Mais um capítulo. Neste, Aurilândia é apresentada como uma cidade berço para o surgimento da Igreja Assembleia de Deus na região do Oeste Goiano. Vamos à leitura:
CAPÍTULO 5
SAMAMBAIA EM “CHAMAS”
Ainda Pedro falava estas cousas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. Pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus. (Atos dos Apóstolos 10. 44 e 46).
No município da cidade de Santa Luzia (hoje Aurilândia), plantada às margens do Rio São Domingos, tributário do Rio Claro, há um de seus afluentes denominado ribeirão Samambaia, que acabou emprestando seu nome à região por onde corre. Nas décadas de 1930 e 1940, a migração para Goiás, proveniente de várias regiões do Brasil, principalmente de Minas Gerais, foi bastante concorrida. Dentre as muitas arribadas de migrantes mineiros que atravessaram o Paranaíba naquela epopéia de ocupação do coração do Brasil, em busca das terras goianas, vieram várias famílias de Carmo do Paranaíba, São Gonçalves, Patrocínio, Arapuá e de outras cidades do Triângulo Mineiro, que se mudaram para o oeste goiano, inclusive para a zona de Samambaia, onde se estabeleceram comprando terras ou como agregados em propriedades de parentes e amigos. Geralmente, a maioria dessas famílias tinha vínculos de parentescos ou de amizades antigas em Minas Gerais.
Nessa corajosa aventura de buscar melhores condições de vida, além de virem imbuídos da imbatível disposição de desbravar aquele sertão de cerrados imensos e de matas intermináveis e férteis, povoado de bichos, doenças tropicais e tantos outros perigos sertanejos – até de esporádicos ataques de tribos indígenas em épocas de “correição” – um grupo ainda trouxe em seus corações a fé evangélica de confissão presbiteriana. Em uma das fazendas estabelecidas na beira do Ribeirão Samambaia, os “protestantes hereges” (como eram chamados por católicos preconceituosos na época), a pequena comunidade de “evangélicos” fundou uma congregação, que se reunia num rancho improvisado como casa de oração, onde cultuavam a Deus e estudavam sua Palavra. Motivados pelo amor cristão e pela união fraternal, aqueles “crentes” presbiterianos conviviam numa atmosfera de solidariedade e cooperação mutuas. Ajudavam uns aos outros nas suas dificuldades cotidianas, realizavam mutirões para cuidar das labutas da vida rural, como roçar e derrubar matas para fazer “roças”, “capinar” as lavouras, “bater” pastos, fazer estradas, construir pontes e realizar outros labores, práticas que já faziam parte da cultura do povo goiano, como ficou demonstrado no capítulo anterior.
No período da entressafra, conhecido como “tempo da seca”, havia os que se dedicavam ao garimpo de “faiscagem” de diamantes e ouro de aluvião, nos leitos e barrancos do rio São Domingos e de seus afluentes e nas “gupiaras” quando, geralmente, faturavam uma renda extra. Aqueles que tinham a sorte de “bamburrar” (pegavam pedras grandes), até conseguiam fazer alguma fortuna e ajeitar a vida e da família, isto quando não esbanjavam tudo na prodigalidade. Era uma gente modesta, que vivia um estilo de vida simples e alegre, desfrutando no dia-a-dia, com a bênção do Senhor, o fruto do suor do rosto. Na fazenda, se criava animais e plantava de tudo o que era necessário à sobrevivência. Ali ninguém comia “o pão da preguiça” e nem era pesado ao seu semelhante. Antes, a prosperidade e a fartura faziam parte da experiência das famílias, pois observavam piedosamente a filosofia evangélica calvinista de vida, praticando o cultivo fervoroso do amor a Deus e ao próximo, a consagração zelosa às obrigações familiares, a disciplinada e dedicação ao trabalho.
