Quando se pergunta qual o ponto mais positivo de Iporá, a resposta mais frequente que ouvimos é: “cidade tranquila para se viver”. De fato, certamente é o ponto mais positivo. Mais Iporá é muito mais do que isso! E quem nasceu aqui, na década de 60, e de onde nunca saiu, sabe falar bem sobre a cidade e falar de um jeito, que vai além da razão, transcendendo a esse sentimentalismo que dá um colorido que pode até distorcer o real, mas que pra mim é verdade subjetiva!
Este amor a terra natal nos lembra Coelho Neto: “Ama a terra, em que nasceste e à qual reverterás na morte. O que por ela fizeres por ti mesmo farás, que és terra, e a tua memória viverá na gratidão dos que te sucederem”. Bela frase de quem foi o mais atencioso ao amor ao torrão natal! Iporá nos dá motivos para amá-la. Temos uma história que mostra vultos e fatos que nos enchem de admiração. Quem estuda essa história percebe, em meio a fragilidade e pecado humano, algo também de divino!
Somos uma terra nova. Ainda dá tempo de ouvir de avós o que era esses vales do Rio Claro e do Rio Caiapó, com índios, matas, cerrados e um solo fértil, acolhedor, de onde brotaria a maior cidade da região. Muitos avós estão por aí. Eles ainda contam, de viva voz, a epopeia dos que chegaram de vários lugares: do nordeste e de Minas Gerais, basicamente. Com nordestinos e mineiros, muitos mineiros, na verdade, formou-se essa sociedade, dos que vieram sonhando plantar, criar animais e filhos.
Foi um cartório que teve que mudar de lugar e, ao redor dele, uma aglomeração humana. Isso fez toda diferença. Osório Raimundo de Lima puxou uma fila. E a vinda de homens como Israel Amorim e Elias Araújo Rocha sacudiram o sertão. Cada qual querendo ser mais eficiente em favor da localidade. Depois da fama do garimpo, a fama também de terra boa para plantar, de cultura onde o capim jaraguá era adequado para o gado. E as terras eram vendidas, em áreas pequenas, mas para muitos, com grande divisão das áreas.
De repente ficara para traz o coronelismo de Quincas Paes e Odorico Caetano Teles, os dois grandes fazendeiros de tempos atrás, e era hora da terra ter uma nova cara, com Distrito e depois cidade, uma organização política e administrativa. Desfilaram homens pela História, com o mando em nome da vontade do povo: Israel Amorim, Antônio Mendes, Manoel Antônio, Ariston Gomes, João de Paula Tavares, Joaquim Barros, Pedro Gonçalves Filho, Édio Barbosa, Ézio Gomes, Manoel Miranda, José Antônio da Silva Sobrinho, Sebastião Pereira Coutinho, Mac Mahoen Távora Diniz, Iron Alves Guimarães, Valdion Januário Marques, Danilo Gleic Alves dos Santos e, atualmente, Naçoitan Leite.
Claro! A cidade tem problemas. Mas essa cidade tem uma vocação aquariana, de terra que se localiza praticamente quase que no divisor de águas norte-sul do centro oeste brasileiro, e por isso, parece haver uma mística em favor do que vai além da matéria. Parece haver uma espiritualidade, intelectualidade e uma propensão, um apelo à cultura e à arte, da forma como em outra lugar não se vê. Chegamos ao terceiro milênio com três unidades de ensino superior (UEG, FAI e IF Goiano) e cidade com alma muito viva, vibrante e em apelo para as artes, tal como também não se vê tão facilmente em outra localidade.
Esse nosso povo já colonizou a terra, desde então, com o embalo da catira e da cantoria. Os Pedrucas, tantos outros, mostram uma vibração artística. Lázaro Faleiro, Cairo Castro, Edival Lourenço, Pio Vargas, Noildo Miguel, Carlos William, Moizeis Alexandre Gomis e tantos outros, são só exemplos do que está ou esteve imerso na nossa massa humana, como expressão de arte e de intelectualidade… Em outros segmentos da arte, em todos eles, temos nossos representantes. Deixo de citar muitos nomes. Mas o bom é ter em conta que essa cidade tem muita sensibilidade!
Outro dia, fazendo minha caminhada pela pista do Lago Pôr-do-Sol, estive a meditar sobre Antônio Serafim Neto, ou o Sabiá, como outros o chamam. Ele é um dos que fazem a limpeza no Lago. É funcionário da Prefeitura. Sabiá é um homem simples, muito simples. Mas se você parar para conversar com o Sabiá, você percebe nele visão e sensibilidade. Ele já me mostrou seus escritos. Tem um relato sobre a vinda das famílias que colonizam a região. Tem versos que ele escreveu. Sabiá guarda um relato sobre a patriarca Dona Nina. Ou seja, embora na sua simplicidade, é homem de sensibilidade, um artista! Iporaense tem muito disso. Uma abertura para a arte como não se vê em pessoas de muitas outras localidades.
Iporá é terra boa pra se viver! Vale a pena ficar po aqui. Os nossos problemas não são nossos! Os problemas daqui são os problemas brasileiros, tem a ver com algo maior do que nós. Oxalá, o Brasil ache o seu caminho de desenvolvimento e Iporá será melhor ainda, com mais qualidade de vida, com mais versos e mais música, e sem faltar teatro, artes plásticas e sem faltar nada que diz respeito a inspiração e a consumação da habilidade criadora do homem. Parabéns, minha terra!!! Parabéns, Iporá!!!