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História da Assembleia de Deus: Primeiras Igrejas e Líderes

Hoje, um capítulo importante do livro QUANDO SAMAMBAIA PEGOU FOGO. Discorre sobre os primeiros templos, primeiros líderes da Igreja Assembleia de Deus. Vamos à leitura do livro de Moizeis Alexandre Gomis:

CAPÍTULO 8
O FOGO DO BURITI ARDE EM IPORÁ

Visto que alguns deles se mostravam empedernidos e descrentes, falando mal do Caminho diante da multidão, Paulo, apartando-se deles, separou os discípulos, passando a discorrer diariamente na escola de Trajano. Durou isto por espaço de dois anos, dando ensejo a que todos os habitantes da Ásia ouvissem a palavra do Senhor, tanto judeus como gregos. (Atos dos Apóstolos 19.9 e 10).

Enquanto o avivamento de Samambaia e Buriti se espalhava em várias direções, a obra de evangelização da Assembléia de Deus em Iporá não alcançava o mesmo progresso de outras localidades, em razão do forte preconceito da população (inclusive dos crentes de outras igrejas evangélicas), contra os “pentecostes”, como eram pejorativamente denominados, e da cerrada oposição dos padres salesianos, responsáveis na época pela Capela do Distrito, que, embora pertencessem à Paróquia de Araguaiana, no Mato Grosso, respondiam pela Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, que não havia sido ainda transferida do antigo Distrito de Rio Claro (Comércio Velho) para Iporá, o que ocorreu apenas no início da década de 1950, quando então se criou a nova paróquia na cidade.
No entanto, apesar da oposição, um pequeno grupo de crentes da igreja do Buriti ia aos domingos, a cavalo, a Iporá para dirigir cultos nas residências de alguns crentes da Assembléia de Deus e de simpatizantes. Quando dirigiam os cultos ao ar livre, em praça pública, eram hostilizados e, as vezes, até apedrejados e escorraçados pelos opositores exaltados. Somente a partir de 1947 foi que se organizou uma congregação com local definitivo para os convertidos congregarem, quando então os cultos passaram a ser celebrados aos domingos e em outros dias da semana, sob a direção do diácono Miguel Coelho da Cunha. O pequenino grupo de crentes pentecostais se reuniu durante um ano, sem presenciar a conversão de uma única alma. Mesmo assim, Miguel Coelho continuou dirigindo os cultos regularmente, sem desistir, “andando e chorando” enquanto semeava a “boa semente”.

Depois desse período de semeadura penosa e aparentemente estéril, repentinamente, os frutos começaram a serem colhidos. Certo dia, um fazendeiro de nome Geraldo Galvão, que residia próximo ao salão de reunião da congregação, e que sempre observava os cultos à distância, sentado à porta de sua residência, vendo a persistência daquele “grupinho de pentecostes que não crescia”, foi tocado por um sentimento de compaixão pelo dirigente que não desistia, antes continuava pregando e falando de Jesus Cristo. Resolveu então ir ao culto para se “entregar”, pois dizia consigo mesmo: “Esse homem não desiste não, ele é insistente mesmo. Sabe de uma coisa, eu vou lá na igreja dele me entregar e ajudar ele e essa gente rejeitada”. À noite, assistiu o culto com interesse e reverência. Quando o dirigente Miguel Coelho fez o convite franqueando a oportunidade a quem desejasse entregar sua vida a Cristo, Geraldo Galvão levantou a mão e foi à frente para receber a oração dos irmãos, manifestando publicamente sua decisão de ser um seguidor de Jesus, “um pentecoste”.
Como era uma pessoa rica, para os padrões da cidade na época, aquele tipo de homem “sistemático”, que tinha fama de pontual na palavra e direito com seus negócios, de temperamento colérico e até mesmo temido como valente, que não levava desaforo para casa, sua conversão, causou impacto na população e virou tema das conversas nas ruas e nos botecos na semana posterior à sua decisão. Sua conversão despertou a atenção das pessoas para a igreja dos “pentecostes” e a partir desse episódio elas começaram a assistir aos cultos e as conversões continuaram a ocorrer de maneira constante e em número crescente. Logo aquele reduzido grupo de assembleianos se transformou em uma numerosa, abençoada e dinâmica congregação da Assembléia de Deus em Iporá. O primeiro batismo (como outros posteriores) foi celebrado no Córrego Tamanduá, acompanhado de alegres hinos de louvores, ao som de uma mini banda de música e sob os olhares atentos de uma multidão curiosa.

