Mais um capítulo do LIVRO QUANDO SAMAMBAIA PEGOU FOGO, de Moizeis Alexandre Gomis, destacando missões, ações importantes de Valdemar Nogueira Ramos e de outros. Vamos à leitura:
CAPÍTULO 9
CELEIRO DE MISSÕES
Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger [Negro], Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, a Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram. (Atos dos Apóstolos 13. 1-3).
A Igreja Evangélica Assembléia de Deus de Iporá, em seus 64 anos de existência, contados a partir de 1947, quando teve início na cidade, como congregação da Assembléia de Deus do Buriti, registra um extraordinário saldo de bênçãos do Senhor, que muito tem contribuído para a expansão do reino de Deus, tanto em âmbito regional, como nacional e transcultural. Pode-se dizer, sem exagero, que ela se equipara à igreja de Antioquia da Síria, nos tempos apostólicos, que promoveu a expansão da Igreja para a Ásia Menor e Europa, através dos ministérios de Paulo, Barnabé e Silas.
Dentre os muitos exemplos de vidas que se consagraram à obra missionária, destaca-se o do pastor Valdemar Nogueira Ramos (de saudosa memória), natural do Estado do Espírito Santo. Farmacêutico formado, veio para Iporá na época do desbravamento pioneiro da cidade. Porém, não quis se ocupar com o comércio farmacêutico, antes se dedicou à agropecuária. Comprou terras na região do Córrego das Vacas, atual Município de Diorama, a cerca de trinta quilômetros da região do Buriti. Ali, como já foi mencionado no capítulo seis, além das atividades de fazendeiro, como farmacêutico, fez o papel de “médico”, atendendo e orientando a população sertaneja nas suas precárias condições de saúde. Ao atender o chamado de Deus para a sua obra, Valdemar Ramos se entregou ao ministério da Palavra como um incansável evangelista. Começou dirigindo a congregação da Assembléia do Córrego das Vacas e pregando o Evangelho nas fazendas da região. Algum tempo depois vendeu sua propriedade rural e passou a dedicar-se de tempo integral à pregação da Palavra de Deus.
Além de sua consagrada dedicação à obra de evangelização, Valdemar Nogueira Ramos, foi exemplo de obreiro também na vida cristã particular. Antes de se converter a Cristo, fracassara no casamento, tendo que viver na condição de desquitado. Como o Código Civil Brasileiro, na época, não permitia o divórcio e novo casamento, era comum os casais se desquitarem e estabelecer uma nova relação conjugal como amasiados, vulgarmente conhecidos como amigados, (atualmente reconhecida legalmente como consensual). Diante dessa realidade, a Assembleia de Deus não batizava pessoas e tampouco ordenava obreiros, nesse estado civil, embora pudessem congregar na igreja, sem serem membros. Valdemar Ramos foi radical. Em comum acordo com a mulher com quem vivia consensualmente, que também se convertera a Cristo, separou-se dela e ainda ajudou-a a encontrar um marido e realizou o casamento dela na igreja, pois era solteira, quando passaram a viver juntos. Assim, tendo deixado a “ex-esposa” amparada, prossegui servindo ao Senhor e fazendo a Sua obra, enfrentando as muitas tentações e fraquezas próprias de um celibatário circunstancial por exigência convencional de sua igreja, sempre vencendo-as com a misericórdia e graça de Deus.
No início de 1955, o pastor Divino Gonçalves dos Santos, presidente do Campo da Assembléia de Deus de Iporá, enquanto participava, em Goiânia, de uma programação festiva das Assembléias de Deus, ao ouvir o Missionário Carlos Hatchins pregar sobre missões, ficou profundamente tocado pelo Espírito Santo sobre a necessidade de engajar a igreja ainda mais na obra de evangelização. Depois da pregação, estendeu um mapa do Brasil sobre uma mesa e, naquele momento seus olhos se fixaram sobre a inóspita região de garimpos de diamantes de Baliza, Aragarças e Barra do Garças, no médio Araguaia, na fronteira de Goiás com o Mato Grosso e sentiu que Deus lhe chamava a atenção para aquelas paragens ainda não evangelizadas. O evangelista Valdemar Nogueira Ramos, que estava ao seu lado também observando o mapa, manifestou desejo e disposição para enfrentar o novo desafio de evangelizar aqueles rincões sertanejos.
