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Irrigação por pivô central: qual é a realidade no Oeste Goiano?

Texto de:
Isaac de Matos Ponciano (Eng. Agrícola, Doutor ESALQ/USP)
Thamara Estevam de França Viana (Eng. Agronoma, Mestre em Irrigação no Cerrado)
Kleibe Bertoni Cardoso Lemes (Tecn. em Produção Sucroalcooleira, Mestre em Produção Vegetal)
Vanessa de Fátima Grah Ponciano (Eng. Agronoma, Doutora ESALQ/USP)

A gestão dos recursos hídricos no Brasil é um processo complexo. Vários são os agentes ativos que utilizam-se da água, a saber: empresas, sociedade, agricultures, industrias e o próprio ecossitema. Cada vez mais escassa, a água disponível vem sendo poluida por despejos impróprios de esgotos e assoreamento da margem dos rios. Outro agravante que limita a disponibilidade é que quanto mais se polui mais se reduz sua disponibilidade e, por conseguinte, maiores são os conflitos pelo uso dos recursos hídricos. Esse processo cíclico tem sido notado pela sociedade, em especial, em longos períodos de estiagem.

O problema vai muito além do volume total das chuvas. Ao se estudar o ciclo hidrológico nota-se que a chuva pode percorrer, essencialmente, 3 caminhos. O primeiro e mais comum é infiltrar no solo. Neste caso, o solo retem parte da água que dissolve nutrientes e pode ser absolvida pelas raizes das plantas. Neste sentido o solo é um grande reservatório de água para as espécies vegetais. Em continuação, a água, quando em excesso, pode infiltrar até camadas mais profundas e alcançar o lençol freático reabastecendo-o e contribuindo para a manutenção da vazão nos cursos d’água.

Outro caminho que á agua pode seguir, a partir da chuva, é escoar pela superfície do solo. Neste caso quando a intensidade de precipitação é muito alta tem-se o que chamamos de processo erosivo no qual particulas de solo são carreados pelo escoamento superficial. O escoamento superficial em última instância acaba nos rios (assoreamento). É comum na agricultura irrigada e não irrigada a recomendação de terraceamentos para diminuir a intensidade do escoamento favorecendo a infiltração em áreas com declividade superior a 2%. Desta forma, é importante entendermos que além das variáveis climáticas o trato do solo como um reservatório contribui para a disponibilidade hídrica.

A irrigação é uma prática milenar e consiste da aplicação de água sobre a superfície do solo de forma artificial. Essa é uma prática basilar para a manutenção da produção de alimentos no mundo. É falsa a premissa que ao retirar água do rio comete-se impacto ambiental. É bem verdade, no entanto, que o processo de outorga deve ser avalisado pelo orgão ambiental competente a fim de que o uso multiplo dos recursos hídricos seja garantido.

A produção agrícola não existiria nos períodos de estiagem se não fosse a irrigação de perímetro agrícolas. Portanto uma questão importante recai sobre nós leitores e usuários dos recursos hídricos: qual o impacto da irrigação em nossas vidas e qual a realidade da nossa região?

Na roupa que vestimos, sobre a mesa do café da manhã, no almoço etc. Os efeitos benéficos primários e secundários da atividade agrícola irrigada estão em nosso entorno. Em longos períodos de estiagem os alimentos aumentam de preço. Acredite, aumentariam muito mais se não fossem os perímetros irrigados. A irrigação exige um profissional habilitado e competente que saiba dimensionar corretamente um sistema favorecendo o uso racional da água. Quando a irrigação se torna vilã? A resposta dói, mas tem sido cada vez mais oportuno dizer: quando se retira água dos rios sem o devido processo de outorga e/ou não se aplica água na quantidade, frequência e no tempo correto.

Dentre as regiões de Planejamento de Goiás o Oeste Goiano se destaca pela produção agropecuária. Nos últimos anos tem-se observado um aumento significativo no número de empresas agropecuárias de grande porte direcionando o interesse para o oeste goiano. Isso se dá, em parte, pelo avanço da irrigação. O aumento de produtividade em períodos de estiagem contribui para maior dinâmica e rotatividade da economia. Exemplos de empresas como a Comigo (Jussara) e Araguaia (Iporá) expressam a relevância que o oeste goiano vem ganhando no cenário estadual. Evidências incontestáveis pode ser obtidas ao se levantar a área irrigada tendo como fonte primária os dados fornecidos pelo MapBiomas (https://brasil.mapbiomas.org/).

A Tabela a seguir faz menção a área irrigada por município do oeste goiano.
Tabela 1. Municípios do oeste goiano que tem irrigação por pivô central com suas respectivas áreas.

Jussara tem 21 mil hectares irrigados por pivô central. É uma área expressiva que modifica o regime hidrológico dos mananciais ao passo que movimenta e economia regional. Considerando um pivô central com média de 138 ha pode-se inferir cerca de 152 equipamentos instalados em Jussara. Já Paraúna, segundo lugar, tem cerca de 77 equipamentos instalados. Isso revela o potencial agrícola do oeste goiano, mas também acende uma alerta concernente ao uso racional da água.

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