Assim, a vida corria na rotina cotidiana dos “crentes” presbiterianos, enquanto iam passando os dias, semanas, meses e os anos, até que, um certo dia, chegou por lá, em 1943, um parente de algumas daquelas famílias, o mineiro Francisco Martins Porto (Chico Martins, como era conhecido na intimidade dos parentes e amigos), vindo de Goianápolis – Go., onde residia na época. Era um moço distinto, com boa instrução escolar para o seu tempo, cristão presbiteriano fervoroso e professor da Escola Bíblica Dominical. Tinha um embasado conhecimento das Escrituras e, por isso, se mostrava cauteloso quando se tratava de ensinamentos que pareciam estranhos a orientação doutrinária de sua igreja, pois cria ser dever do crente se prevenir sempre contra as “heresias”! Ao chegar a Samambaia, os parentes e amigos perceberam algo diferente no “irmão Chico Martins”, que já não fumava mais, (prática comum entre os presbiterianos daqueles tempos) e falava das coisas de Deus com um ardor intenso e, para o espanto e incredulidade de alguns, a curiosidade e interesse de outros, ensinava sobre o batismo com o Espírito Santo, conforme estava escrito no livro dos Atos dos Apóstolos, embora não houvesse recebido ainda a experiência “pentecostal”.
Deu seu testemunho, afirmando que, com certa desconfiança e cautela, fora aos cultos do “estranho” movimento evangélico denominado Igreja Assembléia de Deus, vulgar e preconceituosamente conhecido de “pentecostes”, em Goianápolis e Anápolis, para conhecer melhor do que se tratava. Ao assistir, porém, aos cultos, ficou profundamente impressionado e tocado com as evidências da operação sobrenatural de Deus, quando presenciou as manifestações dos dons do Espírito Santo, a simplicidade, alegria e pureza moral vivenciadas pelos “crentes pentecostais” no seu modo de vida. Tomou ainda conhecimento dos milagres ocorridos ali, inclusive de curas, como a de José Inácio de Freitas, (pai do futuro pioneiro pastor Antônio Inácio de Freitas), que era cardíaco e fora desenganado dos recursos da medicina da época, porém se apresentava perfeitamente curado. Diante das provas incontestáveis que testemunhara, Francisco Martins creu na mensagem pentecostal e a partir de então, não apenas buscava o batismo com o Espírito Santo, mas, onde quer que fosse, pregava com fervorosa convicção, sobre esse revestimento do poder do Alto.
Alguns daqueles crentes presbiterianos de Samambaia creram na mensagem anunciada por Francisco Martins Porto. Dentre eles, Abraão Gonçalves de Melo, que resolveu ir a Goianápolis para averiguar o que acabara de ouvir, onde aderiu à Assembleia de Deus daquela cidade. Dali chegou até a Anápolis onde constatou, maravilhado, a veracidade do testemunho que ouvira. Depois de alguns dias observando a dinâmica da obra de Deus naquelas cidades, Abraão retornou a Samambaia, viajando até Goiânia na companhia do jovem obreiro auxiliar, da Assembleia de Deus de Anápolis, Divino Gonçalves dos Santos, que seria enviado pelo pastor Manoel de Souza Santos, presidente da Assembleia de Deus de Goiânia, situada a Rua 55, n° 18, e de toda a obra de Deus em Goiás na época, para dirigir a congregação de Nazário. Na capital, o irmão Abraão presenciou mais evidências da operação graciosa de Deus naquela igreja.
