São muitos nomes que foram e que são exemplos de persistência na fé. O livro QUANDO SAMAMBAIA PEGOU FOGO, de Moizeis Alexandre Gomis, dedicou várias páginas a esses crentes. Nilda Ribeiro foi um dos expoentes na História da Assembleia de Deus, que usava o canto para louvar, que fazia assistência social e que esforçava para que sua família tomasse o caminho do Senhor. Vamos à leitura:
CAPÍTULO 23
PROTETORA DOS SERVOS DO SENHOR
“Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que está servindo à igreja de Cencreia, para que a recebais no Senhor como convém aos santos e a ajudeis em tudo que de vós vier a precisar; porque tem sido protetora de muitos e de mim inclusive”. (Epístola de Paulo aos Romanos 16.1e2).
Franzina, de cor morena, de olhos verdes e grandes, de olhar perspicaz, de inteligência excepcional, assim se poderia descrever a menina Nilda Ribeiro. Nasceu em 05 de outubro, de 1937, na Fazenda São Domingo, no município de Itumbiara-GO. Filha de Pedro Rodrigues da Costa e Maria Raimunda da Costa, camponeses pobres que viviam como agregados ora em uma fazenda, ora em outra. Em 1946, seus pais mudaram para a região do Córrego das Vacas. Ela viveu sua infância em extrema privação das coisas materiais, aliás, infância que não existiu, pois desde que deu conta de fazer alguma coisa já trabalhava ajudando a mãe na lida da casa e a cuidar dos irmãos e irmãs menores, cinco ao todo. Seu mundo conhecido era apenas o imenso sertão do oeste goiano, com sua paisagem naturalmente mística, formada de morros, serras, furnas e vales, com predominância de cerrados, cerradões e matas, povoados por animais silvestres.
Menina de inteligência privilegiada, aprendia com facilidade e perfeição o que lhe ensinava, especialmente a arte da música. Já aos oito anos de idade, cantava com sua irmã mais nova, músicas sertanejas (caipiras) acompanhadas ao som da sanfona tocada pelo pai. Aos fins de semanas as pessoas da vizinhança reuniam em sua casa para ouvi-las cantar. Quando percebeu que o pessoal estava sempre vindo e pedindo para que elas cantassem, Nilda se recusou cantar de graça e disse que só cantaria se pagassem. Logo começou a ganhar uns bons trocadinhos que todos davam com prazer!
Como Valdemar Ramos, o dirigente da congregação da Assembleia de Deus do Córrego das Vacas, que se reunia em uma grande sala da casa da sede de sua fazenda, era farmacêutico, além de dar assistência espiritual às pessoas, tratava também das suas enfermidades físicas, naquele sertão desprovido de assistência médica. Pedro Rodrigo da Costa foi morar na fazenda do dirigente, com a finalidade de tratar da esposa que estava gravemente enferma com asma. Ali ele aceitou a fé evangélica com toda a família (“passou para ser crente” da Assembleia de Deus por conveniência, sem ter se convertido, conforme testemunho de Nilda). Na época, com oito anos de idade, ao ouvir pela primeira vez os hinos sacros durante os louvores da congregação, no primeiro culto, deitou no colo da mãe e começou a chorar copiosamente, tocada por aquela música “tão diferente e mais bonita do que as que cantava”. Ao ouvir a pregação do evangelho, foi profundamente convencida pelo Espírito Santo e aceitou sinceramente o Senhor Jesus como seu Salvador.
Passado alguns meses, tendo a esposa já recuperado a saúde, Pedro Costa mudou para a Fazenda Poções, distante algumas léguas, e não quis mais saber de “ser crente”. Certo dia Nilda perguntou ao pai por que eles não iam mais à igreja. Ouviu dele então a brusca resposta: “Nós somos católicos, essa é a religião que nossos pais deixaram e não vamos mudar de religião”. Então a menina argumentou: “Mas, pai, nós entregamos para Jesus lá na igreja aquele dia”. Ele retrucou: “Eu passei para ser crente só para que o Valdemar Ramos cobrasse mais barato o tratamento da sua mãe, por ele pensar que a agente era crente. E se você insistir com esse negócio de crente, eu vou lhe dar uma surra”. E assim ele continuava a reverenciar as imagens de santos que conservava em casa, a praticar as rezas católicas e ainda obrigava a esposa e os filhos a rezar com ele, inclusive Nilda. Mas ela se manteve irredutível no seu propósito de ser fiel a Jesus conforme a sua “fé evangélica”. Continuava orando ao Senhor escondida em um bosque perto de sua casa. Sua mãe, diante da situação, não podia fazer nada, pois não ousava se opor ao marido. Até que, certa feita, o dirigente Valdemar visitou a família em um dia em que, por coincidência, seu pai não estava em casa. Então, ela revelou sua situação ao obreiro. Ele orou por eles e foi embora. Quando seu pai chegou e ficou sabendo da visita, reagiu de forma negativa, ficando aborrecido e determinado a não saber de “ser crente”.
