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Religião e Ecologia: tema da Campanha da Fraternidade de 2025

Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras.
São Francisco de Assis (1181–1226)

Na ocasião da Campanha da Fraternidade promovida pela Igreja Católica, o Conselho Episcopal Pastoral, órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), escolheu o tema “Fraternidade e Ecologia Integral”. Esse tema faz referência à passagem do Gênesis (1:31), onde lemos: “Deus viu que tudo era muito bom”. A escolha revitaliza o ânimo das reflexões propostas pelo Papa Francisco na Carta Encíclica Laudato Si, dedicada ao cuidado da casa comum, isto é, nossas cidades, nações e o nosso planeta.

A ecologia integral é uma corrente de pensamento que busca compreender o meio ambiente de forma holística: nós, seres humanos, somos parte da natureza e somos impactados por tudo o que acontece com os outros seres vivos. A abordagem visa evitar o antropocentrismo, que considera a natureza apenas um objeto a ser manipulado para fins de interesse humano, sem qualquer preocupação com os outros seres que a constituem. Nas palavras de um de seus idealizadores, o filósofo cristão e ambientalista Leonardo Boff: “A visão da ecologia integral é sistêmica, integra todas as coisas num grande todo [a criação divina] no qual nos movemos e somos.”

Para alguns, a relação entre religião e questões ambientais pode parecer uma novidade. Afinal, em um momento em que a espiritualidade humana parece cada vez mais voltada para interesses puramente individuais, o cuidado com os outros animais e os biomas — que também são nossos “próximos” — pode parecer algo estranho. Outro motivo para o estranhamento talvez resida no fato de ainda ignorarmos que nossa relação com a natureza é atravessada por concepções e valores que fazem parte da cultura. Um exemplo formidável da culturalização do meio ambiente é o sentimento de “chegar em casa” que experimentamos ao contemplar o Morro do Macaco ao voltarmos para Iporá. Essa sensação, aliás, só se manterá se a saúde de tudo o que existe e vive no morro for preservada.

As preocupações religiosas com a questão ambiental remontam aos anos finais da década de 1960. O contexto da contracultura e as críticas ao modelo de vida ocidental levaram a novas elaborações religiosas e à crítica àquelas formas de pensar e crer que estavam alheias ao desafio ambiental, em voga desde aquela época. A obra Gaia: Um Novo Olhar sobre a Vida da Terra, publicada em 1979, por James Lovelock, causou grande impacto entre indivíduos interessados em espiritualidades capazes de oferecer alternativas ao modo de vida consumista e à ideia de progresso promovida pela narrativa moderna.
Isso não significa que, no passado mais distante, não existissem indivíduos vivendo sua espiritualidade em proximidade com o que hoje, em nosso hemisfério, chamamos de natureza. Um exemplo interessante disso é o caso de São Francisco de Assis (1181–1226), figura católica que estendeu sua concepção de fraternidade cristã para com outros seres. Não é à toa que o santo católico ilustra a arte da Campanha da Fraternidade de 2025.

Mas o que podemos fazer, em nosso dia a dia, para vivenciar o ideal da fraternidade e da ecologia integral? Independentemente da religião, ou da ausência dela, a relação fraterna e integral com o restante da natureza é fundamental para pensarmos sobre nossa qualidade de vida e sobre a existência futura. Abraçar essa perspectiva significa reconhecer os limites das expectativas criadas pelo mundo moderno e, ao mesmo tempo, estar atento a outros saberes e valores provenientes de diversas tradições, que podem nos ajudar a repensar nosso lugar como parte da natureza.

Em termos mais práticos, podemos viver o ideal da fraternidade e da ecologia integral mudando alguns hábitos pessoais que envolvem desperdício de recursos e agressão ao meio ambiente. Ainda mais importante, devemos cobrar conjuntamente dos poderes públicos, órgãos administrativos e setores organizados e produtivos, que todos, especialmente aqueles que têm maior capacidade de ação e impacto sobre nossas relações com a natureza, assumam suas obrigações e responsabilidades perante o desafio ambiental.

Nesse sentido, além do respeito à legislação ambiental nas zonas rural e urbana, devemos exigir políticas públicas que promovam pesquisas ambientais, como as realizadas na Universidade Estadual de Goiás, em Iporá. Essas pesquisas são um estímulo à educação ecológica das novas gerações, à proteção e revitalização de nossas fontes de captação de água e ao melhor manejo do lixo. Precisamos, ainda, exigir das autoridades iniciativas paisagísticas que melhorem a arborização urbana, além de defender projetos que fortaleçam o Parque Municipal e Ecológico de Iporá.

Não menos importante, devemos abraçar a causa animal, defendida voluntariamente em Iporá pelos coletivos que protegem e abrigam cães e gatos abandonados, oferecendo-lhes a oportunidade de adoção. Cada vez que cuidamos de um desses animais, que o retiramos da rua ou que doamos alimentamos para aqueles que estão abrigados, também estamos cuidando da sociedade. Essas iniciativas fazem parte da fraternidade, da ecologia integral que torna nossa cidade uma comunidade para todos.

Para aqueles que desejam aprofundar suas leituras sobre o tema a partir de uma perspectiva histórica e sociológica, compartilho um estudo recém-publicado em colaboração com o professor de História da UEG, Unidade Iporá, Haroldo Reimer: https://portaldelivros.ufg.br/index.php/cegrafufg/catalog/book/672.

Texto de João Paulo de Paula Silveira
Graduado e Mestre em História pela UFG, Doutor em Sociologia pela UFG. Docente do Curso de História da UEG, Unidade de Iporá, e do Programa de Pós-Graduação em História da UEG, Campus Sul, Unidade Morrinhos. Pesquisador das religiões no mundo contemporâneo, com trabalhos publicados sobre novas religiões, espiritualidades e interfaces entre religião e meio ambiente. Coordenador da Associação Brasileira para Pesquisa e História das Religiões (ABHR), Regional Centro-Oeste, e co-coordenador do Laboratório de Pesquisa em Religiões e Modernidades (LAPREM) da UEG.

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