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HISTÓRIA: Joaquim e Elpídio Paes merecem ser reconhecidos

David Álvaro: Exigindo reconhecimento para Quinca Paes e seu filho Elpídio

Dois homens foram responsáveis pelo surgimento de Iporá: Joaquim Paes de Toledo e Elpídio Paes de Toledo. Não poderia deixar de mencionar também José Paes de Toledo, que teve grande importância para a região.

A história dos irmãos e do filho começa com José Paes, que residia na cidade de Cuiabá, capital do Mato Grosso. Ele era adepto do partido monarquista, apoiando o imperador do Brasil, D. Pedro II.

Com o golpe militar de 1889, liderado pelos marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, que depôs o imperador e proclamou a República, a família imperial foi expulsa do Brasil, tendo dois dias para deixar o país.

José Paes, por ser monarquista, fugiu de Cuiabá para o estado de Goiás, em 1900, fixando-se no Distrito de Rio Claro, onde adquiriu diversas propriedades rurais. Sendo político, aliou-se aos grandes nomes da política goiana: Caiado, Bulhões e Jardim. Algum tempo depois, trouxe de Campo Grande seu irmão mais novo, Joaquim Paes de Toledo, que veio acompanhado da esposa, Lordina, e de seus quatro filhos. Também se estabeleceram no Distrito de Rio Claro.

Com o falecimento de sua esposa, Joaquim casou-se com Joana Bueno, viúva rica, com quem teve o filho Elpídio Paes de Toledo. José Paes faleceu em 1920, sem deixar herdeiros diretos, e Joaquim — conhecido como Quinca Paes — herdou suas terras. Com essa herança, tornou-se o principal proprietário da região, abrangendo desde a bacia do Ribeirão Santo Antônio até o Rio Claro Caiapó. Tornou-se, assim, uma figura de grande influência local, exercendo os cargos de juiz de paz e líder político.

Não encontrei informações sobre o destino de Joana Bueno. Em 1926, Joaquim casou-se pela terceira vez, com Brasilina Paes de Vasconcelos, conhecida como Dona Brasula. Embora o casal não tenha tido filhos, a família cresceu com os enteados, entre eles Maria — Mariinha — que se casou com Elpídio Paes. Este casamento não gerou descendência.

A população brasileira estava insatisfeita com o governo do presidente Washington Luís, que foi deposto por Getúlio Vargas, líder da Revolução de 1930, apoiado pelos presidentes (na época, governadores) da Paraíba, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Goiás aderiu ao movimento sob a liderança de Pedro Ludovico Teixeira. Os coronéis Joaquim Paes de Toledo e Odorico Caetano Teles, figuras proeminentes no Distrito de Rio Claro, eram aliados da família Caiado, então dominante em Goiás. Com a vitória da Revolução em 24 de outubro de 1930, os senadores Caiado e seus parentes fugiram da cidade de Goiás. Os coronéis do Distrito perderam influência, especialmente por seu alinhamento com o grupo Caiadista. Suas terras, até então consideradas propriedade particular, foram reconhecidas como pertencentes ao Estado, exceto aquelas com escritura pública.

Temendo perder o restante de suas terras, Joaquim Paes decidiu, em 1936, fundar uma cidade em uma área estratégica de sua fazenda. O objetivo era valorizá-las com a chegada de novos agricultores e pecuaristas. Suas terras, até então subutilizadas, tornaram-se valiosas por sua localização privilegiada, matas férteis e pastagens naturais.

Joaquim incumbiu Osório Raimundo de Lima, conhecido como Mestre Osório, de encontrar o local ideal para a cidade. Após muitas visitas a diferentes áreas, a comissão liderada por Osório escolheu o local onde hoje se ergue a cidade de Iporá. Como era necessário formalizar a doação do terreno, Joaquim Paes de Toledo e sua esposa Brasilina, a pedido de seu filho Elpídio, doaram ao Distrito de Rio Claro 100 alqueires da fazenda Tamanduá, na localidade de Itajubá.

O subprefeito Francisco Sales Nogueira, representando o Distrito, e o Coletor Estadual João Batista Serra Dourada apresentaram em cartório, junto aos doadores, o talão nº 27.402 — da Diretoria Geral da Fazenda do Estado de Goiás — comprovando o pagamento do imposto de transmissão. A escritura pública foi lavrada em 22 de maio de 1938, pelo titular do Cartório de Registro Civil, Osório Raimundo de Lima, tendo como testemunhas Jorge Nogueira e Domingos Silva. O registro foi efetuado ainda no Distrito de Rio Claro.

Infelizmente, nesse mesmo ano, Joaquim Paes foi gravemente ferido por uma vaca brava enquanto trabalhava no curral. Foi transportado em um carro de boi até Goiânia, mas faleceu antes de chegar, na cidade de Paraúna, onde foi sepultado.

