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Capuz Preto

Durante anos nada mudou na pequena cidade chamada Iporá , localizada no interior do Estado de Goiás, com pouco mais de 32 mil habitantes. Todos os dias pela manhã eu me levantava e ia até um barzinho mais afastado do centro, fazer meu lanche matinal.

 

 

Então naquela monótona manhã ensolarada de segunda-feira nada havia mudado tudo parecia respectivamente igual. Após sentar-me em uma das velhas cadeiras de pau, na mesa vagarosamente, havia um jovem com rosto semicoberto por um capuz preto, calça jeans e sapatênis, ele tomava um “café preto” enquanto escrevia sem parar…

 

Durante meses eu o observava ficava imaginando as histórias que ele poderia estar supostamente escrevendo. Mas aquela manhã nada parecia com as outras, caia uma leve garoa do lado de fora que estava nublado e escuro. Chegando ao barzinho tudo parecia igual, passou-se alguns minutos e percebi que o celular dele fez vários ruídos ele olha fixamente o celular por alguns instantes e sai atropelando mesas e cadeiras deixando para trás folhas de papel que a leve brisa do ventilador começou a espalhar.

 

Eu tentei recolhê-las rapidamente e as guardei dentro de uma velha bolsa de couro que eu carrego desde a adolescência, passei a tarde pensando o que poderia conter naquelas escritas, mais me contive e não as li, esperei ansiosamente a próxima manhã. E quando ela finalmente chegou, ele não estava lá, esperei semanas, meses, ele nunca mais apareceu, foi quando finalmente resolvi fazer a leitura matando minha curiosidade.

 

Eram cartas, com as quais eu me surpreendi. Ele escrevia cartas com diversos temas, cartas para Deus, cartas para sua família, cartas contando sua rotina diária, percebi que não tinha muitos amigos, notei também que havia marcas de gotículas de lagrimas em várias delas.

 

Me emocionei várias vezes ao ler uma das últimas cartas, quando quase parei de respirar, meu coração disparou, minhas mãos ficaram trêmulas ao sentir que ele também me observava todo aquele tempo, ele sabia tudo sobre mim, quando eu estava triste, alegre ou angustiada. Ele me admirava deverasmente.

 

Escrevia poesias sobre mim e daquele dia em diante todas as manhãs eu me levantava com esperança de vê-lo novamente. Alguns anos depois e nunca deixei de frequentar aquele lugar. Foi então que em uma manhã chuvosa me levantei e fui para o lugar de costume, me dirigi à antiga mesa manca e me assustei quando um garotinho veio varrendo em minha direção e me entregou um bilhete escrito a mão que dizia apenas “Olhe para trás”, não me contive, olhei, e lá estava ele sentado tomando café de sempre, ele levantou e começou lentamente a se aproximar, nesse momento pude ver seus olhos azuis, seus cabelos longos e sua pele rosada. Ficamos ali parados olhando um para o outro por alguns instantes, foi quando ele me disse o que mais esperava. Ele me amava, mais pensava que nunca tinha percebido sua presença…

 

Desse dia em diante vivemos juntos nesse pequeno paraíso, onde queremos construir, nossa família e contar nossa história para os nossos filhos. E assim nessa pequena cidade do interior com todos os problemas e sua simplicidade, foi possível nascer uma verdadeira história de amor. Até hoje levantamos juntos todas as manhãs e vamos até o barzinho tomar nosso café matinal.

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