Ele esteve no Fantástico, programa das noites de domingo na Rede Globo, junto ao apresentador Tadeu Smith, que enfocou sua habilidade em fazer o drible da Roda Gigante, aquele em que o jogador deixa a bola um pouco atrás de si e, com os pés e, mais precisamente, com o calcanhar, arremessa a redonda para frente, passando por sobre sua cabeça e, no caso, quando se tem um jogador na sua marcação, cobre também o adversário, com o jogador pegando a bola na frente e o adversário ficando para trás! O drible é lindo! Não se tem notícia de quem saiba fazê-lo com mais perfeição do que Anísio Alves de Oliveira, o Anizinho. Vale dizer que o drible roda gigante é diferente do drible lambreta, feito por Falcão, Neimar e outros, com a bola mais ou menos parada, enquanto que na roda gigante a bola está totalmente em movimento na hora em que é arremessada.
Nascido em Iporá, Anizinho ficou conhecido no país por causa de seu drible da roda gigante. Em partidas que atuava o jogador, quase sempre no ataque, dava um jeito de aplicar uma roda gigante no adversário, já que os torcedores gritavam pedindo esse drible fantástico. Foram centenas desse drible em toda sua vida. E o drible foi visto em grandes estádios porque Anizinho teve uma carreira de jogador de futebol que lhe permitiu atuar em jogos importantes. O drible da roda gigante foi visto por grandes plateias, exemplo disso foi no Estádio Serra Dourada, na década de 80, no jogo entre as seleções de Iporá e Indiara. O jogo principal foi entre Goiás e Vila Nova Um testemunha desse jogo e do drible aplaudido por milhares de pessoas foi o atual vereador em Iporá, Suélio Gomes.
Seleção de Iporá que no ano de 1980 atuou no Serra Dourada e quando Anizinho foi aplaudido ao fazer o drible da roda gigante.
Naquele tempo, Suélio era policial em Goiânia e estava a trabalho no Estádio Serra Dourada, quando assistia o jogo. Era uma partida preliminar e o policial testemunhou seu conterrâneo dar o drible e o numeroso público, ambas as torcidas, ficarem de pé para bater palmas, algo raro em estádios e aplaudiam aquele jogador do interior que lidava com a bola com tanta habilidade. Ao final do jogo todos estavam curiosos para saber que jogador era aquele. Mas ao aproximarem do atleta percebiam que não se tratava mais de um garoto, caso fosse ainda jovem o queriam no Goiás, já que eram jogadores desse time que aproximavam do interiorano. Ora, era Anizinho, de Iporá! Eventos esportivos com vibração em dribles do roda gigante se multiplicaram. Outra lembrança jamais a ser esquecida foi em jogo da seleção de Iporá x o time de Milionário e José Rico (Show Bola Futebol e Música), partida em Iporá, quando Anizinho mostrou sua habilidade, inclusive, aplicando o drible no ídolo da música que estava em campo. Anizinho aplicou a roda gigante no ídolo da música e colocou a bola entre as penas dele por duas vezes seguidas. Os iporaenses ganharam o jogo com gol de de cabeça de Adevair, o Deva (Cabinho). Quem fez o cruzamento foi rápido ponteiro direito Anizinho. Esse time do José Rico vinha ao interior com um ônibus e nele veteranos do futebol profissional. Era um ótimo time. No dia seguinte ao jogo de Iporá fizeram partida em Ceres, contra o time profissional daquela cidade e venceram.
Anizinho fez o gol que Pelé não conseguiu
Um chute do meio do campo e que cobre o goleiro para ser golaço! Pelé tentou, mas não conseguiu. Em Iporá, no início da década de 80, quando o Estádio Adelar Dias acabava de receber grama, Anizinho fez um gol destes.
Time do dia em Anizinho fez gol do meio do campo
Era um amistoso, quando o time profissional de Barra do Garças e que se preparava para disputar o campeonato mato-grossense, veio a Iporá, com excelentes jogadores. Para enfrentar os mato-grossenses um time amador e, dentre os atletas, estava o Anizinho, que sempre foi muito mais um fazendeiro do que um jogador de futebol.
Logo no início do jogo, o Umuarama tomou um gol, o que foi motivo de chacota dos mato-grossenses, afirmando que ainda era 0 x 0 e que podia considerar como se a partida ainda fosse começar. Pouco minutos depois, Anizinho recebeu um cruzamento vindo da ponta direita e fez o gol de empate.
