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Recuperação deve levar em conta assoreamento e a perda de solo

No ano de 2017, mais especificamente entre os meses de setembro e outubro, a cidade de Iporá teve problemas sérios no sistema de abastecimento de água fornecido pela SANEAGO, pelo fato da queda brusca no volume de água do Ribeirão Santo Antônio, o manancial utilizado para abastecer nossa cidade. Muitos artigos e reportagens abordam como principal medida para conter o problema do Ribeirão Santo Antônio, que se faça com urgência a Recuperação das Matas Ciliares nas propriedades rurais situadas a montante do ponto de captação (do ponto mais baixo para o mais alto, até a nascente). E a medida que está sendo preconizada é o plantio convencional de mudas de espécies nativas nessas matas ciliares.

 

Porém, para que possamos obter sucesso neste projeto de recuperação dessas matas ciliares do Ribeirão Santo Antônio, o plantio tão somente de mudas nestas áreas desmatadas não resolverá o problema. Primeiro porque o método de recuperação, em área total, é oneroso e não adequado para a nossa realidade. Segundo porque, precisamos também, combater o grande problema que vem ocorrendo, que é o assoreamento dos mananciais e as perdas do solo.

 

O mau uso e manejo do solo, o preparo inadequado do solo, o desmatamento e as queimadas abusivas, o uso incorreto dos equipamentos agrícolas, o traçado impróprio de estradas vicinais entre outros, acarreta altas perdas de solos nas vertentes. Isso faz com que o manancial torne mais raso e há um aumento da velocidade do fluxo de água, e também seja mais propício a enchentes. O processo de assoreamento costuma ocorrer da seguinte forma: com as chuvas, o solo é lavado, ou seja, a sua camada superficial é removida, e os sedimentos (partículas de solo e rochas) são transportados por escoamento em direção aos rios, onde são depositados.

 

Conforme dados da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo (CATI), as estimativas apontam para a perda de mais de 193 milhões de toneladas de solo por erosão, associadas às estradas vicinais. Se fizermos um levantamento das perdas de solo associadas às estradas vicinais do município de Iporá, chegaríamos a dados alarmantes, pois durante o período chuvoso tenho verificado que nossas estradas vicinais são verdadeiros canais de transporte de sedimentos para os rios. Por isso proponho duas frentes de trabalho (projetos 1 e 2) executadas conjuntamente, para o sucesso na recuperação das matas ciliares do Ribeirão Santo Antônio.

 

Projeto 1: Implantação de um Programa Municipal de Microbacia Hidrográfica

A elaboração de um Programa Municipal da Microbacia Hidrográfica para o Ribeirão Santo Antônio, por parte do poder público municipal para que possamos paralisar o assoreamento deste manancial e diminuir ou obter níveis aceitáveis de perda do solo, com a implantação das seguintes técnicas: levantamento topográfico e terraceamento em nível (curvas em nível) nas pastagens e áreas agricultáveis; implantação de bacias de retenção nas estradas vicinais; além do reordenamento das estradas vicinais. Este projeto seria elaborado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, na busca por recursos para a sua implantação junto a órgãos ambientais da esfera estadual (SECIMA) ou federal (IBAMA).

 

Aliado a estas ações do poder público, é importante a participação conjunta dos produtores rurais localizados na bacia do Ribeirão Santo Antônio, através da utilização de técnicas de manejo para a preservação do solo e do meio ambiente: Rotação de culturas; Plantio em nível; Manejo Integrado de Pragas; Preservação das Áreas de Preservação Permanente; e Preservação das Áreas de Reserva Legal, dentre outras.

 

Projeto 2: Recomposição ou Regeneração da Mata Ciliar do Ribeirão Santo Antônio

 

Independente da implantação ou não do Programa de Microbacia do Ribeirão Santo Antônio para que possamos diminuir a níveis aceitáveis o assoreamento do manancial e as perdas do solo, a segunda frente de trabalho seria a execução ou o plantio de mudas propriamente dito, na Mata Ciliar deste manancial. Isoladamente a recomposição ou regeneração da mata ciliar não consegue absorver os sedimentos e as perdas de solo ocasionadas pelo processo erosivo que ocorrem na Bacia do Ribeirão Santo Antônio, mas a sua implantação é importante.

Conforme já citamos, a técnica mais utilizada na maioria dos projetos que se tem conhecimento em nossa região, é o plantio de mudas de espécies nativas em área total na mata ciliar a ser recuperada (plantio convencional). Porém, esse método é muito oneroso, chegando a um custo total de implantação e manutenção por um período de 3 anos de R$ 3.140,00 por hectare (Menis & Dorigan, 2015). Além do custo alto na sua implantação e manutenção, esse processo de plantio convencional de mudas não garante a auto-sustentabilidade do sistema (Damasceno, 2005; Souza & Batista, 2004; Souza, 2000), conforme constatação efetuada em monitoramento realizado no Estado de São Paulo, e que acontece também nos projetos que foram realizados em nosso município.