Terminada sua dura missão em Iporá, Miguel Coelho continuou a obra de evangelização em outras paragens do sertão. Então Divino Gonçalves dos Santos enviou o seu auxiliar em Samambaia, o obreiro Geraldo Delfino de Araújo, em 1949, para dirigir a congregação. Prosseguiu pastoreando a emergente igreja, que continuou crescendo, mesmo sob a oposição e perseguições ainda mais cerradas de católicos radicais. Era comum, durante as reuniões, o salão ser apedrejado, sendo, algumas vezes, necessário realizar os cultos públicos com a proteção policial, por determinação do Delegado de Polícia da cidade.

Sob a orientação pastoral de Divino Gonçalves dos Santos, Geraldo Delfino construiu e inaugurou, em 1952, o primeiro templo da Assembléia de Deus de Iporá, situado a Rua Goiânia, 372, esquina com à Av. Dr Neto. Construção pequena, de aproximadamente seis metros de largura por dez de comprimento, que ocupava o local ao lado direito do atual templo sede, onde está o prédio da Secretaria Geral da Igreja Assembléia de Deus do Campo de Iporá.

A situação de oposição agressiva contra os crentes da Assembléia de Deus apenas deixou de existir, ostensivamente, a partir de 1952, quando o primeiro prefeito eleito de Iporá, Israel de Amorim, empossado em 1949, cuja esposa, Olga de Souza Amorim, era membro da Igreja Cristã Evangélica, foi a Goiânia e retornou com dois aviões, trazendo o Secretário Estadual de Segurança Pública e oito policiais militares. O secretário repreendeu os padres e demais opositores e os cientificaram da liberdade religiosa e de culto, garantidas pela Constituição Federal e os advertiu das penalidades cabíveis, no caso de reincidência das agressões.
Em 20 de agosto de 1953, Divino Gonçalves dos Santos, já ordenado pastor pela Convenção Nacional das Assembelia de Deus de Madureira (atual CONAMAD), foi transferido de Samambaia para Iporá. Nessa data, a congregação que contava com 71 membros, foi constituída como Igreja Evangélica Assembleia de Deus e sede do campo de Iporá, vindo então a Assembléia de Deus do Buriti a ser sua congregação afiliada. Sua jurisdição eclesiástico-administrativa passou a abranger as congregações da região de Iporá e das cidades de Caiapônia, Piranhas, Fazenda Nova, Jussara, São Luis dos Montes Belos, inclusive a de Samambaia e suas respectivas subcongregações.
Na década de 50, a Assembléia de Deus de Iporá, continuando no seu ritmo de crescimento, logo superou em número de membros as outras denominações evangélicas da cidade. Em 08 de janeiro de 1956, o pastor Divino Gonçalves dos Santos inaugurou o segundo templo, com cerca de nove metros de largura por vinte de extensão, ao lado do pequeno já existente. Concomitantemente com a festa de inauguração, foi realizada a Convenção Estadual das Assembléias de Deus do Estado de Goiás (atual CONEMAD-GO), quando esteve presente o Presidente Nacional das Assembléias de Deus do Ministério de Madureira, pastor Paulo Leivas Macalão, que veio da então capital federal, Rio de Janeiro. (Santos, 1995, p.130). Ocasião em que uma multidão de crentes e outras pessoas da cidade se aglomeraram no aeroporto para ver e receber o líder assembleiano nacional. O pastor Paulo Macalão, quando apareceu na porta do bimotor Douglas DC3, da companhia Real Aerovia Nacional – que fazia escala regularmente duas vezes por semana em Iporá –, ao ver do alto da escada de desembarque, a multidão de olhos fitos nele, depois de um gesto gentil de agradecimento, aproveitou o instante de expectativa para transformá-lo em um momento pedagógico: “Que é isso irmãos? Eu não sou Jesus Cristo, não! Eu sou humano!”. E, passando pelo meio da multidão que o observava curiosa e reverente, seguiu para o evento convencional.