Foi no segundo tempo que os torcedores presentes viram um gol maravilhoso que não foi filmado, nem fotografado e nem sequer narrado por locutor de rádio. O goleiro do time de Barra do Garças, na condição de líbero, fora da grande área defendeu uma boa de cabeça e que foi arremessada na direção do círculo central do campo, onde estava Anizinho, o qual, em ato de rapidez de raciocínio e habilidade deu uma chapinha na bola, que tomou meia altura, subiu e foi direção do gol, passando sobre a cabeça do goleiro. O arqueiro, vendo a bola vir, ainda foi recuando, de costas, na tentativa de alcança-la, mas viu a redonda cair nas redes, às suas costas. Esse foi o gol do desempate para 2 x 1 a favor da vitória na partida e gol na forma como Pelé tentou fazer e não conseguiu. Não é pelo fato de não haver registro fotográfico ou filmagem que faz o fato ser inverídico. Tinha muitos torcedores e testemunhas no Estádio Adelar Dias.
Biosque, goleiro do Umuarama na ocasião, foi um destes testemunhas, que está vivo e saudável em meio a sociedade iporaense e atesta que o fato foi verdadeiro e memorável. Ele conta com detalhes como tudo aconteceu naquela virada histórica do time de Iporá. Outro que também estava no jogo e confirmou tudo isso é o zagueiro Gessé.
Trajetória em times importantes de Goiás
Anizinho não foi um jogador profissional de futebol porque não quis. Ainda jovem foi jogador do Vila Nova, em Goiânia, tempos em que esse time era uma potência do futebol goiano. Com uma semana de treinos no Vila Nova ele já era convocado e entrou depois que a partida já tinha iniciado. Estreou em um jogo contra a Anapolina, quando estava no banco e entrou em substituição para não mais deixar de ser titular. Fez várias partidas, até que resolveu voltar para Iporá. Por que? Anizinho decidiu que ia ajudar seu pai na fazenda. Como membro de uma família financeiramente bem resolvida na vida, ele não precisava daquele sacrifício de vida de jogador de futebol. A partir de então, preferiu o futebol amador do interior, conciliando suas atividades de fazendeiro com a prática saudável do esporte que sempre amou: futebol. Mas fora de Iporá, Anizinho também teve rápidas passagens pelo Inhumense, em 1969, pelo qual disputou o Campeonato Goiano de Profissionais, mas era inscrito como amador, nunca quis esta condição de ser documentado como profissional. Jogou ainda no Trindade (1974) e seleção goiana de universitários, na mesma década de 70.
Anizinho no Inhumas: o último agachado
Anizinho no Vila Nova: o primeiro agachado
O pai de Anizinho, senhor Odilon José de Oliveira, que dá nome a uma escola de Iporá, também foi jogador de futebol. Era o ano de 1938 e ele estava defendendo as cores do Aparecidense. E esse futebolístico de Odilon perpetuou para o filho Anizinho e para netos: o Leonardo e o Bruno, que também aprendeu a dar o drible da roda gigante e que também foi mostrado, ao lado do pai, no Fantástico. O sobrinho Odilon Neto (filho de Silva Rezende e Nilza) também se destacou como zagueiro.
Odilon, pai de Anizinho, na Aparecidense: o quarto em pé
Décadas de pedalada gigante
Dando o drible da roda gigante em adversários, Anizinho, que hoje tem 71 anos, atravessou décadas. Desde o Grêmio, time iporaense na década de sessenta, mais precisamente em 67, ele mostra essa sua especialidade em deixar adversários para trás. Naquele tempo, tendo 15 anos, Anizinho era titular do time adulto do Grêmio, boa equipe composta por alunos do Colégio Estadual de Iporá, estabelecimento que se tornaria depois o Colégio Estadual Elias de Araújo Rocha. Nessa época do Grêmio, praticou também futebol de salão e ficou memorável um campeonato em que o Grêmio e o time do Banco do Brasil eram fortes equipes do esporte da bola pesada. Uma quadra no Estádio Adelar Dias, local onde hoje é a Prefeitura de Iporá foi a primeira a ser feita em Iporá e os jogos atraíam grande público, em quantidade que era impossível para todos assistirem as partidas de futebol de salão. Dentre grandes atletas, estava também o Anizinho.
Anizinho, aos 15 anos, entre adultos, no Grêmio: o quarto agachado
Mas o Colégio Estadual de Iporá naquele final da década de 60 e início da década de 70 não era só de futebol de salão. A prática esportiva era muito abrangente: handbol, voley, basquete, tanto masculino quanto feminino. Ao lado dos professores de educação física do Colégio, Anizinho estava presente, dando seu incentivo. Mas do que atleta, era treinador, organizador de competições, com jogos com equipes de São Luís de Montes Belos, Paraúna, Caiapônia e outras cidades. O esporte colegial era muito intenso, com grandes atletas.
