Amorinópolis, na ótica sentimental de Paulo Afonso Ribeiro Barbosa, passa a ser assunto deste site em todas as segundas feiras. Iremos publicar aqui todo o livro, capítulo por capítulo. O coração do autor, um geólogo, homem culto e de tocante comunicação, bate forte por Amorinópolis, a cidade onde chegou com 3 anos de idade e onde viveu cerca de duas décadas. Mesmo residindo em Goiânia e andando pelo país no exercício da sua geologia, trabalhando para grandes empresas, Paulo Afonso não esqueceu Amorinópolis. Pelo contrário, afirma várias vezes no livro que morre de saudades…
Sua relação com Amorinópolis não é totalmente rompida. Ele tem propriedade rural no município, onde para lá se dirige nestes finais de semana prolongados. Paulo Afonso é desses que vive com o passado presente, com emoções que acumulou ao longo do tempo… Seus quase 20 anos vividos em Amorinópolis viraram um livro de doce nostalgia. O autor relembra tudo da cidade em seu início do povoamento, numa Amorinópolis ainda bem pequena.
O livro que recentmente veio a público, edição independente, é um desfile de imagens e reflexões. Embora sem nenhuma fotografia, a comunicação fácil do autor em 261 páginas nos faz ver o passado, sentir as pessoas de uma época e reviver costumes que o avanço tecnológico sepultou. Trata-se da Amorinópolis sem energia elétrica, sua gente religiosa, as travessuras da meninada e um relato sobre cada um que viveu aquele tempo, na metade do século passado. A memória do autor é prodigiosa. Ele lembra de tudo.
O livro “Amorinópolis na Metade do Século Passado” não se prende a política ou a uma narração cronológica de fatos. O autor fala é da vida! São lembranças e sentimentos! Os mais diversos perfis são destacados. É possível que ele tenha lembrado de 99% dos viveram naquela época, discorrendo com saudade as mais diversas situações. Mas o que faz o livro ser de um interesse mais do que local, é sua detalhada descrição sobre costumes de um tempo. Por essa razão a obra de Paulo Afonso Ribeiro Barbosa tem valor nacional. Mostra como viviam as pessoas em um certo tempo no interior do Brasil.
Imagens da capa:
Vamos à leitura…
AMORINÓPOLIS
Na Metade do Século Passado
Goiânia,
2011
© 2011 Paulo Afonso Ribeiro Barbosa
Direitos Reservados desta Edição: Paulo Afonso Ribeiro Barbosa
Todos os Direitos Reservados. Proibida a Reprodução total ou parcial. Sanções Previstas na Lei nº 5.988, 14.12.73, artigos 122 – 130.
Projeto Gráfico: Laerte Araujo Pereira
Capa: Ricardo Junqueira Barbosa
Diagramação: Franco Jr.
Revisão Ortográfica: Maria Helena Guimarães e Freitas
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Barbosa, Paulo Afonso Ribeiro.
Amorinópolis : na metade do século passado / Paulo Afonso Ribeiro Barbosa. – [S. l. : s. n.], 2011 (Goiânia : Editora Vieira).
261 p.
1. Amorinópolis – história. I. Título.
CDU 93/99 (817.3)
Índice para catálogo sistemático
1. Amorinópolis – história CDU 93/99 (817.3)
Impresso no Brasil
2011
Capítulo I
Que trata da história da cidade de Amorinópolis,
antiga Campo Limpo, na metade do Século XX
A cidade 26
Prefácio 13
Apresentação 19
Créditos 23
A política nos tempos de Campo Limpo e de Amorinópolis 31
A comunicação com o resto do Brasil 34
As escolas dos anos cinquenta 37
O comércio naqueles tempos 50
Os armazéns 51
As lojas 54
Hotéis, pensões & caminhoneiros 58
Os bares e os bailes daquele tempo 61
Os armazéns de cereais 66
Ferreiros 71
Serrarias 71
Açougues 72
Barbearias 73
Fotógrafos 75
Agrimensor 76
Garimpeiros 77
O setor de saúde 80
Farmácias 80
Dentistas 81
Raizeiros, benzedeiras e parteiras 82
Hospital 87
Capítulo II
Que trata da história do povo Amorinopolino antigo,
das festas e das tradições daquele tempo
Os jovens 92
Os tipos diferentes 96
As festas de casamento 100
A festa da padroeira 102
As festas dos pentecostes 106
As corridas de cavalo 108
As brincadeiras das crianças 110
Capítulo III
Que procura descrever os hábitos e costumes
do povo Campolimpense/Amorinopolino
na metade do século passado
Os alimentos 128
A vida sem geladeira 133
