as juntas 
de bois era para não cobrar pelo serviço.
 A única condição solicitada por Elpídio aos motoristas encravados era que, não retirassem madeiras, sejam das cercas ou derrubando árvores para colocá-las sob as rodas dos veículos. A ação praticada atendia às pessoas e ao meio ambiente.
Elpídio herdou de sua mãe Isabel, conhecida como dona Belinha, o desejo de viabilizar condições para as pessoas estudarem. Prática essa que Elpídio adotou ao longo de sua vida, com o apoio da esposa Irani, receberam em casa várias pessoas que vieram morar para estudar, dentre elas: Leides Cecília Teixeira, Izelman Teixeira Leão, Neusa Teixeira, Lacir Teixeira, Ilda Teixeira, Edi Teixeira, Nelson Teixeira Leão, esses em Iporá (GO), e Waldemar Teixeira Moreira, Iraildes Teixeira Moreira e Sônia Maria Teixeira, em Goiânia (GO). Ele foi também por muito tempo provedor financeiro para ajudar sua mãe no sustento do estudo de alguns irmãos.
Elpídio não se continha ao ver pessoas próximas ao meio de seu convívio, que diziam não saber ler e tampouco assinar o próprio nome. Buscava sempre uma alternativa para levar o conhecimento do estudo a essas pessoas.
Foi assim que em 1954, Elpídio idealizou e instalou em sua fazenda uma Escola Rural. A escola foi construída na divisa de uma área de pastagem com o cerrado. Ponto estratégico para o deslocamento dos alunos residentes em suas terras, como também de terras vizinhas. Pronta a edificação física, ele buscou uma professora para a escola, que foi a pioneira e dedicada Leides Cecília Teixeira, sua cunhada, irmã de sua esposa Irani.
A professora Leides guarda em sua memória a imagem de seus alunos sedentos pelo saber, e não se esquece os instantes do “recreio”, quando acompanhava as crianças na busca de frutas da estação, fartamente encontradas no cerrado próximo à escola.
Professora que não ficou estacionada no tempo, Leides sempre procurou aprimorar seus conhecimentos, e merecidamente foi convocada a dar aulas também no Grupo Escolar Israel Amorin, em Iporá. Posteriormente, mediante convite, assumiu a função de Secretária do Centro de Treinamento de Professores Leigos, na cidade de Morrinhos (GO) onde atendia a demanda de toda a região Centro Oeste. Já contratada pelo Ministério da Educação – MEC, Leides graduou-se em Pedagogia na cidade de Goiânia, onde, depois de um longo período dedicado ao ensino, ela se aposentou.
A brilhante ação de Elpídio,possibilitou tirar do analfabetismo muitas crianças, jovens e adultos que moravam em sua fazenda, como também outros das áreas da Santa Marta, Jacuba e adjacências. 
Elpídio via nos trabalhadores contratados seres humanos, com desejos, sonhos, alegrias e sofrimentos. O carinho para com essas pessoas era tanto que, por ocasião do Natal, ele e sua esposa Irani dedicavam um período para comprar, embalar e identificar presentes, para serem distribuídos às crianças, jovens e adultos residentes em sua fazenda. O sorriso estampado nos rostos dessas pessoas transmitia uma sensação inimaginável, pois a maioria não conhecia o ato de receber um presente.
Por volta de 1958, os irmãos Elpídio e João resolveram encerar as atividades comerciais da  Loja Souza Santos, em Iporá (GO), especializada em “Secos e Molhados”. Tratando-se de um grande comércio, logicamente existiam dívidas vincendas com os fornecedores, que Elpídio assumiu para si o total pagamento das mesmas, deixando o saldo positivo a receber junto aos clientes para seu irmão.
As contas com os fornecedores teriam que ser pagas, foi quando Elpídio convidou sua esposa Irani para irem morar na fazenda, e juntos trabalharem o suficiente e necessário para honrarem os compromissos assumidos.
De pronto Irani concordou com a proposta do esposo, sendo que nesta época seus pais João Teixeira e Florípes já não residiam na fazenda, tendo mudado para Iporá (GO). Quando da mudança para a fazenda, o filho Elpídio Jr. ficou morando com a vovó Belinha, e a filha Elni ficou com a vovó Floripes, ambos em Iporá (GO), para continuarem os estudos. O período foi de dois anos.
Durante  dois anos, Elpídio e Irani, que já conheciam muito bem as atividades pesadas de uma propriedade rural, trabalharam arduamente para fazerem da fazenda que já era produtiva, produzir ainda mais.
Foram dias de muito trabalho, muito suor, muita dedicação e também sofrimentos, mas o amor do casal perseverou. 
A rotina começava bem cedo, às quatro horas da madrugada, Elpídio ia para o curral ordenhar as vacas, que era um procedimento manual, enquanto Irani partia para colher as verduras em uma horta que ela mesma cuidava. Tudo isso à luz de lamparina.
Às seis horas da manhã, Elpídio já havia engarrafado o leite, e com um ajudante desnatava parte do mesmo, com a retirada do creme para fazer a manteiga de leite, e outra parte separada para fazer o queijo. Irani nesse momento estava com suas verduras frescas e viçosas, já acondicionadas em dois grandes balaios.