De Goiânia Abraão prosseguiu viagem com o pastor Manoel de Souza Santos e Divino Gonçalves dos Santos, até Nazário, então Distrito de Anicuns, onde seria realizado um batismo de dez pessoas que se converteram a Jesus Cristo na congregação da Assembléia de Deus recém-fundada ali e esperavam descer as águas batismais. Chegaram no dia 10 de julho de 1943, quando foi dirigido, à noite, um abençoado culto, onde houve a conversão de algumas almas a Cristo. Após o culto, ao dormir, o irmão Abraão Gonçalves de Melo teve um sonho, no qual viu uma revoada de pombas sobrevoando a cidade de Aaurilândia e a congregação presbiteriana de Samambaia e pousar ali sobre um enorme jatobá. Ao amanhecer, contou o sonho ao pastor Manoel de Souza Santos, que entendeu ser aquilo uma mensagem profética de Deus avisando que iria derramar um grande avivamento do Espírito Santo naquela região, e disse para o obreiro Divino Gonçalves dos Santos que o Senhor o havia enviado não era para Nazário, mas para Samambaia. No dia 11 de julho, o pastor Manoel de Souza Santos batizou, nas águas do Rio dos Bois, onze pessoas, sendo Abraão Gonçalves de Melo uma delas, pois mesmo sendo já batizado por aspersão, conforme o rito batismal da Igreja Presbiteriana, desejava ser batizado também por imersão.
Assim, no dia 12 de julho de 1943, ambos continuaram, a pé, a longa e cansativa viagem. Dois dias depois, caminhando de sol a sol, por fim, chegaram ao destino previsto, onde foram recebidos pelos irmãos e amigos com grande alegria e expectativa. Na noite do dia posterior a chegada, o humilde rancho coberto de capim sapé e de paredes de pau-a-pique, ficou apinhado de pessoas interessadas em ouvir a “nova” mensagem, que havia se tornado o assunto dominante das conversas na boca dos crentes. Quando o então obreiro Divino Gonçalves dos Santos estava pregando o evangelho de Cristo e expondo que a doutrina do batismo com o Espírito Santo era uma promessa atual e não apenas para os dias apostólicos, como ensinavam os presbiterianos e outras igreja evangélicas tradicionais, uma das irmãs assistentes, de nome Celenita, teve uma experiência de êxtase, sendo arrebatada ao céu em espírito, por cerca de quarenta minutos. Durante este tempo ficou prostrada no chão, enquanto todos, orientados pelo pregador de que aquela experiência era uma manifestação do poder de Deus, aguardavam apreensivos o desfecho final da cena.
De repente a irmã Celentina recobrou seu estado de consciência e passou então a relatar a visão que acabara de ter: “Durante o tempo em que estive arrebatada, achei-me na cidade celestial, onde vi um anjo portando o Livro da Vida, sentado em um belo escritório, com uma caneta de ouro na mão e que dizia ser secretário de Jesus. Quando o anjo começou folhear as páginas do livro, eu vi a relação de milhares de nomes de crentes membros de todas as igrejas evangélicas do mundo. Ao ser aberta a página onde constavam os membros da Assembleia de Deus de Goiânia, eu vi três nomes que haviam sido riscados. Ao perguntar ao anjo sobre o que significava aquilo, ele me disse que eram os nomes de três membros que foram excluídos daquela igreja. A seguir, o anjo disse que ia registrar os nomes dos membros da igreja de Samambaia. Ele começou então escrevendo o nome de Abraão Gonçalves de Melo, neste exato instante, logo que terminou de escrever, eu voltei à terra”.
Quando o irmão Abraão ouviu estas palavras, instantaneamente levantou-se do banco num salto, com as mãos erguidas, ao mesmo tempo em que recebia o batismo com o Espírito Santo, falando em línguas estranhas e glorificando o Senhor Jesus Cristo. (Santos, 1995, p. 51 e 52). Logo em seguida, o jovem Nicanor Gonçalves de Melo também foi batizado com o Espírito Santo. A alegria que inundou sua alma era tamanha que, de um salto, ele agarrou em dois caibros do rancho e, com os pés firmados no alto da parede lateral, ficou pendurado sendo sacudido pelo poder de Deus durante algum tempo, enquanto transbordava em línguas estranhas e glorificava a Deus. Simultaneamente, aquela experiência sobrenatural foi se repetindo no recinto como se uma onda perpassasse as pessoas, enchendo-as do poder do Alto. Quando o culto terminou já altas horas daquela noite, havia cerca de vinte pessoas batizadas com o Espírito Santo, incluindo irmãs e irmãos, falando em línguas estranhas e transbordando de júbilo no Senhor!