Os banhos sem água encanada 134
O fogão a lenha 137
O porco e o homem 139
As carnes de porco e as linguiças caseiras 144
O sabão caseiro 146
Capítulo IV
Que procura relacionar os antigos moradores da
cidade de Amorinópolis, rua por rua e fala, também,
sobre os fazendeiros mais conhecidos do Município,
na metade do século XX
Os moradores da cidade 150
Avenida Iporá 151
Avenida Ceará 160
Avenida da Constituição 162
Avenida Maranhão 163
Avenida Boiadeira 167
Rua Almirante Tamandaré 168
Rua Minas Gerais 169
Rua Bahia 172
Rua São Paulo 174
Rua Piaui 178
Rua Rui Barbosa 181
Rua dos Democratas 182
Campolimpinho ou Vila Geraldo Rodeiro 183
Os moradores das fazendas 187
Os fazendeiros pras bandas do Morro Alto 188
Os fazendeiros do Vale da Santa Marta 193
Os fazendeiros da Jacuba e Caiapó 202
Capítulo V
Que conta a história da farmácia de meu pai,
a qual funcionou por mais de 30 anos em
Amorinópolis, no século passado
A história da farmácia popular 210
Os funcionários da farmácia popular 218
Os remédios que meu pai manipulava 222
Os medicamentos daquela época 225
Os antigos perfumes e cosméticos 229
Atendimentos ambulatoriais 231
Fatos inusitados da época da farmácia popular 236
Capítulo VI
Que descreve, através das receitas de minha mãe,
as comidas, doces e quitandas que eram comuns
na metade do século passado
Os sabores do passado 240
Lombo assado 242
Macarrão assado 243
Frango ao molho pardo e frango destroncado 244
Cambuquira, beldroega e mata-compadre 246
As pamonhadas de fim de ano 246
Pamonha assada 249
Peta 249
Biscoito frito 251
Mingau de caroço de polvilho 251
Doce de ovos com queijo 252
Ambrosia 252
Goiabada, bananada e doce de manga 253
Doce de figo 254
Doce de casca de limão 255
Doce de mamão ou de pau de mamão ralado 256
Doce de leite talhadinho 257
Pé de moleque 257
Epílogo 259
PREFÁCIO
Contar é resistir. E resistir é preciso.
Que o digam nossos ancestrais que, desde tempos anteriores à escrita, já se utilizavam da arte do contar como instrumento de resistência. Ao redor de fogueiras, a fala dos mais velhos para os mais novos era o veículo utilizado nos rituais de transmissão cultural. Em diferentes lugares, paredes de cavernas transformavam-se em páginas onde a arte rupestre contava experiências cotidianas de seus habitantes. Assim, de formas distintas, povos que antecederam a escrita, ou mesmo os pertencentes a culturas ágrafas, inscreveram-se na História através do ato de contar como forma de resistência.
Se contar é resistir e se resistir é preciso, Paulo Afonso, na presente obra, revela-se um resistente. Procedente da região dos garimpos, mostra sua face de garimpeiro de pedras mais que preciosas: suas memórias afetivas – pesquisadas, catalogadas e sistematizadas com paciência e esmero artesanais. E apresentadas com didatismo próprio de um minerador. Memórias afetivas de histórias verdadeiras, circunscritas a um contexto espaço-temporal demarcado: o município de Campo Limpo/Amorinópolis, no Oeste goiano, nas décadas 1950/1960.
Contando suas memórias, Paulo Afonso resiste às artimanhas do tempo, que costuma embotar as lembranças. A materialidade de seu contar desafia os poderes do deus Cronos. E a memória, assim, resiste ao esquecimento. Ganha estatuto de História.
O relato histórico dos costumes deve(ria) primar pela objetividade. Mas o contar é subjetivo também. Por mais que o autor se debruce sobre a objetividade dos fatos, os próprios recortes que privilegia denunciam sua ótica particular de contar. Isso faz com que estabeleça uma interlocução, a priori, mais direta com seus pares de geração, o que é compreensível pela contemporaneidade das experiências vividas no plano real. Mas suas histórias vão além: abrem-se para diferentes leituras, porque desvelam um universo sócio-hitstórico-cultural compartilhado por quem tenha vivido no interior do centro-oeste. É flagrante a perspectiva de identificação, reconhecimento nas memórias descritas, ora por aproximações, ora por distanciamentos. Mas identificação. Diálogo. Reconhecimento.