A pequena cidade de Iporá, durante os dias festivos, ficou fervilhando de evangélicos pentecostais vindos de várias cidades de Goiás e de outros Estados da Federação. A população iporaense ficou impressionada, pois nunca havia presenciado um evento religioso não-católico daquela natureza e magnitude e, a partir dessa época, mudou a sua opinião a respeito dos “pentecostes”. Até o pároco de Iporá, padre Henrique Bessemam, espontaneamente procurou o pastor Paulo Leivas Macalão, na residência do pastor Divino, para conversar com eles e, ao final do encontro, estendeu-lhes a mão da conciliação e amizade.


Essa atitude de trégua do pároco católico contribuiu para uma considerável melhora nas relações entre os católicos e evangélicos, que desde o início da fundação da cidade, viviam em “pé de guerra”, num clima de Reforma Protestante e Contra-Reforma do século XVI. Israel de Amorim, o fundador de Iporá e poderoso chefe político regional, não era evangélico, mas o fato da família de sua mulher, Olga de Souza Amorim, ser da Igreja Presbiteriana e ela ter iniciado a fundação da Igreja Cristã Evangélica em sua residência, realizando, aos domingos, Escola Bíblica Dominical de manhã e culto à noite, isto se tornara um dos fatores iniciantes da velha rivalidade, além das intrigas político-partidárias. Quando Israel de Amorim fundou Grupo Escolar, primeira escola pública da cidade, com início das aulas em salas improvisadas, a partir de 1942, nomeando suas cunhadas Milca (posteriormente diretora) e Aldenora de Souza Santos, como professoras, e, tempos depois, as professoras Constância, Maira Burjack e Isabel Batista, todas evangélicas, o antagonismo político-religioso se tornou mais acentuado”.

Em contraposição, os Padres Henrique Béssemam e José Maria Ciocci, com os líderes políticos da União Democrática Nacional (UDN), dentre eles Elias de Araújo Rocha, e o apoio de pessoas influentes da sociedade, fundaram a Escola Paroquial Dom Bosco, em 1947. A partir daí, a rixa se fez presente também na história da educação local, e a população passou a chamar o Grupo Escolar Israel de Amorim de a “escola dos protestantes” e partidários do Partido Social Democrático (PSD), da situação, e a Escola Paroquial Dom Bosco (posteriormente Escola Reunida Dom Bosco) de a “escola dos católicos” e partidários da (UDN), da oposição.

Assim, o antagonismo que, no princípio, era apenas de natureza religiosa, passou a fazer parte também da história local da educação e da política. Essa rivalidade histórica entre “católicos e protestantes”, como ficou popularmente conhecida, só desapareceu com a chegada de um novo pároco, o padre Gerdus Adrianus Von Vliet – vulgo padre Wira – que assumiu a paróquia de Iporá em 07 de janeiro de 1964. (Alves, 2004, p.15). Com sua mentalidade européia liberal, de nacionalidade holandesa, um país de tradição católica e calvinista desde o século XVI, associada a sua habilidade conciliadora, em um processo gradual de educação de seus párocos, conseguiu abrandar o velho preconceito anti-evangélico.

Por outro lado, o pastor Geraldo Mariano da Silva, que foi pastor presidente da Assembléia de Deus de Iporá, de 1974 até 1986, também contribuiu para mudar a mentalidade dos crentes assembleianos, igualmente através de um investimento programado e persistente na formação educacional, bíblica e teleológica da igreja e do seu quadro de obreiros, focando a pregação de Jesus Cristo e a missão evangelística da Igreja como prioridade, em detrimento de questiúnculas religiosas e culturais anticatólicas.

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