 

Verificando algumas áreas “in loco” e imagens de satélite da vegetação de remanescente, seria mais plausível adotarmos técnica menos onerosa e que adapta melhor às condições ambientais que se encontram as matas ciliares do Ribeirão Santo Antônio, no município de Iporá. Por isso, recomendo a técnica da nucleação, como forma de recuperação dessas matas ciliares, sem a necessidade de plantio em área total.

 

Técnica de Nucleação

“Técnicas de nucleação são muito usadas para a recuperação e restauração de ambientes, pois possibilitam o aumento da biodiversidade local, obedecendo aos estágios naturais da sucessão ecológica de uma floresta nativa, onde os núcleos criados atrairão biodiversidade das áreas circundantes” (Mariot et al., 2007).

 

E dentre essas técnicas de nucleação (Reis et al. 2006) que serão implantadas na área da mata ciliar a ser recuperada, nunca em área toral, mas sempre em núcleos, com diversidade de espaço como oportunidade para a regeneração natural de cada uma, ocupando em média 5% da área, citamos: 1) Transposição de galharia: A galharia transportada para a área a ser recuperada, “proporciona abrigo para pequenos animais, além de manter um ambiente úmido e sombreado, favorecendo o desenvolvimento de espécies mais adaptadas a essas condições, e também representando uma fonte de matéria orgânica”. 2) Transposição de solo: Essa técnica consiste em retirar porções da camada superficial do solo, juntamente com a serrapilheira, de uma área em estágio de sucessão mais avançada e colocá-las e faixas ou ilhas, na área degradada. A transposição do solo é muito importante, pois além de sementes, são levados juntamente com o solo, seres vivos responsáveis na ciclagem de nutrientes, reestruturação e fertilização do solo e materiais minerais e orgânicos, auxiliando na recuperação das propriedades físico-químicas do solo degradado e por consequência na revegetação da área (Soares, 2009). Retira-se 1 metro quadrado dos primeiros 5 a 10 cm (Tatsch, 2011) em uma mata de galeria preservada. 3) Transposição de mudas germinadas de chuva de sementes: sugere-se capturar mensalmente, a chuva de sementes de fragmentos florestais conservados mais próximos às áreas a serem restauradas (Reis et. al., 1999; 2003). Depois faz a propagação das mudas destes sementes capturas em viveiros. É uma opção para a produção de mudas, pois podem ser adquiridas de viveiros florestais; 4) Poleiros artificiais: não havendo vegetação ou havendo vegetação escassa na área de regeneração da mata ciliar, podem ser instaladas poleiros (artificiais, secos e vivos) dispersos na área, pois estes atraem espécies de aves e morcegos, que farão a dispersão de sementes de outros fragmentos de vegetação nativa. McClanahasn & Wolfre, 1993, verificaram em áreas fragmentadas, que poleiros de árvores mortas erguidas aumentaram em 150 vezes a quantidade de sementes, principalmente de espécies pioneiras; e 5) Plantio de árvores em grupos de Anderson: a técnica modelo de Anderson (1953), são grupos compostos por 5 mudas de árvores plantadas em formato de “+”, com espaçamento de 0,5 x 0,5 m, com 4 mudas nas bordas e 01 muda central.

 

Conforme sugere Reis et al., 2006, em uma área a ser recuperada de mata de ciliar de 2.500,00 m2, o autor recomendou a instalação da seguinte quantitativo de cada sistema de nucleação: 20 transposições de solo; 02 transposições de galharia; 02 poleiros vivos – torre de cipó; e 16 Grupos de Anderson. Este trabalho foi apresentado no “Simpósio sobre Recuperação de Áreas Degradadas com ênfase em Matas Ciliares e Whorkshop sobre recuperação de Áreas Degradadas no Estado de São Paulo”, no Instituto de Botânica em São Paulo, no ano de 2006. Outros trabalhos bem sucedidos utilizando a técnica nucleação tem sido apresentados, e podem ser consultados pelos leitores.

 

Portanto, para a recuperação da mata ciliar do Ribeirão Santo Antônio, é importante a implantação de um Programa de Microbacia Hidrográfica a partir do ponto de captação da SANEAGO para a nascente (a montante), para cessar as perdas de solo e o assoreamento deste manancial. E aliado a este projeto, efetuar a recuperação da mata ciliar, através da técnica da nucleação durante o período chuvoso, sem a necessidade de plantio de mudas em área total (convencional).

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