A rota escolhida – o relato histórico dos costumes – pode apresentar alguns acidentes de percurso, como a aridez que costuma revestir esse tipo de narrativa. Mas, aqui, o relato particulariza-se pelo tom declaradamente confidencial do discurso, o que facilita a interlocução: estabelece empatia, cria cumplicidades. A emoção em determinados trechos, rasgos poéticos permeando outros tantos e o bom humor como tônica do texto são recursos que amenizam a ameaça de aridez. Ventilam o texto. Dão-lhe equilíbrio.
Um elemento facilitador da leitura, aqui, é a precisão didática do autor na condução do leitor pelas avenidas e ruas da cidade. Essa precisão é o mapa, a bússola a orientar o leitor sem deixar brecha para que ele se perca nos caminhos do Campo Limpo que emerge de suas páginas. No primeiro capítulo do livro, “QUE TRATA DA HISTÓRIA DA CIDADE NA METADE DO SÉCULO XX” e, no quarto, “OS ANTIGOS MORADORES DE AMORINÓPOS (Os moradores das cidades e das fazendas)”, o leitor é conduzido por um narrador que, à maneira de um cicerone atento, vai incursionando pelos caminhos, anunciando belezas, revelando segredos, descortinando nuanças inesperadas. Tudo por conta de uma intenção mal-disfarçada: enredar o leitor nas malhas de seu contar. Itens como “Os bares e os bailes”, “Os jovens” e “As festas de casamento”, entre outros, ilustram bem a questão. Ciceronia de primeira pelos caminhos do Campo Limpo redescoberto.
Sobre o aspecto dos costumes, o caráter documental é primoroso: a descrição, rica em detalhes (por vezes minuciosos) e apresentada com rigor didático fornece um retrato bastante fiel da época. O terceiro capítulo, no conjunto de seus itens, compõe um mosaico em que cada peça (“Os alimentos”, “A vida sem geladeira”, “Os banhos sem água encanada”, “O fogão a lenha”, “O porco e o homem” etc.) funciona como parte importante de um todo. A soma dessas partes, como um caleidoscópio, vai revelando facetas impensáveis – pelos mais jovens – do viver naquela época.
O requinte e a sofisticação dos detalhes (preciosidades garimpadas em catas quase insuspeitadas – mas perceptíveis à lente de um minerador) reservam-se especialmente para os dois últimos capítulos. No quinto, A FARMÁCIA DE MEU PAI, itens como “Os remédios que meu pai manipulava” ou “Os antigos perfumes e cosméticos” elucidam bem a questão. A propriedade com que o autor detalha cada uma dessas partes quase que materializa o fato, a situação, os objetos descritos. Isso confere uma função documental ao relato histórico. “Os remédios que meu pai manipulava” constitui-se – literalmente – um capítulo à parte, em termos de registro de época. Uma contribuição à literatura farmacológica, sem dúvida. “Os antigos perfumes e os cosméticos” estão dispostos na vitrine do tempo: um tempo que já passou, mas se presentifica nas memórias recuperadas. É ler e rever a moda da época desfilando nos palcos da memória. Rico documentário sobre o culto à beleza e os produtos mercadológicos disponíveis naquela época. Fatos e registros falam por si. Têm peso histórico. E “contra fatos não há argumentos”, já se disse.
O último capítulo, AS RECEITAS ANTIGAS DE MINHA MÃE, reveste-se de uma função especial: aliciar o leitor pela boca, já que remexe n’Os sabores do passado. Cada receita apresentada vai desvelando fatias desses sabores que sem dúvida compõem o “imaginário gustativo” dos que viveram naquela época. A identidade de um povo, ou mais especificamente de uma geração, é forjada também pelo conjunto de experiências compartilhadas. A culinária ocupa espaço importante nesse conjunto. Tanto que mereceu o capítulo final, numa espécie de celebração dos sabores daquele tempo.
Talvez se possa afirmar que atrás de um adulto feliz houve uma criança que brincou, já que o (ato de) brincar parece ser o “adubo” mais eficaz pra se cultivar uma infância feliz. A criança que brincou seria o molde daquele adulto feliz?
Na ciranda entre grandes e pequenos, os mais velhos e as crianças constituem, por assim dizer, as pontas da vida. E o autor contempla, no livro, essas duas pontas: ao tempo em que reconstitui, por toda a narrativa, a história do município através de informações dos pioneiros (a ponta mais antiga da vida), no segundo capítulo, O POVO, AS FESTAS E AS TRADIÇÕES (item As brincadeiras das crianças), espia pelas fendas do tempo e recupera a outra ponta: a criança que foi e os amigos com quem brincou, por certo ora ganhando, ora perdendo; batendo ou apanhando, mas brincando. No inventário das brincadeiras flagram-se retratos de uma época: os jeitos de brincar, o artesanato dos brinquedos e a rua como espaço de exercício da infância.