Nas semanas seguintes, dezenas de pessoas continuaram a ser batizadas com o Espírito Santo, enquanto outras experimentaram um encontro pessoal com Deus, sendo igualmente revestidas com o “poder do Alto”, tanto presbiterianos como católicos convertidos à fé evangélica pentecostal. O poder de Deus se fez presente de forma tão intensa que, durante cerca de um mês, aquele grupo de crentes parou com suas atividades cotidianas, ocupando-se apenas das reuniões de oração e da evangelização nas fazendas da circunvizinhança.
O jovem obreiro Divino Gonçalves dos Santos, movido pelo poder e a alegria do Espírito Santo, permaneceu em Samambaia dirigindo a nova congregação da recém-fundada Assembléia de Deus, que crescia de maneira fenomenal em número e na manifestação da graça de Deus. Continuamente as pessoas se convertiam a Cristo e muitas eram batizadas com o Espírito Santo. As manifestações dos dons espirituais ocorriam com freqüência e de forma plena: “a palavra da sabedoria e do conhecimento, fé, dons de curar, operações de milagres, profecia, discernimento de espíritos, variedades de línguas e capacidade de interpretá-las” (1 Co 12.8-10). Na verdade cumpria-se ali a promessa do Senhor Jesus:
“Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre os enfermos, eles ficarão curados.” (Evangelho Segundo Marcos. 17-18).
Todas estas maravilhas aconteciam espontaneamente, à medida que o “evangelho da cruz” ia sendo pregado com simplicidade, graça e sem os artifícios humanos das manipulações emocionais e psicológicas e os recursos da retórica. Enquanto isso, aquela igreja incipiente, ao mesmo tempo em que causava espanto aos incrédulos, para o reino de Deus, tornava-se uma chama divina inapagável, um novo Pentecostes como aquele dos Atos dos Apóstolos. Só que agora, nos distantes rincões do oeste goiano. E assim, o fogo pentecostal incendiou Samambaia, que se transformou em uma nova Jerusalém, no coração do Brasil, um poderoso centro irradiador da evangelização e fundação de igrejas nos mais distantes recantos de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso, vindo, em um futuro não muito distante, alcançar até o Pará, Rondônia, Acre e Amazonas.
Um mês e oito dias depois do primeiro culto pentecostal realizado em Samambaia, o pastor Manoel de Souza Santos, vindo de Goiânia, realizou o primeiro batismo, em 22 de agosto de 1943, quando então oitenta e quatro candidatos, entre jovens e adultos, de ambos os sexos, desceram às águas do ribeirão Samambaia, para serem batizados por imersão. Enquanto saiam da água, uns louvavam ao Senhor com hinos, outros transbordavam seu gozo espiritual em línguas estranhas, enquanto havia aqueles que eram batizados também com o Espírito Santo. Enquanto isto acontecia, os espectadores, com olhares curiosos e estupefatos, assistiam tudo em profundo e piedoso silêncio. Até aqueles que, no início da celebração, se demonstravam irreverentes e até blasfemos, mantinham-se emudecidos, enquanto outros choravam quebrantados pelo toque da sensível e graciosa presença de Deus.
Com esse grupo de irmãos recém batizados, foi oficializada a fundação da Igreja Evangélica Assembléia de Deus de Samambaia, com seus primeiros membros constituídos por Abraão Gonçalves de Melo, Nicanor Gonçalves de Melo, Jabes Gonçalves de Melo, Eliziário Gonçalves de Melo, José Gonçalves de Melo (Mensé), Marciano Gonçalves de Melo, Ana Maria de Melo, Manoel Silvestre, João Luis da Silva, Gerci Francisca da Silva, José Luis da Silva, Martins Luis da Silva, Francisca Maria de Jesus, José Antônio da Silva, Antônio José da Silva, Iraci Francisca de Oliveira, Gricéia Mendes da Silva, Celentina, Domineu José Fernandes, Agineu José Fernandes, Osmar Mendes, Antônio da Silva Araújo (Totôco), Lóide Alves da Silva, Jaime Antônio de Souza, e dezenas de outros membros.
