Apesar do título contraditório, esse artigo irá expor como a tecnologia já está presente no campo, como ela agrega positivamente no dia a dia, mas, mais do que isso, como é necessário uma preparação para atingir esse objetivo, como precisamos sair da “tela e colocar a botina na terra.”
O conhecimento que o Brasil está no seleto grupo dos maiores produtores de alimentos do mundo não é novidade. Agora, quero contextualizar algo que tem muito a ver com nossa amada região do Oeste Goiano. Sabemos que dentre os produtos agrícolas, nossa região se destaca e vem experimentando um aumento expressivo das áreas destinadas ao cultivo de cereais. Pois bem, o censo agropecuário do IBGE de 2006 traz dados que afirmam que a tecnologia foi responsável por quase 70% do crescimento da produção de grãos, enquanto em 1996 a tecnologia era responsável por 50% do aumento da produção de grãos, ou seja a tecnologia agrícola sempre foi responsável pelo aumento de produtividade, sendo que em 10 anos esse acréscimo foi de 20% e olha que ainda estamos olhando os dados do longínquo ano de 2006, em tecnologia quando falamos de um período de 16 safras já passadas, parece totalmente desatualizado, imagina como é isso hoje.
Então vamos a atualidade, em 2022 um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) realizado em parceria com Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-USP) mostrou que o Brasil é o país que mais cresceu em produtividade no mundo nas últimas décadas. Esse estudo avaliou a produtividade total dos fatores (PTF) que “é a relação entre o índice de produto total e o índice de insumo” e trouxe o incrível resultado de aumento de quase 400% na produção de grãos entre 1975 a 2020. Isso nos faz concluir que a tecnologia é o caminho para produzirmos mais, gerar mais riquezas para nossa região e, consequentemente, nosso país, porém usando cada vez menos insumos e usando menos área plantada proporcionalmente, isso é o lucro e a preservação andando juntos. Isso é sustentabilidade na veia, é a sustentabilidade em seu estado da arte. Antes de finalizar sobre o contexto do benefício da tecnologia, quero deixar claro que por tecnologia agrícola se entende um amplo contexto de produtos, serviços, inovações, ciências e conhecimentos em toda cadeia do agronegócio, uma máquina agrícola moderna, conectada usa tecnologia de ponta assim como cada semente usa tecnologia de ponta para se tornar um cultivar de alto desempenho, nesse artigo focaremos em tecnologia que tange a Agricultura de Precisão.
Hoje é comum por parte dos produtores agrícolas a busca constante pelas inovações, é fato por exemplo que as práticas e tecnologias da Agricultura de Precisão são necessárias ao produtor, aqui eu pontuo a primeira barreira que temos que enfrentar, aqui começa a botina na terra. Se faz necessário por parte das empresas desse segmento desenvolver e posterior oferecer tais tecnologias aos produtores, porém algo que é pouco falado e se faz necessário trazer luz para esse assunto é a teoria da “Adoção Tecnológica” que resumidamente é o processo que o produtor decide em adotar ou rejeitar certa tecnologia, quero destacar que como operador desse mercado é bem mais fácil o produtor adotar a tecnologia, e especificamente nesse ponto que quero despertar a atenção, para que juntos possamos subir de nível nesse quesito. Da mesma forma que o produtor pode comprar o celular mais moderno do mercado, com recursos tão amplos que até mesmo os especialistas do segmento têm dificuldade em utiliza-los em sua totalidade, e sub utiliza-lo, assim é com a tecnologia agrícola que diariamente é ofertada da porteira a dentro de sua propriedade, só que aqui temos uma diferença importante, em bens de consumo o investimento costuma ser menor e a não utilização da totalidade da tecnologia não acarreta prejuízos significativos, pois esses bens geralmente não estão ligados a sua atividade lucrativa, agora quando estamos falando em bens de capital que por definição são os bens empregados na atividade rentável economicamente, o prejuízo de não utilização são bem maiores. Por isso afirmo, comprar a tecnologia não é a parte mais difícil, o desafio está na sua correta e total adoção, o produtor precisa exigir primeiramente de si mesmo, depois de toda sua equipe que entenda e compreenda toda estrutura necessária para correta aplicação dessa tecnologia, que ele aceite que por muitas vezes será necessário a quebra de paradigmas já estabelecidos nas operações agrícolas, que é extremamente necessário a capacitação e ou recapacitação dos usuários e operadores dessa tecnologia e principalmente sobre tudo, estabelecer em seu negócio a cultura de auto desempenho necessário para que sua fazenda possa ser uma referência na utilização de tecnologias, de modo que todos os envolvidos internos e mesmo as empresas ofertantes farão o possível para entregar produtos cada vez mais específicos e mais rentáveis, consequentemente ofertaram mais capacitação aos usuários e com isso passaram a desenvolver sob demanda soluções que atenda os produtores em suas particularidades, e isso é um sonho que os produtores tem no quesito Agricultura de Precisão. Para não ficar genérico o texto, exemplifico com uma tecnologia que chama a atenção, mais já é muito usual nas lavouras, o piloto automático para as máquinas agrícolas, seja tratores, pulverizadores ou colhedoras. Esse produto já tem mais de uma década que está no campo e traz inúmeras vantagens na sua correta utilização, porém para que ele atinja seu objetivo é necessário o processo continuo de calibração desse piloto automático, todos os fabricantes disponibilizam esse recurso de modo que o próprio operador da máquina possa fazer, porém é muito comum se ver no campo esses equipamentos desajustados e entregando um baixo desempenho e não raro de ser ver, desabilitados. Lembra do exemplo do celular, pois bem isso deixa o produtor insatisfeito e com sensação de prejuízo em seu investimento, não é necessário que um técnico especializado faça essa calibração, o próprio operador consegue perfeitamente e ainda com maior capacidade do que um técnico, visto que ele conhece muito mais de sua máquina agrícola e de sua operação, dessa forma todos ganham, o produtor leva conhecimento para o campo, tem um produto mais eficiente e o fornecedor tem a satisfação de utilização da tecnologia por parte do produtor. Essa é a correta adoção tecnológica, para finalizar deixo uma sugestão que vale ouro para o amigo produtor. Da próxima vez que um profissional visitar sua fazenda, exija dele que ele multiplique o conhecimento que tem com sua equipe, não apenas faça o serviço técnico.
Viu como tem muita botina na terra para abordamos, o sucesso da tecnologia agrícola é garantido, desde que façamos bem-feito o que tem que se fazer. Tem mais assuntos relacionados para falarmos? Como tem, ainda estamos no básico da utilização, da adoção, chegaremos a assuntos atuais e desafiadores que estão em pauta, como o uso do 5G na agricultura, máquinas autônomas, agricultura digital, será que isso funciona? Será que nossa região terá essa tecnologia? Como e quem pode ajudar nesse processo? O setor público tem suas responsabilidades nisso? Será um prazer podermos abordamos esses assuntos aqui, espero você no próximo artigo.