Texto da professora Wesilene Ferreira Leonel Siqueira
Considerando a Educação o principal instrumento para impulsionar a sociedade para o desenvolvimento e melhorar a qualidade de vida dos indivíduos que a compõe, venho parabenizar os colegas nesta data em que se comemora o “Dia do Professor” todos os profissionais que atuam na educação. E neste ensejo, de forma especial parabenizar também os agentes envolvidos diretamente com a implantação e construção da Escola Inclusiva, como ainda elencar reflexões e memórias desde sua implantação.
Passados 15 anos que demos início ao processo de inclusão em Goiás onde todas as Unidades Escolares são consideradas inclusivas, e em especial as do município de Iporá e região, percebe-se que grandes foram os avanços nas escolas para atender todo tipo de diversidade que se apresenta no ambiente escolar.
É importante aqui definir o sentido amplo da palavra ‘inclusão’ dentro das diversas áreas que são trabalhadas na sociedade. Chama-se a atenção nesse texto para discutir e mostrar um pouco sobre a inclusão escolar onde nós educadores estamos inseridos. Hoje é realidade nas Unidades Escolares conceitos como aceitação, respeito e a valorização de todas as diferenças que ali se encontra e são evidenciadas por meio de ações e convivências diárias na comunidade escolar.
Para que aconteça mudanças de paradigma na Educação, a Secretaria de Educação do Estado de Goiás lança as diretrizes do Programa de Educação para a Diversidade numa Perspectiva Inclusiva e apresenta como objetivo geral:
Implantar em Goiás uma política educacional inclusiva que leve em conta as potencialidades individuais inerentes ao ser humano, envolvendo uma reformulação nos projetos políticos pedagógicos das escolas, nas estruturas físicas, na capacitação de recursos humanos, atendendo às necessidades resultantes da diversidade das pessoas, de forma que haja uma educação solidária, ética, democrática, inovadora, com equidade e qualidade para todos. (Goiás/SEE/SUEE, 1999, p.15)
Com base nesse objetivo iniciamos esse novo processo de Educação Inclusiva no município de Iporá e municípios jurisdicionados à Subsecretaria Regional de Educação – SRE de Iporá: Amorinópolis, Caiapônia, Diorama, Doverlânida, Israelândia, Ivolândia, Jaupaci, Palestina e por último Montes Claros de Goiás que na época também fazia parte da jurisdição. Em todos esses municípios implantou-se a partir do ano 2000 uma Escola de Referência que passaria a atender alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE), os quais antes eram oriundos de Escolas Especiais ou estavam em casa sem poder estudar e pertencer ao ambiente social que lhe proporcionasse um convívio e ao mesmo tempo oportunidade e recursos para seu desenvolvimento psíquico e intelectual por meio da interação com o outro.
Assim, por meio de parceria com a Escola de Ensino Especial – atualmente denominada Centro de Atendimento Educacional Especializado – CAEE de Iporá, foi possível incluir esses alunos em suas diversas necessidades e deficiências – visual, auditiva, fisíca, intelectual, síndromes, transtorno global do desenvolvimento, transtornos cognitivos e altas habilidades/superdotação, entre outros – , nos ambientes escolares com vista às mudanças de paradigmas, que de início apresentaram-se como grandes desafios para todos nós educadores que estávamos diretamente inseridos e éramos por excelência protagonistas das transformações que estavam prestes a ocorrer.
Vale ressaltar, que neste processo de transição a atuação dos profissionais das Escola de Ensino Especial – hoje CAEE – teve papel intrínsico pois estes contavam e ainda contam com um preparo especializado, tendo a prática e teoria em simetria.
No início começamos com poucos alunos, tendo como parâmetro teorias que fudamentam a inclusão e principalmente lidando com a prática de Estudos de Caso reias dos alunos que iam chegando às Escolas Inclusivas de Referência. Fomos ressignificando os processos educacionais, ampliando possibilidades de aprendizagem e de desenvolvimento dos educandos, com e sem deficiência. A filosofia da aceitação das diferenças individuais inerentes ao seres humanos exigiu-se muita capacitação, grupos de estudos para que pudéssemos reformular currículos até então únicos, sendo reestruturados para amplos e flexíveis, projetos pedagógicos e regimentos escolares que pudessem dar sustentação para tais mudanças.
Vivemos a fase da sensibilização a partir de 1999, como divulgação do Programa de Educação para Diversidade numa Perspectiva Inclusiva por meio de muitos cursos, encontros, capacitações, debates – opiniões contra e a favor tanto de pais como de professores – possibilitando assim ricas discussões entre os envolvidos. Ressalta-se que desde o início os alunos foram os que aceitaram a convivência com as diferenças com mais facilidade/naturalidade, até porque o “pré- conceito” não se apresenta tão arraigado entre estes. Nos 15 anos de muita aprendizagem no sentido amplo da palavra, ainda vivemos o processo de sensibilização com parte da sociedade que ainda tem resistência em conviver com as diferenças.
