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A falsa briga entre Morais e Musk

Texto de Alan Oliveira Machado – Como costumava dizer a professora Anita Resende, do PPGE-UFG, sempre inquieta e desconfiada: “Vivemos tempos bicudos”! Sim, vivemos tempos difíceis e é bom que, como a querida professora, sejamos inquietos e desconfiados também. A incapacidade de desconfiar nos leva a precipitações danosas não apenas nas escolhas pessoais como nos posicionamentos políticos; não apenas no julgamento dos acontecimentos cotidianos como na compreensão dos produtos verbais e não verbais que nos cercam, disponíveis para leitura. Ler é cada vez mais um trabalho que exige atenção e cuidado, inquietação e desconfiança. É preciso abrir a enunciação para saber de que material o enunciado é feito, algo que vem sendo sistematicamente esquecido, de tal forma que enunciados sem enunciação circulam e mobilizam pessoas, como se fossem fatos, como se fossem a verdade.

O cenário de informação mudou completamente com o advento das mídias digitais. Essa é uma certeza que já circula há um bom tempo nos meios de comunicação e nos interstícios das comunidades dedicadas à pesquisa e à educação. A tal inteligência artificial, que não é propriamente artificial e nem inteligência, está aí nos smartphones de crianças e de adultos operando aparentemente a favor dos usuários, mas de fato apenas a serviço de conglomerados que lucram bilhões mensalmente, num vale-tudo jamais visto na história moderna. No cenário de terra sem lei instituído nas redes sociais, valores éticos, compromisso com os fatos, com a justiça, com a razão e o bom senso são sempre desprezados na medida em que atrapalham os likes e a adesão de seguidores. O que resta evidente é que a viralização e a curva ascendente de reconhecimento de certos personagens do mundo virtual se devem principalmente ao desrespeito contumaz praticado por eles a critérios básicos de civilidade.

Esta semana tirei um tempinho para acompanhar as redes, os principais jornais e programas de notícias com o intuito de entender o modo como interpretam a atuação do STF no combate ao descumprimento do ordenamento jurídico brasileiro. A questão em tela é a insolência de Elon Musk, dono da rede social X, antigo Twitter. O empresário norte-americano, que a imprensa insiste em chamar “o bilionário americano” como se fosse importante para a questão a conta bancária de Musk e não a sua condição de empresário, descumpre flagrantemente decisões da maior corte do país, o STF, referentes às ilegalidades praticadas por sua empresa. Mas a leitura que a imprensa faz é unilateral, centra, em uníssono, a discussão numa falsa disputa entre o dono do Twitter e o ministro da Suprema Corte brasileira. Pelo olhar dos meios de comunicação, é como se tudo não passasse de um embate de egos, uma briga de botequim. Dá para perceber isso pelas expressões usadas, à exaustão, para se referir aos dois: “cabo de força”, “queda de braço”, “briga”, “disputa”.

O modo como a imprensa majoritária trata o caso situa irregularmente Musk e Moraes num octógono travando uma luta para ver quem é o melhor, quem é o mais machão e, ao que parece, com torcida organizada para Musk. A questão é abordada com desvio de foco do que é mais importante. Assim, desinforma, a começar pela unilateralidade: realizam um escrutínio do comportamento do juiz, do modo como age, se há legalidade ou não etc. e se silenciam para os crimes cometidos abertamente por Musk, para sua arrogância, seu tom bélico, agressivo e desrespeitoso. Criam um ringue em que quem agride é o ministro do supremo, quando na verdade só há um agressor, Elon Musk. Assim, escondem a verdadeira atuação do STF que, por meio do gabinete do ministro, faz o que toda corte deve fazer com respeito à proteção da constitucionalidade. Infelizmente, o que se tem visto na cobertura dos fatos é a maioria da imprensa repetir o discurso da extrema direita brasileira, que nem disfarça o interesse em desmoralizar o STF, onde estão os inquéritos sobre a tentativa de golpe.

Todo esse imbróglio me leva a crer que o Brasil está sendo submetido a de uma orquestração política da extrema direita para a qual a imprensa faz vistas grossas. Aqueles sujeitos fascistas que comandaram a tentativa de golpe no fatídico 08 de janeiro de 2023 e foram frustrados pela ação das instituições democráticas do País, ainda não receberam punição exemplar e aproveitam para tramar mais uma vez, com o fim de salvar a própria pele do peso da mão da justiça. Essa movimentação de Elon Musk, uma semana antes da manifestação desses fascistas contra a Suprema Corte brasileira, marcada para 7 de setembro, parece uma mexida num tabuleiro de xadrez. Ele promoveu ataques e declarações que desrespeitaram o STF e a Constituição, como se o STF estivesse agindo fora do ordenamento jurídico brasileiro. No entanto, a corte está cumprindo o seu dever constitucional de fazer valer a lei brasileira, desrespeitada repetidamente por Elon Musk. Desse modo, esses ataques parecem coisa de quem não se preocupa com a democracia e a soberania nacional.

A estratégia da extrema direita, para fragilizar a democracia brasileira neste momento, é minar o STF e desmoralizá-lo. É evidente que é porque o supremo impediu o golpe do bolsonarismo e, em seguida, tornou o milico messiânico inelegível. Para o plano do bolsonarismo, que continua golpista e antidemocrático, isolar o ministro Alexandre de Moraes, alçá-lo à condição de justiceiro fora da lei, uma vez que ele é o responsável pelos inquéritos que listam os crimes dos bolsonaristas, é a melhor estratégia. Isso porque esses inquéritos provavelmente levarão os peixes grandes do golpismo à condenação e à prisão. Ao tentar destruir o ministro, com a ajuda do dono do Twitter e certa torcida de parte da imprensa, essa gente grotesca busca desmoralizar a justiça brasileira para se safar dos crimes cometidos e dar continuidade ao seu projeto de poder. Por isso precisa tratar o tempo todo os despachos do ministro como se fossem algo individual e particular, escondendo todos os ritos processuais pelos quais as ações passam no supremo. O mais impressionante de tudo é ver os meios de comunicação, em quase sua totalidade, adotando o discurso da extrema direita e tratando as determinações judiciais do STF, sob responsabilidade de Alexandre de Moraes, como se fossem passos de uma guerra pessoal do ministro contra Elon Musk e a extrema direita e não um cumprimento das exigências constitucionais a que todos estão sujeitos no País.

Alan Oliveira Machado é escritor e professor na UEG Iporá

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