Este presente artigo, bem como os demais que aqui honrosamente publicamos, não visa exaurir ou criar uma História Geral de Iporá, onde se escreva, análise e exponha toda história regional. Nosso intuito é chamar a atenção, e demonstrar a riqueza da história regional, a qual nós iporaenses, não precisamos invejar nenhuma outra região goiana, pois somos de Iporá, uma terra intrinsecamente ligada à história colonial de Goiás.
Não existe nenhum Estado brasileiro que não tenha tido alguma influência indígena ou mesmo herdado nome das populações americanas nativas que habitavam o território brasileiro muito antes do início da colonização portuguesa. O Estado de Goiás, bem como a cidade de Iporá tem seus nomes derivados em homenagem e/ou referência aos povos indígenas que habitavam a região central do Brasil.
A região do oeste goiano, no período do advento do início da colonização portuguesa, era habitado pelos povos Kayapó. No Brasil existiam dois grandes grupos linguísticos: os Tupi-guarani (no litoral e sul) e os Macro-Jê (no Planalto Central). Os kayapó pertenciam ao tronco linguístico Macro-Jê.
Durante muito tempo os povos indígenas que viviam no interior do território brasileiro foram chamados de Tapuias (estrangeiro / bárbaro), nome ofensivo e pejorativo que os povos Tupi do litoral davam aos que não falavam a língua Tupi-guarani. Os portugueses e missionários católicos por terem tido contatos e alianças já nos primórdios da colonização, também adotaram esta classificação pejorativa sobre os povos indígenas do interior do Brasil.
Apesar da historiografia brasileira privilegiar a história e cultura dos povos indígenas do litoral, o contato e os relatos com povos Kayapó é descrito desde o século XVII. Originalmente, os povos Kayapó ocupavam territórios que iam desde o Noroeste do Estado do Paraná, passando por São Paulo, Triângulo Mineiro, nordeste do Mato Grosso do Sul, sudoeste e oeste de Goiás até às margens do Rio Araguaia.
Conhecidos pelos relatos coloniais como ferozes, guerreiros e implacáveis; fama adquirida por não fazerem prisioneiros ou pouparem crianças e mulheres de seus ataques. Porém, este fato se explica pelo estudo da cultura Kayapó; estes povos indígenas eram inimigos de todos os demais grupos indígenas do território goiano, bem como dos grupos indígenas do litoral brasileiro.
Os kayapó consideram todos os outros grupos humanos (brancos europeus ou ameríndios) como não-kayapo, ou seja, para os kayapó não tinha sentido fazer prisioneiros ou escravizar derrotados em guerras, pois, em sua comunidade todos tinham direitos e compartilhavam de deveres, desde que fossem de cultura kayapó.
Foram muitos os confrontos bélicos entre povos kayapó e colonizadores. Desde os tempos do Distrito Diamantino do Rio Claro e Pilões são inúmeras as cartas entre os administradores da Capitania de Goyaz para com a Coroa portuguesa, hora relatando ataques dos indígenas aos aglomeramentos coloniais e mineradores/garimpeiros, hora requisitando autorização para se fazer guerra contra os grupos kayapó da região oeste e sul do Rio Claro.
A administração pública tentou pacificar os conflitos criando em 1780 o Aldeamentos Maria I, uma mistura de Colégio Internato com Fazenda Escola típica da política administrativa portuguesa do Marquês de Pombal, esses aldeamentos eram administrados por padres missionários católicos. O local escolhido foi deixado a cargo dos próprios kayapó, que por sua vez, escolheram um local próximo ao Distrito Diamantino do Rio Claro, mais especificamente às margens do Rio que os próprios kayapó denominação Fartura, um afluente do Rio Pilões, na região próxima à terra natal daqueles grupos kayapó: as bacias do Rio Claro e Caiapó.
A política de aculturação cristã católica empregada pelos aldeamentos, era muitas vezes violenta e punia com castigos físicos os aldeados kayapó. A função desses aldeamentos era transformar os grupos indígenas em súditos cristãos do rei português, e ensiná-los trabalhos domésticos para as mulheres e trabalhos na agropecuária para os homens.
Com o desenrolar do tempo, o projeto de aculturação indígena se mostrou falho ao não respeitar a visão kayapó de mundo, tentou-se misturar os vários grupos indígenas (kayapó, Xavante, Bororó, Goya, etc) o que resultava em vários conflitos internos dos aldeamentos. Em 1830, o aldeamento Maria I já não existia. Mesmo durante o período de existência do aldeamento, ocorreram inúmeros confrontos entre kayapó e colonos. As fugas de indígenas do aldeamento para as matas e cerrados também eram constantes.
Com o avanço da colonização, já nos tempos do Brasil Império, os grupos kayapó forçados pela fronteira agropecuária goiana, empreendiam vários ataques aos fazendeiros e comboios de tropeiros. Porém, os contracheques dos colonos goianos também eram implacáveis e muitas vezes noticiados nos jornais com títulos: desinfestação de índios.
Já próximo à virada do século XIX para o XX, o território goiano enfrentava inúmeros surtos de varíola, o que contribuiu para que os grupos kayapó restantes buscassem refúgios mais isolados da colonização da agropecuária. Os últimos índios kayapó de Goiás foram relatados e fotografados na cidade de Rio Verde em 1894, o grupo foi intitulado genericamente como Bororo, algo comum para uma sociedade que desvalorizava a cultura e diversidade indígena goiana.
Apesar da cidade de Iporá ter nome de origem indígena, esta origem vem da língua Tupi (povos do litoral que não habitavam a região) e não da língua Jê (povos do Planalto Central), algo que analisamos como o estudo e valorização da cultura indígena (Tupi-guarani) a partir da visão dos valores e conhecimentos litorâneos.