Aprendi ao longo da minha caminhada dentro da ciência histórica que toda lenda tem sua origem, todo mito surge de algum lugar, e toda história tem no mínimo dois lados. O ser humano ao longo de sua existência se tornou expert em criar heróis, vilões, lendas, tradições, “revoluções”e principalmente, histórias.
Normalmente o morador da cidade de Iporá das décadas de 1980 e 1990, ouvira em algum momento de sua vida que o Morro do Macaco era um vulcão. Não estarei aqui tomando partido para os que ainda querem acreditar em tal suposição, como também não estarei frustrando os aventureiros dizendo que o vulcão extinto existe, porém em outro lugar da nossa região.
Qual a origem deste mito de que o Morro do Macaco teria sido um vulcão? Quem foram os primeiros a cultivarem a imaginação e a especulação em torno da maior formação geográfica da nossa região? Pois, já diz o velho ditado: “onde há fumaça, há fogo!”. Em minhas pesquisas nos arquivos da Biblioteca Nacional (RJ), depois de já ter passado por várias páginas e mais páginas de jornais que circulavam no território goiano ainda no século XIX, eis ali algo que de imediato eu já imaginava como elo de ligação direta com a história do antigo Distrito do Rio Claro:
Jornal do Comércio (RJ), 13 de maio de 1875 (Sexta-Feira), pg.02
Um vulcão na província de Goyaz
Serra Sellada fica na cabeceira mais meridional do rio Araguaya, em lugar absolutamente desconhecido. Os índios Cayapós dizem que ella lança fogo com horrorosas trovoadas, e por isso não se atrevem a approximarem-se daquelle lugar
(…) às vezes a explosão é tão forte que produz abalos violentos nas terras contíguas.
Naquele exato momento eu sabia que não seria mera coincidência de rumores e lendas entre a matéria publicada no jornal carioca do século XIX e a lenda iporaense do vulcão extinto no Morro do Macaco. O autor deste relato descrito e publicado em jornal de época não fora ninguém menos do que o Marechal Raymundo José da Cunha Mattos, ex-Comandante das Armas da Província de Goyaz (1823-1826).
Originalmente o relato do Marechal foi publicado em 1874 na revista do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (IHGB – do qual foi um dos fundadores). Tal relato publicado em nível nacional, fez com que a lenda indígena da tribo Kayapó percorresse os mais longínquos rincões dos sertões goianos, bem como, atravessasse o imaginário de gerações, até que, já no século XX, com a migração de inúmeros brasileiros de todas as partes deste Brasil, a lenda do vulcão recaísse sobre a maior elevação geográfica da região da nascente povoação de Itajubá (hoje Iporá).
Como já dizia o grande químico francês do século 18, Antoine Laurent Lavoisier: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” (1777 – o princípio da conservação de massas). Em conformidade a tal princípio, o ditado popular brasileiro recomenda que: “O povo aumenta, mas não inventa!”. O certo é que, toda história tem sua origem; e conhecer as origens de Iporá, sejam lendas, mitos, personagens, surgimentos, transformações, rupturas e/ou permanências é garantir a valorização de um povo guerreiro de origem, persistente e resiliente, e acima de tudo, um povo “iporaense”.