Atuação marcante na capital
Foi memorável os tempos de estudos universitários de Anizinho em Goiânia, na Esefego. Além de estudante, seu apego pelos esportes o fez ser professor de educação física no Colégio Olavo Bilac, estabelecimento do ensino público estadual localizado no lado oeste de Goiânia, região do Dergo e proximidades de Campinas, em tempos quando o local era pouco habitado. Era ainda uma região periférica de Goiânia, nos idos de 1973 e 1974. O professor de educação física que ali chegou, com a experiência que tinha tido de esportes especializados no Colégio Estadual de Iporá, fez uma revolução naquele estabelecimento da capital, onde tinha cerca de 600 alunos. Em um colégio onde os esportes especializados tinham pouco destaque, ele fez com que surgisse muitos talentos individuais e grandes equipes. Atletismo (competições individuais, tais como corridas e saltos) e times de futsal, handbol, voley e basquete ganharam grande destaque, ao ponto de um colégio de periferia conseguir competir e até vencer competições com os grandes da capital: colégios Liceu e Ateneu. Dentre os destaques revelados na época, consta a Silvani, que chegou a ser da Seleção Goiana de Handbol, famosa na época. Mas como o esporte estudantil acaba não tendo continuidade, uma vez que os alunos acabam tendo que trocar de colégio, a fim de entrar em faculdade, aqueles atletas e aquelas equipes tão bem treinados, acabavam-se dispersando, muitos para ingressarem em faculdades. Anizinho resolveu voltar para Iporá e, na sua terra natal, somou esforço para atividades semelhantes junto a outros no Colégio Estadual de Iporá, onde tinha o Grêmio Estudantil. Este estabelecimento também foi expressivo em esportes especializados: futsal, voley, handbol, basquete e competições de pista: corridas e saltos.
Anizinho entre alunos atletas do Colégio Olavo Bilac
Da prática de futebol no Colégio e na recém criada Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) surgiu a união de muitos para a criação do Umuarama Esporte Clube, equipe organizada, inclusive, com patrimônio imobiliário no local onde hoje é Prefeitura, Câmara e Fórum de Iporá. Restou para o time atualmente inativo apenas a área do velho campo de futebol, atualmente usado para escolinhas de iniciação esportiva. Nesses grandes lances da história do nosso futebol, Anizinho sempre esteve presente.
Presença em competições nacionais
Ainda na década de 70, mais precisamente em 1973 e 1974, Anizinho mostrou sua versatilidade no esporte, ao obter a medalha de bronze em salto em distância nos jogos universitários brasileiros. Atleta e desportista de curso de educação física quase concluído pela Esefego, Anizinho levou em conta o esporte em todas as suas modalidades, como essencial para a saúde humana, o qual precisa ser cultivado em competições saudáveis, com atletas se comportando de forma leal perante os adversários. Claro que teve ocasiões em que adversários de Anizinho, ao serem driblados em roda gigante, não tiveram a humildade de reconhecer a habilidade dele, cometendo brutalidade física. Mas Anizinho nunca revidou, pregando sempre a paz no futebol. No Clube Recreativo de Iporá (CRI), palco de muitos campeonatos, muitos jogadores já foram expulsos por não suportar com humildade os dribles de Anizinho e praticarem violência, quando eram ultrapassados com uma roda gigante ou outra finta qualquer.
Anizinho ao saltar 6,80 metros
Hasteamento de bandeira era feito por campeões. Anizinho foi campeão do Centro Oeste Brasileiro
Nos Jogos do Centro Oeste Brasileiro de 1974, na categoria atletismo, competição reunindo estados do centro do Brasil e mais Distrito Federal e Minas Gerais, foi campeão no salto em distância (medalha de ouro). Dois anos depois, em uma competição na praça central de Iporá (atual Praça do Trabalhador), Anizinho venceu importante competição em meio a grandes atletas. Naquela década, em Araçatuba, São Paulo, no Campeonato Brasileiro de Escolas de Educação Física, foi também campeão em salto a distância. Mais recentemente, já como sexagenário, Anizinho voltou a disputar provas de atletismo em categoria master e, juntamente com o amigo Gessé Moreira, em Belo Horizonte, trouxe de lá onze medalhas (9 de ouro e duas de prata), fator que mostra que o atleta iporaense está envelhecendo em plena forma física.