Passados alguns meses, a doença da esposa voltou e todos os filhos ficaram doentes também. Então, Pedro Rodrigues da Costa, resolveu se mudar outra vez para a fazenda de Valdemar Ramos para que ele tratasse da esposa e dos filhos. Assim, deixando para trás os ídolos, pôs a família sobre cavalos e partiu enfrentando chuvas e rios cheios do chuvoso mês janeiro. Quando o dirigente examinou a mãe de Nilda, disse a seu pai: “Seu Pedro, o estado de saúde de sua esposa não tem cura nos recursos humanos. Só Jesus pode curá-la”. E exortou-os a se converterem de todo o coração a Deus. Pedro Rodrigues e a esposa entregaram então verdadeiramente suas vidas ao Senhor Jesus. Os irmãos oraram e sua esposa ficou completamente curada e os filhos também. Desde então seguiram ao Senhor como crentes fiéis até o final de suas vidas.
Algum tempo depois, houve na congregação um batismo nas águas, que fora concorrido com a vinda de muitos irmãos da Assembleia do Buriti e de Samambaia, ocasião em que seus pais foram batizados. Nilda insistiu muito com o pastor Antonio Inácio, da Assembleia de Deus de Samambaia, ministrante do batismo, para que a batizasse. Mas ele lhe disse que deveria esperar pelo menos completar onze anos de idade, já que tinha apenas nove anos, mas consolou-a dizendo que o Senhor Jesus lhe tinha preparado outro batismo, bastaria buscá-lo.
Passada a festa do batismo, ao anoitecer, quando todos já haviam ido embora, o obreiro Valdemar Ramos sentindo-se angustiado, foi orar sozinho em uma das barracas que fizera, de folhas de babaçu, em frente à casa, para a hospedagem dos visitantes. Outros irmãos, que trabalhavam na fazenda, resolveram se juntar a ele em oração. Logo os pais de Nilda fizeram o mesmo, unindo-se ao grupo. Nilda quis acompanhá-los, mas eles não permitiram, ordenando-lhe que ficasse cuidando de seus irmãos. Mas ela, inconformada, ajoelhou na porta e ficou orando de frente para a barraca onde o grupo orava. De repente ouviu que um irmão havia sido batizado com o Espírito Santo e estava falando em línguas estranhas. Seu fervor aumentou ainda mais a intensidade de sua oração. Quando os irmãos voltaram à casa, ao ver a menina tomada pela presença de Deus, continuaram orando com ela. Imediatamente ela recebeu também o batismo com o Espírito Santo e passou a falar em línguas estranhas por um longo tempo durante aquela noite. Finalmente, aos onze anos, em 15 de janeiro de 1948, foi batizada nas águas pelo pastor Geraldo Delfino e se tornou membro da congregação da Assembleia de Deus do Córrego das Vacas.
O dirigente Valdemar Ramos, percebendo a inteligência de Nilda, seu inconformismo por ser analfabeta e o interesse pelas coisas de Deus, em pouco tempo, ensinou-a a ler e escrever. Como tinha vocação para a música e o cântico, mesmo antes de saber ler, ela aprendeu de cor, em poucos dias, vinte hinos e, com o passar do tempo e a ajuda do músico e presbítero Eliziário, em Iporá, aprendeu cantar corretamente, conforme as partituras, todos os hinos da Harpa Cristã, na sua edição de mais de 500 hinos. Estudou música com o maestro da banda, da Assembleia de Deus de Iporá, onde louvou ao Senhor por muito tempo com instrumentos de sopro. Hoje se sente aborrecida quando vê o grupo regente do louvor cantar alguns hinos na igreja com a música errada.
Em 1950, com a mudança de Valdemar Ramos, a congregação ficou sem dirigente. Nilda, por orientação do dirigente da Assembleia de Deus do Buriti, presbítero Alberico Augusto da Fonseca, assumiu a direção da congregação, com apena 13 anos de idade, por ser a única pessoa na igreja que sabia ler, dirigindo-a de forma competente e abençoada durante seis meses. Desde então sempre esteve engajada na obra de Deus, servindo em diversas funções.
Aos 15 anos casou com João Caetano Rosa e passou a congregar na Assembleia de Deus do Buriti. Dessa união nasceram dois filhos e quatro filhas: Nísia, enfermeira aposentada; Nilson, capitão da reserva da Polícia Militar de Goiás, onde serviu como maestro da Banda de Música do 12º BPM; Niva, esposa do pastor Valdeci, presidente do Campo da Assembleia de Deus de Ceres e também pastora ordenada; Nerci, formada em economia; Gercil, pastor vice-presidente do Campo da Assembleia de Deus Caiapônia; e Nelida (falecida com um ano e quatro meses de idade). Com a morte do marido, vítima de problema cardíaco, em 13 de abril, 1967, Nilda ficou viúva aos trinta anos de idade, ocasião em que, se mudou para a cidade de Iporá. Em 1970 casou com Sebastião Antônio da Silva e dessa união teve o último filho, Samuel, empresário.
Na Assembleia de Deus de Iporá, foi líder da Assistência Social (atual CIBI) durante 10 anos e dirigente do Círculo de Oração por 13 anos. Em 09 de outubro de 2004, foi ordenada a Missionária, por indicação do pastor Neuton Pereira Abreu, na Convenção Estadual (CONEMAD-GO), na cidade de São Luiz dos Montes Belos. Tem servido e ainda continua servindo fielmente a Deus, como profetisa, diaconisa e intercessora. Na verdade, uma santa mulher e incansável protetora dos obreiros do Senhor, através da oração, ao longo de mais de meio século.