O avivamento continuou com os fiéis se amadurecendo na fé e na doutrina da palavra de Deus, enquanto as almas se convertendo a Cristo. Nos fins de semanas, grupos de irmãos e irmãs se deslocavam a cavalo ou a pé, para diversos locais na zona rural e para Santa Luzia e Cachoeira de Goiás, a fim de evangelizar. Dirigiam-se cultos nas residências, onde havia receptividade ou a convite das pessoas, ou ao ar livre, no caso da cidade e, com freqüência, pessoas criam no Senhor Jesus, arrependendo-se de seus pecados e mudando radicalmente seu modo de vida. No entanto, os resultados nem sempre eram animadores: algumas vezes havia pessoas que recebiam a Palavra de Deus com indiferença, zombaria, ofensas verbais, chegando até mesmo a agressões físicas e ameaça de morte.
Como na Igreja Primitiva, o avivamento de Samambaia também teve seus momentos de dificuldades, sofrendo oposição dos homens e de Satanás, inclusive escândalos, naturalmente. Certo dia, por exemplo, o pastor Divino, enquanto fazia uma de suas visitas pastorais, foi interpelado por um individuo que se dizia membro da Igreja Presbiteriana local, que, estando muito furioso e armado com uma faca, o “acusava” de ter sido responsável por sua filha ter recebido o batismo com o Espírito Santo e aderido à Assembleia de Deus. Ao respondê-lo com brandura e graça, explicando-lhe que o verdadeiro “culpado” por sua filha estar agora cheia do poder do Alto e falando em línguas estranhas, era o Senhor Jesus, e que por isso deveria reclamar para ele, o moço ficou desarmado de espírito e se acalmou. Posteriormente, tornou-se amigo do pastor e, por fim sua irmã também aceitou a fé pentecostal.
Em Jerusalém houve o episódio de Ananias e Safira, que usaram de mentira para enganar a igreja, e acabaram exemplarmente colhendo a morte. Em Samambaia, houve o exemplo de um irmão de nome Luiz. Antes mesmo de se converter a Cristo, se apresentava como um homem sério, honesto, trabalhador, bom pai de família, que não gostava de confusões. Tornara-se um cristão consagrado e ativo na igreja. Mas, havia naquela região um indivíduo de nome Celeste (que do céu mesmo não tinha nada!), metido a valente e que vivia sempre zombando dos crentes e falando asneiras contra os “pentecostes”. Certo dia, durante uma “marca” , quando um grupo de peões trabalhava, o tal de Celeste passou a debochar dos crentes, dizendo que “pentecoste não prestava e era sem-vergonha”. Luis pediu-lhe que deixasse de falar aqueles impropérios, dizendo que aquilo não ficava bem. Porém, ele continuou repetindo que “os pentecostes eram assim mesmo”, provocando ainda mais os crentes. Depois de ser injuriado e humilhado pelo dito desafeto, Luís trabalhou o resto do dia calado. Ao voltar para casa, à tarde, saiu na frente, por um atalho, pegou uma foice e ficou de tocalha na estrada. Quando o Celeste ia passando, Luis o abordou de surpresa, desafiando-o a repetir o que havia falado. O baiano, em uma atitude arrogante e de valentia, repetiu todos os impropérios. Luís então lhe desfechou um golpe de foice, deixando-o caído no chão, com a orelha decepada e um corte horrível na cabeça. E enquanto fugia, alguém o ouviu resmungar: “Você é o terceiro que eu tiro a orelha”. Dali mesmo desapareceu para sempre. Os irmãos socorreram a vítima, levando-a para Aurilândia, onde morreu logo depois. E lá se foi o Celeste, infelizmente, morar, por certo, no inferno!
