Na noite desta segunda-feira, 25, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga irregularidades na prestação de serviço de energia elétrica pela Enel em Goiás realizou sua vigésima segunda audiência pública, dessa vez em Iporá.
Presidente da CPI da Enel, o deputado Henrique Arantes (PTB) conduziu a reunião. Também integraram a mesa diretiva o procurador da Assembleia Legislativa (Alego), Edmarkson Ferreira de Araújo; o advogado da Enel e presidente da OAB-GO, Dr. Lúcio Flávio; o coordenador regional da Enel, Moisés Lemes; o presidente da Câmara Municipal de Iporá, Keilo Borges e vereadores dos municípios de Iporá e Ivolândia, que fizeram pronunciamentos de até cinco minutos logo após a abertura dos trabalhos.
Câmara Municipal
O vereador Eurides Ferreira entregou à CPI um abaixo-assinado feito por 150 moradores da região, que denunciam longos períodos de interrupção no fornecimento de energia. “Nossos produtores estão perdendo vacinas, perdendo leite, carne, porque ficam até 10 dias sem energia. Era melhor quando o serviço era prestado pelo poder público”, apontou o parlamentar de Iporá.
O vereador Eder Duarte destacou as perdas econômicas urbanas. ”Aqui temos pequenos empresários sofrendo enormes baixas de produção. Iporá não aguenta mais”, apontou Duarte.
Já o vereador Marinho da Mata exemplificou problemas que foram relatados previamente pela população. “A pessoa levanta de madrugada para tirar o leite e quando acaba de colocar no tanque, falta energia e perde tudo. Perdas materiais estão acontecendo o tempo todo, mas a falha desse serviço pode causar também a perda de vidas humanas. Por exemplo, prejudicando o funcionamento de hospitais e home care”, acrescentou Marinho, que exigiu uma resposta rápida aos problemas detectados.
Representante dos produtores rurais na Câmara Municipal de Iporá, o vereador Samuel Queiroz ironizou o histórico da empresa em Goiás. “Eu gostaria de estar aqui para homenagear o serviço prestado por essa empresa que chegou no estado com a promessa de resolver problemas graves que havia no trabalho da Celg, mas infelizmente é exatamente ao contrário. Essa empresa está penalizando ainda mais esses produtores, que trazem o alimento para nossas mesas e deveriam ser tratados com mais respeito”, reivindicou.
O parlamentar Aurélio Teixeira mencionou um caso particular para corroborar as queixas dos populares. “Meu freezer está cheio de carne de parentes que vivem na zona rural e estão há dias sem energia. Não podemos mais sofrer a falta de critérios do serviço da Enel. Todos os dias recebo 20 a 30 ligações com denúncias”, apontou.
Para Carmo Freitas, também vereador por Iporá, trata-se de um sofrimento que precisa ser reparado. “Fico triste com tantas pessoas sendo sacrificadas, levando grandes prejuízos, pagando um preço alto e recebendo descaso. Deixo aqui minha indignação contra a alta cúpula da empresa”, desabafou.
Único representante de Ivolândia, o vereador Belchior trouxe uma reclamação irreverente. Entre outras queixas, ele reclamou que a energia caiu no dia da final da Libertadores e ele só conseguiu ver os dez minutos finais do jogo Flamengo X Riverplate.
O vereador Suélio Gomes sugeriu que a CPI análise também o histórico de privatizações e sucateamento da Celg ao longo das duas últimas décadas. Segundo o parlamentar iporaense, faltou transparência nesses processos. Nesse mesmo sentido, o vereador Paulo Alves também exemplificou perdas sistemáticas dos produtores da região e opinou que a venda da Celg foi um erro. “O ponto de partida dessa CPI deve ser que o Governo revogue o contrato por falta de qualidade no serviço”, almejou.
O presidente da Câmara Municipal, Keilo Borges, relatou um histórico de tentativas frustradas da Casa em receber representantes da Enel para conversar sobre os problemas de fornecimento na região. “Em 12 de outubro de 2018 a Enel foi convidada pelo presidente anterior. Eles simplesmente não vieram e sequer deram alguma satisfação. Em março desse ano aconteceu exatamente o mesmo. Quando nós mandamos ofício ao seu gabinete, deputado Henrique, fomos respondidos com rapidez e respeito. Quero parabenizar o senhor por esse trabalho de ouvir o povo”, agradeceu Keilo.
Antes de passar a palavra aos cidadãos participantes da audiência, o deputado Henrique Arantes apresentou um breve esboço dos problemas em apuração. Foram citados, por exemplo, a redução de 20% do quadro de engenheiros eletricistas, as falhas do atendimento virtual e dos relógios antigos. “Havia uma perícia de um laboratório da UFG, que foi desqualificado pela Enel. Agora a empresa é a única autorizada a fazer a perícia no relógio quando o consumidor desconfiar de erros na medição”, contextualizou o deputado, que também orientou os consumidores a não permitir que a troca de padrões seja feita sem a presença do proprietário.
Consumidores
Eleuza Martins – “Nunca imaginei que ia passar por isso. Cheguei no banco e encontrei uma dívida porque a Enel cobrou, em débito automático, uma conta de R$ 3220,00 de uma conta de energia de uma chácara onde só estão morando morcegos”. A aposentada mencionou, ainda, que precisou de um empréstimo no banco por causa da conta abusiva. A conta do mês anterior foi de R$ 71,00.
Wilton Cardoso – “A gente paga por um produto que não usou. Isso não é justo. Foi cinco dias sem energia e a conta veio do mesmo preço do mês anterior, quando não houve interrupção”.
Wendel Almeida – “Pedi a poda de um pé de ingá que estava prejudicando a rede em frente ao estabelecimento comercial que eu estava abrindo. Eles não fizeram nada e a árvore caiu no dia da inauguração do meu estabelecimento. Tive grandes prejuízos. Além disso as redes estão sem manutenção. Todo dia cai a energia lá. Quando meus freezers queimarem quem é que vai pagar?”, questionou o comerciante, que recebeu do deputado Henrique uma orientação. “Entrar na Justiça é importante e o processo até o ressarcimento não é tão longo quanto se imagina”, apontou o parlamentar.
Enel
Na pessoa do coordenador da regional, o engenheiro eletricista Moisés Lemes, a empresa justificou que as chuvas e vendavais desse período fazem aumentar muito a incidência das falhas apontadas. Moisés também citou providências a serem tomadas nos casos apresentados. “Estamos cientes dos pontos a serem melhorados, dos pontos a serem corrigidos e vamos tomar as providências cabíveis”, anunciou o funcionário da Enel acerca dos casos levados pelos iporaenses. Ele se colocou à disposição de todos os presentes para atendimento direto nessas demandas.
O advogado da Enel, Lúcio Flávio, reconheceu que os problemas existem, mas alegou que são resultantes de dez anos de subinvestimento e sucateamento do sistema durante a gestão da Celg. Ele também destacou que os prazos exigidos pela população e autoridades não são exequíveis. “O importante é que a empresa está investindo e as melhorias virão no médio prazo”, defendeu Lúcio Flávio.
O presidente da CPI encerrou a audiência destacando a continuidade dos trabalhos em busca de soluções palpáveis e responsabilização legal pelos danos sofridos. A próxima reunião da CPI será nesta quinta-feira, 28, no auditório Solon Amaral, quando os parlamentares ouvirão o diretor de Relações Institucionais da Enel, José Nunes. (do site da Assembleia Legislativa)