Com a transferência da sede do Distrito de Rio Claro (Comércio Velho) para Itajubá, iniciou-se uma nova e fascinante etapa na história regional. Em 1948, ocorreu a primeira eleição municipal de Iporá, e Israel Amorim foi eleito prefeito, iniciando seu mandato em 16 de março de 1949. Um de seus primeiros atos foi contratar o agrimensor Benedito Virgílio Benfica e seu filho, homônimo, para desenvolver o projeto urbano da cidade.

No memorial descritivo, o agrimensor utilizou apenas 10% da área doada (10 alqueires) para elaborar o plano urbanístico. Foram previstos 1.225 lotes, distribuídos em 121 quadras, com ruas de 20 metros de largura, 12 avenidas de 25 metros e quatro praças de tamanhos variados. Ele concluiu seu trabalho em 8 de novembro de 1949, registrando o número de sua carteira profissional (358) e assinando o projeto, aprovado pelo prefeito Israel Amorim. O documento está arquivado no Cartório do Primeiro Ofício de Iporá.

Como escreveu o professor Moizéis em seu livro Uma Viagem no Tempo de Pilões a Iporá, na página 91: “O projeto previa ruas e avenidas largas e muitas praças destinadas a jardins e áreas de lazer” (aliás, que não existem mais, pois foram loteadas para fins eleitoreiros, e as que restaram estão ocupadas por edifícios públicos).

Esse planejamento urbano é uma das razões pelas quais Iporá impressiona hoje com sua beleza, conforto e mobilidade. É uma das poucas cidades brasileiras que tiveram sua fundação planejada.

Iporá possui ruas com os nomes de José Paes de Toledo, Joaquim Paes de Toledo e uma praça que levava o nome de Elpídio Paes de Toledo. Parabenizo o erário pela justa homenagem, mas reforço: isso é pouco diante da contribuição desses homens. O professor Moizéis também ressalta, na página 142 de sua obra: “… por outro lado, da noite para o dia, pessoas sem notoriedade e méritos cívicos passaram a ter os seus nomes estampados nas fachadas de edifícios e logradouros públicos…”

A crítica não visa desmerecer os homenageados, mas destacar a desproporcionalidade em relação à importância dos Paes de Toledo. A praça, inclusive, foi descaracterizada e passou a se chamar Praça do Trabalhador, com várias construções em seu espaço original.

É dever dos gestores municipais valorizarem a memória desses pioneiros. Além de restituir seus nomes aos logradouros, o município deveria construir, no cemitério local, um túmulo em homenagem a Joaquim e Elpídio Paes de Toledo. Recomendo que a Secretaria Municipal de Saúde contrate uma funerária para exumar os restos mortais de Joaquim, sepultado em Paraúna, e trasladá-los para Iporá. O mesmo deve ser feito com os restos mortais de Elpídio, ou, caso não sejam localizados, realizar um sepultamento simbólico com placas de bronze contendo seus nomes, dados da doação, número da escritura e um agradecimento pela fundação da cidade. Os custos desse reconhecimento são ínfimos diante do legado deixado.

Acredito que a maioria dos alunos das escolas públicas e particulares, assim como os universitários, desconhece essa história. Portanto, é fundamental divulgar amplamente qualquer homenagem, através das rádios e jornais locais.

Residi em Iporá por alguns anos. Conheci parte da história dos irmãos Paes de Toledo por meio da minha família. Anos depois, decidi escrever este texto como forma de reconhecimento. Após pesquisar, constatei que eles foram injustiçados e não tiveram o devido destaque pela contribuição ao município de Iporá.

Como iporaense de coração, senti o dever de prestar essa pequena homenagem In Memoriam aos Paes de Toledo, destacando sua trajetória de luta e conquistas. Não conheço seus descendentes, mas tenho certeza de que são pessoas dignas e honradas.

Goiânia – GO, 08 de janeiro de 2025

David Álvaro Medeiros dos Santos, de família pioneira em Iporá, é filho de Elpídio de Souza Santos e Guiomar Medeiros dos Santos. Chegou com a família em Iporá no ano de 1944. Seu pai foi em Iporá vereador e presidente da Câmara, além de conselheiro e aliado do grande líder Israel Amorim, o personagem principal da História da cidade. David é divorciado. Tem 5 filhos, 11 netos e 6 bisnetos. Pertence à Igreja Presbiteriana do Brasil. Atuou como contador de 1969 a 2020. Atualmente, reside em Goiânia.

FONTES PARA PESQUISA
• Memórias, de Pedro Ludovico Teixeira
• Uma Viagem no Tempo de Pilões a Iporá, de Moizéis Alexandre Gomis
• A Formação da Sociedade Iporaense, de Valdeci Marques
• Textos e resumos de minha autoria – David Álvaro Medeiros dos Santos

COLABORADORES
• Gabriel Elias Baldessini Medeiros de Oliveira Santos
• Davi Álvaro Medeiros dos Santos Júnior
• Douglas Alexandre de Oliveira Santos

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