O pastor e a igreja, depois de ter decidido pelo desligamento do criminoso do rol de membros, ficaram apreensivos temendo que aquele escândalo viesse a arrefecer o ritmo do avivamento. Contudo, a notícia do acontecimento produziu efeito contrário, pois caiu um grande temor sobre aquela gente, que passou a considerar a tragédia como um castigo divino sobre o baiano Celeste, por ter zombado das coisas de Deus, já que “o dito cujo assassinado” era considerado na região um “espírito de porco”. Com isto, muitas pessoas, tomadas pelo temor de Deus, foram para a igreja, em busca da salvação em Jesus Cristo, inclusive vizinhos que eram desinteressados pelo Evangelho, levando assim a obra de Deus a crescer ainda mais em número de fiéis e no prestígio da sua reputação aos olhos da população, como povo que desfrutava da bênção e proteção do Senhor.
Em 31 de dezembro de 1943, Divino Gonçalves dos Santos e Isbela Fonseca casaram em Iporá e continuaram pastoreando a novel igreja de Samambaia. Em fevereiro de 1944 eles foram transferidos para auxiliar na Assembelia de Deus em Goiânia. Em julho de 1944 retornaram a Samambaia para reassumir o pastorado da Assembleia de Deus. Com a igreja agora já oficialmente instituída, construíram, durante noventa dias, um templo de tijolos e coberto de telhas, fabricados artesanalmente em olarias, com dimensão de dez metros de extensão por sete de largura, em uma fazenda próxima, inaugurado em 15 de janeiro de 1945, visto que o antigo local de culto onde se reuniam, ficou com o remanescente de presbiterianos que não aderiram ao movimento pentecostal. Na mesma data da festa de inauguração, o então pastor da Assembléia de Deus de Goiânia, Jácomo Guide da Veiga, percebendo a necessidade urgente da igreja de Samambaia, que já contava com mais de cem membros, de ter um ministro ordenado que pudesse ministrar plenamente os ofícios eclesiásticos, consagrou Divino Gonçalves dos Santos a evangelista, mesmo não tendo sido ainda consagrado a diácono ou presbítero, como era o costume assembleiano vigente.
Mas, algo inesperado aconteceu na vida ministerial do casal de obreiros. O Brasil estava envolvido na Segunda Guerra Mundial e, neste contexto de dificuldade nacional, cerca de um mês depois da inauguração do templo, o Evangelista e pastor de Samambaia, foi convocado para servir ao Exército, em São Paulo. Deixando a esposa e a filhinha primogênita com os pais dele, em Anápolis, foi enfrentar a dura e angustiante vida de treinamento militar, voltando a reencontrá-las alguns meses depois, quando as levou para a capital paulista. Durante este período, o pastor Antônio Inácio de Freitas pastoreou a igreja em Samambaia. Após um ano e dois meses no Exército, voltaram para Goiás, cooperando por dois anos e três meses na Assembleia de Deus de Anápolis, então pastoreada pelo pastor José Inácio de Freitas. Em 1947 assumiu o pastorado da Assembleia de Deus de Anápolis, período em que fundou as congregações em Ceres, Jaraguá, Campininha, Itaguaru e Goianésia e construiu o então maior templo assembleiano em Anápolis, de 8,70m de largura por 15m de comprimento. Em março de 1949, Antônio Inácio foi transferido de Samambaia para a Assembleia de Deus de Goiânia e, por fim, o pastor Divino Gonçalves reassumiu pela tercerira vez o pastorado da Assembelia de Deus de Samambaia, onde permaneceu até 20 de agosto de 1953. (Santos, 1995, p. 62, 63, 73, 79 e 91).