Na fase da implantação dessa proposta, após um ano de experiência nas escolas piloto (Referência), isto é, no ano de 2000, a resistência de muitos profissionais ainda persistiu, uma vez que pontuavam despreparado para lidar com as diversas situações que uma escola inclusiva se apresenta, especialmente no trabalho com alunos com NEE. No entanto, o processo continuou; os alunos foram chegando, os professores foram se capacitando, os pais foram entendendo melhor as políticas públicas (leis) que asseguravam e asseguram os direitos de seus filhos. Assim, a escola cada vez mais foi abrindo as portas para acolher a diversidade em seu meio.
Com a fase de concretização das Escolas Inclusivas por volta do ano de 2003, muitas ações foram efetivadas e outras revistas para que de fato fosse possível adaptar as diversas realidades vivenciadas e existentes nas escolas. Nesse contexto, cita-se o Art. 2º da Resolução CNE/CEB Nº 2/2001, que se configura como avanço na direção da inclusão ao estabelecer que:
Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo as escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos.
Além disso, com a reestruturação do Sistema de Ensino, os profissionais da Educação foram acreditando e confiando na capacidade dos alunos, independentemente das condições que se encontrassem. A partir dessa consciência observa-se que foi possível fortalecer ações pedagógicas que possibilitaram aos alunos aprender dentro de suas limitações, com foco em suas potencialidades. Nessa perspectiva, a Secretaria de Educação de Goiás juntamente à Gerência de Ensino Especial por meio da Rede Educacional de Apoio à Inclusão (REAI) instituída nas Subsecretarias Regionais foram prestando assessorias e ações pedagógicas inclusivas, realizando ciclos de estudos, encontros pedagógicos, cursos nas diversas áreas de deficiências, entre outros voltados para diversidade para que esta realidade se fortalecesse e propagasse cada vez mais.
É importante salientar que na Regional de Iporá, a REAI – denominada inicialmente como Setor de Apoio à Inclusão – foi coordenada pela professora Ana Maria Honorato, em seguida pela Professora Marilda de Lima Oliveira Ferreira e por último Eu – professora Wesilene Ferreira Leonel Siqueira. Com a implantação do Programa de Educação para Diversidade numa Perspectiva Inclusiva, nós profissionais da área da Educação Especial/Inclusiva, temos recebido ao longo desse tempo, capacitação e orientação da Gerência de Ensino Especial mensalmente; com o intuito de disseminar – por meio da Equipe da REAI da Subsecretaria Estudos/Capacitações para todos os profissionais que compõem a REAI das Escolas Escolares, sendo: professores de Atendimento Educacional Especializado (AEE), profissionais de Apoio à Inclusão, Intérpretes e Instrutores de Libras, Higienizadores, como também outras ações diretas e indiretas, como exemplo: cursos em áreas específicas, palestras, debate e etc, tanto para profissionais da educação como para a sociedade civil de forma geral.
Configurando a importância desse trabalho, cita-se que atualmente são atendidos na Regional de Iporá 403 (quatrocentos e três) alunos com alguma NEE, entre deficiência auditiva, visual, física, transtornos, síndromes,paralisia cerebral e déficit intelectual entre outras necessidades diversas.
Hoje pode se afirmar que todas as Unidades Escolares são inclusivas e atendem e devem matricular sem distinção qualquer aluno, seja este deficiente ou não, buscando metodologias eficazes por meio do projeto político pedagógico das UEs que direcione ações que busquem atender com qualidade todos os alunos. Vários instrumentos são utilizados e se fazem necessários, como exemplo, metodologias adaptadas e flexibilizadas, avaliação para diversidade, Língua Brasileira de Sinais (Libras), Braille, Sorobã, tecnologias assistivas, pareceres pedagógicos… Ou seja, são recursos que fazem parte do processo de ensino e atendimento de alunos com NEE.
Dessa forma, por meio de um olhar entusiasta percebe-se grandes avanços na Educação Inclusiva em Goiás e com mais propriedade falamos da Regional de Iporá, uma vez que estamos participando e contribuindo desde o início para o novo modelo de Escola para Todos. Nesse processo que denominamos atualmente de consolidação da proposta da educação, muito se tem ainda por fazer em busca de uma educação que efetivamente trabalhe com a diversidade e mostre por suas ações um ambiente de aprendizagem que considere e valorize as diferenças individuais onde se crie contextos educacionais capazes de atender os diversos níveis, estilos e ritmos de aprendizagem dos alunos. Nesse pensamento, parafraseando o educador Paulo Freire, convém dizer que se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.