Segundo a autora Clarissa Pinkola Estés, de formação junguiana, contar histórias é “trazer à baila, trazer à tona”. E o que é este livro senão a baila, a tona de nossas memórias recuperadas por escavações do minerador sensível e disciplinado na arqueologia de nossas lembranças? Nesse percurso de escavações, ele fez “intercâmbios de histórias”, que no dizer de Clarissa, é quando duas pessoas trocam histórias como presentes mútuos. Ela própria nos conta: “troquei histórias em mesas de cozinha e debaixo de parreiras, em galinheiros e currais de ordenha (…)”
Assim também Paulo Afonso, intercambiando histórias com seus informantes, vai alargando toda uma corrente dialógica. O resultado dessa corrente de tantas histórias é este inventário etnológico de nossos costumes: Amorinópolis na metade do século passado. Trabalho primoroso que tem um tanto de todos nós. E que nos permite somar nossas vozes à da poeta Olga Rocha: “Juntos (com Paulo Afonso) podemos dedilhar lembranças felizes, armazenadas nos compartimentos da memória, para agasalhar o coração”.
Não se leiam essas memórias como meros rasgos de nostalgia. Nem de pesares. Leiam-se, antes, como registros de uma época bem vivida. Tanto que motivou a presente obra. As limitações características dessa época, e tão magistralmente descritas pelo autor, foram a matéria-prima propulsora da outra ponta da dialética: a sua superação. Superação forjada no dia-a-dia pelo campolimpense/amorinopolino da cidade e da zona rural; do trabalho humilde e honesto de cada um ao voto depositado nas urnas ao longo do tempo. Na teimosia da esperança (às vezes violentada) de dias melhores.
Viver e sonhar são dois lados do existir. Encharcado das vivências campolimpenses/amorinopolinas, Paulo Afonso ousou sonhar contá-las. Contando-as, resistiu a um perigo que ronda os porões da memória: o esquecimento. Assim como contar é resistir e resistir é preciso, sonhar também é preciso. Absolutamente.
Maria Helena Guimarães e Freitas
Professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira pela UFG
Especialista em Leitura e Literatura Infantil e Juvenil pela UFG
APRESENTAÇÃO
Este livro refere-se à história antiga de Amorinópolis –
que se chamava Campo Limpo na metade do século passado –, onde vivi a minha infância e a minha juventude, graças a Deus. A cidade localiza-se no Oeste de Goiás, quatro léguas adiante de Iporá, no caminho para Rio Verde e é banhada por águas que vertem para as bacias dos rios Claro e Caiapó, afluentes do Araguaia. Este livro é, na realidade, a segunda edição, revista e ampliada, do livro que fiz em 2002 para homenagear meu pai em seu aniversário de 80 anos (Nos Tempos da Farmácia Popular), onde o enfoque principal era a história de minha família.
Nesta edição, mudei o nome do livro e ampliei as narrativas sobre a vida naquela região do Oeste de Goiás na metade do século passado, deixando as histórias do livro anterior como pano de fundo. Procurei fazer o registro da história da cidade em que vivi por vários anos em minha infância e juventude, pensando em deixar para os meus netos informações de como era a vida nos meus tempos de criança e de jovem. Não há outra pretensão além desta. Se as narrativas apresentadas servirem, de alguma maneira, para trazer boas recordações às pessoas que viveram nessa mesma época por lá, ficarei muito feliz. Se alguém mais se interessar por esses meus escritos, terei, então, ultrapassado em muito as minhas pretensões. Fiz questão de convidar para prefaciar esta edição uma filha da cidade, que se criou e estudou ali, até partir para o curso superior na capital do Estado.
O propósito principal de minhas narrativas é contar a história da cidade e do povo amorinopolino na metade do século passado, desde quando a cidade ainda era Campo Limpo. Sei que é uma história incompleta, porque cada pessoa daquela época que tiver acesso às minhas narrativas, vai se lembrar e reclamar de muitas coisas que não foram citadas. E com toda razão. Tentei colocar o que minha memória permitiu, numa conversa simples, como aquelas que tínhamos em família nas manhãs frias de junho, desfrutando do calorzinho aconchegante do fogão a lenha, esperando o café ficar pronto e o biscoito de polvilho terminar de fritar. Procurei descrever estas histórias sob vários ângulos.
