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Francisco vive em nossas esperanças!: Professor comenta a morte do Papa

Um Elogio Póstumo: Papa Francisco (Jorge Mario Bergoglio, 1936 – 2025)

O professor da UEG em Iporá, João Paulo Silveira, faz uma refelxão sobre o Papa Francisco, que foi marcante para o catolicismo.

Segue texto do professor:


Faleceu aos 88 anos o argentino Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco (1936 – 2025). Sua morte foi consequência do agravamento dos problemas de saúde que o acompanhavam nos últimos anos. No final de 2024, dificuldades pulmonares levaram a vários episódios de internação. Seu falecimento ocorreu pela manhã do dia 21 de abril, às 7h35, no horário do Vaticano (2h35 da manhã, em Brasília), em decorrência de um AVC e de um colapso cardiovascular, conforme comunicado oficial publicado na página on-line da Santa Sé. A passagem foi sentida por católicos de todo o mundo, mas também por outros indivíduos, religiosos ou não, que viam no Papa uma centelha de esperança em um contexto de incertezas.

Francisco foi o primeiro pontífice latino-americano da história. Esse fato chama atenção, considerando que é justamente nesta parte do planeta que vivem 40% dos quase 1,4 bilhões de católicos ao redor do mundo – são 425 milhões de latinos católicos, aproximadamente. Muito antes de se tornar Papa, Jorge Mario Bergoglio ingressou na Companhia de Jesus, em 1958. O jesuíta argentino, torcedor apaixonado do time San Lorenzo, tornou-se bispo auxiliar de Buenos Aires, sua cidade natal, em 1992. Nove anos depois, durante o pontificado de São João Paulo II (1920 – 2005), foi nomeado cardeal.

Bergoglio foi eleito Papa em um contexto delicado da Igreja Católica. Na ocasião, o então Papa Bento XVI (1927 – 2022), enfrentando controversas e os desafios da idade avançada, optou por renunciar ao cargo, tornando-se Papa Emérito. O argentino ocupou o trono em 13 de março de 2013, tornando-se Papa Francisco. O nome papal escolhido fez referência a São Francisco Xavier, o missionário jesuíta que visitou o Oriente, e especialmente a São Francisco de Assis, o santo medieval conhecido por sua humildade e amor à criação.
Como entendo, as duas referências aos santos expressaram as preocupações do Papa diante dos desafios do terceiro milênio. Os santos são modelos que orientam a caminhada dos fiéis. Seus tesouros éticos e espirituais permanecem vivos na hagiografia e na memória da Igreja, servindo para os Católicos como potente lembrança e exemplo de uma vida inspirada por Deus.

A inspiração em São Francisco Xavier manifestou-se no interesse em fortalecer comunidades católicas fora do continente europeu. Uma Igreja multiétnica, com a participação e o protagonismo de sujeitos da África, Ásia e América Latina, foi fortalecida por meio das viagens apostólicas a diversos países e pelo aumento do número de cardeais de origem não europeia. O desejo de ser sepultado em um túmulo simples na Basílica de Santa Maria Maior, templo visitado antes e depois de suas viagens apostólicas, sinalizou o ideal missionário que o pontífice abraçou durante seu pontificado.

A inspiração em São Francisco de Assis orientou o ideal de santificação por meio do cultivo de uma vida modesta, desapegada e voltada ao amor pela criação divina. Esse ideal foi expresso na encíclica Laudato Si’: Sobre o cuidado da casa comum, publicada em 18 de junho de 2015. Dez anos depois, o documento orienta a Campanha da Fraternidade no Brasil e parte da ética cristã católica ensinada nas paróquias brasileiras, que reconhecem tanto a importância do ensinamento papal quanto o exemplo de vida do santo que o inspirou.

Ainda sob a influência do santo italiano, a preocupação com os vulneráveis foi o traço mais marcante do pontificado de Francisco. O trabalho pastoral do Papa refletia uma visão de cristianismo generosamente social e prática. Ele via a Igreja como uma instituição aberta ao diálogo e comprometida com a defesa dos direitos sociais fundamentais de todos os povos. Alheio a certa formalidade do cargo, Francisco conduziu seu magistério como um pároco próximo das pessoas – e o mundo todo foi a sua paróquia!
Foi por isso que Francisco se posicionou ao lado dos imigrantes e de todos os grupos mais fragilizados em contextos de guerra, como os moradores de Gaza, da Ucrânia e do Sudão, que são esmagados fisicamente e destruídos mentalmente pelo ciclo do ódio que parece nunca acabar. Essa disposição o acompanhou corajosamente até sua última aparição pública, durante a celebração da Páscoa, no dia anterior à sua morte. Destaco um trecho da tradicional mensagem Urbi et Orbi (“À cidade de Roma e ao mundo”), lida pelo monsenhor Diego Ravelli, mestre de cerimônias pontifícias, e reproduzida nos jornais de todo o mundo, além de diversos sites de dioceses brasileiras:

Neste dia, gostaria que voltássemos a ter esperança e confiança nos outros […] a ter esperança de que a paz é possível! […] Que o princípio da humanidade nunca deixe de ser o eixo do nosso agir quotidiano. Perante a crueldade dos conflitos que atingem civis indefesos, atacam escolas e hospitais e agentes humanitários, não podemos esquecer que não são atingidos alvos, mas pessoas com alma e dignidade.
Mesmo com todas as dificuldades de suas últimas horas de vida, Francisco manteve-se esperançoso, como é o espírito da Páscoa. Reafirmou a importância da solidariedade e renovou sua recomendação para que nos preocupemos com o próximo, independentemente de quem seja: “não podemos esquecer que não são atingidos alvos, mas pessoas com alma e dignidade”. A guerra, essa máquina terrível idealizada por homens poderosos, feita de aço, sangue e algoritmos, não intimidou um senhor idoso, cheio de esperança, que celebrava a Ressurreição de Jesus.

Sua partida não apaga seu exemplo, mesmo para sujeitos sem identidade religiosa. Pelo contrário, cultivar a esperança em tempos difíceis como os nossos, marcados pelo individualismo competitivo, pela indiferença às necessidades mais básicas dos outros, pela agressividade e pelo risco de colapso ambiental, é o milagre ecumênico que Francisco nos ensinou a viver e a praticar juntos, em comunidade. Uma esperança prática, um milagre que nos move em direção a uma vida melhor para a maioria.

Francisco vive em nossas esperanças!

João Paulo de Paula Silveira
Graduado e Mestre em História pela UFG, Doutor em Sociologia pela UFG. Docente do Curso de História da UEG, Unidade de Iporá, e do Programa de Pós-Graduação em História da UEG, Campus Sul, Unidade Morrinhos. Pesquisador das religiões no mundo contemporâneo, com trabalhos publicados sobre novas religiões, espiritualidades e interfaces entre religião e meio ambiente. Coordenador da Associação Brasileira para Pesquisa e História das Religiões (ABHR), Regional Centro-Oeste, e co-coordenador do Laboratório de Pesquisa em Religiões e Modernidades (LAPREM) da UEG.

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