Tenho observado, através deste veículo de comunicação, uma reclamação constante da população em relação aos buracos nas ruas da cidade de Iporá, devido os transtornos e prejuízos. Tal fato leva os gestores públicos a investir em recapeamento e operação tapa buraco, resolvendo o problema até a chegada da próxima chuva, dando-nos a impressão de descaso do poder público. O que não é verdade, pois o problema está na forma de ocupação do solo urbano da cidade.
A ciência nos explica que tais buracos são chamados de erosão sendo criados por consequência do processo de impermeabilização do solo, que nada mais é do que a construção de casas e ruas impedindo a infiltração da água no solo. Ora, se há só cimento nos quintais das casas toda a água da chuva irá para a rua, percorrendo por essa até um local em que consiga infiltrar.
Aí que se encontra o problema, pois à medida que a água desce pelas ruas há um ganho de velocidade, gerando uma energia cinética que é capaz de arrastar tudo que se encontra pela frente. Essa verdade pode ser comprovada quando lembramos que a nossa energia elétrica é produzida pelo represamento da água, que ao ser liberada em comportas consegue girar uma turbina, produzindo uma energia cinética que é transformada por um gerador em energia elétrica.
Em Iporá, a ausência das galerias pluviais (chamadas de boca de lobo) que fazem a captação da água da chuva permite que ela percorra grandes distâncias e ganhe velocidade. Isto faz com que, por exemplo, parte da água que escorre pela Avenida Rio Grande do Norte vai parar em frente a rotatória do CRI, o mesmo ocorrendo com a água da Avenida Rio Claro que cai na Avenida Bruxelas adentrando o Bairro Brisas da Mata e na Avenida Pará em frente à Rua Joaquim Pedro. Em todos estes locais encontramos muitos buracos que são causados pelo impacto da força da água.
Nos casos citados acima a solução foi sempre a mesma, nos lugares mais rasos tampar com terra e colocar piche por cima e nos mais profundos colocar pedra e terra e asfaltar. Este método é falho porque se resolve a questão da erosão em si, mas não se faz a disciplina da água, que é a retirada de toda a água que possa voltar a cair naquela erosão. Como dizia o poeta, “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Consertamos o buraco, mas deixamos a água mole continuar batendo até furar novamente.
Porém, resolver este dilema dos buracos não é algo barato e muito menos rápido, pois envolve a revisão de toda a drenagem urbana, que inclui o mapeamento digital da cidade e a realização de cálculos hidrológicos e hidráulicos para fazer o levantamento dos pontos críticos. Depois de todo este estudo – e vários outros que são necessários – é possível se propor uma solução. De maneira prática, se para construir uma casa de grande porte leva-se 3 meses para a realização do projeto de arquitetura e engenharia e de 8 a 12 meses para sua construção, imagine quanto tempo não duraria um projeto que envolve toda cidade.
Este fato coloca os gestores públicos em uma situação complicada, pois a arrecadação da cidade não permite um investimento desse porte, e os governos estadual e federal não tem interesse em investir nisto por terem outras demandas mais urgentes como a educação e saúde. Assim, só podemos percorrer dois caminhos: 1 – todo ano arrancar o asfalto e fazer outro; 2 – criar um Plano Diretor que coloque no papel todas as demandas e necessidade de Iporá para os próximos 10 anos. Eu prefiro a segunda, pois ela funciona como as contas de uma família ou empresa; receita, despesa, metas e objetivos para os próximos anos.
Por fim, percebo que a reclamação sobre os buracos é válida. No entanto, seria mais produtivo deixarmos de procurar os culpados pela situação e buscarmos uma solução efetiva e eficiente com os gestores. Isso requer uma participação ativa nas discussões e uma disponibilização cidadã em cumprir o que foi acordado. Fazendo isto consolidaremos uma democracia em Iporá. Só fica uma pergunta: Estamos preparados?