A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO NA UEG DE IPORÁ
A universidade estadual de goiás, unidade de Iporá, conta com um quadro de pesquisadores, doutores e mestres, que anualmente produz pesquisa e cultura. Boa parte das ações e produtos das atividades docentes vira livros ou eventos. O Oeste Goiano abre esta página para a divulgação de parte dos produtos intelectuais mais recentes para que a comunidade iporaense tenha acesso. Ocasionalmente, teremos a resenha de um livro produzido por docentes da UEG-Iporá. Hoje apresentamos o livro Onde você está nesta lama? do professor Dr. Ricardo Jr. de Assis.
Exploração irracional e desastre ambiental
O livro “Onde você está nesta lama?”, do professor Ricardo Jr. de Assis constitui um conjunto de textos que compõem um painel dos problemas da mineração no País, partindo da reflexão sobre as tragédias de Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais. Com o desenrolar do tema, o texto alcança, pelo trabalho de memória do autor, a mineração como garimpo artesanal e as implicações imaginárias que a rondam desde os primórdios. Ricardo, embora com muitos recursos técnicos e científicos facultados por sua alta formação acadêmica, escolheu o caminho da literatura para articular sua leitura sobre o tema. O resultado é uma coletânea de crônicas que trabalha, com linguagem simples e técnica narrativa, a visão acadêmica do autor e seu posicionamento político a respeito do modelo de mineração ora dominante no País. O olhar de cronista, investido de sensibilidade literária, molda a paisagem da tragédia ambiental, social e econômica produzida pelo modelo vigente.
O uso do termo “fratura” é recorrente ao longo dos textos e, embora tenha circulação técnica no campo da Geografia, pode ser lido como uma metáfora médica, indicando uma condição insalubre. “Fratura” é um termo da medicina que se refere a uma lesão grave na estrutura de sustentação de um corpo. Segundo o autor, a mineração como praticada no Brasil fratura territórios, fratura o meio ambiente, fratura a sociedade e fratura o trabalhador. As fraturas expostas inviabilizam a sustentabilidade e promovem a necropolítica e a necroeconomia. O estado de coisas denunciado no livro me trouxe à memória um pequeno e contundente ensaio, de Félix Guattari, chamado “Três ecologias”.
Nas três ecologias advogadas por Guattari, a luta por uma nova humanidade passa, como nos faz crer o pensador, por uma “ecosofia”, por um viés crítico e prático que leva em conta a existência de uma ecologia mental, uma social e outra natural. Esse viés considera ainda que a relação entre esses três registros é intrínseca, ou seja, não há como praticar uma ecologia natural negligenciando a ecologia mental e a social, sem cair no vazio ou no charlatanismo publicitário. A saúde mental é indissociável da saúde social. Um indivíduo doente alimenta um meio social doente bem como um meio social doente gera o indivíduo doente e estes, em consequência, destroem o meio ambiente que, destruído, interfere negativamente em suas vidas.
A preocupação com a natureza, desse modo, não pode excluir a preocupação com a educação, com as subjetividades estranguladas, com a pobreza, com a fome endêmica, com a violência… Pelo que depreendi da leitura do livro de Ricardo, o modelo predatório da mineração brasileira ignora, em nome do lucro, essa relação indissociável entre ambiente, sociedade e indivíduo e, ao desprezá-la, vai abrindo fossos deletérios entre a natureza, a sociedade e o ser humano, inviabilizando, em nome do capital, a existência do próprio planeta.