Manhãs mais belas não há
que aquelas manhãs de sol
de minha bela Iporá.
Não só as manhãs de sol,
mas de sol a sol,
no solar da infância,
noite escura ou de luar.
Nada que se compare
à atmosfera de Iporá.
Lá não tem rei pra ser amigo,
mas dono da terra também não há,
que possa fazer exigências
que a gente não possa pagar.
Em minha bela Iporá,
ninguém precisa ser
cabo de força monetária,
porque dinheiro não circula por lá.
Trabalho é coisa esporádica,
coisa de quem faz pra descansar,
e quando se precisa de algo,
como remédio, alimento
ou ervas para o chá,
é só buscar no cerrado,
nas faldas do morro do Macaco
ou nas margens do rio Tamanduá,
que não sonegam nem cobram
pelos produtos que há.
Porque nos campos de Iporá
de tudo dá: fruta madura,
mel de jataí e arapuá,
tem música de passarinhos,
amigos à vontade,
cachoeira e poço pra mergulhar
e urubu que voa tão alto,
de tão alto, chega a azular.
O tempo de lá é diferente
é o tempo da infância em Iporá.
A brisa da minha bela Iporá
é daquela que embala o corpo
e põe o coração solto no ar.
Por mim, se pudesse optar,
eu continuava menino
e seguia um outro destino
boiando nos eflúvios de Iporá.