No primeiro capítulo, dei uma rápida passada pela história político-administrativa da cidade e, com mais detalhe, sobre o comércio naquela época, as escolas e os recursos que existiam na área de saúde. No capítulo seguinte, procuro descrever um pouco as festas e tradições que cultivávamos, muitas delas mantidas até hoje. No terceiro capítulo, falo sobre os costumes e hábitos dos moradores antigos da cidade e das fazendas. As narrativas vão do período em que se vivia à luz de lamparina, de vela ou de lampião a querosene, até a chegada da luz elétrica e da televisão em preto & branco. Tento mostrar como vivíamos na metade do século passado sem as facilidades e os confortos de hoje. E olha que vivíamos muito bem e muito felizes… Sem a televisão, então, podíamos sentar todas as noites à porta de nossas casas ou da casa de um parente ou amigo, para bater papo, para pôr as novidades em dia e para nos confraternizarmos. Depois, a vida mudou.
No quarto capítulo faço uma narrativa sobre os moradores antigos da cidade, rua por rua e, depois, sobre os fazendeiros das principais regiões do município. É uma descrição em que sei que vou deixar de citar muita gente, mas foi até aonde a minha memória conseguiu chegar. Esta parte foi a mais demorada, porque sempre que pensava já ter concluído, alguém me lembrava de mais pessoas daquela época e eu tinha que ir acrescentando, até que resolvi dar um basta. Deixo o complemento para os próximos autores que resolverem abordar o tema, certamente com mais propriedade, continuando por onde parei. Da década de setenta para frente, por exemplo, falo pouca coisa, porque já não vivia mais ali.
Nos dois últimos capítulos, destaquei as coisas relacionadas à minha família, como no livro que antecedeu a este. Incluí, nessas narrativas de agora, as receitas de guloseimas que minha mãe preparava, com a intenção de homenagear todas as mães daquela época e, também, porque fazem parte da história de minha vida. Não vou entrar na parte legal da história do município, citando documentos, por exemplo, porque não é o propósito desta obra.
Para concluir, gostaria de enfatizar que tudo o que está escrito aqui, representa uma visão minha do passado. Pode não ser a mesma de outras pessoas que estiveram por lá na mesma época. No entanto, nada do que está sendo narrado teve a intenção de magoar ou prejudicar alguém. Certamente muita coisa vai faltar. Tentei voltar a até cinquenta e cinco anos atrás, mas sei que posso ter esquecido muitos fatos.
Peço aos moradores atuais de Amorinópolis que entendam por que chamo a cidade de Campo Limpo. Acostumei-me com isso, porque conheci Amorinópolis quando o nome era aquele. É como o apelido carinhoso de um ente querido, que continuamos a mencioná-lo, mesmo depois de sua maioridade.
Divirtam-se com as recordações. Desculpem-me pelos enganos e omissões, porque o tempo foi um grande adversário que tive nessa tentativa de escrever sobre o passado. Espero que as recordações sirvam para nos tornar mais irmãos. Como disse Cícero, lá na antiga Roma: as recordações são os cabelos brancos do coração.
Paulo Afonso
CRÉDITOS
Este livro só foi possível de ser elaborado graças à inestimável ajuda de:
• Mauro Chico, meu amigo há mais de cinquenta anos e que é testemunha vivo da história de Amorinópolis. Dele ouvi muitas das narrativas que fazem parte deste livro e com ele voltei a percorrer todas as ruas da cidade, relembrando o nome dos antigos moradores;
• Vilma e Elza da dona Floriana, a quem recorri inúmeras vezes, por telefone ou em longos papos na porta da casa delas, para obter informações sobre o passado. Suas lembranças, principalmente a respeito dos moradores antigos, enriqueceram muito as histórias que conto aqui;
• Professora Maria Helena Guimarães, que teve a cuidadosa tarefa de revisar esta obra, sugerir mudanças e acrescentar fatos novos;
• Benedita Ribeiro Barbosa, minha mãe, cuja memória ainda é invejável e que me ajudou muito a relembrar de fatos e de nomes de pessoas do Campo Limpo antigo;
• Oscar Barbosa Lima, meu pai, também de perfeita lucidez já com quase noventa anos de idade, cujos manuscritos das memórias sobre os tempos da Farmácia Popular permitiram recuperar histórias preciosas do passado;
• Leny Ribeiro Barbosa, minha irmã e, com certeza, uma de minhas maiores incentivadoras e a maior responsável por este livro ter sido retomado;
• Ricardo Junqueira Barbosa, meu filho, que elaborou com muito carinho e competência a capa deste livro, colocando nela toda a sua habilidade de designer gráfico, com a paixão de quem passou a infância correndo e brincando pela praça central de Amorinópolis.
Sou grato, de coração, a todos eles.
Na próxima segunda feira publicaremos o primeiro capítulo do livro.