O tema corrupção é muito oportuno. Muitas vezes o individuo fica anos em sessões de psicanálise na tentativa de reconhecer uma ou outra emoção negativa que o esteja perturbando, a ele e ao próximo.
Por exemplo, o egoísmo. Olhado com olhares rasos e superficiais não percebe, a maioria, o estrago que uma emoção negativa, como essa, pode causar numa sociedade. Quando impera o egoísmo ele contamina, quase que metastaseando suas emoções todas. Um egoísmo exacerbado fará com que todas as suas emoções, germinadas desse chão – ego/ismo, imã do ego -, seja animada pela motriz desse sentimento. Falamos desse sentimento específico por que é o nascedouro, donde eclode a corrupção, sim no egoísmo.
Vejo que abordar assuntos dessa forma, chamar à discussão coisas tão sérias e tão pouco prestigiadas pelos holofotes da mídia, dos poderes, da família e grupos sociais visam a busca do conhecer para conscientizar. Há quem conhece mas ainda se conscientizou.
Então colocar um “marimbondo no redil dos conformados”, propõem intervenção cultural; propõem desarraigar o que há engastado na essência de palavras, sentimentos, emoções, fazendo vir a superfície, para nos conscientizar para nos doutorar das emoções que regem nossos comportamentos; com as quais convivemos e deles fazemos uso para tomar as mais simples decisões cotidianas.
São essas decisões, carregadas das emoções, colocadas em práticas em nossas ações que geram fatos, que dos fatos alimentamos hábitos, esses hábitos formam a cultura de uma família, um povo, uma nação, daí falarmos em destino – o destino que construímos- , que vai emaranhar-se do imenso novelo humano no crochê da novela real, tendo por cenário o palco da vida.
Palavras, nomes que damos as coisas, e principalmente as emoções, são seres, são tão reais quanto o fato de sabermos que somos e estamos.
Temos, como raiz das emoções, ou aquilo donde toda emoção emana, dois sentimentos, duas emoções – o Amor e o Ódio -, da mistura dessas emoções emanam infinitas variedades, variantes e variáveis de sentimentos emocionais, daí sai o amalgama de toda emoção humana.
A corrupção, tema em pauta na fala de Krishnamurti , para alunos em uma escola, https://www.youtube.com/watch?v=sq2WI0klEu0 ,não foge ao supracitado, corrupção é um ser. Assim como a dissimulação, o ciúme, a cidadania, a benevolência, e por aí vai. O ciúme, com certa dose de benevolência, será diferente do ciúme com uma forte dose de dissimulação. E essas forças se entrelaçam vivas e orgânicas em nós.
Muitas vezes somos invejosos, covardes, preconceituosos, o absurdo é que torna-se mais cômodo nos cegar de nos mesmos a se dar o sacrifício de conhecer a si mesmo. É simples, disse simples, não fácil, primeiro conhecer o universo inteiro da palavra, em questão hoje “corrupção”, entende-la em nós, no próximo, para transformá-la, quem sabe em construção, engenharia do futuro?.
Comecemos o exercício em nós mesmos, somos corruptíveis? Somos corruptores? O que é ser corrupto? Eu, por ventura, causo a ruptura da cor em mim? Corrumpere, rumpere de quebrar, romper, destruir; com de estar unido a, pertencendo a. Co-rompedor, ou seja, não deixar fluir, no caso político mais direto, não deixar fluir uma ideia, uma realização, um projeto, realizações, por que foi inte/rrompido, por um co/rrupto, desviado do proposito.
Muitas vezes corrompemos internamente os próprios projetos, nos boicotamos. Em certos níveis a procrastinação; a permissividade, a omissão, transgressão e uma infinidade de emoções são formas de corrupção interna contra si mesmo.
A corrupção nasce da necessidade de alimentar o próprio prazer. Seja ele da gula, da luxuria, do poder, desviar o curso de algo coletivo para o próprio umbigo, egoísmo, pergunte-se, estou fazendo isso agora?
Onde nasce a corrupção? Como percebe-la em nós? Como nossa família, nossa cidade, nosso país, nossa cultura nos tornam corruptíveis, corruptores?
O ser precisa entender, vivenciar, aprofundar, na transcendência das emoções que tanto pode nos sublimar quanto nos arruinar. Falar, levar à baila dos assuntos, dar clarão à corrupção e o compêndio que o tema encerra, propõe filosofar, reconhecer o objeto em analise, em si e nos outros. Só assim vai se superar o problema da corrupção.
O processo é a logo prazo porque é uma mudança cultural. Cultura se forma de hábitos, sendo assim entende-se que não é simples mudar de hábitos.
Somente indo ao interruptor dos quartos mais escuros de nos mesmos e ligando a corrente elétrica que, acendendo nossas luzes internas, poderemos nos iluminar e, nos iluminando, iluminar o nosso derredor, podemos nos ajudar, a nós humanidade!
A mudança interna se refletirá externamente. Em oposição ao ilustre Rui Barbosa, digo que chegará um tempo em que será normal ser honesto, nem maravilho nem vergonhoso, mas, natural.