Não tenho sido de usar o Oeste Goiano para dar muitas opiniões. Agora, quero usar. Grita em mim o desejo de falar sobre o senhor José Antônio da Silva Sobrinho, um amigo, um companheiro, quase um pai! Tive o privilégio de me relacionar com ele bem de perto. Transborda em mim uma admiração que fica, pois seu exemplo permanecerá. Neste instante de pós-morte o sentimento é de luto. Quisera eu que pudesse contar com a amizade e a companhia do senhor José Antônio por mais anos. Seria a oportunidade para alegria e aprendizado. Conviver com ele significava isso: alegria de amizade sincera, troca de experiências e aprendizado.
Quando eu era menino, via José Antônio de longe. Já percebia que era um homem sério, diferenciado. Conheci José Antônio de perto a partir da década de 80, quando eu era jovem, cheio de planos e vontade de achar um espaço na sociedade. A despeito do tipo aparentemente carrancudo e do bigode que usava na época, o contato, pelo contrário do que muitos imaginavam, era muito agradável. Um homem atencioso, prático e que sempre deu objetividade às conversas e aos encaminhamentos. Nunca o vi falar palavrão, nem obscenidades. O conteúdo da prosa era sempre interessante, com bom nível. Depois de mais intimidade, em alguns momentos, podia vê-lo bem humorado.
José Antônio foi muito reconhecido pela sua honestidade na vida particular e na vida pública. Isso é inconteste. Nem precisamos falar de disso. Prefiro falar de uma outra qualidade dele que as pessoas nem sabem bem. Embora sem ter a formação acadêmica, era um homem muito bem informado e culto. Filosofia, religião, política e outros assuntos brotavam na conversa mais demorada com ele. E nessa o interlocutor só fazia aprender. Eu acredito que cresci no plano intelectual convivendo com pessoas de bom nível cultural. Dentre estes, José Antônio da Silva Sobrinho. Do dia-a-dia da vida tinha muita experiência. Principalmente, nesses últimos anos.
Ultimamente, me parecia mais tolerante com as pessoas. Me reclamou de assessores que no último mandato não correspondiam no desempenho da função. Mas foi tolerante (até demais, talvez). Na carreira política pecou muito por não gostar de divulgar o que fazia. Parecia que queria que as pessoas enxergassem por si mesmas as suas realizações. Sabemos que isso não acontece. Me orgulho de ter sido seu confidente, em muitas ocasiões. Assim que assumiu a Prefeitura, no segundo mandato, ainda nos primeiros 30 dias, como ele estava muito ocupado com o trabalho administrativo, fiquei sem falar com ele, ir procura-lo, afinal estava muito ocupado. Mas logo me chegou um recado dele, vindo pela Nivercília (amiga em comum) de que ele reclamava que eu estava sumido e de que era para mantermos o contato. Apareci pra ele. Continuei em sintonia. Ele dizia que era para ficarmos sempre nos falando, que precisa me ouvir sempre.
Embora sem ter a experiência dele, quis ouvir minhas informações e sugestões. Acabaram tendo peso em decisões dele. Algumas ele não aceitava. Por exemplo, dizia a ele que o candidato a prefeito em 2012 tinha que ser o Lindomar Lopes, seu vice. Não aceitava. Achava que tinha que ser um do partido. O Lindomar era do PSD. Dizia que o PMDB não aceitaria. Sempre tive contato agradável com ele: na década de 80, quando foi deputado estadual, quando abriu a Produtiva, etc…
Sempre foi o homem sincero. Uma virtude dele (que considero grande) era a forma exata de comunicar. Não era de elogios efusivos. Nem mesmo de elogios menores. Era mais fácil chamar a atenção do que elogiar. “Tapinha nas costas”, na forma convencional dos políticos, isso nem pensar. Era sério, mas sincero. Para quem gosta assim, tinha o amigo verdadeiro. A carreira política dele perdeu com isso. Não sabia fazer o jogo fácil de palavras, prometer aquilo que sabia que não ia poder cumprir. Nós sabemos que na política, diante da grande massa desinformada, às vezes, é quem engana mais é que sai bem. José Antônio era diferente.
Cito três fatos dele que mostram o seu diferencial de conduta política. Em 1994, quando era deputado estadual, dentro de um processo de eleição na Assembleia Legislativa para se escolher o presidente, foi feita a ele uma proposta de negociata, pela qual, se aceita, ele se tornaria presidente da Casa. José Antônio não aceitou. O Agenor Rezende topou. Depois, governador e vice tiveram que se desincompatibilizar e o Agenor assumiu o governo. Se o José Antônio aceita a negociata… (Você entendeu, né? Ia virar governador, tal como outro). Pouca gente sabe disso. Ele não aceitava coisa escusa.
Cito outro exemplo. Na campanha de 2008 a diretoria da ACCI quis reunir com ele para entregar reivindicações a serem incluídas no plano de governo. Ao subscrever no ofício como documento recebido, ele ressaltou: “Estou dando ciente como documento recebido, não como compromisso de que irei executar o que aqui está, pois não estou fazendo isso com ninguém, acato as reivindicações, mas não prometo executá-las”. Era assim. Duro. Direto. Se quisesse votar tinha que ser do jeito como deve ser. Não ia prometer aquilo que ele não sabia que ia ser possível.
Mais um fato interessante: no primeiro semestre de 2012, permitiu que seu vice-prefeito Lindomar Lopes assumisse por 20 dias a Prefeitura e com direito de assinar documento, com posse documentada. Isso é raro. Alguém vê por aí prefeito da nossa região permitir ao vice que administre por uns dias??? José Antônio, em pleno gozo de saúde, permitiu isso ao Lindomar. Deu posse ao vice e foi visitar os parentes em Minas Gerais. É fato raro! Quero só ver se algum prefeito aqui da região vai fazer isso.
Revelo que no mandato entre 2009 e 2012 José Antônio acabou ficando frustrado com muita coisa que ele anotou no Plano de Governo e acabou não sendo possível de ser realizada. Os tempos eram outros. Ao contrário da década de 80, tempo de muitas obras, a Prefeitura de Iporá passava por limitação de recursos, como está até hoje. Percebe-se que com recursos da Prefeitura, até no mandato atual, pouco é feito. É preciso de recursos federais e estaduais. Tem mais: nesse seu segundo mandato ele tinha apoio do governador.
Foi grande político, grande ser humano. Foi um pai de família exemplar. Seus filhos (Júnior, Claudia e Aurélio) são figuras maravilhosas. A Claudia, inclusive, minha madrinha de casamento. Leandro, o padrinho de saudosa memória, meu companheiro de, em 1994, criar comigo o jornal Oeste Goiano. São tantas razões para apreciar a família e especialmente o senhor José Antônio. Eu o admirei. Aliás, sempre admiro, afinal, sua lembrança sempre ficará.
COMENTÁRIO DE RUTE CABRAL
Valdeci, parabéns pelo texto, que não é simplesmente um texto de alguém que quer bajular, mas é o sentimento verdadeiro, de um amigo, um admirador, um filho como ele nos costumava chamar. Senhor José Antonio, carinhosamente Seu Zé, era um homem de sentimentos nobres, simples, cujo prato preferido era arroz doce. Ninguém que se aproximava dele saia sem palavras sábias e inteligentes. Sou imensamente grata a ele. Confiou em mim, gostava de mim e me chamava de filha. Saudades… Saudades….
Com carinho…