Chegando a Iporá, o pastor Divino, guiado pelo Espírito Santo em oração, com o apoio da igreja e do conselho ministerial, enviou Valdemar Ramos para aquele novo campo missionário.
Foi promovida uma campanha na igreja de Iporá com o objetivo de levantar recursos financeiros para a caixa de missões. Embora as condições econômicas dos fiéis fossem modestas, sendo a maioria constituída de operários, trabalhadores rurais, costureiras e domésticas, as ofertas renderam Cr$ 154.000,00 (cento e cinqüenta e quatro mil cruzeiros), soma elevada para a realidade econômica da igreja na época. (Santos, 1995, p. 133; Noleto, 2005, p. 25-28). Sem delonga de tempo, Valdemar Ramos embarcou no vôo comercial da Real Aerovia Nacional, que fazia a linha Goiânia-Iporá-Baliza-Aragarças, duas vezes por semana, em 22 de abril de 1955, desembarcando em Baliza, pequena cidade de garimpeiros de diamantes. Depois de aproximadamente um mês evangelizando aquela localidade, deixou ali um grupo de convertidos servindo o Senhor e desceu o rio Araguaia, em um batelão (pequeno barco movido a remos e zinga), indo para a cidade de Aragarças, na margem goiana do rio.
Deus continuou abençoando seu ministério em Aragarças, que se tornou “o marco inicial” dessa nova etapa missionária. Ali Valdemar Ramos alugou um casa onde realizava cultos, além de evangelizar de casa em casa. Depois de ter fundado uma congregação já consolidada, se estabeleceu em Barra do Garças, cidade situada defronte a Aragarças, na margem esquerda do rio, no Estado do Mato Grosso. (Santos, 1995, p. 134). Começou evangelizando por meio de distribuição de folhetos e jornais evangélicos e falando de Jesus Cristo na Praça da Matriz da Igreja Católica. Como em Aragarças, depois de ter ganhado um pequeno grupo de pessoas para Cristo e estar dirigindo cultos nas residências dos novos convertidos, alugou um salão no centro da cidade, onde fundou, em 1955, a primeira a Assembleia de Deus do Ministério de Madureira no Estado do Mato Grosso. (Noleto, 2005, p. 30,31).
Com o passar do tempo, a Assembleia de Deus de Barra do Garças se tornou o quartel-general da ação evangelizadora das regiões do Vale do Araguaia, do centro e norte do Mato Grosso e do extremo oeste de Goiás. Atualmente constitui-se em um dos maiores campos de jurisdição eclesiástica das Assembleias de Deus do Brasil e sede da CONEMAD – MT. Durante os dias 12 a 19 de junho de 2005, sob a coordenação do seu pastor presidente, José Fernandes Noleto, ela comemorou, no grande e majestoso templo catedral, em uma semana festiva, o Jubileu de Ouro de sua fundação. Ocasião em que estiveram presentes Divino Gonçalves dos Santos e sua esposa Missionária Isbela e outros pastores pioneiros com suas esposas, além de familiares representando os que já morreram. Valdemar Nogueira Ramos foi lembrado e homenageado, como o primeiro missionário oficialmente enviado pela Assembleia de Deus de Iporá e fundador da Assembleia de Deus do Ministério de Madureira naquele Estado da Federação. Exemplo de dedicação missionária que veio a se repetir dezenas de vezes na vida de outros obreiros e obreiras, durante as seis décadas de existência da abençoada Igreja Assembleia de Deus de Iporá e que fizeram e ainda fazem a obra do Senhor em território nacional e em terras estrangeiras.
Em 2010, o pastor José Fernandes Noleto transferiu a sede da CONEMADE-MT, da cidade de Barra do Garças para Cuiabá, a capital do Estado do Mato Grosso, território até então de domínio eclesiástico assembleiano da Convenção Geral das Assembleias do Brasil (CGADB, popularmente conhecida por Ministério da Missão). Em 2011, por ocasião da comemoração do Centenário das Assembleias de Deus no Brasil, a Assembleia Geral Estadual (AGE) da CONEMADE-MT, foi realizada ali com uma festa de arromba, onde houve, além da ministração poderosa da palavra de Deus, um sensacional desfile com a participação de milhares de pessoas e a apresentação de diversas alegorias, inclusive um bloco formado por índios em trajes e danças característicos de sua cultura. Evento que teve a cobertura da mídia estadual, inclusive das emissoras de rádio e de TV da capital e suas reprodutoras no interior. Ocasião em que se divulgou também a construção da nova sede da CONEMAD-MT, um majestoso edifício que ocupará cerca de dez mil metros quadrados, no centro de Cuiabá.