As garrafas de leite alojadas em alforjes que junto aos balaios interligados eram ajustados no lombo de cavalos, que seguiam comandados pelo jovem Ivo para atender à demanda da população de Amorinópolis (GO). O queijo e a manteiga também faziam parte de subprodutos vendidos.
Amanhecia o dia e Elpídio, liberado da ordenha das vacas, iniciava outra rotina, que era o trato dos porcos, verificando a maternidade das porcas, os porcos para engorda, os porcos soltos no mangueiro, sua alimentação e limpeza dos ambientes. Em seguida partia para verificar os diversos pontos de serviços espalhados pela fazenda, como a lavoura do café, arroz, milho, feijão e mandioca, bem como o manejo do gado.
Em paralelo, sua esposa Irani já tinha preparado o lanche da manhã para os peões trabalhando espalhados pela fazenda. Logo em seguida vinha o almoço e no meio da tarde outro lanche. As refeições preparadas em todas essas etapas eram também distribuídas pessoalmente por Irani, que as faziam transportando em lombo de cavalos.
Não nos esqueçamos das atividades domésticas de Irani, no cuidado das duas filhas menores, Iranizinha e Cleizia. O cuidado da limpeza da casa. O cuidado das roupas.
De todos os ciclos de produção da fazenda, Elpídio participava ativamente. Quando da colheita do café, tinha o processo da retirada, transporte, secagem nos “terreiros” e ensacamento.
Quando da colheita do arroz, com o ensacamento provisório feito ainda na roça, o volume da palha acabava também misturado ao mesmo. Lembrar que estávamos na década de 1950, não existindo ainda as modernas máquinas de beneficiamento. Portanto, fazia-se necessário um sistema rudimentar para separar as palhas do arroz a ser ensacado para venda.
Elpídio construiu em frente à sede da fazenda os chamados “terreiros”, que eram plataformas planas e limpas, onde se processava a secagem do café colhido, para então fazer o ensacamento e em seguida a venda.
Próximo aos “terreiros”, ele edificou um jirau de madeira, no formato de um palanque, com aproximadamente cinco metros de altura. No topo fez-se uma plataforma com espaço útil de 2,5metros x 2.5metros, sendo o seu acesso via escada vertical que ficava anexada ao madeiramento de sustentação do mencionado jirau.
Assim que os sacos de arroz chegavam da roça, eram dispostos à base do jirau, e Elpídio que sempre teve uma força muscular acima do normal, pegava saco a saco, que apoiado em seu ombro, subia a escada até o topo da plataforma. Acumulada uma quantidade razoável de sacos de arroz, ficando apenas o espaço físico suficiente para os seus pés, ele abria o saco e despejava o conteúdo em direção à base do jirau, que caia sobre uma lona, sendo que a ação do vento soprava as palhas que estavam misturadas ao arroz. Isso foi uma atividade que Elpídio acostumou-se a executar, visto que o arroz abanado ficava mais limpo, e alcançava um valor melhor nos mercados compradores.
Periodicamente Elpídio recebia a visita dos chamados “viajantes”, que nada mais eram do que os representantes dos antigos fornecedores da Loja que teve com o irmão João. Todos os viajantes que estiveram na fazenda, e viam sua luta juntamente com a esposa, diziam:
– Elpídio, não encontrei aqui um homem de braços cruzados, e sim um homem lutador, que juntamente com os seus peões trabalha de sol a sol. Portanto, quanto tempo você quer para quitar as duplicatas?  Você é quem faz o prazo.
Todas as contas foram pagas, e nenhum documento foi protestado. O crédito de Elpídio em momento algum foi afetado.
Certa feita, estava ele chegando do cafezal, encontrou na sede da fazenda um “viajante” que veio ao seu encontro e perguntou:
– O senhor poderia informar-me onde posso localizar o senhor Elpídio?
Em resposta teve:
– Pois não, eu sou Elpídio.
O viajante passou uma olhada de baixo para cima, e questionou:
– Mas, o senhor é que é o dono dessa fazenda ?
Resposta de Elpídio:
– Sim, sou eu mesmo. Vamos entrar e sentar.
Naquele momento, Elpídio que já estava com a pele bem queimada pelo sol, apresentava uma roupa empoeirada e botina suja, resultado do trabalho dentro do cafezal, nada parecia ser o proprietário de uma fazenda tão rentável.
O “viajante” desculpou-se pela observação, e como os demais, deixou para Elpídio estabelecer o prazo para pagamento da duplicata. Acordo selado, palavra cumprida.
Assim, Elpídio e sua amada esposa Irani, depois de dois anos de muito trabalho, pagaram todas as contas oriundas da antiga Loja. A fazenda continuou se auto-sustentando, e proporcionando ao casal o retorno da moradia em Iporá (GO). 
Em julho de 1962 Elpídio e família mudaram para Goiânia (GO). Vendeu a fazenda, próxima a Amorinópolis (GO), e também seus imóveis em Iporá (GO). Por essa ocasião, seus filhos mais velhos já moravam em Goiânia (GO), onde estudavam David, residindo com a vovó Belinha e Elpídio Júnior acolhido na casa dos tios Jaldo e Magali, irmão e cunhada de Elpídio.
Elpídio continuou mantendo alguns negócios na região de Iporá (GO) e Amorinópolis (GO), notadamente a criação de gado, que passou a utilizar o aluguel de pasto. Essa atividade ele manteve até dois anos antes de seu falecimento, em 09 de maio de 1983.

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