Ainda como jogador de futebol, fez parte em 1974, da Seleção Goiana Universitários. Em Iporá jogou no Umuarama Esporte Clube a partir de 1968 e anos seguintes. Estava no elenco do glorioso time do Umuarama que, em 1986, foi campeão goiano de futebol amador do interior, em uma época que Tocantins também fazia parte do nosso Estado. No ano seguinte novamente esse time iporaense triunfou: bi-campeão, desta vez com conquista sobre o time de Palmeiras de Goiás. Esteve nesse time como parte do elenco de jogadores e como também como diretor. Em outras competições, foi vice-campeão amador por seis vezes (5 vezes pelo Umuarama e 1 pelo Trindade).
De Minas Gerais, já como master, trouxe medalhas de competições de atletismo
Apoiando filhos e uma geração de garotos
Anizinho se destacou como incentivador do futebol. Quando seus filhos, ainda pequenos quiseram jogar futebol, ele deu em Iporá um grande incentivo para o futebol de base. No ano de 1993 time de garotos iporaenses e dentre eles um de seus filhos (Leonardo), foi Campeão da Taça Mané Garrincha, superando os fortes times da capital: Goiás, Vila Nova e Goiânia. Daquela geração de jogadores de que fazia parte seu filho, destacaram-se jogadores como Kiko (goleiro que atuou grandes clubes brasileiros) e Auecione (atacante que jogou no Palmeiras e outros grandes times). Para que se destacasse jogadores daquela geração, atuaram em apoio empresas de Iporá e a Prefeitura Municipal, quando Mac Mahoen Távora Diniz era prefeito e Valdeci Marques, era chefe do Departamento de Esportes da Prefeitura.
Foto 11 – campeão da mané garrincha, Leo
Leonardo, filho de Anizinho, ao receber troféu de campeão Sub-17 em Goiás
O lado religioso de um homem
A vida de Anizinho ganhou destaque fora dos gramados, como religioso e cidadão. No Centro Espírita Ismael, ao lado de outras pessoas, desde a década de 80, fez a entrega de cestas básicas e a realização da sopa fraterna nas manhãs de domingo, de tal forma que exercitou a caridade como meio de valorização do próximo, especialmente dos mais carentes. Esse sempre foi um trabalho feito em família, com a esposa Ercília, a filha Cíntia e o genro Fernando. Estendeu esse trabalho assistencial para centro espírita criado no Conjunto Águas Claras, também conhecido como Casa da Sopa. Por um ano, por volta de 2.004, Anizinho fez funcionar em Iporá também a Casa do Caminho, que foi um albergue localizado no Bairro do Sossego, onde eram acolhidos os sem teto, oferecendo-lhes temporariamente cama para pernoite, alimentação e vestuário. O albergue funcionou por pouco tempo em razão dos altos custos e porque não tinha outros parceiros em colaboração.
São muitos os que depõem a favor deste ilustre iporaense. Um deles é Cleiton Ronan de Mendonça, o Lila, que acompanhou toda sua carreira e conviveu com ele. Afirma Lila: “Anizinho não é somente o bom atleta, é também um ser humano exemplar. Foi bom jogador em todas as posições e até no futebol de salão, com habilidade invejável, muita condição física e velocidade, sendo que o drible foi sempre seu ponto forte”. E completa Lila: “Anizinho não foi um jogador profissional porque não quis, já que teve todas as condições para isso e hoje é um exemplo para Iporá que o vê sempre pedalando, praticando esporte no Lago, enfim, dando o seu bom exemplo, dentro e fora do campo”.
Anizinho, na condição de estudioso da doutrina espírita, transmite conhecimentos a outros. É palestrante e autor de obra espírita. Publicou recentemente o livro: Evolução/; A Nva Era (Fim do Mundo dos Maus ou Final dos Tempos). Esse é o Anizinho, filho de produtor rural e que exerceu também atividades produtivas no campo, atleta de variados esportes, professor, dirigente esportivo, doutrinador espírito e homem do Bem.
Umuarama em 1970
Anizio é o primeiro agachado na foto do Umuarama de 1975
Em 1976 o Umuarama tinha Anizinho como ponta direita
O melhor time amador do Umuarama da história: bi-campeão em 1986 e 1987. Anizinho é o primeiro agachado.
Anizinho como dirigente do futebol feminino de Iporá que chegou contra o Corinthians. Na foto, de branco em pé, Cristiane, craque do futebol brasileiro.
Anizinho em duas fases da vida: jovem, aos 17 anos e, atualmente, aos 71.