“Atualmente, o Estado do Mato Grosso é a região onde a Assembleia de Deus mais cresce no país e as lideranças da igreja ali reconhecem que, através da iniciativa do pastor Divino Gonçalves dos Santos e o pioneirismo missionário de Valdemar Nogueira Ramos, a Assembleia de Deus de Iporá foi a promotora da evangelização que deu início à Assembleia de Deus do Ministério de Madureira naquele Estado”, declarou o presidente da CONEMAD-GO, pastor Oídes José do Carmo, enquanto pregava na Conferência Missionária, realizada em Iporá, em 14 de julho de 2011. Na ocasião, ele relembrou também que, durante seu pastorado na Assembleia de Deus de Iporá, a igreja havia retomado sua tradição missionária, quando enviou os dois primeiros missionários para Marechal Floriano e Canto dos Buritis, no Piauí, visão esta que ainda continua viva. O atual pastor do Campo de Barra do Garças e presidente da CONEMAD-MT, José Fernandes Noleto, também reiterou, no plenário da AGE da CONEMAD-GO, no dia 16 de julho de 2011, em Iporá, ao comentar sobre a comemoração do CENTENÁRIO das Assembleias de Deus no Brasil, realizada em Cuiabá, que a Assembléia de Deus de Iporá foi a igreja que teve a iniciativa missionária, através do pastor Divino Gonçalves, de evangelizar o Estado do Mato Grosso, quando enviou o evangelista Valdemar Nogueira Ramos, nos idos dos anos 1955. Assim, Valdemar Nogueira Ramos é reconhecidamente o primeiro dos muitos missionários enviados pela Assembleia de Deus de Iporá, nos seus 67 anos de existência, contados a partir de sua organização no Buriti, em 09 de abril de 1944, que é a data oficial de sua fundação, e o pioneiro fundador das Assembleias de Deus de Madureira no Estado do Mato Grosso.
Do campo de Iporá, inclusive da Assembléia de Deus de Samambaia, além de Valdemar Nogueira Ramos, Deus levantou um batalhão de obreiros e obreiras que contribuíram de maneira inestimável para o crescimento do reino de Deus em Goiás, no Brasil e no exterior: diáconos e diaconisas, presbíteros, evangelistas, pastores com suas esposas, missionários e missionárias. Dentre esses incansáveis ministros do Evangelho, conta-se o diácono Miguel Coelho da Cunha, o presbítero Alberico Augusto da Fonseca, os pastores Abraão Gonçalves de Melo, José dos Santos Ferreira (vulgo pastor Ferreira), Antônio Domingos Batista (pastor Antônio Mateus), José Brandão Porto (pastor Bróia), Geraldo Delfino de Araújo, Jaime Antônio de Souza, Durvalino Nogueira, Geraldo Gonçalves Cardoso, Joaquim Alves de Souza (pastor Quinca), Amador Carlos dos Santos, Valdomiro Raimundo de Souza, Odilon Vieira, Waldemar Alves da Silva, Pedro Coelho da Cunha, Antônio Pinto Balduino, Francisco Alves Diniz, só para citar alguns exemplos de pioneiros das décadas de 1940 e 1950, (muitos já de saudosa memória). Sem mencionar pessoas que Deus salvou e levantou nas décadas posteriores do século XX, que constituem uma verdadeira legião de soldados de Cristo, que deram e dão sua contribuição local ao crescimento do reino de Deus, como auxiliares, diáconos, diaconisas, presbíteros, evangelistas, pastores e suas esposas, missionários, missionárias, líderes de Departamento de Jovens, Assistência Social, Círculo de Oração e professores da Escola Bíblica Dominical, inclusive o atual presidente do Campo da Assembleia de Deus de Iporá, Ataul Alves Rosa (2005-2012).